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Resenha: História da felicidade, de Peter N. Stearns



APRESENTAÇÃO

Ser feliz é algo diferente para cada pessoa, mas também tem sido diferente ao longo da história, em diversas regiões do planeta. Sempre houve a busca por existências felizes, mas o que é considerado felicidade e a forma como as pessoas conseguem configurar suas experiências variam muito e dependem de circunstâncias históricas específicas. Assim, a visão histórica melhora nossa compreensão dessa emoção humana, mesmo para observadores interessados principalmente em padrões contemporâneos. Neste livro veremos como a felicidade é produto das concepções religiosas do passado, do iluminismo, do capitalismo comercial, da imensa indústria do entretenimento moderno, do aconselhamento psicológico, além de todas as possíveis variáveis pessoais, familiares e locais adicionadas à mistura. " A grande revolução, como se acompanha no livro, está na Idade Contemporânea. O aumento da importância da felicidade é um fenômeno dos séculos XVIII e XIX.." - Leandro Karnal "Stearns faz percursos que singularizam o tema da felicidade e o desembaça por meio de explicações que o tornam em determinados períodos mais que evidente.

RESENHA


O livro História da felicidade destaca como fatores como o iluminismo, o capitalismo, a industrialização e as grandes religiões contribuíram para definir o que significa ser feliz em diferentes contextos históricos. Ao abordar temas recorrentes como o equilíbrio entre hedonismo e satisfação duradoura, as aspirações pessoais e o papel da família, Stearns nos convida a refletir sobre as complexidades e nuances da felicidade. Com uma abordagem que combina história, filosofia e psicologia, "História da Felicidade" não apenas ilumina o passado, mas também oferece valiosas lições para o presente, ajudando-nos a compreender de onde vêm nossas ideias atuais sobre felicidade e como podemos buscar uma vida mais plena e satisfatória.

O capítulo "As bases psicológicas" explora a complexidade da felicidade e a dificuldade em defini-la, abordando como psicólogos e a psicologia positiva têm investigado o tema nas últimas décadas. Destaca-se que, embora a disciplina não tenha solucionado todos os mistérios da felicidade, ela oferece parâmetros para compreender suas características principais. Inicialmente, a felicidade foi associada à juventude e baixas aspirações, mas estudos posteriores mostraram que idosos também relatam felicidade, e que pessoas ambiciosas podem ser felizes.

A felicidade é vista como uma emoção básica, expressa universalmente através do sorriso, e desempenha funções importantes, como reforçar comportamentos benéficos e equilibrar emoções negativas. A psicologia distingue entre "satisfação com a vida" e "bem-estar subjetivo", conceitos que ajudam a entender a felicidade em diferentes contextos e ao longo do tempo.

O capítulo aborda debates sobre o papel da genética na predisposição para a felicidade, sugerindo que, embora exista um componente genético, as pessoas podem modificar seu nível de felicidade através de ações e mudanças de perspectiva. Psicólogos também discutem a importância de fatores como saúde, relacionamentos saudáveis, altruísmo e conexão espiritual na promoção da felicidade.

O autor reconhece que a busca excessiva pela felicidade pode ser contraproducente e que as diferenças culturais e sociais influenciam como a felicidade é percebida e vivenciada. A psicologia e a história, juntas, podem oferecer uma compreensão mais abrangente da felicidade, considerando tanto as influências coletivas quanto individuais.

O capítulo "A Era da Agricultura" aborda o surgimento e desenvolvimento das economias agrícolas, que começaram há cerca de 11 mil anos e dominaram a maior parte da população mundial por pelo menos 6 mil anos. Essa era é dividida em vários períodos principais, incluindo o período formativo, o surgimento das primeiras civilizações hidráulicas, o período clássico (aproximadamente de 600 a.C. a 500/600 d.C.), o período pós-clássico e o início do período moderno (1450 a 1750).

Durante o período clássico, importantes sistemas filosóficos emergiram, abordando a definição de felicidade. O capítulo também menciona o impacto das grandes religiões e o desenvolvimento dos entretenimentos populares, especialmente a partir de 300 d.C. até o século XVII. Essa periodização ajuda a entender a história da felicidade, embora não a defina completamente. Os capítulos seguintes exploram essas divisões cronológicas, destacando as transformações culturais e econômicas significativas ao longo da era agrícola.

O capítulo "Os primórdios da sociedade agrícola" explora a transição das sociedades de caçadores-coletores para a agricultura, sugerindo que essa mudança pode ter reduzido o nível de felicidade humana. As sociedades de caçadores-coletores eram relativamente igualitárias, com boa nutrição e menos desigualdade, mas a introdução da agricultura trouxe novas dificuldades, como dietas menos nutritivas, maior carga de trabalho, doenças e desigualdades sociais e de gênero.

A agricultura permitiu maior produção de alimentos e crescimento populacional, mas também gerou desigualdades significativas. Aristocratas e proprietários de terras desfrutavam de privilégios, enquanto a maioria enfrentava condições difíceis. As sociedades agrícolas desenvolveram narrativas de uma Era de Ouro passada, refletindo a percepção de uma deterioração em comparação com a vida anterior.

O capítulo sugere que, embora a agricultura tenha trazido avanços, também introduziu desafios que aumentaram a complexidade da felicidade humana. As sociedades agrícolas tiveram que criar novos modos de vida e conceitos para mitigar as dificuldades e buscar a felicidade, diferenciando-se das experiências mais simples e satisfatórias dos caçadores-coletores.

O capítulo "Dos filósofos: a felicidade no período clássico" explora como as sociedades clássicas, especialmente no Mediterrâneo e na China, desenvolveram filosofias e conceitos em torno da felicidade, refletindo sobre a sua natureza e como alcançá-la. Com o surgimento das primeiras civilizações, surgiram também ideias mais complexas sobre felicidade, influenciadas por condições objetivas e sistemas de valores. 

No Egito antigo, por exemplo, a felicidade era associada à gratidão aos deuses e à continuidade da vida terrena na vida após a morte, enquanto na Mesopotâmia, a visão era mais melancólica e os deuses exigiam obediência. No mundo clássico, debates filosóficos sobre a felicidade foram centrais, com os gregos e romanos enfatizando a virtude e a razão como caminhos para a verdadeira felicidade, diferenciando-se dos prazeres materiais. Aristóteles, por exemplo, via a felicidade como uma atividade da alma expressando virtude, enquanto os estoicos defendiam a limitação dos desejos.

Na China, o confucionismo enfatizava a harmonia com a ordem natural e a importância das conexões humanas, enquanto o taoísmo valorizava a simplicidade e a sintonia com o universo. Ambas as tradições filosóficas buscavam distinguir o verdadeiro prazer da satisfação superficial, oferecendo uma visão que compensava as dificuldades da vida.

O capítulo também aborda o impacto dessas filosofias, questionando até que ponto influenciaram a experiência real de felicidade e destacando a tensão entre os conceitos filosóficos e as práticas populares de entretenimento. As filosofias clássicas tiveram um impacto duradouro, com o confucionismo moldando a visão chinesa de felicidade e as ideias gregas e romanas sendo reinterpretadas ao longo do tempo, especialmente com a ascensão de novas religiões.

O capítulo "Das grandes religiões: felicidade – e esperança?" analisa como as grandes religiões, surgidas principalmente entre 600 a.C. e 1400 d.C., impactaram as concepções de felicidade. Hinduísmo, Budismo, Cristianismo e Islamismo, embora distintas, compartilham a ideia de que a verdadeira felicidade transcende a existência terrena e está ligada a um plano espiritual ou vida após a morte.

O hinduísmo estabelece uma hierarquia de felicidade, culminando na realização espiritual após sucessivas reencarnações, enquanto o Budismo, fundado por Buda, propõe que a verdadeira felicidade resulta do desapego dos desejos mundanos, alcançando o Nirvana. O Cristianismo enfatiza a vida eterna no céu como a verdadeira felicidade, incentivando a esperança e a moderação dos prazeres terrenos. O Islamismo, semelhante ao Cristianismo, valoriza a vida após a morte, mas reconhece as bênçãos terrenas como dádivas de Deus.

Todas essas religiões ofereceram não apenas um caminho para a felicidade espiritual futura, mas também formas de alcançar satisfação e comunidade na vida presente, através de práticas como meditação, oração e caridade. No entanto, a ênfase na vida após a morte e a crítica aos prazeres mundanos também introduziram um elemento de ansiedade e culpa, especialmente no Cristianismo.

A expansão dessas religiões foi, em parte, uma resposta às instabilidades e desafios dos tempos, oferecendo esperança frente às dificuldades da vida terrestre. Elas continuam a influenciar as visões de felicidade até os dias atuais, destacando a tensão entre a vida material e a busca por um propósito espiritual mais profundo.

