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Uma análise psicológica sobre o filme Divertida Mente

Imagem: CNN / Reprodução

Divertidamente é um dos filmes mais inteligentes lançados no mundo da animação. O enredo do primeiro filme se inicia com o surgimento da Alegria com o nascimento da protagonista, Riley. A personagem se desenvolve juntamente com suas emoções de acordo com o amadurecimento da garota, e consequentemente, de seu emocional. Com o tempo, podemos observar o surgimento de outras emoções no decorrer do crescimento de Riley: Tristeza, Medo, Raiva e Nojinho. Em outras palavras, o nosso emocional se desenvolve conosco conforme vamos amadurecendo, dando novos espaços para novas experiências, vivências e emoções.

Com o tempo, Riley cresce e desenvolve memórias afetivas de sua infância, família, amigos, bobeiras da infância e a confiança desenvolvida em seu relacionamento com os pais e o hockey, esporte que aprendeu a gostar com seu pai. Essas emoções moldaram o caráter de Riley. Enquanto tudo isso acontece, em sua sala de comando - a cabeça, espaço mental - é comandado por Alegria, que tenta a todo custo tomar conta de toda situação, evitando assim que Riley sofra com algum problema ou emoção perigosa, sobretudo a participação quase constante da Tristeza.

Riley então se muda com sua família para uma nova cidade, tendo assim que deixar para trás todas as lembranças que despertavam a felicidade plena dentro dela. Isso a coloca em um sentimento de confusão mental para compreender toda a rotina que agora se inicia. Observamos que, em sua sala de controle, suas emoções estão à flor da pele e preocupadas com a nova mudança de rotina, o que faz com que todos, em primeira instância, estranhem a nova moradia. Em dado momento, Alegria e Tristeza nutrem um pequeno confronto em relação às memórias base de Riley, o que faz com que ambas sejam sugadas por um túnel, levando-as diretamente para o espaço das memórias de longo prazo. Agora, sem o comando da Alegria e a participação da Tristeza, Riley enfrentará sua vida tendo apenas o comando das emoções: Nojinho, Medo e Raiva, sentimentos que são incapazes de despertar o sentimento de alegria na garota, o que a leva a uma série de confrontos familiares e um declínio moral em seu relacionamento com seus pais, sua dificuldade em se relacionar com novos amigos, jogar hockey e brincar com as 'bobeiras' da infância com seu pai, desenvolvendo nela um confronto interno em relação às suas memórias afetivas e seu novo lar em uma nova escola.

Foto: Disney Plus / Reprodução

Alegria agora é a única emoção tomada por uma luz ao seu redor de cor incandescente na cor azul e precisa ao lado de Tristeza (caracterizada pela cor azul) de uma forma de retornar à sala de comando antes que ela seja tomada por completo pelas emoções - Medo, Raiva e Nojinho. Uma vez que, agora, sem o auxílio da Alegria e da Tristeza, ela estaria condicionada a viver seus dias sem uma felicidade plena ou sem a consciência da tristeza dos momentos de confusão mental que enfrenta naquele instante, se tornando apática e não sendo capaz de experimentar as emoções que lhe faltam naquele momento.

Na sala das emoções de longo prazo, elas conhecem o amigo imaginário de Riley, Big Bong, um ser com tromba de elefante, corpo de algodão doce e rabo de gato. Ele está lá porque, em algum lugar da memória de Riley, ele ainda está vivo, com sua participação na infância, sendo parte de suas lembranças. Em um momento crucial, ele e Alegria caem no abismo do esquecimento, local para onde vão todas as memórias já esquecidas por Riley. Isso faz com que Riley comece a se esquecer de como é se sentir alegre, com o desaparecimento da alegria para uma zona isolada de seu pensamento.

Enquanto isso, em sua sala de comando, Medo, Nojinho e Raiva tentam a todo custo mantê-la alegre, mas como nenhum deles possui alegria em si, Riley começa a experienciar momentos de confusão mental ainda mais latentes, fazendo com que tome iniciativas que prejudicam suas bases - a família, a honestidade, a bobeira e o Hockey.

