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Análise: O Guaraní, de José de Alencar


ISBN-13: 9788594318848
ISBN-10: 8594318847
Ano: 2019 / Páginas: 288
Idioma: português
Editora: Principis

O Guarani conta a história de Peri, um índio forte e leal da Nação Goitacá e sua relação com a família de dom Antônio de Mariz, um fidalgo português. Peri é o protetor de Cecília, uma bela donzela filha de dom Antônio. Com a morte acidental de uma índia aimoré pelo irmão de Cecília, dom Diogo e sua família correm perigo, pois a tribo busca vingança. Assim, Ceci e sua família contarão com a ajuda e proteção de Peri, o bravo herói brasileiro desta importante obra do Romantismo.

Ficção / História do Brasil / Literatura Brasileira / Romance


RESENHA

Escrito originalmente em folhetim, entre fevereiro e abril de 1857, com 54 capítulos, O Guarani teve tal êxito na edição folhetinesca que, antes do fim do ano de 1857, foi publicado em livro, com alterações mínimas em relação ao que fora publicado em jornal. O livro é dividido em quatro partes: "Os Aventureiros", "Peri", "Os Aimorés" e "A Catástrofe". O romance se compõe, em grande parte, de personagens e episódios, mas as imagens permanecem na memória e amarram os fios mais importantes da narrativa. São imagens poderosas, que se impõem por seu caráter plástico. A narrativa de O Guarani é simples, mas não simplista. Trabalha habilidosamente as possibilidades e contradições do romance romântico


Características do enredo

 O relato é feito em 3ª pessoa por um narrador onisciente, capaz de ver e saber tudo o que se passa no ambiente da narrativa, desde as cenas visíveis até os sentimentos e pensamentos mais profundos dos diversos personagens, incluindo o passado, que ajuda na compreensão da história, ficando mais fácil compreender os personagens e suas ações. Baseando-se nas características da primeira geração do Romantismo no Brasil José de Alencar elaborou várias obras literárias de cunho indianista, nas quais o índio assume o papel principal da narrativa, ou seja, o protagonista. De fato, a obra O Guarani é um dos romances do autor que reúne boa parte destas características. Entre as quais vale destacar o nacionalismo exacerbado e ufanista e a valorização da cultura brasileira, inclusive os costumes e a cultura indígena.
Na obra em questão José de Alencar debruça-se sobre a personalidade do índio brasileiro, o qual era visto e comparado com um ser perfeito e sem defeitos. Em primeiro plano se destaca o amor despertado entre a jovem Cecília e o índio Peri, um Guarani que pertencia à tribo dos Goitacás. Peri um índio forte e bom tornou-se amigo de Cecília e do pai da moça, o fidalgo português Dom Antônio, logo após salvá-la de uma pedra que rolava em sua direção, conquistando assim a confiança do fidalgo. Cecília morava em uma casa localizada no alto de um rochedo juntamente com a sua família e com os aventureiros de seu pai. A casa foi estrategicamente construída ao redor de precipícios para evitar ataques inimigos. Álvaro chefe dos aventureiros, inicialmente apaixona-se por Cecília, mas logo depois descobre que está apaixonado pela prima que na verdade era irmã de Cecília, ou seja, Isabel. Certo dia o irmão de Cecília, Dom Diogo, acerta acidentalmente um tiro em uma das índias da tribo aimorés, tribo esta muito violenta que vivia nos modos primitivos do canibalismo. Por vingança os aimorés atacam os aventureiros e a família de Dom Antônio. No entanto, o índio Peri sempre se sacrificava para satisfazer as vontades de Cecília, e lutou juntamente com os novos amigos para livrá-los dos ataques inimigos. Peri foge com Cecília em uma canoa para longe e veem a casa sendo destruída e em seguida explodindo; matando todos que ali se encontravam, sobretudo, a família de Cecília. Durante a fuga ambos enfrentam uma enorme enchente, na qual Peri salva a amada sobre uma palmeira. Cecília percebe que ama Peri e levados pelas águas da enchente se beijam e somem no horizonte.

