Mostrando postagens com marcador Dostoiévski. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Dostoiévski. Mostrar todas as postagens

[RESENHA #723] Humilhados e ofendidos, de Dostoiévski

Publicado em 1861, após dez anos de exílio na Sibéria, Humilhados e ofendidos ocupa uma posição-chave na produção de Fiódor Dostoiévski. Por um lado, é sua obra mais ambiciosa até o momento, na qual revisita e leva ao limite as suas concepções de literatura e sua visão dos males da sociedade. Por outro, suas páginas abrem o caminho para uma forma de romance que vai ganhar corpo nos grandes livros de sua maturidade, e não por acaso o leitor encontra nesta obra conflitos e personagens que parecem prefigurar suas criações posteriores. Para compor a trama de Humilhados e ofendidos, romance no qual deposita enormes esperanças, Dostoiévski coloca no centro da ação a figura do escritor Ivan Petróvitch, que é também o narrador do livro, e cuja vida guarda tantas semelhanças com a sua que não é equivocado ler certas passagens como um ensaio de autoficção avant la lettre ― gesto arriscado, que não foi plenamente compreendido pela crítica da época. Os leitores, porém, não tiveram dúvidas. Desde sua primeira aparição como folhetim no número inicial da revista O Tempo, o romance fascinou o público, que reconheceu ali um modo inédito de narrar, capaz de trazer à luz os sentimentos mais obscuros com uma intensidade nunca vista ― intensidade que encontrou sua equivalência precisa na tradução de Fátima Bianchi e nas gravuras de Oswaldo Goeldi.

RESENHA


A obra de Fiódor Mikhailovich Dostoiévski é geralmente dividida em duas fases pelos críticos literários e estudiosos do escritor russo. A primeira fase ocorreu antes de sua prisão na Sibéria no início da década de 50 do século XIX, quando escreveu os romances: Gente pobre, O duplo, Noites brancas e Niétotchka, além de alguns contos e novelas. A segunda fase começou após seu retorno para São Petersburgo em 1859, após ter passado aproximadamente cinco anos preso na Sibéria, submetido a trabalhos forçados por ter supostamente feito parte de um grupo que pretendia depor o Czar Nicolau I. Após esse período, cumpriu mais quatro anos de serviço militar compulsório no Cazaquistão. Essa fase é considerada sua fase mais criativa e madura, com a publicação de suas obras-primas, os romances: Crimes e Castigo, O idiota, Os demônios e Os irmãos Karamazov. Contudo, é importante salientar uma fase que poderíamos considerar de transição em sua obra, que inclui um livro autobiográfico - narrando suas experiências e impressões da prisão -, Recordação da casa dos mortos (com seus primeiros capítulos sendo publicados em forma de folhetim, entre os anos de 1860 e 1861), e os romances: Humilhados e Ofendidos (também publicado em folhetim no ano de 1861) e Notas do subterrâneo (1864 – este, inclusive já é considerado por muitos críticos como a obra que inaugura a brilhante segunda fase do autor, que publicaria dois anos depois seu primeiro grande sucesso literário após o retorno a São Petersburgo, o livro Crime e Castigo).

O romance Humilhados e Ofendidos, que também recebeu uma ótima acolhida de crítica e público, possui uma forte conotação autobiográfica (como alguns outros romances de Dostoiévski, citando como exemplo O jogador). Seu personagem principal e narrador da história, Ivan Petrovich, vulgo Vania, é um escritor pobre, que teve sua primeira obra bem recepcionada pela crítica (no romance o narrador cita B, clara alusão a Belinski, grande crítico da época.

Neste romance, já podemos notar, de forma embrionária, vários dos principais elementos que imortalizaram a obra de Dostoiévski. Os primeiros passos de sua narrativa polifônica, onde as vozes dos personagens rivalizam com a do narrador para construir a trama e apresentar ao leitor o íntimo de suas almas, já são perceptíveis. A análise psicológica que tanto caracterizou a obra do autor russo também se faz presente. Nesta obra, Dostoiévski utiliza, assim como na maioria de seus livros, como modelo o romance realista da primeira metade do século XIX, para criar uma base para suas análises psicológico-dialéticas do íntimo de suas personagens, contraditórias e atormentadas por natureza. A crítica social, porém, ainda é o ponto principal do romance, resgatando, de uma certa maneira, suas preocupações já demonstradas em Gente Pobre. Contudo, em Humilhados e Ofendidos, a crítica social é permeada por personagens que não se contentam em apenas fazer os papéis de humilhados, de ofendidos, ou de algozes e prepotentes senhores aristocráticos. A narrativa dostoievskiana nos coloca a descoberto os dramas, as contradições, os desesperos e as angústias dos personagens. A diferença é que neste romance Dostoiévski ainda não dá o protagonismo à sua psicologia-dialética, sua preocupação maior ainda é com a denúncia das humilhações e ofensas sofridas pelas pobres gentes, por parte de uma aristocracia decadente, mas ainda poderosa, opressora, e arrogante.

De um lado, temos os humilhados e ofendidos: o casal Ikhmeniev, que devido à ingenuidade e bondade de Nikolai Serguievich Ikhmeniev, se vêm destituídos de sua propriedade, através de um processo jurídico pernicioso e repleto de falsas acusações; Natália Nikolaievna Ikhmeniev, que para os padrões da época havia desonrado sua família, abandona o lar por amor a um homem que, por fraqueza de caráter, a submete a situações de profundas humilhações; Ivan Petrovich, o narrador, que percebe que ser um escritor conhecido e elogiado, não o faz superar as barreiras sociais, apesar de frequentar, esporadicamente, o meio aristocrático que despreza. Sua fama não lhe trouxe riqueza e tampouco o privou das humilhações e ofensas dos poderosos, como veremos em suas relações com o príncipe Valkovskii; Nelly, a órfã maltrapilha, que apesar de ser levada a pedir esmolas na rua, traz em si uma altivez quase nobre (e o motivo disso só descobriremos nas páginas finais); e até mesmo Masloboiev, que através de sua esperteza, golpes e arranjos, consegue transitar em um universo diferente daquele a que pertence por origem, mas que também, ao final, é humilhado e ofendido pela nobreza aristocrática que tanto menospreza. Por outro lado, temos os opressores, os que se utilizam de sua posição, de direito e de herança, para humilhar e tripudiar dos menos favorecidos de berço e de fortuna: o príncipe Piotr Alexandrovich Valkovskii; seu filho Aliosha; e todo um séquito de condessas, condes e princesas que gravitam em torno de uma elite aristocrática restrita e decadente, na qual, não raramente, os casamentos por interesses financeiros são a única forma de manterem seu “status quo”.

A história de "Humilhados e Ofendidos" oscila entre dois eixos centrais. O primeiro é o drama de amor entre Natasha e Aliosha, e consequentemente as tentativas do príncipe Valkovskii de desestabilizar o casal e convencer seu filho a se casar com Kátia, enteada da condessa - velha amiga do príncipe - e herdeira de grande fortuna. O segundo eixo é a história de Nelly, órfã que se liga afetuosamente a Vania. Durante a narrativa, nos compadecemos com a dupla humilhação de Ikhmeniev, que além de ver sua filha desonrada e ameaçada pelo príncipe, é vítima de um terrível e injusto processo jurídico perpetrado pelo mesmo príncipe. Também nos tocamos com a doença e abandono da pequena Nelly, e finalmente com a estoica abnegação de Natasha. Mas é nos diálogos e no sutil escrutínio das complexas almas dos personagens que o romance ganha seu valor literário. O personagem Aliosha é sem dúvida um dos mais repulsivos da história da literatura. O escritor russo conseguiu criar um personagem execrável, sem caráter e abjeto, mas que contudo possui uma alma boa, pura, um coração ingênuo. Entretanto, sua pureza e ingenuidade são levadas ao paroxismo, tornando o personagem odioso, mimado e irresponsável aos olhos do leitor. Ser bom, ter um bom coração, não faz sentido algum se o indivíduo não tem força de vontade e caráter para fazer a coisa certa e moralmente correta. É o que se

