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Literatura e Política: Arma de Resistência ou Propaganda? Uma Análise Crítica

Imagem: Pixabay A literatura nunca foi apenas arte; ela é também um campo de batalha onde ideias políticas ganham vida, desafiam poderes estabelecidos ou, por vezes, os sustentam. De Os Lusíadas de Camões, que glorificou o império português, a 1984 de George Orwell, que denunciou o totalitarismo, as palavras têm servido tanto como armas de resistência quanto como instrumentos de propaganda. Em um mundo marcado por polarizações, crises democráticas e revoluções digitais, o papel político da literatura permanece tão relevante quanto controverso. Este artigo explora como a literatura atua na interseção entre resistência e propaganda, analisando suas nuances com base em estudos acadêmicos, casos históricos e exemplos contemporâneos. A Literatura como Resistência: Vozes Contra a Opressão A história da literatura está repleta de exemplos em que escritores usaram suas obras para desafiar sistemas opressivos. Durante a Revolução Francesa, panfletos como O Contrato Social de Rousseau (1762...

O Papel da Literatura na Era Digital: Livros vs. Telas – Uma Transformação em Curso

Imagem: Pixabay A literatura, outrora confinada às páginas impressas e às estantes empoeiradas, enfrenta uma revolução sem precedentes na era digital. Com a ascensão de e-books, audiobooks e plataformas como o TikTok, o ato de ler mudou radicalmente, levantando questões sobre o futuro dos livros tradicionais e seu impacto na sociedade. Enquanto Dom Quixote de Cervantes era lido à luz de velas no século XVII, hoje Harry Potter de J.K. Rowling é consumido em telas de smartphones ou ouvido em fones de ouvido durante o trajeto matinal. A Transição Digital: Do Papel ao Pixel A digitalização da literatura começou timidamente nos anos 1990, com projetos como o Gutenberg Digital, mas ganhou força no século XXI com o lançamento do Kindle pela Amazon em 2007. Segundo um relatório da Nielsen Book (2024), as vendas globais de e-books atingiram US$ 2,5 bilhões em 2023, representando 20% do mercado editorial mundial. No Brasil, a Câmara Brasileira do Livro (CBL, 2023) registrou um aumento de 35%...

Literatura e saúde mental: Terapia ou Ilusão? : Uma análise crítica

Imagem: Pixabay A literatura, há séculos, é celebrada como um refúgio para a mente, um espaço onde leitores encontram consolo, inspiração e até mesmo cura. Desde os salmos bíblicos até os best-sellers de autoajuda como O Poder do Agora de Eckhart Tolle, a ideia de que as palavras podem aliviar o sofrimento emocional permeia culturas e épocas. Mas será que a literatura realmente funciona como uma ferramenta terapêutica eficaz ou é apenas uma ilusão reconfortante que mascara problemas mais profundos? Neste artigo, exploraremos a relação entre literatura e saúde mental, analisando suas potencialidades e limitações com base em estudos psiquiátricos, casos concretos e reflexões acadêmicas. O Apelo Histórico: Literatura como Bálsamo Emocional A conexão entre literatura e bem-estar emocional não é nova. Na Grécia Antiga, Aristóteles, em sua Poética (335 a.C.), descreveu a catarse como um processo de purgação emocional desencadeado pela tragédia teatral, sugerindo que assistir a narrativas...

“O lodo e as estrelas”, de Ahmed Lutfi: livro egípcio recupera narrativas tradicionais árabes

Foto: Acervo Pessoal / Divulgação Comprometida com o seu propósito de difundir a literatura árabe no Brasil, a Editora Rua do Sabão anuncia o lançamento de "O lodo e as estrelas", do escritor egípcio Ahmed Lutfi. Com este título, o autor foi indicado ao prestigioso Prêmio Literário Sheikh Zayed em 2023, na categoria de Jovem Autor. Nesta coletânea de contos, Lutfi apresenta uma versão nova da península Arábica antes do Islã, das suas lendas e poetas, dos seus reis e tradições orais. Inspiradas na forma de contar histórias de Sherazade, de "As mil e uma noites", bem como nos contos tradicionais árabes, as narrativas do autor exploram e exaltam a história e a cultura árabes e temas amplos como amor, fraqueza e poder. A ideia de escrever o livro partiu da própria experiência de Lutfi, que participava das reuniões do professor Abdul Malik para ouvi-lo contar histórias e lendas do seu povo. Fascinado pelos relatos, ele pediu permissão para compilá-los em um livro. O prof...