Características do autor
José de Alencar nasceu em 1829, em Macejana, Ceará. Recebeu o mesmo nome do pai, José Martiniano de Alencar, fruto da união ilícita de seu pai com sua prima: Ana Josefina de Alencar. Quando tinha 13 anos, foi para São Paulo com um primo, para frequentar o curso preparatório de Direito. Na escola preparatória discutia-se tudo: Política, Arte, Filosofia, Direito, e, sobretudo, Literatura. Era a época do Romantismo, estilo artístico importado da França. Com 17 anos, matriculou-se na Faculdade de Direito, em 1846. Os estudantes eram muito boêmios, porém, José de Alencar se manteve alheio, sempre estudando e lendo os principais romances franceses da época. Em 1854 começou a escrever um folhetim para o "Correio Mercantil". Mais tarde, em 1855, comprou o "Diário do Rio de Janeiro", junto com alguns amigos, onde escreveu a maioria de suas obras. Em 1856, Alencar criticou duramente o poema "A confederação dos Tamoios", epopeia indianista de Gonçalves de Magalhães, discordando do poeta quando este afirma ser o poema a grande epopéia brasileira, provocando a famosa polêmica sobre a Confederação dos Tamoios. A repercussão de suas críticas teria criado para Alencar a "obrigação moral" de produzir uma epopeia na qual se corrigissem as falhas que ele apontara no poema de Magalhães. Essa teria sido a motivação inicial de "O Guarani", que em 1857, através do "Diário do Rio de Janeiro", foi publicado. Foi o primeiro de um grupo de personagens incomuns que invadiram o terreno da cultura brasileira. Por ser um romance de folhetim, Alencar escrevia um capítulo diariamente, onde sua família (principalmente a esposa e as filhas) palpitava sobre o desenrolar da história. Alencar levava em conta a repercussão do público leitor, como nas telenovelas de hoje em dia. Por isso, ao invés de levar a cabo sua ideia inicial, com um final trágico, onde Peri morreria, Alencar optou por um final feliz, para agradar o público leitor. Devido ao sucesso desse romance, passa a se dedicar mais intensamente à literatura, bem como à política. Alencar morreu em 1877, vítima de tuberculose.

Espaço e tempo

Espaço:
    O cenário principal é a casa de D. Antônio de Mariz e seus arredores, que se localiza na Serra dos Órgãos, às margens do Rio Paquequer, no interior do Rio de Janeiro, mostrando um Brasil "primitivo" e endêmico. A paisagem, pintada pela poesia, é um recanto de salvação. A casa é uma fortificação que ocupa o topo de uma montanha, à beira de um precipício. Separados da casa principal, grande, senhorial e confortável, por uma cerca, encontram-se dois armazéns, habitados pelos aventureiros. A arquitetura pode ser comparada à dos castelos medievais. Na parte mais baixa da montanha, separada por uma muralha, começa o "espaço selvagem", o sertão que é descrito com exuberância da flora, fauna e dos rios. A natureza é apresentada num espaço privilegiado, onde D. Antônio e sua família se integram à ela, vivendo numa nítida simbiose. O espaço físico pode ser relacionado com o espaço simbólico; numa distribuição vertical do espaço, que representa a superioridade dos brancos, que estão no topo de uma montanha, sobre os índios, que estão no sertão. O ponto mais alto, onde mora a família Mariz, representa a cultura branca, como sendo a exemplar, pois eles possuem a honra, coragem, lealdade, justiça, generosidade e devoção cristã. A separação entre a casa dos armazéns simboliza a diferença social e moral que existe entre os conquistadores e aventureiros.
Tempo:

    A história se passa no início do século XVII, no ano de 1604, na época do domínio espanhol sobre Portugal. A duração da idéia central é de aproximadamente dois meses, porém o autor narra "flashbacks" que ocorreram há até dois anos antes da idéia principal, como a transformação de Loredano.