O capítulo "Prazeres populares" explora as atividades e diversões que proporcionaram satisfação e possivelmente felicidade nas sociedades agrícolas durante a "era religiosa". Embora não possamos medir a felicidade dessas atividades, elas claramente ofereciam momentos de prazer e alívio das duras rotinas de trabalho e das restrições da vida agrícola.

O trabalho, especialmente para artesãos urbanos, oferecia uma sensação de satisfação e orgulho, enquanto as atividades sexuais, embora limitadas por normas sociais e religiosas, ainda eram buscadas por muitos. A infância, apesar das dificuldades, proporcionava oportunidades de brincadeiras livres e espontâneas, que contrastavam com a supervisão adulta.

As sociedades agrícolas desenvolveram uma variedade de formas de entretenimento, como contação de histórias, jogos, esportes populares e festivais. Os festivais, em particular, eram eventos importantes que uniam comunidades em celebrações coletivas, oferecendo uma pausa vital nas rotinas diárias.

Esses prazeres populares, que frequentemente ocorreram em conjunto com atividades religiosas, mostravam a criatividade das pessoas em buscar diversão e satisfação, apesar das dificuldades da vida agrícola. As opções de entretenimento eram limitadas e esporádicas, mas proporcionavam momentos de felicidade que ajudavam a suportar a monotonia e as dificuldades do dia a dia.

O capítulo "A Revolução da Felicidade, 1700-1900" explora como, nos séculos XVII e XVIII, uma nova abordagem sobre a felicidade emergiu na Europa Ocidental e América do Norte, desafiando as concepções tradicionais e redefinindo expectativas pessoais. Este período, que se estendeu até o século XIX, coincidiu com a transição da Era da Agricultura para o início da sociedade industrial.

Durante esse tempo, debates intensos sobre o significado da felicidade surgiram, e várias tentativas foram feitas para implementar essas novas ideias. A Revolução Industrial trouxe mudanças significativas nos padrões de vida, lazer e vida familiar, complicando ainda mais a adaptação a essas novas expectativas de felicidade.

Embora descrita como uma "revolução", essa transformação foi inicialmente limitada ao Ocidente, com seu impacto global sendo restrito por um tempo considerável. O poder imperial e econômico da Europa durante esse período pode ter retardado a disseminação global dessas novas ideias sobre felicidade.

O capítulo "A Revolução da Felicidade no Ocidente" analisa como, durante os séculos XVIII e XIX, uma mudança significativa nas ideias sobre felicidade ocorreu na Europa Ocidental e na América do Norte. Essa revolução foi marcada pela crença de que os seres humanos podiam controlar seus destinos e que o prazer e o conforto terrenos eram objetivos legítimos. A felicidade passou a ser vista como algo que deveria estar ao alcance de todos, com sociedades bem organizadas ampliando as oportunidades para a satisfação mental e material.

Essa nova abordagem desafiou ideias mais antigas que associavam a felicidade à virtude ou à vida após a morte. O Iluminismo desempenhou um papel crucial ao promover a razão e sugerir que o progresso e a melhoria contínua eram possíveis. A felicidade passou a ser discutida não apenas como um conceito filosófico, mas também como um objetivo social e político, com implicações para a organização da sociedade e das políticas governamentais.

A revolução da felicidade trouxe novos comportamentos, como um aumento no consumismo e uma maior ênfase no prazer individual. O individualismo ganhou destaque, e a busca pela felicidade tornou-se um direito pessoal. Essa transformação também influenciou movimentos sociais e políticos, inspirando protestos populares e revoluções que buscavam a felicidade coletiva através de reformas.

Apesar das críticas e resistências de grupos religiosos e conservadores, as novas ideias sobre felicidade tiveram um impacto duradouro, moldando expectativas e comportamentos que ainda influenciam as sociedades ocidentais modernas. A revolução da felicidade não foi universalmente aceita, mas marcou uma mudança fundamental nas percepções de felicidade e nos objetivos de vida.

O capítulo "A Expansão da Felicidade? As Novas Expectativas Encontram a Sociedade Industrial" analisa como o século XIX viu a continuidade da revolução da felicidade iniciada no século XVIII, enquanto a sociedade enfrentava os desafios e transformações da Revolução Industrial. As ideias de felicidade se expandiram, influenciando práticas culturais e sociais no Ocidente, mas também enfrentaram novos desafios.

O século XIX presenciou a incorporação contínua de ideias iluministas sobre felicidade, destacando o prazer e a satisfação pessoal. No entanto, a industrialização trouxe mudanças significativas na estrutura social, separando família, trabalho e lazer. As famílias começaram a ser vistas como refúgios emocionais, e a felicidade familiar tornou-se um ideal valorizado.

A industrialização também complicou a relação entre trabalho e felicidade, com muitos trabalhadores enfrentando condições difíceis e alienação. No entanto, a crescente atenção ao lazer e ao consumismo abriu novos caminhos para a busca da felicidade. O aumento do tempo de lazer e a disponibilidade de novos produtos e entretenimentos, como parques de diversões e esportes, contribuíram para a satisfação individual e coletiva.

Apesar das novas oportunidades, a felicidade no século XIX foi marcada por desigualdades de classe e gênero, e as expectativas de felicidade nem sempre foram alcançadas. A sociedade industrial trouxe novas tensões, mas também expandiu as possibilidades para a busca da felicidade no contexto moderno.

O capítulo "Mudanças Globais nos Séculos XVIII e XIX" explora como, durante esse período, as ideias ocidentais sobre felicidade não se difundiram globalmente de maneira uniforme. Enquanto o Ocidente passava por transformações culturais e econômicas, muitas regiões mantinham suas tradições religiosas e culturais, com continuidade prevalecendo sobre a mudança.

Na China e no Império Otomano, as tradições existentes, como o confucionismo e as reformas do Tanzimat, continuaram a influenciar as concepções de felicidade, apesar das pressões externas e internas. Na China, a instabilidade econômica e social, agravada pela interferência ocidental, levou à Rebelião Taiping, que misturava valores cristãos e chineses em uma busca por felicidade por meio da obediência coletiva.

O imperialismo europeu trouxe impactos negativos significativos, especialmente na América Latina e na África Subsaariana, onde a colonização e a exploração econômica provocaram sofrimento e uma visão de mundo marcada pela melancolia. Na América Latina, o pensamento iluminista influenciou líderes como Simón Bolívar, que defendiam a felicidade através da independência e do nacionalismo.

Na Rússia e no Japão, as reformas e a industrialização criaram contextos distintos. Na Rússia, a modernização gerou debates entre ocidentalizadores e conservadores, enquanto no Japão, a era Meiji promoveu a industrialização e uma mistura de tradições japonesas com influências ocidentais, sem adotar completamente as ideias ocidentais de felicidade. Apesar de algumas influências ocidentais, muitas regiões mantiveram suas tradições e desenvolveram respostas únicas às pressões externas e internas, resultando em um mosaico complexo de atitudes em relação à felicidade que persistiriam no século XX.

No início do século XXI, a cultura do sorriso se tornou um fenômeno global, impulsionada pelas redes sociais, onde mostrar felicidade em selfies se tornou uma norma. No entanto, não havia uma história única da felicidade globalmente, com abordagens variando entre diferentes regiões, influenciadas por padrões materiais e tradições culturais.

Apesar das diferenças, algumas tendências comuns surgiram, principalmente a influência da cultura de consumo ocidental, que se espalhou com a industrialização e urbanização global. Isso ajudou a desafiar ideias antigas sobre felicidade e começou a formar uma abordagem mais global ou multirregional.

No Ocidente, o compromisso com a felicidade permaneceu forte, mas enfrentou desafios internos e influências de outras culturas. Paralelamente, houve tentativas deliberadas de desenvolver alternativas aos modelos ocidentais de felicidade, como no comunismo e em atualizações de valores tradicionais.

O século passado também foi marcado por divisões cronológicas internas, como as disputas sobre felicidade nas décadas após as guerras mundiais e a Grande Depressão. Após 1945, com o fim da Guerra Fria, algumas dimensões globais da felicidade começaram a emergir, interagindo com tendências regionais.

Com a industrialização se expandindo globalmente, as últimas décadas possibilitam uma avaliação provisória das implicações da industrialização para a felicidade, comparando-as com o advento da sociedade agrícola, embora as conclusões permaneçam complexas e inconclusivas.

O capítulo "Disputa pela Felicidade, 1920-1945" explora as diversas tendências que influenciaram a felicidade durante o período das guerras mundiais e da Grande Depressão. A Primeira Guerra Mundial causou um impacto negativo significativo na felicidade na Europa Ocidental, gerando pessimismo e desespero. Por outro lado, nos Estados Unidos, houve uma continuidade e ampliação dos temas de felicidade, com o desenvolvimento de novas abordagens culturais e de consumo.

