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Resenha: Um lugar bem longe daqui, de Delia Owens

Imagem: LiteralMente / Reprodução

Publicado em 2018, Um Lugar Bem Longe Daqui (Where the Crawdads Sing), de Delia Owens, é um romance que combina suspense, drama, romance e uma ode à natureza, conquistando milhões de leitores com sua narrativa envolvente e emocionalmente rica. Ambientado nos pântanos da Carolina do Norte, o livro acompanha Kya Clark, a “Menina do Brejo”, uma jovem marginalizada que se torna suspeita de um assassinato. O enredo, estruturado em duas linhas temporais, entrelaça a investigação criminal com a jornada de sobrevivência e autodescoberta de Kya, explorando temas como abandono, preconceito, resiliência e a conexão humana com o meio ambiente. Esta resenha analisa criticamente o enredo, destacando seus pontos fortes, limitações e impacto, além de reservar uma seção para comparar o livro com sua adaptação cinematográfica de 2022.

O enredo de Um Lugar Bem Longe Daqui é construído em duas linhas temporais que convergem gradualmente, criando um suspense psicológico que mantém o leitor engajado. A narrativa começa em 1969, com a morte de Chase Andrews, um jovem popular de Barkley Cove, encontrado sem vida sob uma torre de observação no pântano. Kya Clark, uma jovem solitária que vive isolada, é acusada do crime, desencadeando um julgamento que expõe os preconceitos da comunidade. Paralelamente, capítulos alternados retrocedem aos anos 1950 e 1960, detalhando a infância e juventude de Kya, desde o abandono de sua família até sua transformação em uma naturalista autodidata.

Essa estrutura não linear é um dos maiores trunfos do livro. Cada capítulo do passado adiciona camadas à psique de Kya, enquanto os capítulos do presente intensificam o mistério do assassinato. A alternância cria uma tensão constante, pois o leitor é levado a questionar a culpa de Kya enquanto se conecta emocionalmente com sua história de adversidade. A prosa de Owens, lírica e evocativa, reforça a atmosfera do pântano, descrito com detalhes que refletem sua formação como zoóloga. Frases como “o pântano não confina, ele abraça” transformam o cenário em um personagem vivo, cuja beleza e brutalidade ecoam a vida de Kya.

No entanto, a estrutura tem limitações. A transição entre as linhas temporais, embora geralmente fluida, pode parecer abrupta em alguns momentos, especialmente quando os capítulos do passado interrompem o clímax do julgamento. Além disso, a resolução do mistério, embora impactante, depende de uma reviravolta que alguns leitores consideram conveniente demais, sacrificando a sutileza em prol do impacto dramático. Apesar disso, a narrativa mantém um ritmo envolvente, equilibrando a introspecção de Kya com a urgência do suspense.

Kya Clark é o coração do enredo, uma personagem cuja complexidade sustenta a narrativa. Apelidada de “Menina do Brejo”, ela é uma figura trágica e inspiradora, marcada pelo abandono e pela resiliência. Aos seis anos, Kya é deixada pela mãe, que foge do marido abusivo, seguida pelos irmãos e, eventualmente, pelo próprio pai. Sozinha, ela aprende a sobreviver no pântano, pescando, cozinhando e negociando com Pulinho e Mabel, um casal negro que lhe oferece apoio esporádico. Essa infância precária é descrita com uma crueza que evoca empatia, mas também admiração pela determinação de Kya.

À medida que cresce, Kya desenvolve uma conexão profunda com a natureza, estudando a fauna e flora do pântano com rigor científico. Sua transformação em uma naturalista autodidata, que publica livros sobre o ecossistema local, é um testemunho de sua inteligência e força interior. No entanto, Kya não é idealizada. Owens a retrata com vulnerabilidades realistas: ela é desconfiada, socialmente desajeitada e profundamente ferida pelo abandono. Essa dualidade — força e fragilidade — torna Kya uma protagonista cativante, cuja jornada ressoa com leitores de diferentes contextos.

Os relacionamentos de Kya com Tate Walker e Chase Andrews adicionam camadas à sua história. Tate, um jovem que compartilha seu amor pela natureza, ensina-a a ler e oferece o primeiro vislumbre de conexão humana. O romance entre eles é delicado, mas marcado pela incerteza, já que Tate planeja deixar Barkley Cove para estudar. Chase, por outro lado, é uma figura carismática que seduz Kya, mas revela traços de manipulação e violência. Esses relacionamentos intensificam a tensão narrativa, pois expõem Kya a novas formas de rejeição e perigo, enquanto sugerem motivos para o crime que ela é acusada de cometer.

O enredo de Um Lugar Bem Longe Daqui é profundamente temático, abordando questões que vão além do mistério central. Os principais temas — abandono, preconceito, violência de gênero e a relação com a natureza — são entrelaçados com habilidade, dando profundidade à narrativa.

A história de Kya é, em essência, uma narrativa de abandono. Cada perda — da mãe, dos irmãos, do pai — molda sua visão de mundo, criando uma barreira entre ela e os outros. A solidão de Kya é tanto uma escolha quanto uma imposição, refletida em sua recusa em se integrar à sociedade de Barkley Cove. O livro explora como o isolamento pode ser ao mesmo tempo um refúgio e uma prisão, uma tensão que permeia as decisões de Kya. Sua luta para equilibrar o desejo de conexão com o medo da rejeição é um dos aspectos mais comoventes do enredo.

