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Travestis na literatura: 8 livros para conhecer em 2024



Os livros escritos por travestis têm se destacado cada vez mais no cenário literário, trazendo à tona narrativas e experiências que muitas vezes são invisibilizadas pela sociedade. Em 2024, não poderia ser diferente. Neste post, reunimos 8 livros de autoras travestis que prometem surpreender e emocionar os leitores com relatos poderosos e transformadores. Desde memórias intensas de superação até reflexões profundas sobre identidade e resistência, essas obras são essenciais para quem deseja conhecer e valorizar a diversidade de vozes e experiências presentes na literatura contemporânea. Venha conosco e descubra essas incríveis obras literárias que merecem ser lidas e compartilhadas.

1. Nem tão bela, nem tão louca, de Ruddy Pinho

Neste livro você vai encontrar nas mais de 300 páginas uma mulher madura, mãe, amiga, amante, guerreira e religiosa. Uma Ruddy que nem ela mesma conhecia. Mostrando que no Brasil, apesar de todos os problemas sociais e políticos, é possível vencer, ser diferente, respeitada e envelhecer. É claro que o glamuor sempre presente em sua vida não foi deixado de lado em suas passagens com as personalidades do mundo artístico. Nova York e Paris são cenários constantes de narrativas hilárias. Alguns registros dessas memórias então nas mais de 80 fotos encartadas ao longo do livro.



2. Eu, travesti, de Luiza Marilac


 Luísa Marilac nasceu em Minas Gerais e assumiu-se travesti aos 17 anos. Além dos tradicionais traumas associados à transição de gênero em uma família conservadora e de classe baixa, levou sete facadas aos 16 anos, foi vítima de tráfico sexual na Europa, prostituiu-se, foi estuprada e presa mais de uma vez. Alçou-se à fama depois que viralizou no YouTube um vídeo seu com o bordão "E disseram que eu estava na pior".

Em uma história de superação, transformou a dor em energia para lutar pela mudança do mundo para mulheres que nascem como ela – com um "pedaço de picanha entre as pernas", como costuma brincar. Ativista das travestis, trabalha para combater o preconceito com humor e diálogo franco.



3. E se eu fosse pura, de Amara Moira

Professora de literatura, doutora em Letras pela Unicamp e prostituta em Campinas, Amara Moira traz um relato autobiográfico sobre sua transição de gênero e as experiências como profissional do sexo.

Travesti em inícios de carreira, Amara Moira percebeu ser mais fácil transar sendo paga do que dando-se de graça, facinha como ela é. Decide então pela rua, encontrando nisso prazer em não só viver ali o sexo tributado (nas formas todas em que ele aparece), mas também em rememorar depois a experiência, retrabalhá-la em texto: travesti que se descobre escritora ao tentar ser puta e puta ao bancar a escritora.

Nesta obra, Amara mostra a vida por trás dos panos da profissão mais malfalada do mundo, mostrando as angústias, os medos, os preconceitos mas também, por que não?, os prazeres que ali conheceu. Escancarando verdades que a sociedade gosta escondidas debaixo do tapete, ela aborda o cotidiano da prostituição, sobretudo da perspectiva trans: o dia a dia da rua, a barganha, o homem antes e depois de pagar.

4. Bricolagem travesti, de Maria Leo Araruna


A coleção de esculturas “Moças de Bricolagem” tem sua origem em uma necessidade inexplicável de usar minhas mãos. Há muito, escuto esse pedido sangrado de minhas cutículas roídas, mas não sabia como satisfazê-lo. Foi, então — em uma daquelas noites em que me deito na cama cheia de êxtase criativo, sem conseguir dormir, porque não sei exatamente como catalisar essa pulsão interior —, que eu tive uma ideia: olhei para minhas bonecas na estante e pensei “vou fazer umas roupinhas pra vocês!”. Era já alta madrugada, 4 horas da manhã, e eu iniciei um processo o qual desarmou memórias e sensações hibernadas no meu corpo.