O surgimento do fascismo na Europa rejeitou a primazia da felicidade individual, enfatizando o dever e a lealdade ao Estado em vez de prazeres pessoais. Movimentos anticoloniais e nacionalistas, liderados por figuras como Gandhi e Ataturk, promoveram visões alternativas de felicidade, muitas vezes baseadas em tradições culturais e na construção de nações independentes.

Apesar das dificuldades econômicas e sociais, algumas sociedades ocidentais continuaram a buscar o prazer, com a indústria do entretenimento desempenhando um papel importante. Nos Estados Unidos, a felicidade permaneceu um tema central, com inovações como a Disney e a trilha de risadas na mídia, além de esforços para associar felicidade ao trabalho por meio da Psicologia industrial.

O período também viu mudanças significativas na relação com a morte e o luto, com a morte se tornando menos comum e mais distante na experiência cotidiana, resultando em uma redefinição de práticas de luto e uma ênfase em emoções positivas.

A diversidade de abordagens à felicidade nesse período reflete a complexidade global das décadas entre guerras, com diferentes regiões desenvolvendo suas próprias respostas às crises e desafios, muitas vezes em oposição aos modelos ocidentais tradicionais.

O capítulo "Felicidade Comunista" examina como as sociedades comunistas, começando com a União Soviética em 1917, abordaram o conceito de felicidade. Os líderes comunistas enfrentaram o desafio de definir a felicidade de maneira distinta do Ocidente, que associavam ao consumismo e ao individualismo burgueses. Em vez disso, os comunistas procuraram promover a felicidade através do progresso social, igualdade e um ideal de futuro sem classes.

Na União Soviética, a felicidade foi associada ao trabalho árduo e ao progresso coletivo, com ênfase na educação, saúde pública e mobilidade social. Propagandas e programas coletivos, como férias patrocinadas pelo Estado, foram usados para promover um senso de satisfação popular. No entanto, o consumismo individual foi desencorajado, e os produtos disponíveis eram frequentemente de baixa qualidade.

Na China comunista, sob a liderança de Mao Tsé-Tung, a felicidade também foi vinculada ao progresso coletivo e à lealdade ao Partido. A educação e a saúde pública foram ampliadas, mas a ênfase estava na transformação social e cultural, com pouca atenção aos bens materiais. A Revolução Cultural promoveu a ideia de felicidade através do trabalho árduo e do sacrifício coletivo.

Ambos os regimes enfrentaram dificuldades em equilibrar a promoção de uma felicidade distinta com as pressões da industrialização e do consumismo. Após o colapso da União Soviética e as reformas na China, ambos os países viram um aumento no consumismo e um retorno a valores mais individuais. No entanto, ainda enfrentam desafios em definir e promover a felicidade em um contexto pós-comunista, com um legado de abordagens anteriores e novas pressões sociais e econômicas.

O capítulo "Comparando a Felicidade nas Sociedades Contemporâneas" aborda a complexidade de comparar a felicidade entre diferentes países, destacando as dificuldades devido a diferenças culturais e de linguagem. Após a Segunda Guerra Mundial, as características regionais continuaram a influenciar as concepções e níveis de felicidade, mesmo com o aumento dos contatos globais.

Dois grandes projetos de pesquisa foram realizados no final dos anos 1950 e início dos 1960, e novamente nos anos 1970, analisando expectativas e preocupações em vários países. As conclusões mostraram que, embora fatores econômicos fossem importantes, as visões culturais e políticas desempenhavam um papel significativo na formação das expectativas de felicidade. As pesquisas revelaram que as esperanças superavam as preocupações na maioria dos lugares, mas as diferenças culturais influenciavam as visões sobre família e riqueza.

Estudos de caso sobre a Índia e o Japão ilustram essas diferenças. Na Índia, tradições espirituais e o foco na família influenciam as concepções de felicidade, enquanto o consumismo e o entretenimento moderno estão em ascensão. No Japão, o conceito de ikigai, que combina dever e realização pessoal, guia a busca pela felicidade, mas também enfrenta desafios devido à estagnação econômica e mudanças sociais.

O capítulo destaca que a felicidade não se correlaciona diretamente com indicadores econômicos e que as comparações entre países são complexas. No entanto, a análise comparativa é essencial para entender as diferenças regionais e refletir sobre as próprias concepções de felicidade. A globalização continua a promover uma mistura de influências culturais em relação à felicidade.

O capítulo "A Sociedade Ocidental na História Contemporânea: Cada Vez Mais Feliz?" explora se a sociedade ocidental está se tornando mais feliz ao longo do tempo, analisando fatores culturais, econômicos e sociais. A pesquisa de 2015 destacou que pais em sociedades ocidentais, como França, Canadá e Estados Unidos, priorizam a felicidade dos filhos, refletindo um compromisso cultural contínuo com a felicidade.

O capítulo afirma que a revolução da felicidade continua forte no Ocidente, mas também levanta questões e desafios. O consumismo desempenha um papel central, com um aumento significativo na busca por bens materiais e experiências como um caminho para a felicidade. A Disney, a literatura de autoajuda, a publicidade e as happy hours são exemplos de como a cultura ocidental promove a felicidade.

No entanto, novas questões surgem, como o paradoxo de Easterlin, que mostra que o aumento da prosperidade não se traduz necessariamente em maior felicidade. Além disso, a pressão cultural para ser feliz pode tornar a tristeza e a depressão mais difíceis de lidar, afetando a saúde mental.

A psicologia positiva e os programas de bem-estar surgiram como respostas para ajudar indivíduos a encontrar a felicidade duradoura, enfatizando o florescimento humano e a gratidão. Embora esses movimentos tenham ganhado popularidade, eles também enfrentam críticas por serem excessivamente otimistas.

Em resumo, a sociedade ocidental mantém um compromisso forte com a felicidade, mas enfrenta desafios significativos, incluindo as complexidades do consumismo, as expectativas de felicidade e as implicações emocionais dessas dinâmicas.

O capítulo "A Felicidade se Globaliza" explora como a aceleração da globalização no final do século XX e início do XXI influenciou as concepções de felicidade em todo o mundo. Enquanto as diferenças culturais e econômicas persistem, surgiram características globais de felicidade que vão além da simples adoção dos padrões ocidentais por outras sociedades. Esses padrões refletem reações à urbanização, melhorias nos padrões de vida e saúde, e contribuições de outras regiões, como o Sul da Ásia, enriquecendo as discussões globais sobre felicidade.

A globalização trouxe um foco maior na felicidade como meta política, com a ONU estabelecendo o Dia Internacional da Felicidade em 2012. Governos ao redor do mundo, incluindo os Emirados Árabes Unidos e a Nova Zelândia, criaram programas específicos para promover o bem-estar e a felicidade, enquanto iniciativas de bem-estar e psicologia positiva se espalharam globalmente.

O capítulo também discute como o consumismo e as celebrações de boas festas se tornaram fenômenos globais, com o Natal e aniversários sendo comemorados em muitos países. Além disso, práticas culturais de diferentes regiões, como a meditação do Sul da Ásia e o método Konmari do Japão, influenciaram abordagens globais à felicidade.

A Pesquisa Mundial de Valores fornece dados sobre tendências de felicidade ao longo do tempo, mostrando que a maioria dos países viu melhorias nos níveis de felicidade entre 1981 e 2007, embora desafios recentes, como a Grande Recessão e a pandemia de coronavírus, tenham impactado negativamente alguns países. Enquanto o interesse global pela felicidade aumentou e as definições se expandiram, as diferenças culturais e regionais continuam a complicar o quadro, tornando difícil prever o futuro da felicidade global.

O capítulo "Conclusão" aborda a complexidade e a evolução da felicidade ao longo da história, ressaltando que a felicidade tem sido influenciada por fatores como religião, iluminismo, capitalismo e cultura popular. A felicidade é uma emoção que variou em significado e prática dependendo das circunstâncias históricas e culturais.

A história da felicidade é complexa e não segue uma narrativa linear. Diferentes regiões e épocas têm suas próprias abordagens, e a pesquisa sobre o tema ainda é desigualmente distribuída, com um foco desproporcional no Ocidente. A relação entre textos formais sobre felicidade e práticas populares concretas é um desafio recorrente, e a religião desempenha um papel central, mas variado, na definição da felicidade.

Alguns temas recorrentes na história da felicidade incluem o equilíbrio entre hedonismo e satisfação duradoura, as aspirações pessoais, a sorte versus a agência humana, e o papel da família. Esses temas ajudam a organizar comparações e a entender as escolhas feitas por indivíduos e sociedades.

Importantes pontos de inflexão na história da felicidade incluem a transição para a agricultura e civilizações formais, o advento de religiões complexas e a "revolução da felicidade" no Ocidente a partir do século XVIII. A industrialização trouxe novos desafios e oportunidades para a felicidade, com melhorias materiais, mas também novas tensões e expectativas.