Imagem: Trecho do filme / Reprodução / Prime vídeo

A sociedade de Barkley Cove é um microcosmo de intolerância, onde Kya é estigmatizada por sua pobreza, seu isolamento e sua independência. O apelido “Menina do Brejo” carrega um tom de desprezo, reduzindo-a a um estereótipo de selvageria. O julgamento por assassinato amplifica esse preconceito, mostrando como a comunidade a condena com base em suposições, não em evidências. O livro também toca no racismo da época, através de personagens como Pulinho e Mabel, embora esse tema seja tratado de forma menos aprofundada do que o isolamento de Kya. A marginalização da protagonista é uma fonte constante de conflito, destacando as injustiças de um sistema que privilegia o status quo.

A violência, tanto física quanto psicológica, é um fio condutor do enredo. O abuso do pai de Kya destrói sua família, enquanto sua relação com Chase revela as dinâmicas de poder em relacionamentos desiguais. Um momento crítico, em que Chase tenta estuprar Kya, cristaliza sua transformação de vítima em sobrevivente. Esse evento não apenas intensifica o mistério do assassinato, mas também levanta questões sobre até onde alguém pode ir para se proteger. A abordagem de Owens à violência de gênero é sensível, mas não sensacionalista, mostrando como o trauma molda a resiliência de Kya.

O pântano é mais do que um cenário; é um símbolo da identidade de Kya. Owens, com sua formação em zoologia, descreve o ambiente com precisão científica e poesia, comparando a vida de Kya à dos animais que ela estuda. O pântano, com sua beleza e perigos, reflete a dualidade da protagonista: selvagem, resiliente e incompreendida. A metáfora do título — “um lugar bem longe daqui”, uma expressão da mãe de Kya sobre um refúgio intocado — sublinha o desejo de escapar das amarras sociais, mas também a impossibilidade de fazê-lo completamente. A conexão de Kya com a natureza é o que a salva, mas também o que a isola, criando um conflito central no enredo.

O assassinato de Chase Andrews é o eixo narrativo do livro, funcionando como um catalisador para explorar a vida de Kya e os preconceitos da comunidade. A tensão do mistério é construída com habilidade, com pistas reveladas gradualmente através do julgamento e dos flashbacks. A ausência de evidências concretas contra Kya contrasta com a certeza da comunidade de sua culpa, criando uma atmosfera de injustiça que mantém o leitor investido.

Spoiler Alert: Para evitar revelar o desfecho a quem não deseja spoilers, direi apenas que a resolução do mistério é ambígua, deixando espaço para interpretação. O livro sugere, mas não confirma explicitamente, a culpa de Kya, usando um poema em seu diário como pista. Essa ambiguidade é uma força, pois permite que o leitor reflita sobre justiça, moralidade e sobrevivência, mas também uma fraqueza, já que alguns podem achar o final vago ou manipulador. A reviravolta final recontextualiza a jornada de Kya, reforçando sua agência como uma mulher que desafia as expectativas sociais.

O enredo de Um Lugar Bem Longe Daqui brilha em vários aspectos. A prosa de Owens é um destaque, combinando lirismo com precisão científica para criar um pântano que é ao mesmo tempo real e mítico. A personagem de Kya é outro trunfo, uma protagonista cuja resiliência e vulnerabilidade a tornam inesquecível. A estrutura não linear mantém o suspense, enquanto os temas de abandono, preconceito e natureza dão profundidade à narrativa. O livro também equilibra gêneros — suspense, drama, romance — com competência, apelando a um público amplo sem sacrificar a complexidade.

A habilidade de Owens em conectar a história de Kya à ecologia do pântano é particularmente notável. Passagens que descrevem o comportamento de animais, como os vaga-lumes ou as garças, servem como metáforas para a vida da protagonista, enriquecendo a narrativa com camadas simbólicas. Além disso, o retrato do preconceito social é incisivo, mostrando como a intolerância pode distorcer a justiça e destruir vidas.

Apesar de suas qualidades, o enredo tem limitações. A verossimilhança é um ponto de contenção: a ideia de uma criança sobrevivendo sozinha no pântano, sem intervenção externa, exige uma suspensão de descrença significativa. Embora Owens justifique isso com a resiliência de Kya e o apoio de Pulinho e Mabel, alguns leitores acham a premissa implausível. Além disso, o livro é criticado por sua abordagem superficial de temas como racismo e desigualdade social. Personagens negros, como Pulinho e Mabel, são retratados com simpatia, mas suas histórias são subordinadas à de Kya, limitando a exploração do contexto racial da Carolina do Norte nos anos 1950 e 1960.

Outra crítica recai sobre o uso de clichês. O romance entre Kya e Tate, embora comovente, segue uma fórmula familiar de “amor proibido”, enquanto o drama do julgamento ecoa tropos de best-sellers. A resolução do mistério, embora impactante, pode parecer manipulada, com pistas que nem sempre se alinham perfeitamente com a narrativa. Finalmente, a voz narrativa de Kya, que alterna entre uma perspectiva infantil e uma reflexão madura, pode ser inconsistente, especialmente nos capítulos iniciais.

