A influência da Literatura Infantil na alfabetização tem-se estendido amplamente desde aproximadamente o ano de 1971, onde se privilegiou a necessidade da literatura na educação brasileira, como forma de contribuir para a formação de leitores capazes de vivenciar os sentidos, a extensão de conhecimentos e sua profundidade nas reflexões críticas e sociais. Cada vez se usa mais Literatura Infantil para a integração das diversas disciplinas. Antes de selecionar e dirigir a literatura aos alunos, importa aos educadores prepará-los como leitores, ampliando suas capacidades críticas, desenvolvendo seu potencial de reflexão e questionamento, sem diminuir sua relação de prazer com o texto. Descobrindo-se hoje que uma boa história pode valer mais que mil lições. O propósito deste discurso é relacionarmos as formas eficientes para momento de aprendizagem entre professor-aluno, reconhecendo que algumas histórias são tão ricas que sobreviveram por milênios. E sobreviveram porque seus personagens são representações das características humanas. Este trabalho de pesquisa é constituído em capítulos onde relevamos os vários tipos de literaturas pertinentes para a leitura na fase de alfabetização, com os objetivos de ampliar os limites do próprio conhecimento; obter informações simples e complexas; conhecer mais sobre o universo factual; buscar diversão e descontração e por meio da literatura de ficção e da poesia, chegar ao prazer do texto. Pode-se dizer que além de favorecer o processo de identificação necessária à formação de personalidade, de embutir na criança o amor ao belo, á bondade, ao bem da história humana como recurso didático, contribuir para desenvolver a linguagem oral e escrita,
A influência da literatura na alfabetização
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enriquecer as experiências das crianças, dar vazão a imaginação criadora e formar atitudes morais e sócias como a compreensão, a justiça, a bondade e o companheirismo. E, finalmente concluindo, que diante de tal visão, é preciso que os educadores convivam com diferentes textos que circulam nas instituições e grupos sociais, sabendo administrar e proceder às escolhas cuidadosamente, para orientar as múltiplas linguagens possíveis e tornar o ler um ato interativo e permanente na vida do ser humano.
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Capítulo I – A literatura e seu contexto histórico: uma breve análise.
Iniciamos nossa reflexão a partir do seguinte questionamento: O que é literatura? Há muitos anos, o homem já narrava. A narrativa começa com a própria história da humanidade e não há em parte alguma, povo sem narrativa. Enquanto não havia registro escrito de narrativas faladas, cada trama ganhava matrizes variadas, dependendo do repertório vocabular, das crenças e até do público de cada orador. Na Grécia Antiga, poemas épicos e festivais de teatro emprestavam corpo e alma à criaturas místicas. Na Idade Média, camponeses miseráveis sentavam-se á beira da fogueira para ouvir enredos maravilhosos sobre reis, rainhas palácios e tesouros. Por breves momentos tornavam-se os heróis principais, aqueles que jamais desempenhariam na vida real. Em seus sonhos, derrotavam gigantes, desafiavam bruxas, descobriam tesouros e conquistavam a felicidade eterna. Essas histórias chegaram aos ouvidos da corte, onde foram repetidas por menestréis para o deleite das damas de fio trato e dos cavalheiros galanteadores. Muito tempo depois surgem Perrault, Grimm e Andersen. Falar deles é falar dos primórdios da literatura infantil. Todos os três recolheram história do povo, mas Andersen, além disso, criou muitas outras. É por isso considerado o pai da literatura infantil. No Brasil, a literatura começou a aparecer nos livros didáticos e em traduções, no século XX, quando a escola se tornou risonha e franca. O nosso grande escritor, na obra de ficção para crianças, foi Monteiro Lobato, que criou um estilo próprio. Lobato é o osso escritor infantil mais lido e com maior predileção das crianças, atestadas em diversos inquéritos. No panorama geral da Literatura Infantil é necessário atender melhor a evolução da criança a transformação da fase egocêntrica ao período de socialização, verificar com exatidão os processos literários, em especial o modo de sensibilizá-los artisticamente e a maneira de 10
falar-lhe pela linguagem inteligível, simples e variada, atendendo ainda as condições psicológicas, porque a literatura infantil é sempre formadora de conhecimento da criança. O mundo mudou. No entanto, o ser humano continua passando pelos mesmos problemas que sempre afligiram. Porque fazemos parte de uma cultura universal e, portanto, a escola tem obrigação de assumir um compromisso de transformar a alfabetização em atividades de leitura significativas, onde a literatura deixe de ser usada para acalmar as crianças quando estão inquietas, para impor silêncio e disciplina e passe a ter uma função catalisadora de interesses e prazer. A literatura infantil, quando desprovida de preparo e conhecimento pelo educador, deixa de ser um instrumento eficaz de incentivo na cultura letrada e torna-se nada mais que um conteúdo escolar vazio e desprovido de sentido.