O capítulo finaliza ressaltando a fragilidade da felicidade, tanto para indivíduos quanto para sociedades, e a importância de se considerar o bem maior ao buscar a felicidade. A história oferece insights sobre como diferentes abordagens à felicidade evoluíram e quais podem ser seus pontos fortes e limitações.

A obra oferece uma fascinante jornada pela história da felicidade, revelando como essa emoção universal é moldada por contextos históricos e culturais variados. Desde as concepções religiosas até as influências do iluminismo e do capitalismo, o livro traça um panorama enriquecedor sobre as mudanças nas percepções de felicidade ao longo do tempo.

Os capítulos exploram como diferentes eras e regiões definiram a felicidade de maneiras únicas. Na "Era da Agricultura", a transição para sociedades agrícolas trouxe novos desafios, como desigualdades e dificuldades, mas também narrativas de uma Era de Ouro perdida. As filosofias clássicas deram forma a conceitos de felicidade, com os gregos e romanos enfatizando a virtude e os chineses, a harmonia e simplicidade.

O surgimento das grandes religiões introduziu a ideia de felicidade transcendente, ligada a um plano espiritual. Já a "Revolução da Felicidade" nos séculos XVIII e XIX, impulsionada pelo iluminismo, redefiniu a felicidade como um direito humano, inspirando movimentos sociais e políticos.

O livro também aborda como a globalização e a industrialização impactaram as concepções de felicidade, trazendo novos desafios e oportunidades. A era contemporânea vê a felicidade se tornar uma meta política global, com influências de práticas culturais de todo o mundo.

Com uma análise rica e detalhada, a obra destaca a complexidade da felicidade e a importância de considerá-la em contextos históricos e culturais. É uma leitura envolvente que oferece insights sobre como a busca pela felicidade continua a evoluir e a influenciar nossas vidas.

O AUTOR

Peter N. Stearns formou-se em História em Harvard e é professor de História na George Mason University, nos Estados Unidos. Escreveu muito sobre história mundial e sobre o campo cada vez mais importante da História das emoções e ministra disciplinas em ambas as áreas regularmente. Desde cedo se destacou pela atividade docente (trabalhou na Universidade de Chicago, Rutgers, entre outras) e pelo empenho em escrever livros, tanto para especialistas, quanto para um público mais amplo. Foi editor de importantes publicações especializadas nos EUA, como o Journal of Social History. Sua preocupação com a história mundial e seu empenho em mostrar práticas sociais em diferentes culturas orientaram a escrita de importantes livros, como "A infância", "História das relações de gênero", "História da sexualidade" e "História da Felicidade", publicados pela Contexto.


Mistérios de Nuremberg: A Vida de Kaspar Hauser

Imagem: Divulgação

K aspar Hauser é uma enigmática figura histórica cuja vida cercada de mistérios e incertezas desperta o fascínio de estudiosos e curiosos há quase dois séculos. Encontrado em 1828 no centro da cidade de Nuremberg, Alemanha, Hauser tinha apenas dezessete anos e parecia completamente deslocado do mundo ao seu redor. Carregando consigo apenas um bilhete endereçado ao Capitão von Wessenig, ele se tornou uma incógnita viva, um enigma personificado, cuja origem e trajetória anterior eram praticamente desconhecidas.

Os relatos sobre sua infância são tão surreais quanto sombrios: uma vida inteira trancafiado em um espaço minúsculo, sem qualquer interação humana regular, exceto pela visita esporádica de um misterioso mentor. Esse cenário cria uma atmosfera quase claustrofóbica e levanta inúmeras questões sobre a veracidade de sua história e os motivos que levaram ao seu confinamento e subsequente abandono. O curioso caso ganhou dimensões ainda mais intrigantes quando foi descoberto que as cartas que ele carregava pareciam ter sido escritas por ele mesmo, sugerindo uma possível manipulação de sua própria narrativa.

A história de Hauser é frequentemente associada a outras narrativas de "crianças selvagens", como Tarzan ou Mogli, figuras literárias criadas por animais que lutam para se inserir na civilização humana. No entanto, ao contrário dessas fábulas, a vida de Hauser tem uma complexidade real que desafia as explicações simples e coloca em cheque as noções de desenvolvimento humano em condições extremas. Filme biográfico de Werner Herzog em 1974 oferece um retrato cinematográfico detalhado dessa figura enigmática, explorando sua jornada e os esforços para integrá-lo à sociedade.

A singularidade da história de Kaspar Hauser reside não apenas na sua peculiar infância, mas também nas várias dúvidas e interpretações sobre sua veracidade. Os debates acadêmicos continuam a fervilhar, questionando se ele foi vítima de um crime indescritível ou um mestre da enganação. Independente das conclusões, Kaspar Hauser permanece um ícone histórico, desafiando nossas compreensões de identidade, desenvolvimento e verdade.

Quem foi Kaspar Hauser

Kapar Hauser foi um jovem, que, segundos relatos históricos viveu os primeiros dezessete anos de sua vida preso em uma cela sem nenhum contato com outros humanos até ser abandonado no centro da cidade de Nuremberg, na Alemanha em 1828. Acredita-se, que, Hauser tenha vivido sob a tutela de um homem que o alimentou até decidir por seu abandono. Hauser foi encontrado nas ruas tendo consigo apenas um bilhete endereçado ao capitão do 4º esquadrão do 6º regimento de cavalaria , Capitão von Wessenig.

Um autor anônimo relatou que o menino foi entregue à sua custódia ainda bebê, em 7 de outubro de 1812. Este cuidador afirmou ter ensinado o jovem a ler, escrever e seguir a religião cristã, sem nunca permitir que ele saísse de sua casa. Na carta, o menino expressava o desejo de se tornar um cavaleiro, assim como seu pai, e pedia ao destinatário, um capitão, que o acolhesse ou decidisse seu destino.

Anexada à primeira mensagem, havia uma carta curta, supostamente escrita pela mãe do menino para o antigo zelador. Esta carta identificava o garoto como Kaspar, nascido em 30 de abril de 1812, e mencionava que seu pai, um cavaleiro do 6º regimento, havia falecido. No entanto, mais tarde foi descoberto que ambas as cartas foram escritas pela mesma pessoa. A frase "ele escreve minha caligrafia exatamente como eu" levou analistas a concluir que o próprio Kaspar Hauser havia escrito as duas cartas.

Inicialmente, imaginava-se que Hauser fosse uma criança selvagem vinda das florestas. Durante várias conversas com o prefeito Binder, Hauser começou a revelar uma versão diferente de sua história de vida, que ele mais tarde detalharia por escrito. Segundo esse relato, Hauser passou a maior parte de sua vida preso em uma cela escura e solitária. Ele descreveu a cela como tendo aproximadamente dois metros de comprimento, um metro de largura e um metro e meio de altura. Nesse espaço reduzido, sua única mobília era uma cama de palha e ele tinha apenas quatro brinquedos de madeira para se entreter: dois cavalos e um cachorro.

Hauser relatou que todas as manhãs encontrava pão de centeio e água ao lado de sua cama. Em algumas ocasiões, a água tinha um sabor amargo que, ao ser consumida, fazia-o dormir mais profundamente que de costume. Nessas situações, ao despertar, ele notava que sua palha havia sido trocada e que seu cabelo e unhas estavam cortados. Hauser afirmou que o primeiro ser humano que conheceu foi um homem que o visitou pouco antes de sua libertação, tomando muito cuidado para não mostrar o rosto. Esse homem o ensinou a escrever seu nome, guiando sua mão. Depois que Hauser aprendeu a ficar de pé e caminhar, ele foi levado para Nuremberg. O homem misterioso também lhe ensinou a frase "Eu quero ser um cavaleiro, como meu pai foi", em um antigo dialeto bávaro, embora Hauser alegasse que não compreendia o significado das palavras.

Em 17 de outubro de 1829, Kaspar Hauser foi encontrado no porão da residência de Daumer, com um ferimento ainda recentíssimo na testa. Ele alegou ter sido atacado enquanto utilizava a privada; o agressor, um homem encapuzado, não apenas o feriu, mas também o ameaçou com severidade ao dizer: "Você ainda precisa morrer antes de deixar a cidade de Nuremberg." Segundo Hauser, ele reconheceu a voz do atacante como a do homem que o havia trazido para a cidade. Inicialmente, Hauser fugiu para o primeiro andar, onde ficava seu quarto, como indicava o rastro de sangue. No entanto, em vez de procurar socorro imediato, ele desceu as escadas e se escondeu no porão, acessado por um alçapão. Preocupadas, as autoridades disponibilizaram uma escolta policial e transferiram Hauser para os cuidados de Johann Biberbach, uma figura de autoridade na cidade. Este ataque alimentou especulações sobre sua origem, que variavam entre a Hungria, Inglaterra e até a Casa de Baden.