Um Lugar Bem Longe Daqui é uma obra que ressoa emocionalmente, evocando empatia por Kya e indignação contra as injustiças que ela enfrenta. A história de uma mulher que supera o abandono e o preconceito para encontrar sua voz é universal, apelando a leitores que se identificam com temas de resiliência e autodescoberta. O pântano, com sua beleza e mistério, torna-se um símbolo de esperança, sugerindo que a natureza pode oferecer redenção onde a sociedade falha.

Imagem: Trecho do filme / Prime vídeo / Divulgação

Culturalmente, o livro foi um fenômeno, vendendo mais de 15 milhões de cópias e permanecendo na lista de best-sellers do New York Times por anos. Sua popularidade reflete o apelo de narrativas que combinam suspense com emoção, mas também gerou debates. Alguns críticos questionam a romantização do isolamento de Kya, enquanto outros apontam que a história, escrita por uma autora branca, simplifica as dinâmicas raciais da época. Ainda assim, o impacto do livro é inegável, inspirando discussões sobre gênero, classe e meio ambiente.

A adaptação cinematográfica de Um Lugar Bem Longe Daqui, lançada em 2022 e dirigida por Olivia Newman, traduz a história de Kya para a tela com fidelidade visual, mas faz alterações significativas que afetam o enredo e o tom. Abaixo, destaco as principais diferenças e seus impactos:

O livro utiliza uma estrutura não linear que dá espaço para a introspecção de Kya, com capítulos longos que exploram sua conexão com o pântano. O filme, limitado a duas horas, condensa a narrativa, priorizando a ação e o suspense em detrimento da profundidade emocional. Os flashbacks são mais curtos e menos detalhados, reduzindo o tempo dedicado à infância de Kya e à sua evolução como naturalista. Essa compressão torna o filme mais acessível, mas sacrifica a riqueza psicológica do livro, especialmente nas passagens que descrevem os pensamentos de Kya.

Spoiler Alert: No livro, a culpa de Kya no assassinato de Chase é sugerida por um poema em seu diário, descoberto por Tate após sua morte, mas permanece ambígua, permitindo interpretações variadas. O filme é mais explícito, mostrando o colar de Chase e uma confissão escrita no diário, confirmando que Kya planejou e executou o crime. Essa clareza torna o desfecho mais impactante para o público cinematográfico, mas reduz a ambiguidade que enriquece o livro, limitando o espaço para reflexão sobre moralidade e justiça.

No livro, personagens secundários, como Pulinho e Mabel, têm papéis mais desenvolvidos, com detalhes sobre suas vidas e sua relação com Kya. O filme os retrata de forma mais superficial, focando quase exclusivamente na protagonista. Da mesma forma, a relação entre Kya e Tate é mais explorada no livro, com passagens que mostram sua conexão intelectual através da leitura e da ciência. O filme simplifica esse romance, enfatizando o aspecto emocional em detrimento do crescimento mútuo. Chase, por outro lado, é retratado de forma semelhante em ambas as versões, mas o filme dá mais ênfase à sua violência, tornando sua morte mais justificável aos olhos do espectador.

O livro é marcado pela prosa poética de Owens, que combina descrições científicas com reflexões filosóficas. O filme, por necessidade, aposta na visualidade, com uma fotografia deslumbrante que captura a beleza do pântano. No entanto, a narração em off, usada para transmitir os pensamentos de Kya, é redundante em algumas cenas, explicando emoções que a atuação de Daisy Edgar-Jones já expressa. O filme também adiciona uma trilha sonora, incluindo “Carolina” de Taylor Swift, que reforça o tom melancólico, mas não substitui a profundidade da prosa do livro.

O livro aborda o racismo e a desigualdade social de forma limitada, mas ainda oferece algum contexto sobre a segregação na Carolina do Norte. O filme é ainda mais superficial nesse aspecto, tratando Pulinho e Mabel como figuras secundárias sem explorar suas próprias lutas. Essa escolha reflete a necessidade de condensar a narrativa, mas também uma oportunidade perdida de aprofundar o comentário social. Ambos, no entanto, mantêm o foco no preconceito contra Kya, embora o filme o apresente de forma mais visual, através de olhares hostis e comentários diretos.

A adaptação é fiel ao espírito do livro, mas sua abordagem mais comercial e visual altera a experiência. O filme privilegia o suspense e o romance, apelando a um público mais amplo, enquanto o livro oferece uma reflexão mais introspectiva e ecológica. A clareza do final no filme, embora eficaz, reduz a complexidade moral do livro, que deixa o leitor questionando a natureza da justiça. Ainda assim, a atuação de Daisy Edgar-Jones e a direção de Olivia Newman capturam a essência de Kya, tornando o filme uma interpretação válida, ainda que menos matizada.

Conclusão

Um Lugar Bem Longe Daqui é um romance notável, cujo enredo combina suspense, drama e poesia para contar a história de Kya Clark, uma mulher que desafia o abandono e o preconceito com resiliência e inteligência. A estrutura não linear, a prosa lírica de Delia Owens e a protagonista multifacetada criam uma narrativa que é ao mesmo tempo emocionante e reflexiva, explorando temas como solidão, marginalização e a conexão com a natureza. Apesar de suas limitações — verossimilhança questionável, clichês e uma abordagem superficial de temas raciais —, o livro é uma obra poderosa, cujo impacto emocional e cultural é inegável.