Mas é o pai de Aliosha, o príncipe Valkovskii, o grande personagem do livro. Nele vemos antecipado grandes temas que Dostoiévski irá discutir mais aprofundadamente em seus futuros romances. O príncipe reúne em si todas as características deletérias que o escritor russo vê no estereótipo da decadente aristocracia russa: a dissimulação, o egoísmo, a hipocrisia, o cinismo. O príncipe encarna a antítese cristã. Todos os seus atos são premeditados e encobertam interesses pessoais. O perfil de sua personalidade vai sendo desvendado aos poucos, através do brilhante uso que Dostoiévski já faz da polifonia. Isso se dá através dos longos diálogos do príncipe e Natasha; dos diálogos entre Aliosha e Natacha, onde Aliosha reproduz as conversas que tem com o pai que ele admira e venera, e devido à sua ingenuidade que beira a estupidez, mas que em momento algum suplanta sua arrogância nobiliárquica, ele se deixa enganar pela argúcia maldosa do príncipe; mas é principalmente nos diálogos do príncipe com Vania que percebemos, ou melhor, que entrevemos a alma negra do príncipe, até que finalmente ele retira teatralmente sua máscara ao convidar o narrador para jantar, assim que saem de uma visita à casa da condessa. Depois de beber bastante, o príncipe vai aos poucos colocando as cartas na mesa.

"Humilhados e Ofendidos" é uma obra-prima da literatura russa. Dostoiévski, com sua narrativa polifônica, consegue criar personagens complexos e profundos, que nos fazem refletir sobre a natureza humana e a sociedade em que vivemos. O romance é uma crítica contundente à aristocracia russa decadente, que oprime e humilha os menos favorecidos. A história é envolvente e emocionante, e os diálogos são brilhantes. O livro é uma leitura obrigatória para quem aprecia a boa literatura.

[RESENHA #722] O duplo, de Dostoiévski



Sobre O duplo, seu segundo romance, publicado em 1846, Dostoiévski declararia: "nunca dei uma contribuição mais séria para a literatura do que essa". De fato, ao retratar o drama de um pequeno funcionário de personalidade cindida, que passa a enxergar e conviver com seu próprio duplo, o autor russo antecipa aqui seus grandes romances de maturidade, como Crime e castigo e O idiota. Influenciada por Hoffmann e Gógol, esta surpreendente história ganha aqui sua primeira tradução direta do russo, que busca preservar toda a radicalidade e o humor do texto original, e vem acompanhada de uma seleção das belas ilustrações do artista expressionista austríaco Alfred Kubin.

RESENHA


O Duplo é um romance do escritor russo Fiódor Dostoiévski, publicado em 1846. A história gira em torno de Iákov Petróvitch Goliádkin, um funcionário público sem grande expressão social, que começa a ser atormentado por um duplo, que é uma cópia exata dele mesmo. O livro é uma obra-prima da literatura russa e é considerado um dos primeiros trabalhos de Dostoiévski. A obra é uma crítica à sociedade da época, que muitas vezes se baseava em preconceitos e estereótipos para julgar as pessoas. O livro é repleto de humor e ironia, e o narrador onisciente revela a dedicação do protagonista que, na verdade, fica obcecado com seus estudos na área de psiquiatria. Além disso, ele aborda os temas da identidade, da loucura e da alienação. O Duplo é uma leitura obrigatória para quem quer conhecer a literatura russa e a obra de Dostoiévski.

Dostoiévski é um dos maiores escritores russos de todos os tempos e é frequentemente comparado a Freud e Nietzsche por sua exploração das bases irracionais e inconscientes da psiquê humana. A Rússia na década de 1840 era um mundo em mudança, resistindo freneticamente à pressão por mudanças, que vinha tanto de dentro da Rússia, quanto da Europa Ocidental. O próprio Czar insinuou a abolição da servidão, e o círculo de debates do qual Dostoiévski participou foi ignorado pelas autoridades durante anos. No entanto, o advento das revoluções europeias de 1848 pôs fim a toda conversa e tolerância. Assim, a interrupção da carreira de Dostoiévski em 1849 coincidiu com a ruptura brusca na vida política e cultural russa, quando ele foi preso acusado de conspiração contra o Czar. Dez anos depois (1859), foi solto, o que coincidiu com um período com menos censura e com a relativa liberdade política. Tudo isso mudou a forma de pensar de Dostoiévski. O Duplo é um romance do escritor russo Fiódor Dostoiévski, publicado em 1846. A história gira em torno de Iákov Petróvitch Goliádkin, um funcionário público sem grande expressão social, que começa a ser atormentado por um duplo, que é uma cópia exata dele mesmo. O livro é uma obra-prima da literatura russa e é considerado um dos primeiros trabalhos de Dostoiévski. A obra é uma crítica à sociedade da época, que muitas vezes se baseava em preconceitos e estereótipos para julgar as pessoas. O livro é repleto de humor e ironia, e o narrador onisciente revela a dedicação do protagonista que, na verdade, fica obcecado com seus estudos na área de psiquiatria. Além disso, ele aborda os temas da identidade, da loucura e da alienação. O personagem principal, Iákov Petróvitch Goliádkin, é um homem solitário e inseguro que se sente deslocado na sociedade em que vive. Ele é um funcionário público sem grande expressão social, que começa a ser atormentado por um duplo, que é uma cópia exata dele mesmo. O duplo é uma representação da parte sombria e reprimida da personalidade de Goliádkin, e o livro explora a luta interna do personagem para lidar com essa dualidade. O livro é importante por ser uma das primeiras obras de Dostoiévski e por abordar temas que seriam recorrentes em sua obra posterior. Além disso, é uma obra-prima da literatura russa e é considerado um dos melhores trabalhos de Dostoiévski.

Joseph Frank, o maior biógrafo de Dostoiévski, afirmou que “O Duplo” é uma confissão do próprio autor. Como Golyadkin, Dostoiévski também sofria de “alucinações”, que podiam muito bem incluir delírios parecidos com Golyadkin; e era de uma timidez que beirava a anormalidade. Esses aspectos de autorretrato que estão contidos em “O Duplo” constituem apenas um elemento de sua composição; outros provêm de suas influências literárias externas. Era (nas palavras de Joseph Frank) um hoffmanista russo. Os primeiros capítulos de “O Duplo” contêm uma brilhante descrição da personalidade dividida de Goliátkin antes de sua completa dissociação em duas entidades independentes. De um lado, há o evidente desejo de aparentar uma posição elevada e uma imagem mais lisonjeira de si mesmo – daí a carruagem e o libré, as orgias consumistas, como a compra de móveis elegantes, como se fosse um noivo prestes a casar, até mesmo o detalhe de trocar seu dinheiro em notas menores para dar a impressão de ter um bolso mais recheado de dinheiro. Suas pretensões de amor por Clara Olsúfievna não é causa, mas a expressão de um afã de subir na escala social e de salvar o próprio ego.

O Duplo é uma obra-prima da literatura russa e é considerado um dos melhores trabalhos de Dostoiévski. O livro é uma crítica à sociedade da época, que muitas vezes se baseava em preconceitos e estereótipos para julgar as pessoas. Além disso, é uma obra que explora temas como a identidade, a loucura e a alienação de forma brilhante. A descrição da personalidade dividida de Goliátkin é um dos pontos altos do livro, e a obra é uma leitura obrigatória para quem quer conhecer a literatura russa e a obra de Dostoiévski. A influência literária externa de Dostoiévski é evidente em “O Duplo”, e o livro é um exemplo da habilidade do autor em criar personagens complexos e intrigantes. Em resumo, “O Duplo” é uma obra-prima da literatura russa e uma das melhores obras de Dostoiévski.

