Rachel de Queiroz, já uma romancista consagrada, decidiu aventurar-se na dramaturgia. Enfrentando o desafio de frente, ela abordou a história de vida de Virgulino Ferreira da Silva - o bandido que liderava a mais famosa gangue de cangaceiros do Nordeste brasileiro - com o peso dramático e a urgência social que sempre foram sua paixão como escritora. Lampião rapidamente se tornou uma figura única no imaginário popular; seus trajes de cowboy típicos dos jagunços (homens armados) dos anos 1920, juntamente com suas poses imponentes projetadas através de fotografias e até mesmo seus óculos de aros finos, considerados raros para pessoas comuns naquela época, faziam parte dessa persona mítica que ele encarnava apesar de ser cego em um olho.
Ao revisitar suas referências mais próximas, Rachel de Queiroz desconstruiu seu retrato corajoso e ocasionalmente frágil do icônico Lampião. Seu personagem principal desafia o governador da região sertaneja a ceder poder, mas também se sente atento diante dos perigos iminentes, buscando proteção espiritual em seu Padrinho Padre Cícero - uma figura religiosa muito prestigiada no Nordeste brasileiro. A peça de Queiroz apresenta Corisco como um bandido talentoso que permanece leal à causa de Lampião e Maria Bonita (introduzida inicialmente como Maria Déia), que abandona marido e filhos para ser esposa do Rei do Cangaço acompanhando-o inclusive na guerra armamentista.
Em 1954, Lampião estreou nos palcos. Houve duas produções notáveis: uma em São Paulo, no Teatro Leopoldo Fróes, dirigida por Sérgio Cardoso (que também interpretou Lampião), com Araçary de Oliveira como Maria Bonita; e outra no Rio de Janeiro, no Theatro Municipal, dirigida por Bibi Ferreira e com Elísio de Albuquerque no papel principal.
Este volume especial traz o projeto gráfico da primeira edição de Lampião, lançada em 1953 pela Livraria José Olympio Editora. Na capa, Lampião e Maria Bonita são ilustrados por Tomás Santa Rosa, icônico artista gráfico responsável por projetos editados por José Olympio na década de 1950. O antigo estilo de impressão é replicado usando fontes móveis no mês que vem. Portanto, esta nova edição de Lampião celebra o texto meticulosamente elaborado por Rachel de Queiroz que retornou a um público mais amplo na hora certa.
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