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Capítulo II – O mundo da literatura e a escola
Para nós, a literatura é algo tão incorporado que parece algo natural, que não depende de problematização ou de reflexão. Mas, se fosse assim, para que discutir o assunto? Para formarmos leitores precisaríamos apenas tornar nossos alunos capazes de ler. Muda muito o sentido dessa certeza, se pensarmos no que outros professores fizeram no passado, para ensinar leitura. E observarmos que ao adotarmos certas práticas e metodologias, estamos dando continuidade a antigas concepções de formação de leitores, com as quais muitas vezes nem concordamos. Convém refletir um pouco a respeito do passado. Até os meados do século XIX, não existiam praticamentelivros de leitura nas nossas escolas. Para o ensino e a prática de leitura, eram usadas as mais distintas fontes. Relatos de viajantes, autobiograias e romances indicam que a base para a leitura eram textos manuscritos, tais como documentos de cartório e cartas.
2.1. Os Primeiros Livros
Com a implantação da Imprensa Régia,em 1808, começou a impressão regular de livros no Brasil. Mas, tanto na escola, quanto nas demais instâncias sociais, eram raros os objetos disponíveis para a leitura e, consequentemente, poucos leitores. Em 1868, Abílio César Borges publicou uma série de livros produzidos especialmente para o ensino. Seu primeiro livro se destinava ao ensino da leitura e da escrita; substituindo os materiais manuscritos. Os demais eram de caráter enciclopédia, trazendo conteúdo de várias áreas do conhecimento.
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Em 1889, o governo republicano tem como metaa expansão da escolarização. Mas apesar de várias reformas, o dia a dia escolar não se distanciou muito dos vivdos pelas gerações anteriores. Nesta ocasião, surgiram as grandes editoras e um número cada vez maiores de autores brasileiros pode publicar seus livros aqui. Os jornais começaram a lançar folhetins, com histórias publicadas em série. O público leitor foi se ampliando. Mesmo assim, chegamos ao século XX com 80% de analfabetos. Em 1921, outro livro marcou a história dos livros de leitura: A menina do narizinho arrebitado, de Monteiro Lobato. Esse grande sucesso da literatura infantil brasileira nasceu como segundo livro de leitura para as escolas. E, com ele, houve uma grande inovação: o livro se propunha a fazer a leitura, despertar o prazer, enquanto até então, considerava-se nociva a relaçao entre leitura e prazer. Na década de 30, a prática não mudou muito, pois livros publicados no século passado continuaram a ser usados e histórias em quadrinhos, que fascinavam desde crianças até adultos, foram proibidas. O esboço da leitura, até aqui apresentado, pode parecer um constante movimento de melhoria e progresso. Com a introdução do livro didático e sua diversificação, tentativas de objetos escritos: jornais, revistas, livros, rótulos, tal como circulam socialmente, contribuíram para oportunizar e ampliar o incentivo a leituras mais críticas. As oportunidades de leituras são hoje muito mais amplas. Essa suposta “evolução”, porém, não parece ter sido igual, para todos. Estudos e pesquisas, que procuram analisar o cotidiano da escola no passado e no presente, demonstram que, apesar de todas as mudanças e transformações, as práticas escolares continuam a restringir e selecionar textos fragmentados, com ideologias moral ou com aprendizado das regras de ortografia. 13
Por fim, os estudos mostram que o prazer da leitura ainda está muito distante da maior parte das escolas.