5. Transradioativa, de Valéria Barcellos

Valéria Barcellos é cantora, atriz, DJ, performer, escritora e artista plástica, detentora da maior honraria dada a mulheres no estado do Rio Grande do Sul, o troféu "Mulher Cidadã". Antes de tudo isso, Valéria é mulher negra. É mulher trans. É a representação da transnegritude e do transfeminismo. Foi durante o período de descoberta e tratamento de um câncer que ela decidiu registrar suas vivências e memórias em texto - não apenas das vitórias sobre a doença, mas sobre a luta contra o epistemicídio da população negra e LGBTTQ+. Nas palavras de Jean Willys sobre seu primeiro encontro com Valéria: apesar de aplaudida de pé, ela interpelava os olhares como se dissesse ´as aparências não me enganam não!´. Valéria sabia o quanto de racismo, homofobia e transfobia havia superado para estar ali, como uma estrela. Sabia o quanto de racismo, homofobia e transfobia ainda perdurava em muitas daquelas pessoas, mesmo que elas não tivessem consciência disso. E sabia que a guerra não estava ganha. Nunca está. TRANSRADIOATIVA é o grito de Valéria contra essa guerra!

6. Pedagogia da desobediência, de Thiffany Odara


O livro Pedagogia da Desobediência: Travestilizando a Educação da pesquisadora, pedagoga e Iyálorixá Thiffany Odara conta sobre a produção de saberes travestis na cidade de Salvador. Costurando as histórias do movimento trans com os diálogos teóricos do feminismo negro, Thiffany propõe travestilizar a educação como forma de construção de espaços de conhecimento que sejam para todas as pessoas. Uma pedagogia transgressora que diz de reinvindicação e acesso, em especial das pessoas trans, a condição de humanidade. Uma publicação que abre caminhos para outras pedagogias e incita a desobediência do CIStema. Thais Faria Castro (Editora) Um mergulho em águas profundas! Essa é uma das inúmeras definições possíveis das sensações experimentadas as leitoras (es) de Pedagogia da desobediência: Travesti lizando a educação. Como um convite para reatualizarmos nossas concepções sobre os feminismos negros e as produções transfeminista Thiffany Odara nos apresenta o impacto da produção intelectual de uma mulher negra, baiana, candomblecista trans no campo da educação. Para além de um magnifico resgate histórico da luta das travestis na cidade de Salvador o texto nos leva a entender o caráter pedagógico desse movimento, e como este foi e é fundamental para sobrevivência dessas ativistas; bem como os ensinamentos e legados deixados para as futuras gerações. Ao resgatar o pensamento clássico dos feminismos negros e transfeminismos também fica evidente a provocação sobre a necessidade urgente da articulação entre essas teorias e práticas para melhor entendermos o trilhar do caminho que nos é proposto. As reflexões tornam-se ainda mais potentes quando a autora intersecciona sua formação enquanto pedagoga para deslocarmos essas discussões para o campo da educação; pensando a mesma para além do espaço escolar. Thiffany transforma as dores e violências sofridas em sua trajetória educacional em uma ordem imperativa: É preciso desobedecer e travestilizar! Os apontamentos para a construção de uma educação transgressora se fazem presente durante toda a construção do pensamento da autora que sem dúvidas nos aponta os possíveis caminhos para pensarmos conceitos e formulações inéditas em campos distintos do conhecimento. Sem dúvidas um dos mais relevantes trabalhos da atualidade sobre o tema, mergulhem! Dayane Nayara C. Assis (Nzinga Mbandi)