[RESENHA #715] O idiota, de Dostoiévski


Nova edição, revista pelo tradutor, de O idiota, um dos grandes romances de Dostoiévski, trazendo a série completa de ilustrações de Oswaldo Goeldi. Publicado originalmente em 1868, este é um desses livros em que o leitor reconhece de imediato a marca do gênio. Nele, o autor russo constrói um dos personagens mais impressionantes de toda a literatura mundial ― o humanista e epilético príncipe Míchkin, mescla de Cristo e Dom Quixote, cuja compaixão sem limites vai se chocar com o desregramento mundano de Rogójin e a beleza enlouquecedora de Nastácia Filíppovna. Entre os três se agita uma galeria de personagens de extrema complexidade, impulsionados pelos sentimentos mais contraditórios ― do amor desinteressado à canalhice despudorada ―, conferindo a cada cena uma intensidade alucinante que nunca se dissipa nem perde o foco. A tradução de Paulo Bezerra, a primeira realizada diretamente do russo em nosso país, traz para o leitor brasileiro toda a força da narrativa original.

RESENHA


O Idiota é um dos principais romances de Fiódor Dostoiévski, um dos maiores escritores russos de todos os tempos. Escrito entre 1867 e 1869, o livro retrata a sociedade russa do século XIX, em meio a transformações políticas, sociais e culturais. O autor, que viveu uma vida conturbada, marcada por problemas financeiros, doenças, prisões e exílios, reflete em sua obra questões existenciais, morais, religiosas e psicológicas, com uma profunda análise dos personagens e de seus conflitos.

O protagonista do romance é o príncipe Liév Nikoláievitch Míchkin, um jovem nobre que retorna à Rússia depois de passar vários anos em um sanatório na Suíça, tratando de sua epilepsia. Míchkin é um homem puro, bondoso, sincero e compassivo, que se choca com a corrupção, a hipocrisia, a violência e a ambição que dominam a sociedade em que vive. Ele é chamado de idiota pelos que o cercam, por não se adaptar às convenções e aos interesses mundanos. Sua inocência e sua generosidade são vistas como fraquezas e loucura, e ele acaba sendo vítima de intrigas, calúnias e explorações.

Míchkin se envolve em um triângulo amoroso com duas mulheres muito diferentes: Nastácia Filíppovna, uma bela e sofrida jovem que foi abusada na infância e que busca vingança contra seus algozes, e Aglaia Ivánovna, uma moça rica, orgulhosa e caprichosa, que se sente atraída pelo príncipe, mas que também o despreza. Além delas, Míchkin tem como rival o ardiloso e apaixonado Rogójin, um homem rico e violento, que disputa o amor de Nastácia e que nutre uma obsessão doentia por ela. O destino dos quatro personagens principais será trágico, marcado por desencontros, ciúmes, crimes e mortes.

O Idiota é uma obra-prima da literatura universal, que aborda temas universais e atemporais, como o bem e o mal, a culpa e o perdão, a fé e a dúvida, a razão e a emoção, a liberdade e o destino. O livro é também uma crítica à sociedade russa da época, que estava em crise de valores e de identidade, dividida entre a tradição e a modernidade, entre o Oriente e o Ocidente. Dostoiévski, que era um cristão ortodoxo e um patriota, defende em sua obra a necessidade de uma renovação espiritual e moral da Rússia, baseada no ideal evangélico do amor ao próximo e na valorização da cultura nacional.

O livro contém frases memoráveis, que expressam o pensamento e o sentimento dos personagens, bem como a visão de mundo do autor. Algumas delas são:

- "É melhor ser infeliz, porém estar inteirado disso, do que ser feliz e viver sendo feito de idiota." ¹
- "Os criadores e os génios, no início da sua carreira, quase sempre, e muitas vezes até no fim, sempre foram considerados pela sociedade como uns parvos e uns malucos — é esta uma das observações mais triviais e sabidas." 
- "De fato, não existe nada mais deplorável do que, por exemplo, ser rico, de boa família, de boa aparência, de instrução regular, não tolo, até bom, e ao mesmo tempo não ter nenhum talento, nenhuma peculiaridade, inclusive nenhuma esquisitice, nenhuma idéia própria, ser terminantemente como todo mundo." 
- "Quando a gente mente, ou seja, coloca com astúcia alguma coisa que acontece com excessiva raridade ou nunca acontece, aí a mentira se torna muito mais verossímil." 
- "A delicadeza e a dignidade é o próprio coração que ensina e não um mestre de dança." 

O Idiota é um livro que ensina muito sobre a natureza humana, sobre suas contradições, suas grandezas e suas misérias. É um livro que mostra como o amor pode ser fonte de salvação ou de perdição, de alegria ou de sofrimento, de vida ou de morte. É um livro que revela como a sociedade pode ser cruel e injusta com aqueles que são diferentes, que não se enquadram em seus padrões e que não seguem suas regras. É um livro que nos faz pensar sobre o que é ser idiota e o que é ser sábio, sobre o que é ser humano e o que é ser divino.

O Idiota é um livro de grande importância para a literatura mundial, pois influenciou vários escritores e artistas, que se inspiraram em seus personagens, em seu estilo e em seus temas. Entre eles, podemos citar Albert Camus, Franz Kafka, Marcel Proust, James Joyce, Virginia Woolf, Thomas Mann, Hermann Hesse, André Gide, Ernest Hemingway, Jorge Luis Borges, Gabriel García Márquez, José Saramago, Woody Allen, Akira Kurosawa, entre outros. O livro também foi adaptado para o cinema, o teatro, a ópera, a música e as artes plásticas, demonstrando sua riqueza e sua atualidade.

O AUTOR
Fiódor Dostoiévski (1821-1881) foi um escritor russo autor de Os Irmãos Karamázov e Crime e Castigo, obras-primas da literatura universal. Seus romances abordam questões existenciais e temas ligados à humilhação, culpa, suicídio, loucura e estados patológicos do ser humano.

[RESENHA #714] Noites brancas, de Dostoiévski



No lançamento da Nano, a coleção de bolso da Antofágica, apresentamos a melhor opção para aqueles que desejam conhecer a obra de Dostoiévski – e de quebra, um passeio pela mente de um apaixonado e por uma cidade histórica. Noites brancas é a história do encontro entre uma jovem desiludida e um sonhador, aquele que narra os eventos ocorridos ao longo de poucas noites, durante um período muito especial do ano em São Petersburgo, quando as noites não escurecem. Perambulando pela cidade, e por vezes até conversando com seus prédios, o Sonhador conhece Nástienka, uma melancólica jovem de coração partido. A partir deste encontro, os personagens desenvolvem uma conexão arrebatadora, aquele momento em que todos sentimos que nossos destinos podem mudar. E para o Sonhador não é diferente: ele tem a sensação de que finalmente coisas incríveis podem acontecer em sua vida. Mas será que ele está certo? Livro mais romântico da obra de Dostoiévski, Noites brancas é também uma ótima porta de entrada para começar a ler este grandioso autor da literatura russa. Como apoio e contextualização para a leitura, este livro e toda a coleção Nano apresenta um QR Code que, ao ser escaneado, direciona para um portal de leitura dos textos extras. Neste livro, disponibilizamos um texto de apresentação da cantora e compositora Letrux, posfácios do tradutor Lucas Simone e da professora doutora em Literatura e Cultura Russa pela USP Priscila Nascimento Marques, e também com um ensaio da autora Natalia Timerman.

RESENHA


Um rapaz de São Petersburgo se encanta por uma moça que já tem coração ocupado por outra pessoa. Durante quatro noites, eles conversam e sonham juntos. O rapaz sabe que a mulher não o ama da mesma forma, mas está satisfeito em ser apenas seu amigo. Na quarta noite, a moça sai de São Petersburgo para visitar a avó. O jovem está com o coração partido, mas tem a certeza de que nunca a esquecerá.

O narrador se vê sozinho, porém, ainda carrega a esperança. Ele compreende que, mesmo que seu amor por Nastenka não seja correspondido, ele conseguiu descobrir algo valioso em seu breve encontro. Ele constatou que, apesar da solidão, ainda é capaz de encontrar o amor e uma conexão profunda.

Na história central, temos o Sonhador como protagonista, que se apaixona por Nástenka em uma das noites brancas de São Petersburgo. Nesta obra, ao contrário de outras, em que a preocupação social guia a trama, encontramos um Dostoiévski romântico e brincalhão. O personagem principal, diferente das versões teatrais e cinematográficas, perambula sem rumo pela "noite branca" de São Petersburgo sem ter um nome. 