A adaptação cinematográfica, embora visualmente impressionante, simplifica a narrativa, priorizando o suspense em detrimento da introspecção e resolvendo o mistério de forma mais explícita. Enquanto o livro convida à reflexão através de sua ambiguidade, o filme entrega um desfecho mais acessível, mas menos provocador. Ambas as versões, no entanto, celebram a jornada de Kya, uma personagem que encontra na natureza um refúgio e uma identidade, desafiando as amarras de um mundo que a rejeita. Um Lugar Bem Longe Daqui permanece uma história sobre sobrevivência, beleza e a busca por um lugar onde possamos ser verdadeiramente livres.

CRÍTICA: Um lugar bem longe daqui

Imagem: Prime vídeo

Um Lugar Bem Longe Daqui é uma obra que entrelaça drama, suspense, romance e crítica social em uma narrativa que pulsa com tensão, tanto emocional quanto narrativa. Ambientado nos pântanos da Carolina do Norte, o filme acompanha a vida de Kya Clark, a “Menina do Brejo”, uma jovem marginalizada que se torna suspeita de um assassinato. A trama, que alterna entre passado e presente, constrói um suspense psicológico que prende o espectador ao explorar temas como abandono, preconceito, resiliência e a complexidade da natureza humana. A tensão do enredo não reside apenas no mistério criminal, mas na jornada de Kya, uma protagonista que enfrenta um mundo hostil com uma mistura de vulnerabilidade e força. Esta análise mergulha nos elementos que tornam o enredo tão cativante, examinando sua estrutura, personagens, temas e impacto emocional, enquanto destaca as camadas de suspense que permeiam a história.

O enredo de Um Lugar Bem Longe Daqui é estruturado em duas linhas temporais que se entrelaçam de forma não linear, criando uma tensão constante ao revelar gradualmente os segredos de Kya e os eventos que culminam no crime central. A narrativa começa em 1969, com a descoberta do corpo de Chase Andrews, um jovem popular de Barkley Cove, encontrado morto sob uma torre de observação no pântano. Kya Clark (Daisy Edgar-Jones), conhecida como a “Menina do Brejo”, é imediatamente apontada como a principal suspeita, apesar da ausência de provas concretas. Essa acusação inicial estabelece o tom de urgência e injustiça que permeia o filme, enquanto a narrativa retrocede para a infância de Kya, nos anos 1950, para contextualizar sua vida e os preconceitos que a cercam.

A alternância entre o julgamento de Kya no presente e os flashbacks de sua vida passada é um dos principais mecanismos de tensão. Cada salto temporal revela uma peça do quebra-cabeça, mas também intensifica a angústia do espectador, que se vê dividido entre o desejo de compreender o crime e a empatia pela trajetória trágica de Kya. A infância da protagonista, marcada por abusos e abandonos, é retratada com uma crueza que contrasta com a beleza poética do pântano. Sua mãe, incapaz de suportar a violência do marido alcoólatra, abandona a família, seguida pelos irmãos de Kya. O pai, uma figura brutal, também a deixa, forçando-a a sobreviver sozinha aos seis anos. Essas cenas são carregadas de uma tensão visceral, pois o espectador teme constantemente pelo destino de uma criança tão vulnerável em um ambiente hostil.

A estrutura não linear, embora eficaz em manter o suspense, às vezes sacrifica a profundidade emocional em prol da exposição. A adaptação cinematográfica, ao condensar a narrativa detalhada do livro, opta por uma abordagem mais visual e menos introspectiva, o que pode diluir a complexidade de certos momentos. Ainda assim, a montagem habilidosa garante que o ritmo permaneça envolvente, com cada flashback adicionando camadas ao mistério do assassinato e à psique de Kya. A tensão narrativa é amplificada pelo contraste entre a serenidade do pântano, onde Kya encontra refúgio, e a hostilidade da sociedade de Barkley Cove, que a julga sem piedade.

No centro do enredo está Kya Clark, uma personagem que encarna tanto a fragilidade quanto a resiliência. Daisy Edgar-Jones entrega uma atuação poderosa, transmitindo a dualidade de Kya: uma mulher que é ao mesmo tempo vítima de um sistema opressivo e uma sobrevivente que encontra força na natureza. A tensão em torno de Kya deriva de sua posição como uma outsider, constantemente julgada e incompreendida. Apelidada de “Menina do Brejo”, ela é vista como selvagem e perigosa pelos moradores de Barkley Cove, um preconceito que culmina em sua acusação pelo assassinato de Chase.

A infância de Kya é um dos pilares emocionais do filme, e a tensão dessas cenas reside na precariedade de sua existência. Sozinha em um barracão precário, ela aprende a cozinhar, pescar e negociar para sobreviver, contando apenas com a ajuda esporádica de Pulinho e Mabel, um casal negro que administra um mercadinho local. Esses momentos são angustiantes, pois o espectador se pergunta como uma criança tão jovem pode enfrentar tamanhas adversidades sem sucumbir. A relação de Kya com o pântano, no entanto, oferece um contraponto de esperança. O ambiente natural, com sua fauna e flora vibrantes, torna-se sua família, sua professora e seu santuário. A fotografia do filme, com paisagens bucólicas e cores saturadas, reforça essa conexão, mas também sublinha o isolamento de Kya, criando uma tensão entre a beleza do cenário e a solidão que ele representa.