No entanto, existem céticos que acreditam que o próprio Hauser tenha infligido o ferimento com uma navalha, a qual ele teria levado de volta para seu quarto antes de fugir para o porão. Segundo essa teoria, Hauser poderia estar buscando atrair a pena alheia para evitar uma punição decorrente de uma recente desavença com Daumer, que começara a acreditar que o jovem tinha uma propensão para mentir.

No dia 14 de dezembro de 1833, Hauser retornou para casa com um grave ferimento no peito esquerdo. Conforme seu relato, ele tinha sido atraído até o Ansbach Court Garden, onde um desconhecido o atacou com uma faca enquanto lhe entregava uma bolsa. Tristemente, Hauser sucumbiu ao ferimento três dias depois, em 17 de dezembro de 1833.

O enigma de Kaspar Hauser


O enigma de Kaspar Hauser é um filme biográfico dirigido por  Werner Herzog e estrelado por Bruno S. e Walter Ladengast, em 1974, que narra a vida de Hauser sobre a ótica dos bilhetes encontrados em seu poder na data do ocorrido, em 1828.

O filme narra a intrigante jornada de Kaspar Hauser, que passa os primeiros dezessete anos de sua vida acorrentado em um pequeno porão, com apenas um cavalo de brinquedo para se distrair e sem qualquer interação humana, exceto pela presença fugaz de um homem misterioso, sempre vestindo um sobretudo preto e uma cartola, que trazia sua comida.

Em um dia de 1828, esse mesmo homem decide libertar Hauser. Ensina-lhe algumas frases básicas e como andar, antes de deixá-lo nas ruas de Nuremberg. A presença de Hauser na cidade desperta enorme curiosidade, levando-o a ser exibido em um circo, até ser resgatado por um professor benevolente, Georg Friedrich Daumer, que se empenha em educá-lo pacientemente.

Kaspar mostra rápido progresso: aprende a ler e escrever e desenvolve perspectivas singulares sobre lógica e religião. No entanto, é a música que verdadeiramente o cativa. Sua singularidade atrai acadêmicos, clérigos e nobres, curiosos para entender sua mente singular. Entretanto, sua vida não fica livre de perigos. Ele é brutalmente atacado pelo mesmo desconhecido que o libertou, resultando em uma grave lesão na cabeça que o deixa inconsciente. Após se recuperar, é novamente alvo de um ataque misterioso, desta vez sendo esfaqueado no peito.

O filme retrata meticulosamente a história verdadeira de Kaspar Hauser, utilizando textos de cartas autênticas encontradas com ele e mantendo fidelidade aos detalhes do seu confinamento e libertação. Personagens como o Professor Daumer e Lord Stanhope são inspirados em figuras históricas reais, respectivamente Georg Friedrich Daumer e Philip Henry Stanhope, o 4º Conde Stanhope.

Dúvidas dos especialistas

A história de Kaspar Hauser é marcada por várias contradições em seus relatos sobre seu tempo na prisão. Em 1970, o psiquiatra Karl Leonhard afirmou que, se Hauser realmente tivesse passado sua infância nas condições que descreveu, ele não teria conseguido se desenvolver além do nível mental de um idiota e, provavelmente, nem teria sobrevivido. Para Leonhard, a história de Hauser é tão repleta de absurdos que é surpreendente que tenha sido acreditada e continue a ser acreditada por muitas pessoas atualmente.

Leonhard também rejeitou as opiniões de Heidenreich e Hesse sobre Hauser. Ele defendeu a ideia de que Hauser era um vigarista patológico, visto que sua constituição histérica e a persistência de uma personalidade paranoica permitiram que ele desempenhasse seu papel de maneira imperturbável. Analisando diversos relatos sobre o comportamento de Hauser, Leonhard concluiu que se pode identificar uma tendência histérica e paranóica em sua personalidade.

A ideia central da história de Hauser é alvo de diversos debates e comparada à histórias como Tarzan ou Mogli, figuras que foram criadas por animais e adquiriram uma certa repulsa aos padrões normativos de comportamento, não sendo assim, domesticados com facilidade, apresentando em sua essência dificuldade de compreensão ou desenvolvimento sócio-cognitivo, o que dificulta até certo ponto o desenvolvimento de um vocabulário e de um comportamento social. Podemos observar no desenvolvimento do enredo do filme que poucos aspectos da vida de Hauser são revelados de fato, isso ocorre pela ausência de documentações acerca de sua origem e vida, o que provocam debates acerca de como o seu desenvolvimento de fala e sua capacidade de andar.

A história de Hauser é discutida nos meios acadêmicos buscando uma compreensão mais assertiva acerca de como o seu desenvolvimento se tornou possível, se levarmos em consideração suas alegações de cárcere por toda a sua vida. Uma criança recém-nascida, por exemplo, se desenvolve através dos estímulos recebidos por outros adultos, como a fala, o caminhar e o desenvolvimento cognitivo e social acerca do comportamento e educação recebidos, relevando uma proximidade mais continuada com os responsáveis por sua criação até certa fase quando estão prontos para viverem em sociedade e estabelecer vínculos de afeto e desenvolver suas competências sociais e emocionais. Hauser é descrito como um homem ausente dos princípios básicos da convivência, sobretudo, na obra cinematográfica, onde ele revela possuir uma incapacidade de caminhar por conta própria nos primeiros meses de sua liberdade, ele também revela uma dificuldade em se expressar em falas e frases que elucidem de fato o que se deseja, tornando assim a tarefa de educa-lo ou compreendê-lo ainda mais complicada, se levarmos em consideração a ausência de proximidade dele com as novas pessoas e a nova atmosfera após seu abandono.

A história de Hauser pode ser acompanhada em sua obra cinematográfica que está disponível integralmente no Youtube.

Assista ao filme:


O tratado de Tordesilhas: divisão de terras e poder entre Portugal e Espanha


O Tratado de Tordesilhas foi um acordo internacional assinado na cidade espanhola de Tordesilhas em 7 de junho de 1494. Foi celebrado entre o Reino de Portugal e a Coroa de Castela para dividir terras "descobertas e ainda por descobrir" por ambas as Coroas fora da Europa. . Este tratado surgiu como resultado da oposição portuguesa às reivindicações castelhanas que surgiram da viagem de Cristóvão Colombo um ano e meio antes, onde reivindicou oficialmente o que hoje é conhecido como o Novo Mundo para a Rainha Isabel I (1474-1504). 

De acordo com o tratado, a linha de demarcação é definida como 370 léguas a oeste da Ilha de Santo Antão, no arquipélago de Cabo Verde. Esta linha situava-se a meio caminho entre estas ilhas (então portuguesas) e as ilhas das Caraíbas descobertas por Colombo, referidas como "Cipango" e Antilia. Os territórios a leste deste meridiano pertencem a Portugal enquanto os a oeste pertencem a Castela. Em 2 de julho, Castela a ratificou, seguida por Portugal em 5 de setembro de 1494. Algumas décadas depois, durante a "questão das Molucas", outra divisão ocorreu com um antimeridiano sendo tomado como linha de demarcação em direção ao paralelo de Tordesilhas no Tratado de Saragoça datado de 22 de abril de 1529. 

Estiveram presentes do lado português Rui de Sousa, Senhor de Sagres e Beringel, seu filho João Rodrigues de Sousa, Chefe Almocaden, e Aires de Almada, juiz de processos cíveis no tribunal e auditor real; Estêvão Vaz foi secretário da embaixada com testemunhas como João Soares de Siqueira, Rui Leme e Duarte Pacheco Pereira. De Castela e Aragão juntaram-se D. Henrique Henriques - mordomo-chefe -, D. Gutierre Cardenas - comandante-chefe -, juntamente com o Dr. Rodrigo Maldonado que foram coadjuvados por Fernando Alvarez Toledo como seu Secretário - trouxeram também outras três testemunhas: Pero De Leon Fernando Torres e Fernando Gamarra.

No contexto das Relações Internacionais, a sua assinatura ocorreu num período de transição entre a hegemonia papal - até então poder universalista - e a afirmação do poder singular e secular dos monarcas nacionais, uma das várias facetas da transição da Idade Medieval para a Idade Moderna.

D. João II de Portugal (1477, 1481-1495) nomeou sua prima de Castela (filha de uma infanta portuguesa), D.Rui de Sousa, como embaixador para as negociações e assinatura do Tratado. Os documentos originais estão atualmente arquivados no Arquivo Geral das Índias na Espanha e também no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Portugal.