A expressão "noite branca" se refere a um fenômeno comum na Europa, onde, mesmo com o sol se pondo, ele permanece um pouco abaixo da linha do horizonte, iluminando a noite e criando uma atmosfera onírica. O encontro casual transforma completamente a vida do protagonista solitário até então: ele conhece Nástenka, ingênua e também sonhadora, que, em lágrimas, espera aquele a quem havia prometido seu amor um ano antes.

Noites Brancas é um livro de Fiódor Dostoiévski, publicado em 1848, que narra o encontro e o romance entre um sonhador solitário e uma jovem órfã em São Petersburgo. O livro é considerado uma obra-prima da literatura russa, que explora os temas da solidão, do amor, da esperança e da desilusão.

Noites Brancas é um livro que encanta pela sua beleza poética e pela sua profundidade psicológica. Dostoiévski cria personagens que são ao mesmo tempo reais e idealizados, que sofrem e sonham com um amor impossível. O autor mostra a sua habilidade em retratar as emoções humanas, as angústias existenciais e as contradições da alma. O livro é um convite à reflexão sobre o sentido da vida, o valor da amizade e a busca pela felicidade.

Noites Brancas conta a história de um homem sem nome, que vive isolado em seu quarto, mergulhado em seus devaneios. Em uma noite de inverno, ele conhece Nástienka, uma jovem órfã que espera pelo retorno de seu amado. Os dois iniciam uma amizade e passam a se encontrar todas as noites, compartilhando suas histórias, seus sentimentos e seus sonhos. O homem se apaixona por Nástienka, mas sabe que ela pertence a outro. Ele se contenta em ser seu amigo e seu conselheiro, mas também nutre a esperança de que ela o escolha. No entanto, o destino reserva uma surpresa para os dois, que terão que enfrentar a realidade e o desfecho de sua relação.

Noites Brancas é um livro que emociona e cativa o leitor, que se identifica com os personagens e suas aspirações. É uma obra que revela o talento e a sensibilidade de Dostoiévski, um dos maiores escritores da história.

O AUTOR
Fiódor Dostoiévski (1821-1881) foi um escritor russo autor de Os Irmãos Karamázov e Crime e Castigo, obras-primas da literatura universal. Seus romances abordam questões existenciais e temas ligados à humilhação, culpa, suicídio, loucura e estados patológicos do ser humano.

[RESENHA #713] Notas do subsolo, de Dostoiévski


Nesta obra-prima da literatura mundial, o genial Dostoiévski, um dos maiores autores de todos os tempos, traz uma narrativa intensa que nos convida a embarcar em uma viagem pelas memórias de um ex-funcionário público que, no auge de seus quarenta anos, vive no seu subsolo da repartição em que trabalhava. Dividida em duas partes, Memórias do subsolo, traz as confissões mentais do personagem, revelando seus pensamentos mais íntimos e sua visão sobre si mesmo e de alguns episódios de sua juventude, em muitos dos quais se sentiu humilhado, revelando-se decisivos para a formação de sua personalidade mordaz. Por vezes definido com anti-herói, o narrador desta obra articula monólogos sobre sua vida sombria, solitária, sem amizades, amarga e repleta de problemas de autoimagem – reflexos de seu profundo rancor e de perturbações das mais variadas naturezas. Tais características o tornam incapaz de tomar decisões ou agir com confiança, imerso em dúvidas e questões mal resolvidas sobre si mesmo e sobre o ambiente ao seu redor.

RESENHA

“Manuscritos do Abismo”, um trabalho literário de Dostoiévski lançado em 1864, é uma pedra angular do existencialismo literário. Neste livro, Dostoiévski defende a liberdade individual como um elemento inerente à essência humana.

A história é dividida em duas partes. A primeira, simplesmente chamada de “Abismo”, é narrada por um personagem sem nome. Esta seção oferece um vislumbre da mente do personagem. Ele é um homem de 40 anos, amargurado, que vive em um apartamento em ruínas e se aposentou do serviço público após receber uma herança. Ele é um niilista e misantropo que vive “no abismo”, ou seja, em sua própria consciência reflexiva, há muitos anos e escreveu estes “Manuscritos do Abismo”, sem intenção de publicá-los.

A segunda parte da obra é intitulada “A propósito da neve úmida”. No final da primeira parte, a queda de neve úmida traz à tona memórias do passado do personagem e o perturba. Por tédio, ele começa a relatar suas experiências passadas tumultuadas quando tinha 24 anos. Sua incapacidade de se relacionar com os outros resulta em tentativas fracassadas de estabelecer relações e participar da vida, levando-o às profundezas do isolamento.


Parte I. Subterrâneo

Eu sou um indivíduo enfermo… um indivíduo amargurado. Sou um indivíduo de aparência desagradável […] Tenho formação suficiente para não ser supersticioso, mas sou […] Não, recuso-me a procurar um médico por pura obstinação. Isso você provavelmente não vai entender […] Meu fígado está ruim, bom – que piore!

Desde o início, somos introduzidos à mente peculiar do personagem. Ele é o anti-herói por excelência. Ele sente uma inveja intensa do “homem de ação”, aquele que possui pouca capacidade intelectual e está livre das dúvidas, questionamentos e ressentimentos que fazem parte de sua consciência abissal.

Mas, por outro lado, ele encontra conforto em seu sentimento de superioridade intelectual, embora isso o impeça de participar da “vida” como as outras pessoas, ele está constantemente analisando demais tudo e, portanto, é incapaz de tomar decisões.

Ele passa por uma vida cheia de auto-repulsa. Como órfão, ele nunca teve relacionamentos normais e amorosos com outras pessoas. Costuma passar o tempo lendo literatura, mas refletindo sobre a realidade, tem consciência de seu absurdo e esse contraste o afasta ainda mais da sociedade.

A tensão entre sua superioridade intelectual e sua profunda auto-repulsa é um tema psicológico recorrente ao longo do romance.

O personagem tem um repertório limitado de emoções, que incluem raiva, amargura, vingança e humilhação. Ele descreve ouvir as pessoas como “ouvir através de uma fenda sob o chão”. A palavra “abismo”, na verdade, vem de uma má tradução para o inglês. Uma tradução melhor seria um espaço para rastejar: um espaço sob o chão que não é grande o suficiente para um ser humano, mas onde vivem roedores e insetos.

Dostoiévski enfatiza no início que personagens como o personagem “não só podem como devem existir em nossa sociedade, quando levamos em conta as circunstâncias nas quais nossa sociedade foi formada”.

O personagem observa o surgimento de uma sociedade utópica que busca eliminar o sofrimento e a dor. Ele argumenta que o homem anseia por ambas as coisas e precisa delas para ser feliz.

Buscamos a felicidade, mas temos um talento especial para nos tornarmos infelizes.

“O homem às vezes é extraordinariamente e apaixonadamente apaixonado pelo sofrimento: isso é um fato.”

O personagem critica o utilitarismo do século XIX, uma corrente de pensamento que tentou usar fórmulas matemáticas para alinhar os desejos do homem com seus melhores interesses. Ele afirma que o indivíduo sempre se rebelará contra uma ideia de paraíso imposta coletivamente, por causa da irracionalidade subjacente da humanidade.

Como indivíduos, às vezes não agimos em nosso próprio interesse, simplesmente para validar nossa existência como indivíduos, para exercer nosso livre arbítrio. O personagem ataca esse tipo de interesse próprio esclarecido. Ele despreza a ideia de sistemas culturais e legislativos que se baseiam neste egoísmo racional.

Uma vida utilitária e previsível restringiria a liberdade do homem, a vida seria tão extraordinariamente racional que tudo se tornaria monótono. Esta afirmação explica a insistência do protagonista em que pode encontrar prazer em suas dores de dente ou de fígado, é uma forma de ir contra a confortável previsibilidade da vida. Embora ele não se orgulhe desse comportamento inútil. Em outras palavras, a regra de que dois mais dois são quatro o irrita, ele quer a liberdade de dizer que dois mais dois são cinco.

Ele se culpa por não ser mau o suficiente para ser um canalha ou insignificante o suficiente para ser um inseto.

