“O Navio Negreiro” é a obra mais famosa de Castro Alves, um poeta brasileiro que se destacou como uma das principais vozes do abolicionismo durante a terceira fase do romantismo brasileiro. Escrito em 1868, o poema é um retrato vívido e angustiante da escravidão e do tráfico de escravos, que eram práticas comuns na época.
O contexto histórico da obra é marcado pela indignação do poeta em relação aos problemas sociais de seu tempo, especialmente a escravidão. O Brasil era o maior receptor de escravos da África, e a escravidão era um pilar fundamental da economia brasileira. Apesar da promulgação da Lei Eusébio de Queirós em 1850, que proibia o tráfico de escravos, a lei não estava sendo cumprida, e o poema de Castro Alves é uma denúncia dessa realidade.
O período político em que a obra foi escrita também é relevante. O Brasil estava no meio do Segundo Reinado, sob o governo de Dom Pedro II, um período marcado por intensas mudanças sociais e políticas. O movimento abolicionista estava ganhando força, e a pressão internacional contra o tráfico de escravos estava aumentando.
As influências na obra de Castro Alves são diversas. Ele foi profundamente influenciado pelo pensamento liberal do final do século 19 e pelo movimento abolicionista. Além disso, Castro Alves foi um dos maiores representantes da Terceira Geração Romântica no Brasil (1870 a 1880), também conhecida como “Geração Condoreira” ou “Geração Hugoana”, que se dedicava a apresentar uma poesia social e libertária.
O enredo do poema é dividido em seis partes e descreve a jornada angustiante de africanos escravizados em um navio negreiro, rumo ao Brasil. O poema começa com uma descrição tranquila do mar e do céu, mas logo revela a realidade horrível dentro do navio. Castro Alves descreve em detalhes vívidos as condições desumanas enfrentadas pelos escravos, a crueldade dos marinheiros e a dor e o sofrimento dos escravizados.
A explicação do poema reside em sua denúncia da escravidão e do tráfico de escravos. Castro Alves usa uma linguagem expressiva e imagens poderosas para mostrar a realidade brutal da escravidão. Ele contrasta a beleza da natureza com os horrores da escravidão, criando um impacto emocional profundo no leitor. O poema termina com um apelo abolicionista, pedindo o fim da escravidão.
Em resumo, “O Navio Negreiro” é uma obra poderosa que usa a poesia para denunciar a injustiça da escravidão. É um testemunho da crueldade humana, mas também um chamado à ação para acabar com essa prática desumana. Através de sua poesia, Castro Alves conseguiu abrir os olhos da sociedade brasileira para os horrores da escravidão, contribuindo significativamente para o movimento abolicionista.
Análise do poema Navio negreiro
Parte I
Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!
Parte II
Que importa do nauta o berço,Donde é filho, qual seu lar?Ama a cadência do versoQue lhe ensina o velho mar!Cantai! que a morte é divina!Resvala o brigue à bolinaComo golfinho veloz.Presa ao mastro da mezenaSaudosa bandeira acenaAs vagas que deixa após.
Parte III
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!Desce mais ... inda mais... não pode olhar humanoComo o teu mergulhar no brigue voador!Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
Parte IV
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
PARTE V
Senhor Deus dos desgraçados!Dizei-me vós, Senhor Deus,Se eu deliro... ou se é verdadeTanto horror perante os céus?!...Ó mar, por que não apagasCo'a esponja de tuas vagasDo teu manto este borrão?Astros! noites! tempestades!Rolai das imensidades!Varrei os mares, tufão! ...
Parte VI
Auriverde pendão de minha terra,Que a brisa do Brasil beija e balança,Estandarte que a luz do sol encerraE as promessas divinas da esperança...Tu que, da liberdade após a guerra,Foste hasteado dos heróis na lançaAntes te houvessem roto na batalha,Que servires a um povo de mortalha!...