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[RESENHA #714] Noites brancas, de Dostoiévski

No lançamento da Nano, a coleção de bolso da Antofágica, apresentamos a melhor opção para aqueles que desejam conhecer a obra de Dostoiévski – e de quebra, um passeio pela mente de um apaixonado e por uma cidade histórica. Noites brancas é a história do encontro entre uma jovem desiludida e um sonhador, aquele que narra os eventos ocorridos ao longo de poucas noites, durante um período muito especial do ano em São Petersburgo, quando as noites não escurecem. Perambulando pela cidade, e por vezes até conversando com seus prédios, o Sonhador conhece Nástienka, uma melancólica jovem de coração partido. A partir deste encontro, os personagens desenvolvem uma conexão arrebatadora, aquele momento em que todos sentimos que nossos destinos podem mudar. E para o Sonhador não é diferente: ele tem a sensação de que finalmente coisas incríveis podem acontecer em sua vida. Mas será que ele está certo? Livro mais romântico da obra de Dostoiévski, Noites brancas é também uma ótima porta de entrada pa...

[RESENHA #713] Notas do subsolo, de Dostoiévski

Nesta obra-prima da literatura mundial, o genial Dostoiévski, um dos maiores autores de todos os tempos, traz uma narrativa intensa que nos convida a embarcar em uma viagem pelas memórias de um ex-funcionário público que, no auge de seus quarenta anos, vive no seu subsolo da repartição em que trabalhava. Dividida em duas partes, Memórias do subsolo, traz as confissões mentais do personagem, revelando seus pensamentos mais íntimos e sua visão sobre si mesmo e de alguns episódios de sua juventude, em muitos dos quais se sentiu humilhado, revelando-se decisivos para a formação de sua personalidade mordaz. Por vezes definido com anti-herói, o narrador desta obra articula monólogos sobre sua vida sombria, solitária, sem amizades, amarga e repleta de problemas de autoimagem – reflexos de seu profundo rancor e de perturbações das mais variadas naturezas. Tais características o tornam incapaz de tomar decisões ou agir com confiança, imerso em dúvidas e questões mal resolvidas sobre si mesmo e ...

[RESENHA #712] Os demônios, de Dostoiévski

Impressionado com o assassinato de um estudante por um grupo niilista, Dostoiévski concebeu este livro como um protesto contra os que queriam transplantar a realidade política e cultural da Europa ocidental para a Rússia. Apesar da intenção inicialmente panfletária, Os demônios é um romance magistral, à altura de Crime e castigo ou Os irmãos Karamázov. RESENHA Nesta nova tradução, o romance político de Dostoiévski sobre a invasão de ideias estranhas na Rússia do século XIX é revitalizado. As traduções anteriores de Larissa Volokhonsky e Richard Pevear de obras como Os Irmãos Karamazov, Crime e Castigo e Notas do Subterrâneo foram aclamadas por sua fidelidade e nuances ao estilo de Dostoiévski, e se tornaram as versões em inglês mais respeitadas. Agora eles enfrentaram um dos romances mais complexos e profundos de Dostoiévski. O título, que foi mal traduzido no passado como “Os Possuídos”, se refere aos demônios das ideias políticas e filosóficas que vieram do Ocidente para a Rússia: id...

[RESENHA #711] Crime & castigo, de Dostoiévski

Crime e castigo é a obra mais célebre de Dostoiévski e um dos romances fundamentais da literatura ocidental. Escrita entre 1865 e 1866, quando Dostoiévski tinha 45 anos, foi publicada em partes na revista Rússki Viéstnik [O Mensageiro Russo], a mesma que vinha publicando, na época, o romance "Guerra e paz", de Liev Tolstói. A ideia do livro surgiu quando Dostoiévski propôs a Katkóv, editor da revista, redigir um "relato psicológico de um crime". Na obra, Raskólnikov, um rapaz sombrio e orgulhoso, retraído mas também aberto à observação humana, precisa interromper seus estudos por falta de dinheiro. Devendo o aluguel à proprietária do cubículo desconfortável em que vive, ele se sente esmagado pela pobreza. Ao mesmo tempo, acha que está destinado a um grande futuro e, desdenhoso da moralidade comum, julga ter plenos direitos para cometer um crime – o que fará de uma maneira implacável. Por meio da trajetória de Raskólnikov, Dostoiévski apresenta um testemunho eloquent...

[RESENHA #710] Gente pobre, de Dostoiévski

Gente Pobre marca a estreia de Dostoiévski na literatura, em 1846, e estabelece desde logo os fundamentos para uma abordagem social, psicológica e profundamente corrosiva da compreensão humana. A análise pormenorizada das personagens e suas convicções, enquadradas por um pano de fundo de crítica subtil, ganha em Dostoiévski uma força e um poder imagéticos que extravasam as páginas dos seus livros. Em «Gente Pobre», o autor transporta-nos para um dos bairros mais miseráveis de São Petersburgo, onde um funcionário de meia-idade troca correspondência com uma jovem costureira. Demasiado pobres para se casarem, o seu amor passa todo e apenas por cartas mantidas ao longo do tempo, que refletem a cruel realidade do dia a dia passado num ambiente de extrema precariedade. RESENHA O primeiro romance de Fyodor Dostoiévski, Gente Pobre, foi escrito em nove meses entre 1844 e 1845, quando o autor enfrentava problemas financeiros por causa de seu estilo de vida dispendioso e seu vício em jogos. Ele ...