O indivíduo não busca o que é prejudicial para ele, mas o indivíduo anseia mais pela liberdade do que pela felicidade, a capacidade de realizar o que deseja, mesmo quando isso lhe causa dano. No entanto, não há garantia de que os seres humanos usarão a liberdade de maneira construtiva. A evidência histórica sugere o contrário, que os seres humanos buscam a destruição dos outros e de si mesmos. Pode-se dizer qualquer coisa sobre a história do mundo, a única coisa que não se pode dizer é que ela é racional.

“Dê ao homem todas as bênçãos terrenas, afogue-o em um mar de felicidade, de modo que nada além de bolhas de felicidade possam ser vistas na superfície, dê-lhe prosperidade econômica tal que ele não tenha mais nada para fazer além de dormir, comer bolos e se preocupar com a continuação de sua espécie, e mesmo por pura ingratidão, puro despeito, o homem pregaria alguma peça desagradável a você.”

O homem não é razoável; e mesmo que fosse razoável, ele sairia do seu caminho para fazer algo perverso.

O homem gosta de abrir estradas e de criar, mas também tem um amor apaixonado pela destruição e pelo caos. Talvez o homem só ame aquele edifício à distância e não o ame de perto, talvez apenas ame construí-lo e não queira viver nele. Em outras palavras, ele ama a jornada, mas não o fim.

Parte II. A propósito da neve molhada

Nesta seção, o autor usa exemplos concretos para ilustrar as teorias abstratas da seção anterior, narrando eventos específicos da vida do protagonista aos 24 anos.

A seção é dividida em três partes. Na primeira, o personagem desenvolve uma obsessão por um policial que o humilhou em um bar. Ele sempre cruza com ele na rua, mas o policial nunca o reconhece. Ele acaba pegando dinheiro emprestado para comprar um casaco caro e esbarra no policial para mostrar sua igualdade. Mas, para sua surpresa, o policial não reage e continua andando sem notá-lo.

O personagem  preferiria ser humilhado, o que na verdade lhe dá uma sensação de prazer e poder, pois ele mesmo provocou a humilhação. Ele não se importa com o resultado, desde que possa exercer sua vontade.

A segunda parte gira em torno de um jantar com alguns antigos colegas de escola, pois ele deseja sua atenção e amizade. Porém, eles chegam uma hora atrasados ​​​​e ele já fica irritado e magoado e logo começa a brigar com eles, expressando todo o seu ódio à sociedade e usando-os como representantes dela. No final, todos saem sem ele para um prostíbulo secreto. O personagem principal, ainda irritado, os segue. Lá ele encontra Liza, uma jovem prostituta, com quem se deita.

“O que é melhor: felicidade barata ou sofrimento sublime? Bem, vamos lá, qual é o melhor?

O sofrimento faz parte da condição humana e ficamos muito mais felizes em aceitá-lo como é. No final do romance, o rapaz diz:

"Na minha vida Eu estava apenas suportando pela metade o que ela não se atreveu a fazer.”

O homem do subsolo decidiu terminar a sua nota aqui. Numa nota de rodapé no final do romance, Dostoiévski revelou que, embora subsistisse mais nesta história, “parece que podemos parar por aqui”. Embora deixe a trama no final sem uma conclusão definitiva, o final ambíguo e amargo é na verdade o melhor, pois reforça – mas não resolve – os temas introduzidos no livro, destacando o profundo sofrimento psicológico do rapaz.

O AUTOR
Fiódor Dostoiévski (1821-1881) foi um escritor russo autor de Os Irmãos Karamázov e Crime e Castigo, obras-primas da literatura universal. Seus romances abordam questões existenciais e temas ligados à humilhação, culpa, suicídio, loucura e estados patológicos do ser humano.

[RESENHA #712] Os demônios, de Dostoiévski


Impressionado com o assassinato de um estudante por um grupo niilista, Dostoiévski concebeu este livro como um protesto contra os que queriam transplantar a realidade política e cultural da Europa ocidental para a Rússia. Apesar da intenção inicialmente panfletária, Os demônios é um romance magistral, à altura de Crime e castigo ou Os irmãos Karamázov.

RESENHA


Nesta nova tradução, o romance político de Dostoiévski sobre a invasão de ideias estranhas na Rússia do século XIX é revitalizado. As traduções anteriores de Larissa Volokhonsky e Richard Pevear de obras como Os Irmãos Karamazov, Crime e Castigo e Notas do Subterrâneo foram aclamadas por sua fidelidade e nuances ao estilo de Dostoiévski, e se tornaram as versões em inglês mais respeitadas. Agora eles enfrentaram um dos romances mais complexos e profundos de Dostoiévski. O título, que foi mal traduzido no passado como “Os Possuídos”, se refere aos demônios das ideias políticas e filosóficas que vieram do Ocidente para a Rússia: idealismo, racionalismo, empirismo, materialismo, utilitarismo, positivismo, socialismo, anarquismo, niilismo e, por trás de todos eles, ateísmo. Pevear explica na introdução: “São esses os demônios, portanto, ideias, essa legião de ismos que veio do Ocidente para a Rússia.'' Dostoiévski, inspirado pelo caos político de sua época, constrói uma história moral complexa em que os habitantes de uma cidade provinciana se tornam inimigos uns dos outros por causa de sua crença cega em suas ideias. Stepan Trofímovitch, um pensador amável que nunca põe em prática suas ideias liberais, cria um monstro em seu discípulo, Nikolai Vsevolodovich Stavrogin, que leva a sério os ensinamentos de seu mentor, juntando-se a um grupo de niilistas que usam a violência como meio de expressar suas ideias. Stavróguin planeja uma “corrupção sistemática da sociedade e de todos os seus princípios” para que, da destruição resultante, ele possa “levantar a bandeira da revolta”. Uma lógica assustadoramente semelhante à do stalinismo. A tradução de Volokhonsky e Pevear revela todo o humor sutil e o nacionalismo linguístico de Dostoiévski, e as notas abundantes são essenciais para entender a política russa do século XIX.


Demônios, de Fyodor Dostoiévski, é um romance que continua a ecoar no mundo atual, pois nos confronta com uma sinfonia melancólica de autoconhecimento. Os personagens do romance não são apenas representantes de ideologias ultrapassadas, mas expressam a essência do conflito humano.

O romance de Dostoiévski é uma crítica mordaz aos diversos “ismos” que dominam o pensamento moderno. Ele mostra como as ideias estrangeiras invadem a Rússia do século XIX e possuem as mentes das pessoas. No entanto, o romance não é apenas uma profecia política, mas uma obra de arte profunda e perturbadora.

Dostoiévski escreveu Demônios em resposta a um crime que abalou a Rússia em 1869. O romance narra a história de uma gangue de revolucionários que matam um de seus membros como um sacrifício. A trama é complexa e confusa, cheia de radicais de todas as tendências. Stiepan Trofímovitch, o liberal sonhador, vive em um mundo de fantasias sobre a fraternidade humana, chorando sobre garrafas de vinho. Seu filho, Pyotr, é um rebelde cínico que espalha boatos na casa do governador. Estudantes anônimos clamam por revolução e homens barbudos falam absurdos. Até os aristocratas da cidade se fingem de progressistas, apoiando os anarquistas. Todos esses personagens são movidos por uma enorme vaidade.

Demônios é um romance que explora as ideias que dominaram a Rússia do século XIX, muitas das quais podem parecer estranhas ao leitor ocidental. Chátov, que defende a identidade russa, veste-se com roupas tradicionais. A história se passa após a libertação dos servos, o que abre espaço para propostas políticas e sociais radicais. No entanto, os personagens não são simplesmente representantes de ideologias. Quando Kirillov diz que vai se matar porque “Deus não existe – eu sou Deus”, não sabemos se ele está louco ou não. Como em muitas obras de Dostoiévski, as vozes mais sensatas em Demônios estão à beira da loucura. O diálogo incessante entre elas cria uma polifonia caótica e genial.

