Publicado em 1861, após dez anos de exílio na Sibéria, Humilhados e ofendidos ocupa uma posição-chave na produção de Fiódor Dostoiévski. Por um lado, é sua obra mais ambiciosa até o momento, na qual revisita e leva ao limite as suas concepções de literatura e sua visão dos males da sociedade. Por outro, suas páginas abrem o caminho para uma forma de romance que vai ganhar corpo nos grandes livros de sua maturidade, e não por acaso o leitor encontra nesta obra conflitos e personagens que parecem prefigurar suas criações posteriores. Para compor a trama de Humilhados e ofendidos, romance no qual deposita enormes esperanças, Dostoiévski coloca no centro da ação a figura do escritor Ivan Petróvitch, que é também o narrador do livro, e cuja vida guarda tantas semelhanças com a sua que não é equivocado ler certas passagens como um ensaio de autoficção avant la lettre ― gesto arriscado, que não foi plenamente compreendido pela crítica da época. Os leitores, porém, não tiveram dúvidas. Desde sua primeira aparição como folhetim no número inicial da revista O Tempo, o romance fascinou o público, que reconheceu ali um modo inédito de narrar, capaz de trazer à luz os sentimentos mais obscuros com uma intensidade nunca vista ― intensidade que encontrou sua equivalência precisa na tradução de Fátima Bianchi e nas gravuras de Oswaldo Goeldi.
“Manuscritos do Abismo”, um trabalho literário de Dostoiévski lançado em 1864, é uma pedra angular do existencialismo literário. Neste livro, Dostoiévski defende a liberdade individual como um elemento inerente à essência humana.
A história é dividida em duas partes. A primeira, simplesmente chamada de “Abismo”, é narrada por um personagem sem nome. Esta seção oferece um vislumbre da mente do personagem. Ele é um homem de 40 anos, amargurado, que vive em um apartamento em ruínas e se aposentou do serviço público após receber uma herança. Ele é um niilista e misantropo que vive “no abismo”, ou seja, em sua própria consciência reflexiva, há muitos anos e escreveu estes “Manuscritos do Abismo”, sem intenção de publicá-los.
A segunda parte da obra é intitulada “A propósito da neve úmida”. No final da primeira parte, a queda de neve úmida traz à tona memórias do passado do personagem e o perturba. Por tédio, ele começa a relatar suas experiências passadas tumultuadas quando tinha 24 anos. Sua incapacidade de se relacionar com os outros resulta em tentativas fracassadas de estabelecer relações e participar da vida, levando-o às profundezas do isolamento.