À medida que Kya cresce, sua interação com dois jovens da cidade — Tate Walker (Taylor John Smith) e Chase Andrews (Harris Dickinson) — introduz novas camadas de tensão. Tate, um jovem gentil que compartilha o amor de Kya pela natureza, ensina-a a ler e desperta nela a possibilidade de conexão humana. O romance entre eles é marcado por uma ternura hesitante, mas também por uma constante ameaça de abandono, já que Tate planeja deixar a cidade para estudar. Chase, por outro lado, é uma figura mais ambígua. Inicialmente charmoso, ele revela traços de manipulação e violência, especialmente em sua relação com Kya. A tensão nesses relacionamentos não está apenas no potencial romântico, mas no risco que eles representam para a protagonista, que aprendeu a proteger seu coração após anos de rejeição.

A acusação de assassinato eleva a tensão em torno de Kya a um novo patamar. O julgamento, conduzido pelo advogado Tom Milton (David Strathairn), expõe o preconceito da comunidade, que condena Kya com base em estereótipos, sem evidências sólidas. Cada depoimento e cada revelação no tribunal aumentam a sensação de injustiça, enquanto os flashbacks sugerem que Kya pode ter tido motivos para querer Chase morto. A ambiguidade sobre sua culpa mantém o espectador em suspense, questionando se ela é uma vítima inocente ou uma mulher capaz de um ato extremo para proteger sua liberdade.

Imagem: Prime Vídeo

Temas e Conflitos

O enredo de Um Lugar Bem Longe Daqui é profundamente temático, abordando questões como abandono, preconceito, violência de gênero e a relação entre o ser humano e a natureza. Esses temas não são apenas pano de fundo, mas fontes de tensão que impulsionam a narrativa e dão profundidade aos conflitos.

Abandono e Solidão: A história de Kya é, em essência, uma narrativa de abandono. Cada deserção — da mãe, dos irmãos, do pai — deixa cicatrizes que moldam sua visão de mundo. A tensão psicológica reside na luta interna de Kya entre o desejo de conexão e o medo de ser novamente rejeitada. Essa dualidade é particularmente evidente em seus relacionamentos com Tate e Chase, onde a esperança de amor é constantemente minada pela possibilidade de traição. O filme sugere que a solidão de Kya é tanto uma escolha quanto uma imposição, criando um conflito interno que reverbera em cada decisão que ela toma.

Preconceito e Marginalização: A sociedade de Barkley Cove é um microcosmo de intolerância, onde Kya é estigmatizada por sua pobreza, seu isolamento e sua independência. A tensão social é palpável nas cenas em que ela é ridicularizada na cidade ou perseguida por autoridades que a veem como uma ameaça. O julgamento amplifica esse conflito, expondo como o preconceito pode distorcer a justiça. A presença de personagens negros, como Pulinho e Mabel, também destaca o racismo estrutural da época, embora o filme trate esse tema de forma menos aprofundada do que o livro. A marginalização de Kya é uma fonte constante de suspense, pois o espectador teme que ela nunca escape do julgamento coletivo.

Violência de Gênero: A violência, tanto física quanto psicológica, é um fio condutor do enredo. O abuso do pai de Kya destrói sua família, enquanto a relação com Chase revela as dinâmicas de poder em relacionamentos desiguais. Uma cena particularmente tensa mostra Chase tentando estuprar Kya, um momento que cristaliza sua transformação de vítima em alguém disposto a lutar por sua sobrevivência. Essa violência subjacente alimenta o mistério do assassinato, levantando a questão de até onde Kya iria para se proteger. A tensão aqui é dupla: o medo do que Chase pode fazer a Kya e a possibilidade de que ela tenha cruzado um limite moral em resposta.

Natureza como Refúgio e Espelho: O pântano é mais do que um cenário; é um personagem em si, com sua beleza e seus perigos. Kya, que estuda a fauna e a flora com rigor científico, vê na natureza um reflexo de sua própria existência: selvagem, resiliente e incompreendida. A tensão surge do contraste entre a paz que o pântano oferece e as ameaças externas que invadem esse espaço, como a violência de Chase ou a perseguição da polícia. A metáfora do título — “um lugar bem longe daqui”, uma expressão da mãe de Kya sobre um refúgio onde a natureza permanece intocada — sublinha o desejo de escapar das amarras sociais, mas também a impossibilidade de fazê-lo completamente.

O assassinato de Chase Andrews é o eixo em torno do qual o enredo gira, funcionando como um catalisador para explorar a vida de Kya e os preconceitos da comunidade. A tensão do mistério é construída de forma gradual, com pistas que são reveladas tanto no tribunal quanto nos flashbacks. A ausência de evidências concretas contra Kya — como impressões digitais ou testemunhas — contrasta com a certeza da comunidade de sua culpa, criando uma atmosfera de injustiça que mantém o espectador engajado.

Imagem: Prime Vídeo

O filme sugere várias possibilidades sobre a morte de Chase: um acidente, um ato de vingança ou até mesmo o envolvimento de outra pessoa. A relação de Kya com Chase, marcada por manipulação e violência, fornece um motivo plausível para que ela quisesse sua morte, especialmente após o ataque que sofre. No entanto, sua natureza reservada e sua conexão com o pântano também sugerem que ela poderia ter planejado um crime meticuloso, sem deixar rastros. A ambiguidade é reforçada pela atuação de Daisy Edgar-Jones, cujo olhar melancólico e esquivo mantém o espectador em dúvida sobre suas intenções.