Demônios é um romance fascinante e provocativo, que nos desafia a pensar sobre as consequências das ideias que abraçamos. Dostoiévski nos mostra como as ideias podem se tornar demônios que nos possuem e nos levam à violência e à destruição. Ao mesmo tempo, ele nos oferece uma visão da complexidade humana, que não se reduz a nenhuma fórmula ou sistema. Demônios é uma obra-prima da literatura mundial, que merece ser lida e relida.

O AUTOR
Fiódor Dostoiévski (1821-1881) foi um escritor russo autor de Os Irmãos Karamázov e Crime e Castigo, obras-primas da literatura universal. Seus romances abordam questões existenciais e temas ligados à humilhação, culpa, suicídio, loucura e estados patológicos do ser humano.

[RESENHA #711] Crime & castigo, de Dostoiévski

Crime e castigo é a obra mais célebre de Dostoiévski e um dos romances fundamentais da literatura ocidental. Escrita entre 1865 e 1866, quando Dostoiévski tinha 45 anos, foi publicada em partes na revista Rússki Viéstnik [O Mensageiro Russo], a mesma que vinha publicando, na época, o romance "Guerra e paz", de Liev Tolstói. A ideia do livro surgiu quando Dostoiévski propôs a Katkóv, editor da revista, redigir um "relato psicológico de um crime". Na obra, Raskólnikov, um rapaz sombrio e orgulhoso, retraído mas também aberto à observação humana, precisa interromper seus estudos por falta de dinheiro. Devendo o aluguel à proprietária do cubículo desconfortável em que vive, ele se sente esmagado pela pobreza. Ao mesmo tempo, acha que está destinado a um grande futuro e, desdenhoso da moralidade comum, julga ter plenos direitos para cometer um crime – o que fará de uma maneira implacável. Por meio da trajetória de Raskólnikov, Dostoiévski apresenta um testemunho eloquente da pobreza, do alcoolismo e das condições degradantes que empurram para o abismo anônimos nas grandes cidades. Ainda assim, a tragédia não exclui a perspectiva de uma vida luminosa, e o castigo pelo crime vai lhe abrir um longo caminho em direção à verdade.

RESENHA

Crime e Castigo é um dos romances mais famosos e influentes de Fiódor Dostoiévski, um escritor russo do século XIX. O livro conta a história de Ródion Raskólnikov, um ex-estudante pobre que planeja e executa o assassinato de uma velha agiota, pensando que assim poderá se livrar da miséria e se tornar um homem extraordinário. No entanto, o crime não traz a Raskólnikov a felicidade esperada, mas sim um tormento psicológico e moral, que o leva a questionar seus próprios valores e princípios.

O romance é uma obra-prima da literatura universal, que explora com profundidade e realismo os dilemas existenciais do ser humano, como a culpa, o arrependimento, o livre-arbítrio, a fé, a redenção e o amor. Dostoiévski cria personagens complexos e multifacetados, que expressam suas angústias, suas paixões, suas contradições e suas esperanças. A narrativa é envolvente e cheia de suspense, mantendo o leitor interessado até o final.

Um jovem desesperado e moralmente falho comete um duplo assassinato. Ele fica impune por um tempo, até que um detetive perspicaz o encurrala com uma armadilha sutil. Uma amiga que o aconselha a confessar seu crime, e você tem - bem, talvez não um típico mistério de detetive, mas pelo menos uma trama familiar para um episódio de uma série policial. Essa é a estrutura básica de Crime e Castigo, publicado em 1866, quando Dostoiévski estava se tornando um conservador, depois de ter sido um jovem democrata: por isso a ênfase na confissão, estimulada pela prostituta bondosa que tem um coração de ouro e, portanto, o desprezo de Dostoiévski pelos intelectuais liberais e pelos que culpam a sociedade pelos crimes que cometem. Então Rodion Raskolnikov, que decide matar uma agiota velha e cruel, “uma velhinha mirrada e avarenta, de uns sessenta anos, com olhinhos astutos e malvados, um narizinho pontudo e a cabeça descoberta”, entra com um machado, e depois mata também sua irmã que aparece na hora errada. O tradutor Katz consegue dar ao assassinato um tom adequadamente horrível, com sangue esguichando, olhos esbugalhados e coisas assim. 

Crime e Castigo é um livro que merece ser lido por todos que apreciam uma boa literatura e que querem conhecer melhor a obra de Dostoiévski, um dos maiores escritores de todos os tempos. Dostoiévski nasceu em Moscou, em 1821, e teve uma vida difícil, marcada por problemas financeiros, doenças, prisões e exílios. Sua obra literária é caracterizada por uma profunda análise psicológica dos personagens, além de temas como a moralidade, a religião e a sociedade. Dostoiévski é considerado um dos pais do existencialismo, uma corrente filosófica e literária que defende a liberdade individual, a subjetividade e a responsabilidade do ser humano. Dostoiévski morreu em São Petersburgo, em 1881, deixando um legado de obras-primas como Os Irmãos Karamazov, O Idiota, Os Demônios e Memórias do Subsolo.

O AUTOR

Fiódor Dostoiévski (1821-1881) foi um escritor russo autor de Os Irmãos Karamázov e Crime e Castigo, obras-primas da literatura universal. Seus romances abordam questões existenciais e temas ligados à humilhação, culpa, suicídio, loucura e estados patológicos do ser humano.

[RESENHA #710] Gente pobre, de Dostoiévski


Gente Pobre marca a estreia de Dostoiévski na literatura, em 1846, e estabelece desde logo os fundamentos para uma abordagem social, psicológica e profundamente corrosiva da compreensão humana. A análise pormenorizada das personagens e suas convicções, enquadradas por um pano de fundo de crítica subtil, ganha em Dostoiévski uma força e um poder imagéticos que extravasam as páginas dos seus livros. Em «Gente Pobre», o autor transporta-nos para um dos bairros mais miseráveis de São Petersburgo, onde um funcionário de meia-idade troca correspondência com uma jovem costureira. Demasiado pobres para se casarem, o seu amor passa todo e apenas por cartas mantidas ao longo do tempo, que refletem a cruel realidade do dia a dia passado num ambiente de extrema precariedade.

RESENHA


O primeiro romance de Fyodor Dostoiévski, Gente Pobre, foi escrito em nove meses entre 1844 e 1845, quando o autor enfrentava problemas financeiros por causa de seu estilo de vida dispendioso e seu vício em jogos. Ele tentou ganhar dinheiro com algumas traduções de romances estrangeiros, mas não teve sucesso, e resolveu escrever seu próprio romance.

Gente Pobre é um romance epistolar, que narra a vida de dois primos pobres, Makar Devushkin e Varvara Dobroselova, que trocam cartas sobre suas condições miseráveis. O romance retrata a realidade das pessoas pobres, sua relação com as pessoas ricas e a pobreza em geral, temas típicos do naturalismo literário. Os dois primos desenvolvem uma amizade profunda, mas estranha, que é abalada quando Dobroselova se interessa por um viúvo rico, Sr. Bykov, que a pede em casamento. Devushkin, um escriturário sentimental, é um dos primeiros exemplos desse tipo de personagem na literatura naturalista. Dobroselova, por outro lado, se afasta da literatura e da comunicação com Devushkin, escolhendo uma vida mais prática.

Varvara Dobroselova e Makar Devushkin são primos de segundo grau afastados duas vezes e vivem em apartamentos precários na mesma rua, um de frente para o outro. O apartamento de Devushkin é uma parte da cozinha dividida com outros inquilinos, como os Gorshkov, cujo filho sofre de fome durante quase todo o romance. Devushkin e Dobroselova se escrevem cartas contando suas dificuldades e Devushkin frequentemente gasta seu dinheiro em presentes para ela.

Gente Pobre é um romance que retrata a vida dos pobres e a sua relação com os ricos, temas frequentes do naturalismo literário. O romance é inspirado em obras como O sobretudo de Nikolai Gogol, O chefe da estação de Alexander Pushkin e Cartas de Abelardo e Heloísa de Peter Abelard e Héloïse d’Argenteuil. O romance é formado por cartas trocadas entre Varvara e seu amigo Makar Devushkin, dois primos pobres que vivem em condições miseráveis. O título e a personagem principal são uma referência a Poor Liza, de Nikolai Karamzin. O romance também apresenta elementos típicos de um romance de classe média, como as origens dos protagonistas e o final trágico.