2.2. Construção de Significados
Desde que nascemos somos leitores deste mundo. O nosso olhar inquieto sobre as coisas do mundo e como elas se relacionam. Esse olhar é um olhar deviajante, que, aos poucos, torna-se denso pelo volume de informações, de conhecimentos que vão construindo. Organizamos esses conhecimentos como referências do mundo em que vivemos. Classificando, categorizando e relacionando essas referências, vamos formando cadeias de conhecimentos. Cadeias onde a leitura se constitui numa prática social utilizada com diferentes funções. Muitas vezes, o que nos leva a leitura é a necessidade. Necessidade de obter orientação específica sobre alguma questão ou assunto, ou necessidade de obter ou ampliar informações sobre algum tema e, também, a necessidade de estar informado em relação aos acontecimentos da realidade cotidiana. Logo, há práticas de leituras associadas à resolução de questões práticas e na busca de informação. Lemos para: tomar um determinado ônibus; buscar uma receita; tomar um remédio; montar um objeto; conhecer um jogo; reconhecer um endereço; consultar uma lista. A leitura, enfim, pode estar presente em nossas vistas de diferentes modos. A elaboração dessas cadeias de conhecimentos, em que estamos incluídos, não poderia acontecer semo que estams chamando de literatura. O livro infantil tem destino marcado, recrear a criança, educando, se possível, e favorecendo o desenvolvimento de sua inteligência.
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Nesse gênero de literatura, as grandes fontes são universais, as do folclore, contos, fábulas, apólogos, estórias de carochinha, lendas; depois as aventuras, as gestas de heróis e bandidos, vidas de grandes homens, jogos e brinquedos, rodas e cantigas.
2.3. A Poesia
O texto poético é o espaço mais rico e amplo capaz de permitir a liberação do imaginário e do sonho das pessoas. Segundo o poeta José Paulo Paes, “um mundo sem poesia é o mais triste dos mundos”. Assim, é preciso que o fato poético esteja muito presente e seja bem trabalhado pela escola, para que o universo escolar possa romper o tédio e a indiferença com que muitas vezes se vê recoberto. Na verdade, existe umm preconceito em relação à poesia, baseado no senso comum, e que permeia a família, os grupos sociais e a própria escola. Alguns desavisados acreditam que mexer com poesia é perda-de-tempo, Outros, equivocados, pensam que a poesia feita para criança é “coisa menor”. Uns tantos mais, desenganados, por não perceberem o poder escantatório dos poemas e por não diporem condições mínimas de análise que lehes permitam estudar e entender essa matéria-prima tão especial e que se configura por ser um refinadíssimo trabalho com as palavras, preferem fugir da poesia. Muitos poetas refinadíssimos, há mais de 30 anos, dedicaram-se a criar poesias para crianças. Antes dos anos 60, o que se oferecia aos pequenos eram os textos correntes de poesia, que não se voltavam a uma estética verbal mais própria a criança. E o trabalho escolar sobre
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tais textos era quase todo dirigido a obtenção e ampliação de regras moralistas e didáticas a partir dos escritos. E a poesia continuava não sendo bem tratada pela escola, de modo geral. Além dos preconceitos e distorções já referidos, nem sempre o professor está preparado para trabalhar com poesias, apartir de características e critérios, próprios desses textos. Assim, é frequente verificarmos que, na escola, ao invés da boa parte dos professores se deter nas formas artísticas, no que tem de lúdico, nas imagens, eles se debruçam antes, sobre a poesia, para deles extrair exemplos de situações gramaticais, as mais diversas, que devem abordar em seus programas. Ensinar gramática é necessário. Mas não triturando, para isso, um texto poético. Desvios de tal natureza, além de violentarem a especificidade da poesia, conseguem ainda a infeliz proeza de impedir não só um real contato de criança com a poesia, mas também de impedir o refinamento do mundo dela.
2.4. A Fantasia da Poesia
A poesia “culta” é a mal-amada dos leitores em geral, que via de regra, não se comunica de imediato com o leitor, necessitando de mediadores. Daí o repúdio e a indiferença geral de que ela é vítima. O caso muda completamente, quando se trata de poesia-espetáculo: voz do artista, postura, trajes, o espaço cênico, ambiente musical, as luzes, etc. Ou da poesia-canto, veiculada pela música: poesia significativa que passa a ser consumida e amada largamente pelo grande público. É exatamente essa peculiaridade da poesia que nos leva a pensar em que tipo de texto poético é aceito e amado pelas crianças. 16
As atividades com o canto, músicas, cirandas, como as alegres brincadeiras e brinquedos de roda são estímulos à sensibilidade das crianças. Concluímos qu a poesia para crianças deve atuar, basicamente, sobre os seus sentidos emoções. Enfim, as poesias, para as crianças, têm de se identificar com as cantigas de roda, parlendas, cançoes de ninar, como o convívio lúdico de palavras rítmicas e sonoras.