Trecho da pág. 18 do livro “Futuro do Pretérito”, de Lilian Ribeiro Dias

Foto: DIVULGAÇÃO Ela passava a caminho da escola com seu uniforme perfeitamente engomado e aquele lenço esvoaçante. A pele muito branca e os cabelos escuros realçavam a cor de seus olhos verdes. Certamente filha de alguém da elite paulistana, embora estivesse sempre desacompanhada. Ela parava na porta do sebo e esticava o dedo indicador sobre o livro que estivesse no topo da pilha. Joel não sabia dizer se ela estava examinando o título ou a poeira que se acumulava sobre a capa. Não fazia contato visual com ele. Dia após dia, a cena se repetia: ela olhava de longe para as estantes, caixotes e pilhas de livros como se os estivesse vendo pela primeira vez.              Até que um dia a menina encontrou, no topo da pilha de livros, logo na entrada da loja, a primeira edição de Viagem, de Graciliano Ramos, publicada pela editora José Olympio. Sua atenção foi imediatamente capturada de uma forma que Joel nunca tinha visto. Ela não ab...

“Nos braços dela”: História em Quadrinhos aborda a invisibilidade do trabalho do cuidado e a sobrecarga de mulheres

  Baseada em relatos reais de mulheres que estão à frente de trabalhos de cuidado produtivos e reprodutivos, a HQ  “Nos braços dela”  ( NADA∴Studio Criativo ,  114 págs.,  @nos.bracos.dela.hq ) aborda como o trabalho do cuidado, essencial à vida e mascarados de amor ou habilidade nata das mulheres, é invisível e precarizado.   Contemplada pelo ProAC/SP 2023, a obra é de autoria da escritora e ilustradora Bárbara Ipê e da jornalista e escritora Tatiana Achcar. Com ilustrações também de Bárbara, a obra tem prefácio de Maíra Liguori, diretora das organizações  Think Olga  e Think Eva. O texto de orelha é assinado pela ilustradora, designer e escritora Ale Kalko ( @alekalko ).   O livro traz à tona reflexões sobre a desigualdade de gênero na distribuição dos trabalhos de cuidado, sua invisibilização, desvalorização e falta de apoio institucional e de políticas públicas, o que acarreta sobrecarga de muitas mulheres, isolamento social, empobrecimen...

Yara Fers é finalista do Prêmio Kindle de Literatura com "Destinas", um mergulho na sororidade e autodeterminação feminina

Yara Fers (@yara.fers) , escritora e editora, residente em Arembepe, no município de Camaçari (BA), apresenta seu mais recente livro, "Destinas". A obra, que garantiu a Yara a posição de finalista no 9° Prêmio Kindle de Literatura , entrelaça prosa e poesia para abordar temas profundamente relevantes, como a exaustão feminina na sociedade patriarcal, sororidade, violência doméstica, e maternidade compulsória. O livro é uma road novel em prosa poética, com elementos de realismo mágico e referências a Obaluaê, que questiona os destinos traçados para os corpos femininos, como a violência doméstica, a maternidade compulsória e os padrões de beleza e sociais. A cerimônia de premiação, com o anúncio dos vencedores, está prevista para dia 17 de fevereiro. Na história, Heloísa é uma operária de 48 anos, vive um casamento infeliz e uma rotina exaustiva. Num instante limite, desliga a máquina, sai da fábrica e parte em uma viagem não planejada. A amizade com Milena e Sueli se mostra m...

Trechos do livro “As sementes que o fogo germina”, de Sumaya Lima*

Imitação do amor (pág. 13) Agora estou partindo, e na verdade sinto como se retornasse ao meu lugar após um longo combate em terra estranha. Saio a coxear, claro, já sem os mesmos contornos, as capacidades diminuídas, e Gregório virá também com suas marcas. Nesta altura da vida, já vamos muito alterados. Mas, para simular o amor, há sempre muitos meios. Sair em viagem na companhia de alguém, por exemplo. Este simples estar passageiro de nós dois aqui é uma imitação bem plausível do amor. Polaroide (pág. 14) Naquele mesmo domingo de agosto, quando o sol se pôs e o último convidado se despediu, a nonagenária foi habilmente amarrada à sua cadeira de rodas e presa, com fita de carga, ao escapamento de uma van Mercedes Sprinter 13 lugares. O veículo, dando voltas pelo centro histórico da cidade de Iguape durante a festa do Senhor Bom Jesus, segunda maior confraternização religiosa do estado de São Paulo, rumou para a ponte que liga o município, no continente, à vizinha Ilha Comprida. Perto ...