- Primeiramente, fale-nos um pouco sobre você.
Eu sou a Bella, tenho vinte anos e sempre vivi com a cara
nos livros. Gosto de tudo que possa dar uma boa história a ser contada, café,
Taylor Swift e bandas adolescentes que moldaram as personalidades de uma
geração.
- Há quanto tempo você escreve, como começou?
Comecei a escrever mais ou menos em 2014/2015, porque
imaginava certas coisas diferentes nas obras que consumia (livros ou filmes) e
queria manter aquelas ideias anotadas — foi o meu primeiro contato com fanfics. Uma amiga me apresentou ao
mundo de histórias escritas por fãs sobre pessoas reais, e foi aí que me
encontrei, mesclando meus artistas favoritos (integrantes da One Direction,
basicamente) e experiências que eu gostaria de ter vivido. Com o tempo, comecei
a passar meus sentimentos, dores e paixões para falas de personagens, e é até
hoje uma das coisas que mais faço durante a escrita. Durante a pandemia, senti
que minha fase de fanfics, ao menos como autora, havia passado, e encontrei no
tempo ‘livre’ a chance de me aventurar em histórias com personagens 100%
originais.
- Você teria algum segredo de escrita? Algo que faça com que você se sinta inspirada/o antes de iniciar um novo livro?
Coincidentemente ou não, todas as minhas obras originais (a
já completa e lançada, e as em desenvolvimento) possuem uma música tema. Adoro
usar letras que contam histórias para basear as minhas próprias, e sinto como
se a construção do mundo e dos personagens fica mais fluida (meu conto
publicado — Interlúdio —, por exemplo, surgiu porque ouvi a música “Falling
Up”, do Dean Lewis, e achei que aquela letra daria uma história maior do que o
que cabia em três minutos.
- Quais foram suas principais referências na literatura, arte e/ou cinema?
Uma das autoras que mais admiro a trajetória no meio
literário é a Victoria Aveyard, não inteiramente pelas obras, e sim por como
ela sempre busca melhorar, reconhecer pontos fracos e admitir pontos onde teve
privilégios ou dificuldades para ingressar no meio literário. Além dela, acho
incrível a escrita de Jorge Amado, Leigh Bardugo e Taylor Jenkis Reid.
- Qual foi seu trabalho mais desafiador até hoje em relação à escrita?
Creio que preparar Interlúdio para a publicação. Nada te
prepara para todos os detalhes numa publicação independente de primeira viagem
— com o tempo, claro, é mais fácil se acostumar com o ritmo, preço e exigência
das coisas, mas sem dúvidas tive impasses e complicações comigo mesma naquela
época.
- Qual a parte mais difícil de se escrever um livro?
Traçar o limite do quanto de si um autor coloca num
personagem. Usar-se como inspiração é ótimo, mas é preciso entender o momento
que o personagem ganha vida própria e não é mais uma extensão sua.
- Qual foi seu primeiro livro, o que pensou ao iniciar sua escrita? o que te incentivou?
Meu primeiro livro foi Interlúdio, que acabou sendo uma
história pequena, mais um conto mesmo. Tive muitas dúvidas no começo do
processo de escrita, especialmente porque, na minha cabeça, ao mesmo tempo que
eu já tinha intenção de publicá-la para ganhar um público, ela sempre foi um
presente para minha amiga (foi uma conversa com ela que me deu o estalo de
criar a história a partir de uma música). Meus amigos foram grandes
incentivadores naquele momento, especialmente aqueles que sabiam do meu sonho
de conquistar uma publicação tradicional; eles relembravam meu objetivo a cada
vez que eu esquecia ou deixava a insegurança tomar conta, e serei eternamente
grata por isso.
- Tem algum personagem que você tenha criado ao qual foi difícil desapegar?
Sim! Um que nem tem falas no conto, aliás. Gustavo. Gostei
tanto do plano de fundo que criei para ele (apenas para me situar sobre como
ele agiria nas primeiras aparições na história), que estou desenvolvendo um
segundo conto, de mesmo universo do primeiro, em que ele é o protagonista.
- Quais são suas principais referências literárias na hora de escrever?
Na hora de escrever, sempre gosto de estar atualizada no ritmo de autoras nacionais que admiro. É meu público, é quem eu quero conquistar. Gosto muito da escrita romântica da Julia Rezende e da descrição da Cora Menestrelli. Internacionalmente falando, sou apaixonada no modo em que a Taylor Jenkins Reid consegue criar tantas narrativas instigantes e em formatos diversos.
- Você teria algum segredo de escrita? Algo que faça com que você se sinta inspirada/o antes de iniciar a escrita de um novo livro?
Além das músicas, gosto de fazer uma construção de
personagens completa; crio sobrenomes, signos, personalidades e aparências. Me
deixa muito mais animada para começar a narrativa.
- Você reúne notas, anotações, músicas, filmes e/ou fotografias para se inspirar durante a escrita?
Com certeza! Tenho os cadernos todos rabiscados, porque qualquer coisinha que ouço/vejo e gosto no dia a dia (entre trabalho e faculdade), já guardo para usar como inspiração. Uso poucas pastas do Pinterest durante o primeiro rascunho, mas nas edições, quando já tenho mais claro o que quero, monto váaarias — além de playlists temáticas, claro.