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Capítulo III – Em busca da literatura
A importância do ato de lervem de tempos remotos, quando os homens pré-históricos decifravam caracters feitos nas pardes das cavernas, possibilitando-lhe a comunicação. Com o passar dos séculos, a forma escrita foi incorporada definitivamente ao seio da sociedade, passando por várias etapas de evolução permanecendo até nossos dias. Desde que a criança vem ao mundo, ela está cercada de linguaguem flada e linguagem escrita. Está acostumada com quem lhe fala, com quem conta histórias. Neste sentido, “contar” histórias é preciso para povoar e enriquecero imaginário das crianças ou para liberar sua criatividade.
3.1. O Faz-de-Conta
É preciso colocar as crianças, desde cedo, em contato com livros. As histórias contadas convidam as crianças a penetrar no mundo do “faz-de-conta”. Quem já não teve a oportunidade de ver uma criança que ainda não sabe ler e escrever convencionalmente passando as páginas de um livro e fazer que está lendo? Essa pseudoleitura, aparentemente simples, passa por uma evolução interessante, que se revela através de mudanças quantitativas e qualificativas nos textos produzidos durante as imitações. Ao ouvir uma história, a criança começa naturalmente a ser exposta a um uso da língua que estimula o desenvolvimento de estratégias de processamento de linguagem importantes para seu êxito escolar.
A leitura não é intrinsicamente diferente de outras atividades; deve mesclarse, suavemente, a todos os outros empreendimentos linguisticos e intelectuais da vida de um aprendiz. Não existe um dia mágico, quando um “pré-leitor” subtamente se torna um “aprendiz”,exatamente como não existe um indicador do dia em que o aprendizado é completado. E um leitor „forma-se‟. Ninguém é um leitor perfeito, e todos continuamos a aprender, cada vez que lemos. (SMITH, 1989, p.98)
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3.2. Contos de Fadas
Os contos de fadas ou contos maravilhosos (com ou sem fadas) têm suas origens em um passado muito longínquo. Os contos maravilhosos experimentaram muita repercussão, durante os séculos XVIII, quando apenas as histórias que surgissem de uma situação que pudesse ser explicada racionalmente eram valorizadas. No século XIX, os ideais românticos reabilitam essas histórias recobertas de encanto e magia; histórias em que num mundo mais remoto eram contadas, tanto para adultos, quanto para crianças. E nós, neste século XX que termina, cultivamos a fantasia, o maravilhoso que nos chegam principalmente pelas mãos de Andersen, Perrault e dos Irmãos Grimm. Nos contos de fadas, tudo é e está muito vivo. Daí a grande fascinação e o não cansarse com a repetição desejada das sempre mesmas histórias. O universo, a um só tempo, grave e lúdico desses contos envolve definitivamente o leitor. Colocamos a literatura infantil como um instrumento central a preparação e ao processo de alfabetização, em primeiro lugar, porque se prende geralmente a conteúdos são do interesse das crianças. As histórias liberam o pensamento da criança e estimula sua expressão criadora, ao mesmo tempo em que respondem as suas necessidades afetivas e intelectuais, fornecendo assim, um aprendizado significativo da leiturae da escrita. O que queremos é que nossos alunos não dominem unicamente a linguagem escrita, mas torná-los verdadeiros leitores, restituindo-lhes aos livros, a leitura. A leitura é um meio de realizar um projeto ou uma pessoa. Ler é produzir sentido, construir, interpretar, imaginar.