Em 1750, o Tratado de Tordesilhas deixou de vigorar com a assinatura do Tratado de Madrid - quando ambas as Coroas estabeleceram novos limites fronteiriços para a divisão territorial nas colônias sul-americanas. Eles concordaram que rios e montanhas seriam usados ​​para demarcar essas fronteiras.

A história da formação do Brasil


A formação do território brasileiro foi resultado de um extenso período, nenhum processo de expansão ocorreu após a chegada dos portugueses em 1500 e se estendeu até pouco depois da transformação do país em uma república. No entanto, já nos primeiros anos do século XV o tema começou a ser delineado.

Com o tempo, as navegações tornaram-se cada vez mais comuns entre os povos e nações como Portugal e Espanha. Esses países investiram em expedições marítimas de grande porte para alcançar as Índias Orientais, um lugar conhecido por seu intenso comércio de especiarias.

Ambos os reinos partiram para explorar novas rotas. Os portugueses encontraram uma nova rota e navegaram ao longo da costa africana. Enquanto isso, os espanhóis tentavam encontrar um caminho inexplorado, que os levasse a descobrir um continente inteiro: a América. Logo após as suas descobertas, ambos os países começaram a disputar a propriedade desta massa de terra recém-descoberta. Após alguma deliberação, chegaram a um acordo para a criação de uma linha meridiana que se situaria a 370 léguas (1786 km) da ilha de Cabo Verde, em África, de modo a demarcar claramente estes territórios.

Dessa forma, o Tratado de Tordesilhas foi estabelecido em 1494. Esse acordo determinou os limites das terras sul-americanas entre Espanha e Portugal. Os territórios espanhóis situavam-se a oeste do meridiano, enquanto as áreas portuguesas ficavam a leste deste ponto. É dentro desses domínios portugueses onde nos dias atuais localiza-se o Brasil.

Além do mais, um dos principais objetivos do Tratado era estabelecer a paz entre Portugal e Espanha no que diz respeito à nova terra descoberta. Como resultado dessa pacificação, os portugueses puderam finalmente explorar o novo território. A primeira ocupação portuguesa no atual Brasil ocorreu já durante o século XVI na região costeira nordestina onde iniciaram algumas atividades econômicas.

Nos primórdios, as principais atividades econômicas consistem no ciclo da cana-de-açúcar e na exploração do pau-brasil. Naquela época, o açúcar não era muito conhecido ou utilizado na Europa; por isso a produção era altamente direcionada para exportação ao exterior. Como consequência desse crescimento das exportações, surgiram diversos centros urbanos importantes e cidades portuárias de grande relevância histórica.


À medida que as cidades se expandem e a urbanização se torna cada vez mais comum no território onde os portugueses se estabeleceram, surgiu a ideia de explorar mais o continente. O ciclo económico da cana-de-açúcar continua a prosperar e, gradualmente, a pecuária - criação de gado - estendeu-se para dentro do país.

Além da produção pastoril, durante as missões de exploração na atual região Norte do Brasil, os exploradores conseguiram encontrar especificidades locais e iniciaram uma busca mais ampla pelas chamadas “drogas do sertão”. Estas especiarias também serviram como uma estratégia positiva de exportação para a Europa, uma vez que não tinham acesso a esta matéria-prima.

Com isso, as Índias navegaram pelo território brasileiro. O Brasil se tornou uma peça importante para o comércio português durante suas navegações coloniais. Produtos como guaraná, salsa, cravo e canela tiveram alto valor comercial junto com o açúcar.

No final do século, um novo tipo de mercadoria (produto agrícola ou mineral) começou a aparecer nestas missões exploratórias. À medida que avançavam em direção à região Centro-Oeste do Brasil, especificamente na atual região Sudeste. Em Minas Gerais, os exploradores descobriram algo que transformaria enormemente a sua realidade nos séculos seguintes: o ouro.

Até agora, constatamos que ao longo de alguns séculos, o território brasileiro sofreu transformações. Inicialmente, havia apenas conhecimento do espaço nordestino e logo abaixo da costa já, localizando-se algumas comunidades litorâneas no estado paulista com suas vilas e cidades.

Algumas expedições rumo ao oeste levaram à ocupação de estados atuais da região norte, como Amazonas, e da região sudeste, como Minas Gerais. Apesar dessa expansão territorial ter mudado o mapa do país, ainda há áreas inexploradas até hoje.

O século XVIII ficou marcado pelo Ciclo do Ouro, uma era emblemática em que houve especial atenção e exportação de ouro, bem como outras gemas preciosas. Este período foi tão impactante que chegou a substituir produtos outros mais comercializados - como o açúcar -, já que países como Espanha e Reino Unido obtiveram-no por meio das suas colônias localizadas na América Central, fazendo assim com que as chegadas do Brasil diminuíssem.

A descoberta do ouro trouxe mudanças significativas nos padrões de ocupação e povoamento do território. Numerosos portugueses mudaram-se para Minas Gerais com ambições de desenvolver negócios mineiros, enquanto outros do Nordeste do Brasil também migraram para esta região por razões semelhantes. Como resultado, estima-se que a população quase dobrou devido à alta demanda por esse novo recurso brasileiro.

Toda essa comoção e movimentação populacional, provocada pela novidade, também alterou o número de indivíduos instruídos que foram treinados para administrar o dinheiro de forma eficaz e tornar os negócios cada vez mais lucrativos. Esta expansão do ouro aumentou a quantidade de cidades, alterou as suas estruturas em conformidade e desenvolveu-se em resposta às suas necessidades.

As necessidades evoluíram e tiveram impacto na estrutura laboral, afetando os trabalhadores que mantinham o ritmo de trabalho constante. O século XVIII ficou marcado pelo uso crescente da mão-de-obra causada pela escravidão.

Os povos indígenas e africanos, trazidos em navios mercantes, foram submetidos a condições de trabalho que não correspondiam ao seu bem-estar. E esses maus tratos aos trabalhadores estavam apenas começando.

Durante o início do século XIX, ocorreu um acontecimento que teve grande impacto no território brasileiro e também despertou interesse em diversos países europeus. A vinda da família real portuguesa para o Brasil simbolizou uma renovada relação entre a colônia e sua metrópole.

A inovação também chegou ao território nacional, trazendo muitas novidades reais e novas oportunidades de negócios com os países europeus. Além disso, a chegada de milhares de imigrantes europeus iniciou uma vasta diversificação cultural para o Brasil. Em termos de economia, tanto o ciclo do café na região Sudeste quanto o ciclo da borracha na região Norte modificaram mais uma vez qual produto era mais extraído desta terra - passou a ser fortemente exportado também.

Nessa época, territórios como os atuais Uruguai e Guiana Francesa foram anexados pelo Brasil. Porém, logo após sua incorporação ao país, o Brasil retirou-se da Guiana Francesa; após a sua independência, a região Cisplatina foi resolvida com o estabelecimento da República Oriental do Uruguai.

A expansão de novas comunidades e a descoberta de ciclos econômicos inovadores não apenas na ampliação territorial, mas também no desenvolvimento das vilas. Estes locais evoluíram em grandes cidades urbanizadas que se transformaram em centros financeiros prósperos, impulsionando um surto populacional significativo - a contagem demográfica foi estimada em 3,2 milhões de habitantes no ano de 1800 chegando a aproximadamente 17,4 milhões ao final do século XIX.

Estes dados demonstram o crescimento populacional no século e como também conduziu a um desenvolvimento mais concreto das áreas urbanas, fortalecendo ainda mais o poder sobre o território nacional com a chegada da corte de Portugal.

À medida que o século XIX se transformava no século XX, o Brasil teve que se acostumar com seu novo regime governamental: a República. Desde a sua proclamação em 1889, o Brasil passou por mudanças estruturais como divisão de estados que antes eram províncias e alterações nos métodos de expansão territorial.

Durante a época colonial e em certas graças durante o império, as missões de exploração foram empregadas pelo Brasil como meio para considerar, anexar e administrar novos territórios. Todavia, na república já se tinha conhecimento das regiões habitáveis ​​do nosso continente. Será que ainda restava espaço para o governo brasileiro conquistar?

No início do século XX, ocorreram duas conquistas significativas que ajudaram a moldar o atual território do Brasil. Após disputas diplomáticas com a França – que governava a Guiana Francesa – o Brasil recuperou uma faixa de terra que reconheceu como sua. Esta área hoje é conhecida como estado do Amapá e foi incorporada ao estado do Pará.

Além disso, o destaque da época foi a incorporação do atual estado do Acre através de um conflito com a Bolívia que culminou na transferência das terras e no pagamento de preocupação ao país vizinho por intermédio do Tratado de Petrópolis.

Agora que você chegou até aqui, vamos compartilhar um fato fascinante sobre o território brasileiro. Em comparação com a expansão territorial dos EUA - que também progrediu para oeste como no caso do Brasil - o Brasil iniciou seu processo de expansão muito antes de sua independência (1822), enquanto os EUA só começaram após conquistar a independência (1776).

