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[RESENHA] A aventura da universidade, Cristovam Buarque


Resenha: A AVENTURA DA UNIVERSIDADE - Capítulo 1: O Destino da Universidade - Editora Paz e Terra, 2000 - 2ª Edição. Autor: BUARQUE, Cristovam.

Cristovam Buarque é pernambucano, formado no curso de Engenharia Mecânica. Fez doutorado em Economia na Sorbonne e em 1968 iniciou uma brilhante carreira de professor universitário. Desde 1979 reside no Brasil, onde foi reitor da Universidade de Brasília no período de 1985 a 1989.

Sua biografia compreende décadas na cena política brasileira, em que atuou como reitor, governador, ministro da Educação, senador da República. Seu percurso intelectual compreende mais de mil artigos e 23 livros publicados sobre assuntos vinculados às grandes questões que atravessam a agenda social do país e do mundo. Seu horizonte se mantém o da educação sem fronteiras, o da modernidade sem exclusão, o da solidariedade entre os povos.
Resenha
Na obra 'A Aventura da Universidade', mais especificamente o capítulo 1, o autor tem como principal objetivo criticar a postura da universidade frente as novidades e os desafios que surgiram ao longo dos séculos, desde que foi criada. Para introduzir essa crítica, logo no início da leitura, o autor traz um fato histórico muito conhecido: a viagem inusitada e aventurada de Cristovão Colombo para a tão idealizada terra das "Índias". Este acontecimento é narrado frizando como foi recebida a proposta pelos intelectuais e formadores das universidades naquele tempo, que rejeitaram totalmente a ideia porque consideravam ser impossível o sucesso da navegação por calcularem que o diâmetro da Terra era maior do que o suposto por Colombo; mesmo assim a viagem foi feita e Colombo não encontrou as índias, porém descobriu um novo mundo, até então desconhecido e que não teria sido possível caso não tivesse sido corajoso o suficiente para desafiar aqueles que lhe diziam ser algo fadado ao fracasso. O medo do desconhecido dos sábios poderia ter custado uma das maiores descobertas já feitas e isso seria um atraso enorme pela busca do conhecimento, que é uma finalidade da universidade. Muito crítico e enfático, o autor diz que 'a universidade de Salamanca teve pavor ao erro, apego aos dogmas da época, medo da aventura e de navegar em direção ao novo'.
A partir desta introdução crítica ao tema que será abordado no decorrer do texto, o autor começa a elencar diversos erros, contradições, conformismos, conservadorismos, omissões e medos que as universidades cometeram ao longo dos séculos seguintes. Um dos principais erros da universidade apontados pelo autor, ocorre no período Renascentista (período de transição da humanidade na qual se deixa de ter a igreja e a religião como resposta para todas questões da vida e passa a valorizar o racionalismo, a ciência e a arte, baseada nos pensamentos gregos e romanos) onde as universidades são originadas, porém não se tornam o lugar onde se densenvolvem e ocorrem as ideias renascentistas. Segundo ele, diversos inventores, pensadores, pintores e intelectuais importantes da época ficaram a margem das universidades porque esta se limitou a pensar somente até onde o que a base e estudos gregos forneciam, qualquer coisa que estivesse além disso, não era permitido. Logo então, a universidade passou a ser uma barreira para o avanço do conhecimento, contrariando o propósito pelo qual foi criada. O mesmo se deu, na passagem para o modernismo e capitalismo, onde a universidade não soube acompanhar o ritmo do liberalismo e do capitalismo, deixando de fora grandes inventores deste período como Ford. A universidade, segunto o autor, 'já era científica, mas não conseguia ser inventiva'.
No decorrer do século XX, com a grande influência do capitalismo, a universidade se 'domestica' e acaba se tornando o centro de geração do saber da sociedade de consumo e é dominada pelas técnicas capitalistas de conhecimento. Os cursos se voltaram a formação de carreiras técnicas, a criação de currículos e consquistas de diplomas que formam profissionais para um saber utilizado em prol do próprio sistema que as criou, para servi-lo. A universidade deixa de ser um lugar para se criar novas ideias, para se tornar um instrumento de progresso técnico. Não há espaço para mudanças, transições, revoluções.
Nos tempos mais atuais, ou seja, no final do século XX, o autor descreve doze sustos que os homens tiveram ao perceber os acontecimentos deste século, dentre eles estão: 'o susto eufórico do imenso avanço técnico que foi realizado ao longo de apenas cem anos', 'o susto trágico da percepção de que o conhecimento do homem conquistou tanto poder, porém não serviu para construir uma utopia, muito pelo contrário' (segundo ele, todo este conhecimento serviu principalmente para engrandecer a desigualdade, a ganância e a violência entre os homens) e 'o susto da descoberta da necessidade de ética na regulação do poder técnico e no direcionamento do crescimento econômico'. Baseado nestes 'sustos', o autor diz que é possível (apesar de incerto) a construção de um novo modelo de civilização, na qual essa 'utopia' seja então alcançada, mas para isso a universidade tem que mudar. Não se pode cometer novamente os erros de se apegar as crenças e dogmas, de não se aventurar em conhecer um mundo novo, também não deve se conformar e ser domesticada. O medo do desconhecido, da mudança, do novo só faz com que a universidade juntamente com a humanidade se afaste cada vez mais da construção de uma nova forma de sociedade. Para o autor, 'a universidade deverá ser o campo desta luta, se a comunidade aceitar o gosto pela aventura e viver a grande paixão que representa enfrentar as dificuldades e desafios, que são a razão de ser uma instiruição voltada para fazer avançar o pensamento'.

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