Durante a estadia no abismo, Alegria percebe, em uma memória afetiva levada por ela, uma lembrança em que Riley perde um jogo de Hockey, o que a deixa triste. No entanto, recebendo a atenção dos amigos e familiares, isso ocasiona um episódio de pura alegria. Neste momento, ela entende que a Tristeza é uma emoção necessária para que Riley comece a entender o momento pelo qual está passando.

O filme termina com Alegria e Tristeza retornando à sala de comando. Tristeza então, com a ajuda de Alegria, recolhe as memórias bases de Riley e ao tocá-las, transforma todas as suas lembranças em um sentimento de saudade e nostalgia, uma vez que todas as suas memórias afetivas eram retratos do que foi a sua vida em sua antiga morada. Isso acaba fazendo-a compreender seu momento de isolamento e tristeza, levando-a à compreensão mais assertiva de suas emoções e exteriorizando-as, levando-a a um momento de felicidade com seus pais.

O filme também nos ensina sobre a importância de sentir todas as emoções realmente, incluindo a tristeza. 

Vivemos em uma sociedade de busca incessante pela felicidade e os meios de comunicação e mídias sociais nos passam a percepção de que todos à nossa volta têm a vida perfeita e que para encontrarmos essa felicidade temos de nos privar de sentir tristeza.

A mensagem do filme é totalmente o oposto, devemos sim sentir todos os sentimentos e emoções, e que nossa vida não vai ser feliz o tempo todo, não é normal, que devemos sim buscar a felicidade, mas ela só será completa se formos capazes de sentir e entender todos os nossos sentimentos.

Foto: Reprodução / Pixar

Mas, e Divertida mente 2?

Divertida Mente 2 surge com uma proposta inovadora acerca da psicologia e do desenvolvimento adolescente. Enquanto o primeiro filme foca nas emoções primárias do ser humano, ou seja, as primeiras emoções com as quais temos contato na infância, o segundo filme trabalha a puberdade sob a perspectiva do aceleramento, às vezes 'forçado', das crianças em meio às pressões sociais. Nos dias de hoje é comum que a grande maioria das pessoas busque se empenhar em desenvolver relacionamentos de longo prazo a todo custo, o que pode, por vezes, ocasionar um abandono de nós mesmos em busca de uma aprovação terceirizada. Em outras palavras, tendemos a valorizar mais a ideia e as opiniões de outras pessoas sobre nós mesmos e sobre o nosso desempenho social do que a opinião que nutrimos acerca de quem somos.

O enredo se baseia, assim como no primeiro filme, em uma nova experiência de vida de Riley. Enquanto o primeiro filme desenvolveu os sentimentos e emoções de Riley durante uma mudança de cidade, o segundo filme trabalha a nova vida se desenvolvendo em uma escola, onde a protagonista, Riley precisa lidar com a possibilidade de mudança de suas amigas de escola. A partir deste ponto, Riley começa a questionar seu circulo social, temendo ficar sozinha. Observamos a partir deste ponto que ela começa a instaurar em seu dia-a-dia uma atitude latente em desenvolver relações forçadas com outros estudantes, afim de uma aprovação. Isso faz com que ela comece a afastar-se de suas amigas que em tese, se mudariam de escola. Essa manobra faz com que Riley comece a desdenhar de seus gostos em prol de uma aceitação para se enquadrar e receber atenção esperada, tanto no seu desempenho escolar, quanto no desenvolvimento de sua participação no time de  Hockey da escola.

Riley está completando treze anos, e com isso, liga-se na sala de controle o botão da puberdade, o que faz com que sua sala de comando receba uma atualização para receber as novas emoções que irão tomar conta de sua vida naquele instante. Com toda pressão social, Riley começa a desenvolver novas emoções, sendo: Ansiedade, Inveja, Vergonha, Tédio e Nostalgia. Seguindo sua nova rotina, podemos perceber que as ilhas que moldam o seu caráter recebem uma atualização, tornando a ilha da família, responsável pelo seu vínculo com os pais, menor que a ilha da amizade, na qual ela está focada em desenvolver e evitar o deslocamento na nova escola. 