Se não fosse pela conquista do Acre em 1903, o Brasil teria completado sua expansão total antes dos Estados Unidos em 1853, após perder o território da Cisplatina desde 1828. Conseqüentemente, o Brasil manteve essencialmente o mesmo território desde sua independência, enquanto os americanos iniciavam sua processo de expansão somente após alcançar a independência.

Ao longo dos séculos, presenciamos mudanças significativas em diversos setores. No entanto, a história da expansão territorial do Brasil é extensa e influenciou profundamente o que conhecemos hoje como país. Cada avanço desde o século XV até os primórdios do XX molda a nossa realidade presente.

A Princesa Isabel: A redentora da coroa brasileira

Foto: Princesa Isabel / Wikki Commons

Isabel do Brasil (nascida no Rio de Janeiro em 29 de julho de 1846 e falecida na UE em 14 de novembro de 1921), apelidada de "A Redentora", era a Princesa Imperial e presumível herdeira do trono do Império Brasileiro. Ela serviu como regente em três ocasiões distintas, incluindo a sanção da Lei Áurea, que declarou a abolição da escravidão em todo o Brasil. Como filha mais velha do Imperador D. Pedro II e da Imperatriz D.Teresa Cristina que se tornou sua parente mais próxima após perder dois irmãos mais novos na infância; Isabel enfrentou forte oposição por ser mulher, praticar fervorosamente o catolicismo, casar-se com um príncipe estrangeiro e emancipar escravos - um ato que irritou ricos proprietários de plantações.

Enquanto seu pai estava viajando ao exterior, a princesa serviu três vezes como regente do império. Durante o seu último mandato, Isabel promoveu e sancionou a Lei Áurea de 1888 que aboliu a escravatura. Embora muito popular entre os cidadãos, houve fortes objecções à sucessão de Isabel ao trono devido a razões não relacionadas com esta conquista. Ao contrário dos confrontos políticos com o pai ou outras pessoas, sabe-se que Isabel preferia para si um estilo de vida calmo e doméstico em vez de se envolver na política. Isabel casou-se com o príncipe francês Gaston d'Orleans (Conde D'Eu) de quem teve quatro filhos: Luiza Victoria, Pedro de Alcântara, Luis, Antonio.

Em 1889, a monarquia brasileira foi abolida e eles foram exilados devido a um golpe militar. Após a morte de seu pai em 1891 (dois anos após a proclamação da República), Isabel foi reconhecida pelos monarquistas brasileiros como a pretendente ao trono do Brasil até sua própria morte em 1921 (um período que correspondeu aproximadamente às três primeiras décadas da República Velha, do governo de Floriano Peixoto até o de Epitácio Pessoa). Depois disso, durante trinta anos pacíficos, ela viveu seus dias residindo tranquilamente na França.

O exílio

No dia 7 de dezembro de 1889, a família imperial chega a Lisboa. Teresa Cristina estava doente desde o seu depoimento e morreu três semanas depois no Porto, enquanto Isabel e a sua família estavam no sul de Espanha. A princesa regressou a Portugal e desmaiou durante o funeral da mãe. Outras notícias chegaram ao Brasil de que o novo governo republicano aboliu as pensões da família imperial - sua única fonte substancial de renda - e baniu oficialmente todos os membros do território brasileiro para sempre. Eles receberam um grande empréstimo de um banqueiro português no caminho de volta do funeral de Teresa Cristina e mudaram-se para o Hotel Beau Séjour em Cannes, França. 

Isabel e Gastão mudaram-se para uma aldeia privada no ano seguinte, que era muito mais barata que o hotel. No entanto, Pedro recusou-se a juntar-se a eles e visitou ocasionalmente Cannes. O príncipe Francisco, tio de Gastão, concedeu ao casal uma mesada mensal. Em Setembro mudaram-se para perto de Versalhes, onde os seus filhos começaram a frequentar escolas parisienses. Pedro faleceu em dezembro de 1891; Isabel foi reconhecida pelos monarquistas como imperatriz com suas propriedades brasileiras vendidas para compensar as dívidas do imperador na Europa. Isabel e Gaston viviam tranquilamente na villa Bolonia-Billancourt. Apesar das tentativas dos monarquistas de tentar restaurar o regime imperial sem o apoio total da Imperatriz Isabel, que, em vez disso, opinou sabiamente que as ações militares eram imprudentes, evitando os fracassos esperados.

Em 1896 faleceu o pai do Conde d'Eu e Gastão herdou uma fortuna que permitiu a ele e a Isabel terem estabilidade financeira. Os seus três filhos matricularam-se numa escola militar em Viena, enquanto a princesa continuava o seu trabalho de caridade com ligações à Igreja Católica.  Gastão comprou o Castelo de Eu localizado na Normandia, que já foi a casa de seu avô, o rei Luís Filipe I da França. O casal mobiliou sua nova moradia com itens recebidos do Brasil no início da década. 

Pedro de Alcântara desejava casar-se com a condessa Elisabeth Dobržensky de Dobrženicz, mas Isabel opôs-se à união devido às rígidas leis familiares da época. O herdeiro de um trono só poderia casar com uma princesa de sangue real. Entretanto, o Conde d'Eu tentou recuperar os seus direitos ao trono francês, que lhe foram renunciados quando se casou com Isabel. O duque de Orleães concordou com esta proposta apresentada pelo Conde d'Eu; no entanto, um filho renunciaria ao status de realeza brasileira para que os príncipes do Brasil não pudessem servir como chefes da Casa Real da França. Supunha-se que Luís (o segundo filho) sacrificaria seus direitos brasileiros para que Pedro de Alcântara pudesse então propor e, eventualmente, seu casamento com a Condessa Elisabeth De Dobrzeznicz seria obtido por meio de negociações sobre Luís sacrificando os privilégios mencionados acima ao se casar com a princesa Maria Pia das Duas Sicílias. Luís Luís viajou pelo mundo antes de desembarcar, tendo sua entrada proibida no Brasil alguns anos depois, ao lado do irmão Antônio, que se juntou às forças do exército britânico lutando em seu nome, uma vez que eles próprios foram proibidos de prestar serviço militar durante a Primeira Guerra Mundial em outras fileiras que não as divisões de infantaria terrestre, após o que Antonio morreu logo após um ataque. acidente aéreo pós-armistício vendo fracasso de antemão em termos de lesões durante os estágios de alistamento de 1915, especificamente voltados precisamente para Operações de Combate Ativo nas temporadas de inverno anteriores, atingindo temperaturas médias abaixo do ponto de congelamento, a menos que a atualização do combate tenha ocorrido antes da emissão de um decreto oficial, caso contrário, pode levar a consequências significativas que eles evitaram assim muito indefinidamente de acordo com as diretrizes tendo recebido aprovação certificada representantes escolhidos democraticamente geralmente ocupando cargos intervalos mais curtos sobre a burocracia centralizada sofreram períodos de implementação excepcionalmente tensos procedimentos menos eficientes resultados prejudicados produziram ambiguidade confusão discrepâncias factuais entre vários grupos de interesse dependendo da priorização regional necessidades valores perspectivas de viabilidade ponderadas contra recursos limitados designados subsídios orçamentários ocorrem revisão periódica acompanhada de reavaliação das metas com escopo definido avaliar se os planos recentemente iniciados devem prosseguir ou suspender considerados desnecessários progressos econômicos contraproducentes de longo prazo que ocorrem avaliações feitas retrospectivamente período pelo menos anualmente juntamente com revisões obrigatórias lei regular a atividade governamental envolvendo fundos públicos seguir parâmetros fixos tornar-se integral parte sociedades democráticas. Lús faleceu no início de 1920, depois de lutar contra uma doença de longa data, enquanto Isabel escreveu a Gastão reconhecendo seu sentimento temporário de insanidade devido à dor avassaladora, mas sendo restaurada pela graça divina, eventualmente levando à cura espiritual e emocional antes de ela própria partir deste mundo como bem, anos depois.

A saúde da princesa começou a piorar e em 1921 ela mal conseguia andar. Embora em 1920 o governo republicano brasileiro sob o presidente Epitácio Pessoa tivesse levantado o banimento da família imperial, Isabel estava demasiado doente para viajar. Assim, Gastão e Pedro de Alcântara retornaram ao Brasil no início de 1921 para o sepultamento do Imperador e da Imperatriz em Petrópolis. Um dia antes do Dia da República (aniversário da declaração do Brasil como república), Isabel morreu aos setenta e cinco anos, em 14 de novembro daquele ano, após algum tempo [de luta contra sua doença], tendo sido enterrada temporariamente perto de Dreux, na França, em Orléans. Mausoléu. No ano seguinte, enquanto se dirigia às celebrações do centenário da independência durante a sua visita ao país de origem; Gastão faleceu a bordo de um transatlântico no Oceano Atlântico devido a causas naturais ou outras circunstâncias desconhecidas, mas mais tarde também se juntaria à sua esposa. Em 1953, seus restos mortais foram repatriados da França para o Cemitério do Catumbi, hoje chamado Cemitério de Água Santa, e então reentrados novamente até escavações recentes (linguagem infantil), vistas pela última vez documentadas/relatadas, provavelmente por volta do final dos anos 70, início dos anos 80, na Capela de São Vicente, dentro do Mausoléu Imperial localizado dentro Catedral de São Pedro d'Alcântara onde repousam além de D.Pedro II e Teresa Cristina.