Spoiler Alert: Para evitar revelar o desfecho, direi apenas que a resolução do mistério é surpreendente, mas não completamente inesperada. O filme opta por uma abordagem mais clara do que o livro, que deixa o final em aberto, mas ainda preserva um elemento de dúvida que convida à reflexão. A tensão culmina em uma revelação que recontextualiza a jornada de Kya, levantando questões sobre justiça, moralidade e sobrevivência. Essa reviravolta é eficaz porque não apenas resolve o mistério, mas também reforça os temas centrais do filme, como a resiliência de Kya e sua recusa em se submeter às expectativas sociais.

O enredo de Um Lugar Bem Longe Daqui brilha em sua capacidade de equilibrar múltiplos gêneros — drama, suspense, romance — sem perder o foco na jornada de Kya. A atuação de Daisy Edgar-Jones é um destaque, pois ela carrega a complexidade emocional da protagonista com autenticidade. A fotografia, com suas imagens vibrantes do pântano, cria uma atmosfera que é ao mesmo tempo encantadora e opressiva, amplificando a tensão narrativa. A trilha sonora, incluindo a canção original “Carolina” de Taylor Swift, adiciona uma camada de melancolia que complementa o tom do filme.

No entanto, o enredo tem limitações. A adaptação cinematográfica, ao tentar condensar o romance de Delia Owens, perde parte da profundidade psicológica do livro. A narração em off, que expressa os pensamentos de Kya, às vezes é redundante, explicando emoções que a atuação de Edgar-Jones já transmite. Além disso, o filme é criticado por sua abordagem superficial de temas como racismo e desigualdade social, que são tratados de forma secundária em comparação com o drama pessoal de Kya. A verossimilhança também é questionada: a ideia de uma criança sobrevivendo sozinha no pântano, sem intervenção externa, exige uma suspensão de descrença que nem todos os espectadores estão dispostos a aceitar.

Outra crítica recai sobre o uso de clichês. Como apontado em algumas análises, o filme abraça elementos típicos de best-sellers, como o romance de verão e o drama de tribunal, sem sempre inovar. A tensão, embora eficaz, pode parecer manipulada em momentos que priorizam o impacto emocional sobre a lógica narrativa. Ainda assim, esses clichês são executados com competência, e o filme sabe exatamente quem é seu público, entregando uma experiência que é emocionalmente satisfatória para muitos.

A força de Um Lugar Bem Longe Daqui está em sua capacidade de evocar empatia por Kya, uma personagem que representa a luta universal contra a adversidade. A tensão do enredo não é apenas sobre quem matou Chase, mas sobre se Kya conseguirá encontrar um lugar no mundo que a rejeita. O filme nos força a confrontar questões desconfortáveis: até que ponto o preconceito molda a justiça? O que significa ser livre em uma sociedade que impõe amarras? E, acima de tudo, o que uma pessoa é capaz de fazer para proteger sua própria existência?

A jornada de Kya é dolorosa, mas também inspiradora. Sua resiliência, sua inteligência e seu amor pela natureza a tornam uma protagonista memorável, cuja história ressoa muito além do pântano da Carolina do Norte. A tensão do enredo, alimentada por sua luta contra o abandono, a violência e o julgamento social, culmina em um desfecho que é ao mesmo tempo catártico e provocador. O filme não oferece respostas fáceis, mas convida o espectador a refletir sobre a complexidade da condição humana.

Imagem: Primevideo

Conclusão

Um Lugar Bem Longe Daqui é um filme que utiliza a tensão narrativa com maestria, entrelaçando suspense, drama e romance em uma história que é tão comovente quanto intrigante. A estrutura não linear, a atuação poderosa de Daisy Edgar-Jones e os temas profundos — abandono, preconceito, violência e a conexão com a natureza — criam uma experiência cinematográfica que prende e emociona. Apesar de suas limitações, como a superficialidade de alguns temas e o uso de clichês, o enredo entrega uma narrativa envolvente que celebra a resiliência de sua protagonista enquanto questiona as injustiças de um mundo que a marginaliza.

A tensão do filme não está apenas no mistério do assassinato, mas na jornada de Kya, uma mulher que encontra na natureza a força para sobreviver, mesmo quando tudo conspira contra ela. É uma história que nos lembra da beleza e da brutalidade do mundo, e da coragem necessária para encontrar um lugar bem longe daqui — um refúgio onde possamos ser verdadeiramente livres.

CRÍTICA: Vingança (2025)

Imagem: Reprodução

"Vingança" (Revenge, no título original), lançado em 25 de abril de 2025 no Prime Video, é um thriller de ação dirigido pela aclamada cineasta francesa Coralie Fargeat, conhecida por seu trabalho visceral em "A Substância" (2024). Estrelado por Matilda Lutz, Kevin Janssens, Vincent Colombe e Guillaume Bouchède, o filme é uma reimaginação do clássico de exploitation de 2017, mas com uma abordagem renovada que intensifica o feminismo feroz e a estética estilizada de Fargeat. A trama segue Jen, uma jovem que acompanha seu amante casado em uma caçada anual no deserto, apenas para ser traída, violentada e abandonada para morrer. Sua jornada de sobrevivência e retaliação forma o cerne de um filme que combina violência gráfica, comentário social e uma narrativa de empoderamento. A estreia no Prime Video, após exibições em festivais como o SXSW 2025, gerou buzz significativo, com posts no X, como o de @CINEMA505, celebrando sua chegada ao streaming. Esta crítica analítica examina o enredo, os personagens, a direção, os temas e o impacto cultural de "Vingança", com base em avaliações críticas e uma análise detalhada de seus elementos cinematográficos.