[RESENHA #709] Os irmãos Karamazov, de Dostoiévski

Os irmãos Karamázov é o último romance de Dostoiévski. No fundo, ele resume toda a criatividade do escritor, trazendo à baila as "malditas" questões existenciais que o afligiram a vida inteira, com especial relevo para a flagrante degradação moral da humanidade afastada dos ideais cristãos. Cheia de peripécias, a narrativa põe em foco três protagonistas irmãos, representantes dos mais diversos aspectos da realidade russa – o libertino Dmítri, o niilista Ivan e o sublime Aliocha –, a fim de alumiar as profundezas insondáveis do coração entregue ao pecado, corrompido por dúvidas ou transbordante de amor. RESENHA "Os Irmãos Karamazov", uma obra-prima literária de Fiódor Dostoiévski, publicada em 1879, é considerada uma das maiores realizações da literatura russa e global. Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, a considerou a "maior obra da história" e a colocou ao lado de "Édipo Rei" e "Hamlet" como textos fundamentais que exploram a te...

[RESENHA #708] O jogador, de Dostoiévski

O jogador, de Fiódor Dostoiévski é um primoroso romance cujo teor psicológico ultrapassa os estreitos limites do gênero recreativo. Baseado num profundo conhecimento das práticas e rotinas do cassino, ele evidencia a sinistra degradação de um jovem culto e talentoso que sacrifica o melhor de si à doentia paixão pelos jogos de azar, a qual lhe subjuga e destrói, aos poucos, a alma. O protagonista, em que se percebem diversos traços do próprio autor, vê toda a sua riqueza espiritual – dignidade, força de caráter e honra cavalheiresca – levada pela estonteante rotação da roleta. Mesmo o amor, a única fonte de alegrias e esperanças que ele possui, acaba sorvido por esse redemoinho. Os vícios humanos, sejam relacionados ao jogo, como no livro de Dostoiévski, ou às drogas, como em nossa realidade cotidiana, ainda estão longe de ser extirpados, tornando O jogador tão interessante para os leitores de hoje. RESENHA "O Jogador ou Um Jogador - Apontamentos de um Homem Moço" é uma obra n...

[RESENHA #707] O crime do padre amaro, de Eça de Queiroz

Com a morte do pároco da cidade de Leiria, o padre Amaro é designado para o cargo na igreja local e instala-se na casa de S. Joaneira, uma assídua religiosa. Amaro, se encanta com Amélia, filha da hospedeira, e desperta ciúmes no pretendente da jovem. A paixão cresce no antro eclesiástico de Leiria e o padre amaldiçoa o sacerdócio por não permitir que realize os seus desejos. RESENHA No seu primeiro romance, Eça de Queiroz aborda um tema ainda controverso nos dias de hoje: a relação entre o Clero, a Sociedade e a Política. É relevante destacar que a obra foi escrita em 1875, e apesar de algumas mudanças comportamentais, ainda é possível traçar um paralelo entre o século XIX e o século XXI. Amaro Vieira, o protagonista, torna-se padre para cumprir o testamento deixado pela patroa de sua mãe, a Marquesa de Alegros, que sempre foi sua protetora. Como órfão, ele sempre esteve ligado às questões eclesiásticas. Depois de um período de clausura, é enviado para uma cidade muito pobre, onde as ...

[RESENHA #706] O primo basílio, de Eça de Queiroz

Eça de Queirós, neste livro, faz uma crítica severa à sociedade lisboeta do século XIX. O autor mostra a lenta deformação do caráter de Luísa, mulher de formação romântica entediada com o casamento, sob o efeito de leituras e músicas sentimentais. Durante uma viagem do marido Jorge, Luísa envolve-se com seu sedutor primo Basílio. Porém, Juliana, a invejosa e vingativa criada, descobre o caso e arma um esquema de chantagem. Muitas emoções e reviravoltas num clássico do realismo português. RESENHA “O Primo Basílio”, um romance de Eça de Queiroz lançado em 1878, é uma crítica incisiva à família burguesa urbana do século XIX. Depois de criticar a vida provincial em “O Crime do Padre Amaro”, Eça de Queiroz volta sua atenção para a cidade, explorando as mesmas falhas, mas desta vez na capital. Ele faz isso através do retrato de uma família burguesa que parece feliz e perfeita na superfície, mas que tem bases falsas e corruptas. O compromisso de "O Primo Basílio" com seu tempo é evi...

A carta entregue por Mr. Darcy à Elizabeth Bennet

Na manhã seguinte, ao despertar, Elizabeth encontrou no seu espírito os mesmos problemas e meditações que, na véspera, o sono acabara por vencer. Ainda não se recompusera da surpresa. Era-lhe impossível pensar noutra coisa; e, incapaz de encontrar uma ocupação que a distraísse, resolveu, logo após o pequeno-almoço, fazer um pouco de exercício ao ar livre. Encaminhara-se para o seu passeio favorito, quando a deteve a lembrança de que o Sr. Darcy costumava por lá aparecer, e, em vez de penetrar no parque, Elizabeth tomou a azinhaga que o bordejava. A cerca do parque acompanhava a estrada de um dos lados e em breve ela passou por um dos portões. Após percorrer por duas ou três vezes aquele trecho da azinhaga, sentiu-se tentada, pela beleza da manhã, a parar a um dos portões e contemplar o parque. Durante as cinco semanas que permanecera no Kent, uma grande transformação se operara, e cada dia as árvores ficavam mais verdes. Elizabeth preparava-se para continuar o passeio, quando, no peque...