Goiás: Um Olhar sobre a história e a diversidade cultural no Coração do Brasil

Foto: Goiânia, GO

A chegada dos portugueses ao Brasil marca uma viragem significativa nesta parte da América, especialmente para os povos indígenas. À medida que os colonizadores europeus se instalaram, os seus costumes e herança cultural começaram a criar raízes ao longo do tempo, especialmente no que diz respeito à religião. Através do trabalho missionário dos padres jesuítas, o catolicismo tornou-se firmemente estabelecido em toda a colônia e seus territórios. Quando chegou a Goiás, no século XVIII, o catolicismo rapidamente se espalhou e ganhou forte apoio da população local. Esta tradição religiosa foi preservada mesmo após a independência do Brasil de Portugal e após o estabelecimento de um governo republicano; ambos os eventos aconteceram sem afetar muito a adesão local ou a devoção às práticas de fé católica entre pessoas que hoje se autodenominam "goianos". Os costumes foram preservados enquanto eram reimaginados através da incorporação em rituais nas experiências da vida cotidiana. O catolicismo não apenas ajudou a moldar os padrões de ocupação nas terras goianas, mas também criou elementos simbólicos relacionados especificamente em torno de atos que exigem a confiança dos devotos e que continuam influenciando os hábitos de vida religiosos individuais até hoje. 

Goiás, ou como alguns preferem chamar de “o coração do Brasil”, está localizado na região do planalto central e se destaca como um território colonizado e explorado anos após a chegada dos portugueses ao litoral brasileiro. É um dos berços da savana; lar de artistas de música, arte e literatura; uma área com grande diversidade na sua fauna e flora; cheio de inúmeros encantos, vasta riqueza cultural que é única. Sem dúvida o estado de Goiás é abençoado por sua localização - mesmo sem mares ou praias - possuindo diversos tesouros históricos aliados a belezas naturais faz com que seja admirado por muitos olhares curiosos que contemplam este local com avidez.

Goiás compartilha forte influência religiosa do catolicismo com sua nação-mãe, que desempenhou papel essencial no processo de ocupação de terras no estado. A religião também serviu como elemento fundador e responsável pela popularização das festas tradicionais que permanecem vivas nas crenças dos goianos até hoje. Dada a dinâmica presente em Goiás, este estudo se concentra em uma revisão de literatura destacando o impacto do catolicismo na formação e expansão do estado. Começa enfatizando como o catolicismo chegou a Goiás e se tornou parte integrante da identidade dos habitantes locais antes de concluir sublinhando seu fervor pela manutenção da tradição por meio de práticas de religiosidade enraizadas nas celebrações culturais ao longo do tempo.

Após o processo de colonização das terras goianas e a exaustiva exploração do ouro, Goiás encontrou seu lugar no mundo. O povo “goiano” surgiu nesse intenso período colonial criando suas próprias forças para se afirmar na região. Apesar disso, é importante ressaltar que marcas culturais deixadas pelos povos anteriores estiveram presentes em sua formação cultural. A essência da identidade "goiana" tem raízes históricas com marcante miscigenação incluindo traços dos nativos indígenas africanos negros e europeus.

Foto: cidade de Goiás "Goiás Velho"

Ser goiano é ser um indivíduo marcado por uma herança cultural forte e diversificada; trata-se de homens e mulheres corajosos e destemidos. É também um povo que não tem vergonha do seu passado, profundamente enraizado na vida campestre, onde traços distintos ainda hoje permanecem evidentes através da música, da culinária, das escolhas de vestuário e também dos maneirismos. Apesar da era contemporânea que varreu o país com seus avanços tecnológicos, deixando pouco para trás esse modo de vida folclórico que não existe há muito tempo - ainda assim, dentro de todo esse progresso, permanecem vestígios do passado entre os residentes dessas comunidades adjacentes a monumentos históricos particularmente apreciados. por ambos, valor simbólico retratando riquezas artísticas imensuráveis ​​ao lado daquelas marcas de propriedade intangíveis, antes curadas apenas na tradição ou na memória, mas agora autenticadas de forma ainda mais importante através do envolvimento retido das gerações atuais, garantindo a compreensão vital das realidades históricas, ao mesmo tempo que conservam variações ricas em histórias sociais intrincadas forjadas ao longo do tempo. elementos totalmente necessários que proporcionem orientação para encontrar caminhos equitativos que conduzam a esforços de sustentação a longo prazo.

Apesar do transcurso de dois anos, os goianos não se afastaram da tradição católica introduzida em seus costumes pelos colonizadores portugueses; pelo contrário, assumiram novas formas, mantendo ao mesmo tempo os seus fundamentos tradicionais transmitidos pelos europeus. Segundo Hoornaert (1991), a devoção popular dentro do catolicismo surgiu entre as classes mais baixas e entre os indivíduos pobres como um todo. Este autor postula ainda que esta forma de devoção popular constitui “a cultura original e mais rica que o Brasil já produziu” (ibid., p. 99) ao longo de sua história desde o início da colonização. Além disso, foi através destes mesmos ritos praticados em comunidades insurgentes que os católicos pobres preservaram mensagens evangélicas durante séculos - continuando mesmo hoje sobre a autoridade religiosa formalizada - o que pode ser a razão pela qual as devoções históricas com origens europeias ainda prosperam entre populações incivilizadas ou aqueles treinados na civilização que poderiam caso contrário, apenas os diminuiria sem que tais práticas de cultivo de base cruzassem a fé e as considerações da vida cotidiana, co-evoluindo através das gerações ao longo do tempo, mas ainda assim presentes até agora. 

O estado brasileiro de Goiás, situado na região Centro-Oeste do país, foi habitado por diversas comunidades indígenas e quilombolas, bem como por diversos grupos que contribuíram para sua história. Vários povos indígenas como os Xavantes, Caiapós, Carajás e Tapuias habitavam a região antes da chegada dos colonizadores europeus. Essas pessoas viviam em tribos dedicadas à caça, à pesca e à agricultura. Com a chegada dos colonizadores portugueses no século XVI, houve confrontos com os povos indígenas e várias comunidades foram fundadas na região. No século XVIII, Goiás se tornou um território de interesse para diversas expedições exploratórias e estabelecimentos humanos após a descoberta das minas de ouro e diamante.

Os Bandeirantes Paulistas foram os primeiros colonizadores da região a ocupá-la. Fundaram diversas vilas e vilas, como Vila Boa (atual cidade de Goiás), Arraias, Flores de Goiás e outras. Esses assentamentos tornaram-se importantes centros econômicos, culturais e políticos de destaque, com especial atenção para Vila Boa, que serviu como capital da Província de Goiás até 1937. Além dos bandeirantes, outros povos desempenharam papel na formação significativa do Estado de Goiás, incluindo negros e europeus. Originais da África como escravos para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar, arroz e algodão assim como as minas foram trazidos pelos europeus. Muitos desses indivíduos conseguiram sua liberdade com o tempo e fundaram diversas comunidades quilombolas notáveis ​​- a Comunidade Kalunga em Cavalcante é um exemplo emblemático disso.

No final do século XIX e início do século XX, os europeus - notadamente italianos, alemães e portugueses - estabeleceram-se na região com o intuito de expandir suas oportunidades agrícolas. Essa migração prévia é feita por técnicas revolucionárias para fazer florescer a economia local através da produção cafeeira e da criação animal eficientemente dirigida pelos imigrantes.

Hoje, Goiás é um estado diversificado e multicultural, com uma rica história e tradições. Sua cultura é um amálgama de diversas influências, notadamente das culturas indígena e quilombola que ainda mantêm seus costumes na região. Como tal, o Estado de Goiás representa um centro cultural vital para o Brasil, ostentando inúmeras formas de arte que celebram a sua diversidade, bem como refletem o passado do povo. A presença de diferentes etnias moldou o desenvolvimento das artes culinárias, de gêneros musicais como o sertanejo (gênero brasileiro inspirado em letras folclóricas), das expressões artísticas entre outros aspectos únicos desta localidade - fatores que revelam o que faz Goiás se destacar culturalmente.

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