Foto: Reprodução / Disney  / Pixar

Ansiedade é a primeira emoção a chegar, ela chega com um monte de bagagem, que, em tese, constituem um significado bastante crucial para o seu desenvolvimento: a tendência que temos de sentir ansiedade em diferentes circunstâncias por motivos diversos, antecipando assim, uma preocupação em relação ao futuro ou ao desenvolvimento de uma ideia e possibilidade do futuro, como a própria Ansiedade comenta: Estou protegendo a Riley das coisas que ela não pode ver. Essa fala evoca o sentimento de ansiedade constante em nos preocuparmos com o que está por vir, pensando e evocando situações, comentários e sentimentos de repulsa e desaprovação interior em relação à nossa capacidade de desenvolver tarefas antes consideradas banais. As outras emoções chegam em seguida tornando o ambiente apertado, e de certa forma, difícil de controlar. Após desaprovação de Alegria, a ansiedade toma conta da sala de controle e bane todas as emoções primárias (raiva, alegria, nojinho e tristeza) para o cofre do esquecimento, onde ela encontra uma criatura que esconde um segredo que Riley nunca contou à ninguém, isso torna todas as emoções reprimidas.

Na sala de controle, Ansiedade começa a substituir as memórias bases de Riley em memórias repletas de gatilhos e emoções cercadas de ansiedade, o que faz com que ela desenvolva com frequência o sentimento de impotência em relação à tudo o que costumava gerir com facilidade no dia-a-dia. A missão agora é tentar a todo custo retornar á sala de comando e devolver o comando para Alegria, a fim de reestabelecer a antiga Riley.

A ansiedade em se dar bem no primeiro jogo de Hockey faz Riley perder uma noite de sono em busca de treinamento para o grande dia. O desenvolvimento de memórias e possibilidades acerca do jogo, da amizade e sua estadia escolar começam a se desenvolver sob o comando de Ansiedade em sua cabeça, o que a deixa cada vez menos incapacitada e buscando a todo custo driblar os sentimentos de confiança que nutria por si e sua capacidade, chegando a invadir a sala da treinadora em busca de suas anotações para saber o veredito ou informação acerca de si mesma.

Uma das frases mais marcantes do filme é o de Alegria triste com suas tentativas de vencer a Ansiedade: Eu desisto, talvez não dê. Talvez seja isso mesmo nessa nova etapa, sentir menos alegria (...).

Tristeza consegue com o auxílio de Vergonha, estabelecer-se escondida na sala de controle, fazendo com que todos consigam retornar. Porém, Ansiedade está travada, travando Riley e a impedindo de sentir novos sentimentos. Todos então se unem para retirar das memórias bases de Riley toda carga negativa depositada por Ansiedade, até que Riley consegue se estabelecer novamente como noutros momentos, recuperando seu relacionamento com as amigas e livrando-se do sentimento de impotência.

O ápice do filme é a incapacidade das emoções em controlar a ansiedade, então, todas as emoções -incluindo a própria ansiedade - abraçam-se e abraçam a memória base de Riley, o que pode ser entendido como uma ferramenta de opção para driblar um episódio de ansiedade em alguém: o acolhimento.

A proposta do filme Divertida Mente 2 de abordar a puberdade e as pressões sociais enfrentadas pelos adolescentes de forma inovadora e sensível é extremamente bem-sucedida. A maneira como o enredo explora as novas emoções que surgem na sala de controle de Riley, como Ansiedade, Inveja, Vergonha, Tédio e Nostalgia, é muito relevante e representa de forma realista os desafios emocionais enfrentados por muitos jovens hoje em dia. Além disso, a forma como o filme trabalha a importância do autoconhecimento e da aceitação de si mesmo é uma mensagem poderosa e necessária, principalmente em um mundo onde a busca por validação externa pode ser tão prevalente. A maneira como o filme aborda o tema da ansiedade e a importância do acolhimento e do apoio emocional para superá-la é uma lição valiosa e bem representada. Em resumo, Divertida Mente 2 é uma obra que não só entretém, mas também educa e sensibiliza o público sobre questões importantes relacionadas ao desenvolvimento emocional e relacional dos jovens.

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