"Vingança" começa com Jen (Matilda Lutz), uma jovem carismática e aparentemente ingênua, chegando a uma luxuosa casa no deserto com Richard (Kevin Janssens), seu amante casado e rico empresário. O cenário, isolado e árido, estabelece um tom de vulnerabilidade. Richard planeja uma caçada anual com seus amigos Stan (Vincent Colombe) e Dimitri (Guillaume Bouchède), mas a presença de Jen desperta tensões. Após uma noite de festa, Stan a violenta, e Dimitri, cúmplice por omissão, não intervém. Richard, em vez de protegê-la, tenta encobrir o crime e, ao perceber que Jen pode denunciá-los, a empurra de um penhasco, deixando-a para morrer. Contra todas as probabilidades, Jen sobrevive, e o restante do filme acompanha sua transformação de vítima em predadora, enquanto caça os homens que a traíram em um deserto implacável.

A narrativa é estruturada em três atos distintos: a introdução, que apresenta Jen como um objeto de desejo; o ponto de virada, marcado pela violência e traição; e a caçada, onde Jen assume o controle. Fargeat mantém um ritmo intenso, com sequências de ação que alternam entre momentos de tensão sufocante e explosões de violência. A trama é deliberadamente minimalista, com diálogos escassos, permitindo que a ação e a linguagem visual contem a história. Como apontado pelo Observatório do Cinema, o filme é "um exercício de narrativa visual", onde cada quadro é cuidadosamente composto para refletir a jornada emocional de Jen.

Imagem: Reprodução

Apesar de sua simplicidade, o enredo é eficaz em manter o espectador engajado. As reviravoltas, como a sobrevivência quase milagrosa de Jen, são esticadas ao limite da plausibilidade, mas servem ao tom hiperestilizado do filme. A crítica do Arroba Nerd elogia a capacidade de Fargeat de transformar "clichês do gênero exploitation em algo fresco", mas aponta que a falta de backstory para os personagens secundários pode limitar o impacto emocional. A resolução, uma confrontação sangrenta entre Jen e Richard, é catártica, mas, como observado pelo AdoroCinema, pode parecer previsível para quem está familiarizado com o gênero de vingança. Ainda assim, a jornada de Jen é poderosa, transformando uma premissa básica em um comentário visceral sobre resiliência e justiça.

Jen é o coração pulsante de "Vingança", e Matilda Lutz entrega uma performance física e emocionalmente crua. Inicialmente apresentada como uma figura estereotipada — sensual, confiante, mas vulnerável —, Jen evolui para uma sobrevivente implacável. Lutz brilha nas sequências de ação, transmitindo dor, raiva e determinação com uma intensidade que transcende o diálogo. Sua transformação, marcada por cicatrizes e sangue, é tanto literal quanto metafórica, como destacado pelo IMDb, que descreve sua atuação como "um tour de force físico". A ausência de um passado detalhado para Jen é intencional, permitindo que ela represente uma mulher comum confrontada por circunstâncias extraordinárias.

O arco de Jen é o ponto alto do filme, mas sua caracterização inicial como uma "femme fatale ingênua" pode alienar alguns espectadores. A crítica do Cineplayers sugere que Fargeat "flerta com a objetificação antes de subvertê-la", o que pode gerar desconforto até que a narrativa revele suas intenções feministas. Ainda assim, a jornada de Jen, de vítima a vingadora, é profundamente satisfatória, especialmente em cenas como sua improvisação de armas a partir de objetos do deserto.

Os antagonistas são arquétipos do machismo tóxico: Richard, o líder carismático, mas covarde; Stan, o predador impulsivo; e Dimitri, o cúmplice passivo. Kevin Janssens imbui Richard com um charme superficial que mascara sua crueldade, tornando-o um vilão detestável, mas crível. Vincent Colombe e Guillaume Bouchède, embora menos desenvolvidos, são eficazes em retratar a banalidade do mal. A crítica do Omelete observa que os homens são "caricaturas intencionais", projetadas para destacar a crítica de Fargeat às estruturas patriarcais. No entanto, a falta de profundidade desses personagens, como apontado pelo Arroba Nerd, pode reduzir a complexidade do conflito, tornando-os alvos unidimensionais para a vingança de Jen.

"Vingança" é um filme focado em poucos personagens, com praticamente nenhum elenco de apoio. Essa escolha reforça o isolamento da narrativa, mas limita as oportunidades de explorar o mundo além do deserto. A ausência de figuras secundárias, como aliados ou testemunhas, intensifica a sensação de desespero, mas, como sugerido pelo AdoroCinema, pode fazer o filme parecer claustrofóbico em excesso.