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Daí, a necessidade dos contos de fadas, os contos maravilhosos encantam, comovem e educam, indiretamente. Devem, pois, ter presença constante nos trabalhos escolares, principalmente nas séries iniciais. Mas sem pensar em um resultado pedagógico automático. A importância maior está no prazer que os contos despertam. Nessas histórias, há situações que sempre se repetem: há obstáculos a serem vencidos, rivalidades, perseguições, disfarces, dilemas diante de opções a serem feitas, entre prazer e dever, por exemplo. Os heróis precisam cumprir uma tarefa, vencer um desafio. Há então, pessoas que impedem ou ajudam a ação do herói. E o final é glorioso. Bruno Bettelhein, em seu livro A psicanálise dos contos de fadas, faz uma defesa apaixonada dos contos, chamando a atenção para o fato de que muitos profissionais, ao lidar com a Literatura Infantil, relegam a segundo plano o fato de que se trata de um bem simbólico, construído por meio da linguagem verbal, e que,portanto, tal objeto não deveria ser tomado ao pé da letra.Os contos, em sua estrutura profunda, lidam com valores e significados universais, de extrema importância para o ser humano, ao ponto de construírem um dos gêneros que mais resistam ao tempo. Ele tenta mostrar a razão de as histórias de fadas serem tão significativas para as crianças, ajudando-as a lidarem com os problemas psicológicos do crescimento e da integração de sua personalidade. Ele considera os contos de fadas uma espécie de texto ideal para as crianças, por conterem elementos capazes de despertarem-lhes a curiosidade e a atenção, além depossibilitar-lhes um convívio mais saudável com as questões íntimas de natureza emocional. Segundo o autor, tais histórias, carregam em si, uma mensagem positiva de luta contra as dificuldades da vida, que são inevitáveis, e de incentivo no sentido de a pessoa não se intimidar, mas defrontar, de modo firme as opressões. Outro aspecto significativo enfatizado por Bettelheim é o prazer advindo do contato com tais textos, no que diz respeito às qualidades literárias. O autor recebe os contos de fadas 20
como uma obra de arte. Ele afirma que: “O conto de fadas não poderia ter seu impacto psicológico sobre a criança se não fosse primeiro e antes de tudo uma obra de arte”. Assim sendo, acreditamos que uma maior explicitação quanto a utilização dos contos de fadas no início da alfabetização seria interessante, no sentido de permitir aos professores tomarem conhecimento das interfaces e possiblidades de leitura que esse texto permite realizar. Talconhecimento possibilitaria a ampliação dos horizontes dos agentes pedagógicos para um trabalho mais efetivo e dinâmico na sala de aula, levando em conta a capital importância dasdimensões sociais, histórica, afetiva e pedagógicados contos de fadas. Dessa forma, a utilização deste tipo de literatura no contexto escolar torna-se significativa, considerando, por um lado, seu conteúdo imagético e, por outro, seu arcabouço narrativo. Devemos acrescentar, ainda, que os contos de fadas possuem marcas substanciais que auxiliam as crianças na construção de seus textos orais e escritos. Nesse sentido, tais observaçoes tornam-se pertinentes tendo em vista que as crianças são, por natureza, imaginativas. Mesmo quando não existiam livros destinados a elas, elas próprias convertiam em “Literatura Infantil” tudo o que lhes cais nas mãos, isto é, tudo o que lhes despertava emoção e prazer. Isto acontecia devido a sua imaginação, a sua capacidade criadora de conceber as coisas como vivas, dotadas de intenção. Através deles, pode-se aprender mais sobre os problemas interiores das pessoas. Hoje, em tempos em que a comunicaçao se dá em espantosa velocidade, os contos continuam desempenhando importante papel no processo de desenvolvimento da criança.
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Capítulo IV – A criança e os múltiplos tipos de textos
Para a criança pequena, aprender a ler é penetrar no mundo da escrita. Os escritos que circulam no meio social, no espaço urbano e no âmbito mais fechado das próprias casas, são escritos variados, de múltiplas naturezas. E mesmo antes de saber ler, a criança percebe que os adultos são profundamente ligados à escrita, dependendo dessa escrita quase o tempo todo. A criança, em casa, e ao entrar na escola, já traz a vivência do ler e da escrita. Vivendo em meios letrados ou não, ela chega, pois, a escola, familiarizada com os escritos que circulam sua vida, por meios diferentes: seja pelas atividades da família, seja pela veiculação de mensagens que ocorre em toda a mídia. Ler, então, é um ato interativo. E a leitura se faz em diferentes modas e níveis. Vejamos algumas possibilidades apresentadas por BARBOSA: Leitura Funcional: se faz em busca do conhecimento nos livros didáticos, nas
enciclopédias; Leitura escrita: se faz em busca de formação ou opinião;
Faz-se necessário agora pensar mais detidamente na questão da chamada variedade textual. Sem dúvida, diferentes tipos de textos exigem compromissos diferentes por parte dos leitores e escritores: ler para buscar informações, para inteirar-se de algo, por prazer, para concordar ou discordar e avaliar criticamente as próprias interpretações; escrever para comunicar-se com interlocutor ausente, para registrar o que se deseja recordar, para informar, para utilizar os textos criados e clarear a compreensão dos temas sobre os quais escrevemos A escola representa, enquanto instituição, o local por excelência para orientar e estimular processos internos de desenvolvimento, processos estes que não poderiam se desenvolver por si mesmos sem aprendizagem escolar.