Gente Pobre é um romance emocionante e comovente, que nos mostra a realidade da pobreza e a força da amizade. Dostoiévski nos faz sentir a dor e a esperança dos personagens, que tentam encontrar algum consolo na literatura e na comunicação. O romance é uma obra de arte que revela o talento e a sensibilidade de Dostoiévski, que escreveu o livro em apenas nove meses. Gente Pobre é um romance que vale a pena ler e apreciar.

O AUTOR

Fiódor Dostoiévski (1821-1881) foi um escritor russo autor de Os Irmãos Karamázov e Crime e Castigo, obras-primas da literatura universal. Seus romances abordam questões existenciais e temas ligados à humilhação, culpa, suicídio, loucura e estados patológicos do ser humano.

[RESENHA #709] Os irmãos Karamazov, de Dostoiévski



Os irmãos Karamázov é o último romance de Dostoiévski. No fundo, ele resume toda a criatividade do escritor, trazendo à baila as "malditas" questões existenciais que o afligiram a vida inteira, com especial relevo para a flagrante degradação moral da humanidade afastada dos ideais cristãos. Cheia de peripécias, a narrativa põe em foco três protagonistas irmãos, representantes dos mais diversos aspectos da realidade russa – o libertino Dmítri, o niilista Ivan e o sublime Aliocha –, a fim de alumiar as profundezas insondáveis do coração entregue ao pecado, corrompido por dúvidas ou transbordante de amor.

RESENHA


"Os Irmãos Karamazov", uma obra-prima literária de Fiódor Dostoiévski, publicada em 1879, é considerada uma das maiores realizações da literatura russa e global. Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, a considerou a "maior obra da história" e a colocou ao lado de "Édipo Rei" e "Hamlet" como textos fundamentais que exploram a tensão entre pai e filho e retratam o complexo de Édipo.

A história se desenrola em uma cidade russa remota, contada por um narrador que parece ser uma testemunha ocular dos eventos. O narrador frequentemente se desculpa com o leitor por não conhecer todos os detalhes, por achar que a história é longa (o livro tem mais de 700 páginas mesmo em edições grandes) e por achar que seu herói é pouco conhecido ou até mesmo insignificante. A narrativa não apenas dialoga com o leitor, mas também é onipresente e sugere ou infere os pensamentos dos inúmeros personagens.

A trama gira em torno de uma família problemática em uma cidade russa. O patriarca da família, Fiódor Pavlovitch Karamázov, é um palhaço libertino que fez fortuna principalmente graças aos dotes de suas duas esposas, ambas mortas prematuramente, e à sua mesquinhez. Ele tem um filho de cada esposa: Dmitri Fiodorovitch Karamázov da primeira esposa, e Ivan e Aliêksei Fiodorovitch Karamázov da segunda esposa. Enquanto Ivan se torna um intelectual atormentado por sua própria inteligência, Aliêksei se torna uma pessoa mística e pura, entrando para um mosteiro na cidade.

"Os Irmãos Karamazov" é uma crítica inteligente aos principais problemas da Rússia do final do século XIX, especialmente a questão da pobreza e a situação financeira da população russa da época. Dostoiévski, que viveu em um país em decadência financeira, descreve esses problemas através de diálogos e narrações de alguns personagens no livro. Suas críticas ao capitalismo tentam penetrar a alma humana e revelar o que era pouco visível para o mundo ocidental em uma literatura rica em questionamentos.

Estudar Dostoiévski é mergulhar em uma literatura cheia de discussões sobre o pensamento e o comportamento humano. Bakhtin o considerou um dos maiores romancistas da literatura russa e um dos artistas mais inovadores de todos os tempos.

Os Irmãos Karamazov" aborda várias temáticas e nos leva a uma discussão filosófica, nos faz refletir sobre os valores humanos do nosso tempo. É um livro cheio de enigmas em um jogo de discussões e dúvidas. Usando de vários personagens, Dostoiévski discute o embrutecimento das relações humanas baseadas em situações de domínio pelo outro, ou pela falta de uma condição financeira mais favorável. Esta obra de Dostoiévski nos traz a uma reflexão sobre as fragilidades dos laços humanos, sobre a sociedade e seus problemas sociais e pessoais tão profundos a ponto de gerar níveis de insegurança maiores em um leitor não preparado para uma leitura mais profunda, chega a afetar negativamente a fé, os laços familiares e amorosos, e afeta também a capacidade de tratar um estranho com humanidade, com respeito e carinho.

Em uma crítica positiva, "Os Irmãos Karamazov" é uma obra intensa que oferece uma visão penetrante da psicologia humana e da sociedade. Dostoiévski habilmente tece uma narrativa que é ao mesmo tempo emocionante e profundamente filosófica. Através de seus personagens complexos e multifacetados, ele explora temas de vício, amor, desespero e redenção. Sua representação vívida do vício em jogos de azar é especialmente poderosa, servindo como uma metáfora penetrante para a natureza humana e a busca incessante por significado e propósito. Em última análise, "Os Irmãos Karamazov" é uma obra-prima literária que continua a ressoar com os leitores modernos, oferecendo uma visão inesquecível da condição humana.

[RESENHA #708] O jogador, de Dostoiévski



O jogador, de Fiódor Dostoiévski é um primoroso romance cujo teor psicológico ultrapassa os estreitos limites do gênero recreativo. Baseado num profundo conhecimento das práticas e rotinas do cassino, ele evidencia a sinistra degradação de um jovem culto e talentoso que sacrifica o melhor de si à doentia paixão pelos jogos de azar, a qual lhe subjuga e destrói, aos poucos, a alma. O protagonista, em que se percebem diversos traços do próprio autor, vê toda a sua riqueza espiritual – dignidade, força de caráter e honra cavalheiresca – levada pela estonteante rotação da roleta. Mesmo o amor, a única fonte de alegrias e esperanças que ele possui, acaba sorvido por esse redemoinho. Os vícios humanos, sejam relacionados ao jogo, como no livro de Dostoiévski, ou às drogas, como em nossa realidade cotidiana, ainda estão longe de ser extirpados, tornando O jogador tão interessante para os leitores de hoje.

RESENHA


"O Jogador ou Um Jogador - Apontamentos de um Homem Moço" é uma obra notável de Fiódor Dostoiévski, lançada em 1867. Thomas Mann a descreveu como um "romance maravilhoso". A narrativa é contada em primeira pessoa por Alexei Ivánovitch, um jovem crítico, mas sem objetivos claros na vida.

A trama se desenrola na fictícia cidade alemã de Roletemburgo, conhecida por seus cassinos. Ivánovitch trabalha como tutor em um hotel para a família de um general. No entanto, ele logo percebe que algo está errado com a família. Polina Alexandrovna, que tem uma relação complexa de amor e ódio com Ivánovitch, pede-lhe para jogar roleta em seu nome, pois precisa urgentemente de dinheiro. No entanto, ela não fornece mais detalhes.

Ivánovitch, observando a presença de dois franceses astutos, Des Grieux e Mlle. Blanche, suspeita que o general e sua enteada Polina estão profundamente endividados com os franceses. Através de várias conversas com seu amigo inglês, Mister Astley, Ivánovitch começa a desvendar a verdade: o general havia hipotecado suas propriedades para Des Grieux e estava esperando a morte de sua avó para herdar dinheiro suficiente para pagar a dívida.

"O Jogador ou Um Jogador - Apontamentos de um Homem Moço" é uma obra notável de Fiódor Dostoiévski, lançada em 1867. Thomas Mann a descreveu como um "romance maravilhoso". A narrativa é contada em primeira pessoa por Alexei Ivánovitch, um jovem crítico, mas sem objetivos claros na vida¹.

A trama se desenrola na fictícia cidade alemã de Roletemburgo, conhecida por seus cassinos. Ivánovitch trabalha como tutor em um hotel para a família de um general. No entanto, ele logo percebe que algo está errado com a família. Polina Alexandrovna, que tem uma relação complexa de amor e ódio com Ivánovitch, pede-lhe para jogar roleta em seu nome, pois precisa urgentemente de dinheiro. No entanto, ela não fornece mais detalhes².