7. Crianças Trans, de Sofia Favero


Crianças trans, vocês existem? A pergunta é, a meu ver, retórica. Sofia persegue a infância com um refinamento e uma sagacidade ímpares nesta publicação. A linguagem, como sempre, coloca-se de maneira capciosa quando nos referimos ao que não foi posto, a princípio, como "natural" a partir do olhar cisgênero. A autora empreende um trabalho fantástico, utilizando-se de uma auto-história que se entremeia com a cultura virtual contemporânea e a literatura científica, para nos falar de algo fulcral aos estudos sobre infância, ou sendo mais direta, sobre como funcionam os dispositivos sociais de afirmação de determinadas identidades, em detrimento de outras, hierarquizadas como "normais", "boas", "bonitas". Neste livro, com a sua inteligência própria, humor afiado e desenvoltura intelectual, Sofia nos presenteia com uma problematização sensível e didática do senso comum, abrindo os olhos para uma perspectiva mais complexa desse projeto que estamos produzindo: humanidade. Não um que fecha os olhos para a nossa diversidade, mas, isso sim, um que explora nossas possibilidades para além dos nomes, nosologias e apagamentos. Profa. Dra. Jaqueline Gomes de Jesus (IFRJ) Sobre a autora Sofia Favero é ativista, psicóloga e doutoranda em Psicologia Social e Institucional pela UFRGS. Faz parte da Associação e Movimento Sergipano de Transexuais e Travestis e do Núcleo de Pesquisa em Gênero e Sexualidade (NUPSEX). Em seu tempo livre, gosta de jogar videogame com suas duas sobrinhas, Helena e Lara.

8. O diabo em forma de gente, de Megg Rayara


O Diabo em Forma de Gente: (r)existências de gays afeminados, viados e bichas pretas na educação é uma pesquisa de doutorado, e como nome informa, se concentra no espaço escolar, um lugar caracterizado pelo controle de corpos e pela produção de subjetividades e se orienta a partir de duas formas de segregação e preconceito, o racismo e a homofobia. Embora a pesquisa adote um tom de denúncia, reconhecendo que o dispositivo de sexualidade e o dispositivo de racialidade operam sobre as experiências de homossexuais masculinos negros, que passam inclusive por um processo de demonização, o interesse da autora foi destacar as estratégias de enfrentamento desenvolvidas por 4 docentes negros que expressam orientação sexual discordante da norma heterossexual. A pesquisa constatou que as resistências desenvolvidas são múltiplas e emergem, na maioria das vezes, dos discursos racistas e homofóbicos. Assim, as categorias gays afeminado, viado, bicha e preta são ressignificadas pelos próprios sujeitos aos quais elas se referem, e se materializam como possibilidades concretas de enfrentamento. Para fazer esse debate a autora, Megg Rayara Gomes de Oliveira, se utilizou do método auto-biográfico desenvolvido pelo professor doutor Marcio Cawetano e adotou uma postura interseccional para mostrar que são múltiplos os marcadores que operam para interditar socialmente uma pessoa. O texto aqui apresentado é um exercício de pesquisa caracterizado pelo revezamento entre várias áreas do conhecimento e contribui de forma bastante potente para a pesquisa acadêmica e também para a construção de uma sociedade menos normalizadora. Embora a escola seja apresentada como um espaço de controle sobre os corpos, especialmente aqueles que escapam às normas de raça e de gênero considerado hegemônicos, ela também pode apresentar áreas de escape e assim evitar que o controle se efetive da forma pretendida. A pesquisa, escrita em primeira pessoa por uma travesti preta, moradora da cidade de Curitiba, mostra que os mecanismos de controle que conduzem pessoas negras, gays afeminados, viados e bichas ao abandono do sistema educacional não são eficazes em sua totalidade e muitos corpos escapam e a formação acadêmica se revela como uma estratégia de enfrentamento bastante poderosa. O Diabo em forma de gente construído pelos discursos normatizadores e normalizadores é assumido por quem antes era a vítima dele. O Diabo materializado na figura do gay afeminado, do viado e da bicha preta coloca em debate as múltiplas possibilidades de (r)existências que questionam os dispositivos de poder que queriam destruí-lo. O racismo e a homofobia se interseccionam e continuam operando sobre as existências de gays afeminados, viados e bichas pretas como dispositivos de poder. Mas, como propõe Michel Foucault (1986 - 1984), onde há poder há resistências. Há existências.


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