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Esperamos, desta forma, estar auxiliando a escola a cumprir o papel que lhe é atribuído pela sociedade: contribuir para a consolidação do exercício pleno da cidadania, inserindo o conjunto dos alunos no pensamento letrado. O que, na realidade, podemos considerar os variados tipos de textos registrados abaixo, mostrando como as crianças interagem com os diferentes tipos; como interagem entre si; como reagem e quais ações lhes permitirão expressar sua cultura e modificá-la.
4.1. Lendas
O homem é dotado de uma curiosidade constante. Vem daí o contínuo progresso do ser humano. Sempre evidenciado pelas grandes descobertas, invenções que tem marcado o tempo e a história do mundo. Perguntas sobre a origem do universo, aparecimento do homem, fenômenos da natureza, são indagações que continuam a ser feitas e refeitas pelo ser humano na busca contínua de conhecimento do espaço em que vive e de si próprio. Se o progresso nos dá respostas científicas para interrogações diversas, mesmo assim, explicações outras, mais ligadas ao domínio do imaginário e do sonho, continuam convivendo com as invenções e as descobertas de grandes pensadores, sábios e pesquisadores. As explicações baseadas no devaneio, na imaginação e na magia, constituem-se em gêneros narrativos muito particulares; aí se encaixa a lenda. A lenda, também como os contos maravilhosos, lança mão do sobrenatural, do mágico para criar representações simbólicas. E, como ocorre com a lenda, ao dar respostas, explicações lúdicas para o ainda inexplicável, e libera capacidade imaginativa dos indivíduos, permitindo-lhes que a dimensão do sonho dialogue com a razão. Lendas ajudam a povoar a imaginação de inesquecíveis figuras e sensações. 23
Desta forma, é importante que a lenda, permeie o dia-a-dia da escola, mas sem julgar que tais textos possam exercer um imediato e implícito papel pedagógico. É claro que eles educam, mas não por força de uma relação imediatista e direta. E sim, através de uma convivência contínua e duradoura. A lenda é uma narrativa breve. Os temas são transmitidos anonimamente pela tradição oral. Sua finalidade é relatar um determinado acontecimento ou fato, em que o imaginário e o maravilhoso superem o histórico e o real. O educador deve trabalhar todos os tipos de lendas. As universais, nacionais e locais. As lendas do folclore brasileiro, por exemplo, são belíssimas. Trazem riquezas em suas dimensões locais e universais. Deve-se contar expressivamente as lendas, utilizando apoio visuais diversos. Em seguida, conversarem sobre os fatos, personagens e situações mais significativas da história.
4.2. Histórias em Quadrinhos
Quando um fenômeno desconhecido ou um novo fato surge em uma sociedade, a preimeira reação é de um medo inconsciente de uma nova linguagem que esse fato se expressa, além do temor do fato em si. Se a novidade ocorre no universo dos chmados meios de comunicação de massa, acaba quase sempre havendo um certo pânico entre as instituições sociais mais tradicionais. A televisão, hoje, é quem mais recebe ataques. Antes foi o cinema, o rádio e também as histórias em quadrinhos. O quadrinho, enquanto produção de narrativa, utiliza, ao mesmo tempo, duas linguagens: visual e a da língua escrita. Há histórias em quadrinhos que não tem texto verbal.