Ivánovitch, observando a presença de dois franceses astutos, Des Grieux e Mlle. Blanche, suspeita que o general e sua enteada Polina estão profundamente endividados com os franceses. Através de várias conversas com seu amigo inglês, Mister Astley, Ivánovitch começa a desvendar a verdade: o general havia hipotecado suas propriedades para Des Grieux e estava esperando a morte de sua avó para herdar dinheiro suficiente para pagar a dívida.

A obra retrata o espírito, o universo, sentimentos, frustrações, a tortura e a ilusão de quem vive em função da magia e soberania dos cassinos. Dostoiévski, com seu humor satírico, expõe as motivações mais íntimas desta e de outras personagens, criando uma obra simultaneamente viva e dramática⁴. O fascínio culpabilizado dos jogadores, o descontrolo e o desespero, paixões que raiam a loucura e uma solidão sem recurso são temas que se adequam ao genial universo da ficção dostoievskiana.

Em uma crítica positiva, "O Jogador" é uma obra intensa que oferece uma visão penetrante da psicologia humana e da sociedade. Dostoiévski habilmente tece uma narrativa que é ao mesmo tempo emocionante e profundamente filosófica. Através de seus personagens complexos e multifacetados, ele explora temas de vício, amor, desespero e redenção. Sua representação vívida do vício em jogos de azar é especialmente poderosa, servindo como uma metáfora penetrante para a natureza humana e a busca incessante por significado e propósito. Em última análise, "O Jogador" é uma obra-prima literária que continua a ressoar com os leitores modernos, oferecendo uma visão inesquecível da condição humana.

Resenha: Crime e Castigo, de Dostoiévski


ISBN-13: 9786555520804
ISBN-10: 6555520809
Ano: 2020 / Páginas: 240
Idioma: português
Editora: Principis

SINOPSEA pobreza assola Raskólnikov, que precisa pagar os estudos e o aluguel de onde mora. Orgulhoso, acredita que é inteligente o suficiente para planejar um crime perfeito, julgando que seu bom motivo e futuro promissor justificariam o ato. Os limites da moralidade comum também o atingem e ele é sentenciado. A culpa o acompanha na jornada em busca de redenção e boas perspectivas. Dostoiévski traz a psicologia criminal para este romance, abordando moralidade e a margem da dignidade nas ruas das cidades.

Literatura Estrangeira / Romance / Ficção

O clássico narra a história de Raskólnikov, um jovem estudante de direito, de família pobre, estava um tanto distante da família, uma vez que a Universidade estava localizada em outra cidade. A trama, relata a fatalidade de dois latrocínios praticados por Raskólnikov. Tendo em vista, a sua ociosidade, suas dívidas acumuladas, seu temperamento hostil, Raskólnikov tem a infelicidade de cometer quão infâme ato.

Relata o autor a história de um jovem estudante que vivia numa cidade distante de sua familia. Sobrevivia com o pouco recurso que sua mãe o enviava. A pobreza o deprimia muito. Ele mal se alimentava.

Numa noite quente saia o rapaz de seu cubiculo alugado. Caminhava devagar à pensar em sua realidade de dificil situação financeira. Estava tão mal vestido que outra pessoa mesmo acostumada a tal aparência não se atrevia a sair com aqueles andrajos em pleno dia. Dirigia-se a casa de uma velha que costumava penhorar objetos em troca de emprestimos. Levou um relogio de prata de corrente de aço. A velhota não lhe ofereceu muito e o rapaz já não estava para questões logo aceitou o dinheiro.
Raskólnikov afastou-se da casa muito perturbado. Murmurava:

- Oh meu Deus! Como tudo isso é repugnante! Ah, sim, sim, eu... não, isto é um absurdo, uma estupidez.

Um sentimento de imensa repugnancia, que começava a oprimi-lo e a mortificar seu espírito.Olhando à sua volta verificou que encontrava-se junto de uma casa de bebidas. Até então nunca entrava numa taberna. Sentou-se em uma mesa de tilia, pediu aguardente sentindo um alivio. Parou para observar naquele ambiente, fora de costume, as pessoas que sempre evitou encontrar. Observava de alto a baixo o pressimivel funcionario que por sua vez não tirava os olhos dele.
Atraídos pela curiosidade conversaram sobre suas experiências vividas. Com precisa atenção Raskólnikov, escutava tudo o que tinha a dizer Marmieladóv que encontrava-se altamente bebado. O senhor sem ter mais com o que pagar as bebidas se inclinou ao jovem pedindo ajuda para chegar em casa.

Já na casa de Marmieladóv, o jovem pode comprovar toda historia que acabara de escutar. A deprimente situação que vivia a familia daquele senhor que mora em um quarto alugado com a mulher e mais três filhas e ainda eram sustentados por Sonia, a filha do primeiro casamento de Marmieladóv. Os ajudava com a prostituição. Raskólnikov ajudou a familia com o que obteve do emprestimo, uma vez que a familia do senhor seria despejada.

O jovem retorna para casa e no dia seguinte recebe uma carta de sua mãe informando da dificil situação que passavam e sobre o casamento da sua irmã com um advogado de muitos bens, porém, de dificil temperamento.
A mãe tinha este casamento como a saída para os problemas da familia. Mas, o jovem não aceitou bem a ideia. Saiu de casa para pensar em tal situação.
Retornando a casa passa pelo mercado do Feno, a fim de passar distante da casa da senhora Alienova Ivanovina que lhe fez o emprestimo. Passou por Lisavieta, irmã de Alienova. Escutou as queixas que Lisavieta fazia de sua irmã para um mercador. Pensou muito no que acabava de ouvir, tornando uma decisão drastica e no dia seguinte pos em pratica.
Tomou posso do machado do zelador sem que ele soubesse, foi até a casa de Aliena e deu varios golpes, procurou por dinheiro em toda a casa mas não havia muito tempo. Levou os penhores de emprestimos feitos. Para sua surpresa Lisavieta chega e encontra a velhota no chão. Raskólnokov, sem pensar, lança golpes também em Lisavieta.

O jovem foge sem ser visto, devolve o machado limpo ao devido lugar. Sem icar em paz examinava sua roupa verificando se não tinha manchas de sangue.
Na manhã seguinte, Raskólnikov segue até a policia, mas porque havia recebido do zelador uma citação que tratava da divida do aluguel onde estava hospedado. Na delegacia houve rumores sobre o acontecido da noite anterior.

Em casa o jovem enche os bolsos com a intenção de se desfazer do que roubou. Abandonou tudono patio de uma oficina e passado uns dias o rapaz encontrava-se enfermo tendo delírios. Enfim chega de viagem o noive de sua irmã e o jovem não o recebe bem. Raskólikov dia a dia sentia imenso remorso com vontade de se entregar, mas não o fez. Retorna ao local do crime e vê que estavam reformando. Ao voltar para casa se depara com uma multidão em torno de uma carroça. Era Marmicladov, que estava ferido, o jovem se pôs a ajudar e novamente deu a familia do senhor todo seu dinheiro que recebeu de sua mãe para despesas.
Sentiu-se bem pelo o que fez ao amigo. Passou a dar valor as coisas que não fazia a muito tempo.
Atendeu ao pedido de seu amigo Razumikhin para ir a festa que os amigos prepararam. Mas, logo retornou a casa porque sentia muita fraqueza.
Quando o jovem chegou em casa estavam sua mãe e irmãs a sua espera pois tomaram conhecimento de sua doença.
Concluiu-se que a obra Crime e Castigo trata de um ato juridico, tipo penal, sendo latrocinio (roubo seguido de morte). Crime qualificado.
Na obra o jovem estudante mata na intenção de obter coisa alheia, tanto roubo como morte de duas pessoas. Raskolnikov tinha conhecimento da vida vitima e de tudo o que precisava saber até cometer o ato que levou a morte de Aliena e sua irmã Lisavieta.

BIBLIOGRAFIA
DOSTOIÉVSKI, Crime e Castigo

© all rights reserved
made with by templateszoo