- O que você faz para driblar a ausência de criatividade que bate e trava alguns momentos da escrita? Existe algo que você faça para impedir ou driblar estes momentos?
Sempre faço um resumo do que quero em cada capítulo antes de
começar de fato, então caso fique empacada em uma cena, pulo algumas e começo a
escrever uma que estava super ansiosa para criar, por exemplo.
- A maioria dos autores possuem contatos e amigos de confiança para mostrar o progresso do seu trabalho durante o percurso da escrita. Você teria um time de “leitores beta”, para analisar seu livro antes de prosseguir com a escrita?
Tenho sim! Brinco que tenho uma ‘beta premium’ que lê enquanto vou escrevendo porque amo compartilhar o processo de escrita com ela, já que ela também escreve, e mais dois ou três amigos próximos com costume de leitura que recebem os arquivos assim que digito o ponto final.
- Qual a parte mais complicada durante a escrita?
A insegurança que bate em certos momentos. A vontade de
deletar tudo e desistir.
- Você prefere escrever diversas páginas por dia durante longas jornadas de escrita ou escrever um pouco todos os dias? O que funciona melhor para você?
Tento escrever um pouco todo dia, mas, quando não dá, pego
um dia para focar na escrita numa jornada mais longa.
- Em relação ao mercado literário atual: o que você acha que deve melhorar?
O reconhecimento de autores independentes ainda é precário,
mas, especialmente, a segurança contra a pirataria de obras que são o único
sustento de quem ganha muito pouco por isso ainda é um grande problema.
- A maioria das pessoas não conseguem se manter ativas em vários projetos, como funciona para você, você escreve vários rascunhos de diferentes obras ou se mantém até o final durante o processo de um único livro?
Consigo escrever rascunhos iniciais (qual o plot, como quero
o final, qual a mensagem do livro) em paralelo, assim que surge a inspiração.
Mas, a partir do momento em que detalho o que quero em cada capítulo, sigo com
uma obra até o final.
- O que motiva você a continuar escrevendo?
Comecei a escrever porque queria viver mil vidas. Ser bailarina e pintora e famosa e anônima e amada. Mas, além disso, grande parte dos meus amigos começou a ler em certo ponto por influência minha, e gosto da sensação de ter inspirado mais pessoas a conhecerem o mundo literário. Poder fazer isso — tornar mais alguém apaixonado pela leitura — através de palavras que eu escrevi, com certeza será um sonho realizado.
- Que conselho você daria para quem está começando agora?
Leia muuuito, isso é ótimo para adquirir vocabulário e ritmo de narrativa (e também para se achar no gênero que mais gosta). Faça amizades no meio literário, é sempre bom ter aquele contato para te ajudar e deixar tudo mais leve. Também aprenda sobre divulgação — no começo, todo mundo vira faz-tudo, e ter uma noção do que o mercado gosta te fará seguir num caminho um pouco menos difícil.
- Para você, qual o maior desafio para um autor/a no cenário atual? Você tem algum hábito ou rotina de escrita?
Atingir o patamar em que você vive com a renda 100% vinda do
que escreve. É o sonho, mas cada um tem uma realidade, e o incentivo à leitura
no Brasil ainda é precário. Tenho uma certa rotina, mas quero melhorá-la em
2023.
- Como você enxerga o cenário literário atual e a recepção dos leitores da atualidade em relação aos novos autores?
Autores independentes estão sendo mais bem recebidos, pelo
que pude perceber. Não era algo que eu via, por exemplo, há cinco anos. Sobre o
cenário atual, ainda creio que falte incentivo à leitura pela sociedade como um
todo.
- Se pudesse indicar quatro obras literárias que te inspiraram, quais seriam?
A luz que perdemos, Jill Santopolo; Capitães da Areia, Jorge
Amado; Constelação, Malu Costacurta; Vilão, V.E. Schwab
- Que conselho você daria para quem está começando a escrita do primeiro livro?
Faça isso no seu tempo. Você não tem nada a provar para
ninguém além de si mesmo, e ter pressa apenas poderá te fazer cometer erros
bobos.
- O que esperar para o ano de 2023 em relação à sua escrita?
Espero conseguir mais espaço para a escrita na minha rotina
em 2023, e ser menos insegura ao falar sobre ela com minha família e pessoas
conhecidas. Tenho um conto já programado, e estou ansiosa para começar duas
obras mais longas que estão tomando espaço na minha mente quase o dia todo.
BIOGRAFIA
Isabella
Cassin tem 20 anos e começou a escrever para viver todas as vidas que sempre
sonhou.
Canceriana,
fã de automobilismo e de bandas que se separam, ela também tem um ponto fraco
por histórias adolescentes, filmes do Hallmark e romances com a temida crise
dos vinte anos. Seu primeiro conto publicado, "Interlúdio", inicia
sua tentativa de trazer mais pessoas para o universo da literatura.
Quando não está escrevendo ou conhecendo mundos
literários diferentes, ela pode ser encontrada cursando sua outra paixão,
Relações Internacionais, na Universidade Federal do ABC.
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