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As primeiras histórias em quadrinhos surgiram no final do século XIX, mais precisamente em 1985- data oficial – ano em que foram publicados no jornal New York, os quadrinhos “The Yellow Kid”, de Richard Felton Outcault, já com os balões que integram o formato atual. E no Brasil, a primeira revista de história em quadrinhos, foi o “Tico-Tico”, em 1905. Já ninguém mais duvida de que a criança pequena encontra, nos quadrinhos, um dos mediadores mais eficazes, para estabelecer relações de prazer e de conhecimento entre ela e o mundo dos seres e das coisas que a rodeiam e que ela mal começa a explorar. Não poderíamos deixar de relatar aqui os principais aspectos desse tipo de livro para crianças que, embora não seja literatura infantil, no sentido tradicional do termo, pertence tanto ao domínio da arte literária como ao da arte pedagógica. A história em quadrinho torna-se um veículo de educação ativa, capaz de tocar diretamente a imaginação e a inteligência das crianças, de maneira muito eficaz. Estimulando a atividade motriz de seus corpos e mãos. Progressivamente, este tipo de texto passa a ser cogitado de maneira mais significativa, na tentativa de livrar a criança das leituras convencionais. Dando-lhes livros onde a imagem e texto as levassem a viver a poesia do real e do maravilhoso da natureza. Em geral, a escola relaciona e leitura de quadrinhos à leitura de textos de ficção. E os relacionapor oposição, por contra ponto. Ao fazer isso, a escola deixa de considerar a natureza de certas operações cognitivas que são realizadas especificamente, ao se ler quadrinhos. Quando o professor tem a convicção de que a narrativa em quadrinhos possui uma organização muito simplista, ele não está se dando conta, neste caso, de que, compõe conforme explica M. Cirne: “A apreensão de imagens em quadrinhos exige operações ligadas à percepção, não se constituindo em simples trabalho de justa posição”.
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A A escola, a nosso ver, tem que acolher a narrativa em quadrinhos, selecionando os produtos, evitando aqueles excessivamente redundantes e esteticamente mal solucionados. E o professor, pode, inclusive, enriquecer o trabalho de leitura e escrita de seus alunos, a partir, por exemplo, de uma bem proposta narrativa em quadrinhos. Na verdade, a história em quadrinhos tem sua dupla tarefa: recreativa e pedagógica. Torna-se assim, uma leitura inteligente, aquela que esclarece e enriquece, dependendo da aquisição do mecanismo da leitura e de toda uma educação preparadora. Esta educação, esta pré-leitura é, precisamente, a razão de ser de todas as histórias em quadrinhos.
4.3. Informativos
Enquanto as pessoas estão em busca de respostas para nossos questionários e curiosidades, podemos aproximas as crianças das obras informativas de diferentes modos: para responder a uma pergunta, a um questionamento a respeito de um tema ou assunto ou para estudar as soluções encontradas pelos autores para informar. Na escola, quando a finalidade é buscar a informação a respeito de um tema, o educador, além de fornecer a indicação bibliográfica, ajudará o aluno a localizar as obras na biblioteca.Aulas também podem se desenvolver nas bibliotecas, e responder a uma pergunta não elimina a possibilidade de surgirem outros questionamentos. Nesse caso, nossa atenção estará voltada para os recursos utilizados pelo autor. As estratégias são relacionadas com a intenção do autor, com as especificidades do conteúdo e com o leitor para quem ele deseja veicular informações. Leitores, em busca de conhecimentos, muitas vezes esperam encontrá-los em uma única obra. É preciso não confundir obras inormativas com a verdade absoluta e o conhecimento total. As obras transmitem um fragmento do conhecimento produzido pelos 26
homens até dado momento, entendido de um determinado ângulo. E, como o processo de descobertas do homem está em contínuo desenvolvimento, não é possivel, quando se busca respostas para uma pergunta, limitar-se à leitura de uma só obra datada historicamente. Enfim, os livros informativos têm formatos, linguagens, intenções e temas variados. E mesmo diferentes abordagens a respeito de um mesmo tema. Assim, é importante valorizar os livros na formação de leitor e tê-lo como objetivo de estudos e discussões. O livro é um depositário dos conhecimentos dos homens, é oportunidade de acesso à cultura, é espaço para a fantasia, o sonho, a imaginação.