Personagens

Dom Antônio de Mariz: Fidalgo português que participou da fundação do Rio de Janeiro e possui uma vida dedicada à coroa portuguesa, razão pela qual mudou-se para o Brasil, onde construiu uma espécie de fortaleza nas Serras dos Órgãos tendo a seu serviço aventureiros que desbravavam as mata brasileiras, após o domínio espanhol em Portugal. Era um homem que valorizava acima de tudo, a honra, a lealdade e a religião.

Dona Lauriana: Esposa do fidalgo é uma católica fervorosa e fanática, razão pela qual não gosta de Peri, considerando-o um gentio. Apesar de um tanto egoísta, tem um bom coração.

Cecília: Filha de D. Antônio, é uma menina meiga, alegre, graciosa, pura, infantil, inocente e mimada. Têm cabelos loiros e anelados, pele alva e olhos azuis, possuidora de uma beleza inigualável que encanta todos ao seu redor, especialmente três homens: Peri, Álvaro e Loredano, que ao longo da trama cometem grandes heroísmos pelo seu amor. Tinha afeições por Álvaro, mas nunca soube da paixão de Loredano.

Isabel: Filha ilegítima de D. Antônio com uma índia, que vive na casa como sua sobrinha. É a melhor amiga de Cecília e sente uma paixão arrebatadora por Álvaro. É um grande exemplo do Romantismo, pois essa personagem possui o heroísmo amoroso, desprovido de qualquer egoísmo, pois abre mão do objeto amado (Álvaro) em nome da felicidade dele e de Ceci. Ela representa a beleza brasileira.

Álvaro: Jovem fidalgo e chefe dos aventureiros de D. Antônio, que o considerava como filho. Assim como este, tinha a honra e a lealdade como princípios fundamentais. Amava Cecília, e via-se obrigado, como um compromisso de honra, mantê-la como seu primeiro e último amor.

Peri: O outro protagonista do romance simboliza as nossas raízes indígenas. Guerreiro chefe da tribo Goitacá, da nação Guarani, ele é o protótipo das perfeições, tais como a força, a beleza e a juventude, além da valentia. Ele abandona sua tribo após salvar Cecília, pois via nela a personificação da Virgem Maria, que aparecia constantemente em seus sonhos, após ver sua imagem numa igreja destruída. Devido à essa "santificação" de Cecília, ele a servia como escravo, protegendo-a e satisfazendo seus menores desejos. Sua dedicação por ela sobrepuja tudo. Ao abandonar a vida selvagem para viver com os brancos, lhe são transmitidos os fundamentos da cultura civilizada, caracterizando-o com um homem superior.
Loredano: ex-frei Ângelo de Lucca, que durante o sacerdócio roubou de um moribundo um mapa de uma incrível mina de prata, e se apresentou à D. Antônio como um aventureiro, aguardando a melhor oportunidade para obter o tesouro. Durante esse tempo, ele se apaixona por Cecília, e esse desejo carnal somado à sua ambição o leva a planejar matar toda a família e os homens fiéis à Dom Antônio, poupando apenas a menina, que seria levada por ele em sua busca pelas minas de prata.
Aimorés : eles são reduzidos à condição subumana de vida instintiva, que mais se assemelham com homens primitivos. O ideal romântico em Peri como herói não se aplica aos Aimorés, o que explica a caracterização diferenciada, embora contradigam a idealização indianista.

Conclusão

Gostei muito do livro e do estilo narrativo que o autor usou para criar a expectativa do final, as raças indígenas são exaltadas na sua cultura e costumes, línguas e valores, que podem ser vistos nas atitudes de Peri, tendo também heroísmo forte, liberdade e a clássica luta do bem contra o mal. Com a leitura do livro “O Guarani” eu passei a entender melhor e a respeitar mais a figura do índio e gostar mais desse clássico da literatura romancista brasileira.

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