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CONCLUSÃO
As questões relativas à leitura e aos gestos de ler vêm sendo muito discutidas, há mais de duas décadas. O ato de ler, antes restrito a ambientes fechados, hoje acontece em todos os lugares. Lê-se em casa, nos bancos das praças, nas ruas, no ônibus, no metrô, nos aviões. E além de textos nas mãos, o indivíduo recebe outras mensagens escritas: placas, avisos, luminosos, outdoors. Nos últimos dois séculos, a leitura passou a estar indissociavelmente ligada à escrita. E a história de vida do homem, na era moderna e contemporânea, é toda ela pontuada por documentos escritos. Cabe à escola, formalmente, estabelecer relações entre leitura e indivíduo, aprofundando os níveis de desempenho. É função primordial da escola estimular a leitura e ampliar os domínios do livros de leitura escrita e orientar a escolha dos materiais de leitura. A escola pode e deve trabalhar, desde as séries especiais, com textos de diversas naturezas; com textos que surjam do cruzamento de linguagens variadas e, evidentemente, com os textos da literatura que criam a possibilidade do indivíduo explorar dimensões não usuais do imaginário coletivo e pessoal. Crianças de séries iniciais podem ir desenvolvendo, desde cedo, suas leituras. E tal trabalho só irá ocorrer, se houver participação e presença contínua do professor. O professor tem que ser, antes de tudo, um leitor. Um professor que não lê, jamais trabalhará bem com a leitura. Ele precisa ler muito, gostar de ler e fazer com que os pequenos leiam; precisa ler para eles e saber ouvir a leitura, ainda tímida e descompassada, que os alunos fazem do texto estudado.
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O professor precisa ter preparo teórico e metodológico e saber que a escola é o lugar natural da leitura. Heráclito nos ensina que, “ninguém desce duas vezes o mesmo rio, pois suas águas mudam constantemente”. O texto também muda a cada leitura, porque o leitor coloca nele a sua vivência, sua sensibilidade, sua visão particular do mundo e sua atitude naquele momento. Trabalhar com a leitura na escola é querer descer o rio centenas de vezes. Mais que gostar de ler, é preciso ter extrema paciência com o texto e com as descidas, que não se esgotam jamais. É fundamental a existência, na escola, de um acervo organizado, com critério, a partir das necessidades locais, abrangendo as distintas áreas do conhecimento, a diversidade de textos e de variedades literárias, tais como: livros, revistas, gibis, jornais, folhetos, inciclopédias e outros materiais. A leitura de materiais interessantes que tratam de conteúdos das diferentes áreas, habitualmente chamada complementar, na verdade é essencial. Por todas essas razões, a leitura pode ter uma funçao aglutinadora, potencializando a construção de um projeto que envolve todos os educadores e educandos. Nem sempre nós estabelecemos esse tipo de relação com os livros e com a leitura, e não é difícil encontrar professores que afirmam que não gostam de ler. Para muitos de nós, a escola foi um espaço no qual a leitura era constante objeto de avaliação, e que a preocupação maior estava voltada para o correto entendimento do texto lido, como se estivesse apenas a interpretação, correta e esperada. Ler, como qualquer aprendizagem, requer dedicação; por isso os alunos devem ter a oportunidade de encarar o livro como um desafio interessante que abrirá portas, não só para o conhecimento, mas também para o entendimento e a diversão.
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A prática da leitura na escola precisa se assemelhar à prática da leitura fora da escola. As crianças precisam saber que lemospor diferentes razões e que não lemos todos os textos da mesma forma. Mesmo quando as crianças ainda não sabem ler, a sala de aula deve ter um espaço com livros, revistas, jornais, folhetos e histórias em quadrinhos, para poderem folhear à vontade, sem que alguém fique perguntando o que estão entendendo. Outro aspecto significativo, diz respeito aos contos serem tão importantes as crianças, ajudando-as a lidar com problemas de sua personalidade. São uma espécie de texto ideal para crianças, por terem elementos capazes de despertar-lhes a curiosidade e a atenção, além da possibilidade de um convívio mais saudável com as questões íntimas de natureza emocional. À partir dessas colocações podemos concluir que, para alcançar o significado do imaginário, é preciso que dele nos distanciemos, através da reflexão, que permite explicitar o seu sentido. A vida da imaginação tem um impacto sobre a totalidade da existência do homem. Entretanto, a educação atual ainda prioriza a memorização e, muitas vezes, esquece que esta consciência imaginante é espontaneidade, liberdade, criatividade. A imaginação faz parte dos nossos atos de consciência, ao mesmo tempo que a amplia, impulsiona e lhe permite a refexão crítica. A literatura tem a força de criar uma ligação com o sentimento humano, que propicia a expansão da vida afetiva através de um mágico poder de realizar a função da alma humana com a alma do mundo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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