Coralie Fargeat estabelece-se como uma voz autoral distinta em "Vingança", combinando estética ousada com narrativa implacável. Sua direção é marcada por uma confiança visual que transforma o deserto em um personagem vivo, com dunas escaldantes e céus saturados que refletem o caos interno de Jen. A fotografia, assinada por Robrecht Heyvaert, utiliza cores vibrantes — vermelhos intensos, azuis neon — para criar um contraste surreal entre a beleza do cenário e a brutalidade da história. A trilha sonora eletrônica, composta por Jim Williams, pulsa com energia, amplificando a tensão e a catarse, como elogiado pelo Observatório do Cinema.

Imagem: Reprodução

Fargeat emprega uma linguagem visual que mistura exploitation com arthouse, usando ângulos exagerados e close-ups para destacar a fisicalidade da violência. Cenas como a extração de estilhaços por Jen são filmadas com um realismo gráfico que, segundo o IMDb, "desafia o espectador a desviar o olhar". A direção também subverte tropos do gênero: enquanto muitos filmes de vingança objetificam suas protagonistas, Fargeat usa a câmera para empoderar Jen, focando em sua força e resiliência. No entanto, a crítica do Cineplayers aponta que o exagero estilístico às vezes "sacrifica a sutileza", especialmente em sequências que beiram o caricatural.

A edição é precisa, mantendo um ritmo que equilibra momentos de contemplação com explosões de ação. Fargeat utiliza montagens rápidas para intensificar as sequências de perseguição, enquanto pausas deliberadas, como Jen encarando o horizonte, permitem que o espectador processe sua transformação. O figurino, minimalista, mas impactante, reforça a narrativa: o biquíni rosa de Jen, inicialmente um símbolo de sua vulnerabilidade, torna-se uma armadura manchada de sangue, simbolizando sua reinvenção.

"Vingança" é, em sua essência, um manifesto feminista que aborda violência de gênero, resiliência e a desconstrução de estereótipos. A jornada de Jen é uma metáfora para a luta das mulheres contra o patriarcado, como apontado pelo Arroba Nerd, que descreve o filme como "uma ode à raiva feminina". Fargeat usa a violência extrema não apenas para chocar, mas para ilustrar a brutalidade das dinâmicas de poder que Jen enfrenta. A transformação de Jen de objeto de desejo em agente de sua própria justiça desafia a narrativa tradicional de vítima, oferecendo uma visão empoderadora, ainda que controversa.

O filme também critica a cumplicidade masculina. Cada antagonista representa uma faceta do machismo: a traição calculada de Richard, a agressividade de Stan e a passividade de Dimitri. Essa abordagem, como observado pelo AdoroCinema, "expõe a banalidade do mal em contextos cotidianos". No entanto, a crítica do Omelete sugere que a caricatura dos vilões pode simplificar demais a crítica, reduzindo a complexidade das questões de gênero.

Outro tema é a sobrevivência em um mundo hostil. O deserto, com sua vastidão e perigos, reflete os obstáculos que Jen enfrenta, tanto físicos quanto emocionais. A escolha de Fargeat de minimizar o diálogo enfatiza a universalidade da história, permitindo que a experiência de Jen ressoe com diferentes públicos. No entanto, a violência gráfica, embora justificada narrativamente, pode alienar espectadores sensíveis, como alertado pelo IMDb.

Impacto Cultural 

"Vingança" estreou no Prime Video em meio a grande expectativa, impulsionada pelo sucesso de "A Substância" e pela reputação de Fargeat como uma cineasta provocadora. Posts no X, como os de @thiagobarata87 e @oxentepipoca, destacam o entusiasmo do público, descrevendo o filme como "diferente, mas igual" ao original de 2017, com uma abordagem mais ousada. No Rotten Tomatoes, o filme alcançou 92% de aprovação com base em críticas iniciais, com elogios à direção de Fargeat e à performance de Lutz. O Observatório do Cinema classificou-o como "um dos thrillers mais brutais do Prime Video", enquanto o Arroba Nerd destacou sua "estética hipnótica".

A recepção, no entanto, não é unânime. Alguns críticos, como o Cineplayers, argumentam que a violência excessiva e a falta de profundidade nos antagonistas limitam o impacto emocional, comparando-o desfavoravelmente a thrillers mais nuançados como "Kill Bill". A controvérsia em torno da violência gráfica também gerou debates, com alguns espectadores no X elogiando sua catarse e outros questionando sua necessidade. Apesar disso, o filme ressoa em 2025, um ano marcado por discussões sobre empoderamento feminino e justiça, tornando-se um ponto de conversa em plataformas como o Letterboxd.

O lançamento direto no streaming reflete a crescente influência do Prime Video em produções ousadas, como observado pelo Oficina da Net. A acessibilidade do filme permitiu que alcançasse um público global, especialmente fãs de thrillers feministas como "Promising Young Woman" (2020). Sua estética visual e mensagem provocadora garantem que permaneça relevante em debates sobre gênero e cinema.

"Vingança" ecoa o filme original de 2017, mas amplifica sua estética e mensagem feminista, beneficiando-se da experiência de Fargeat após "A Substância". Comparado a outros thrillers de vingança, como "Kill Bill" de Quentin Tarantino, "Vingança" é menos estilizado em termos de diálogo, mas igualmente impactante em sua violência coreografada. A crítica do AdoroCinema compara sua energia a "Mad Max: Estrada da Fúria" (2015), mas com um foco mais íntimo na experiência feminina. Diferentemente de "Você Nunca Esteve Realmente Aqui" (2018), que explora a psicologia de seu protagonista, "Vingança" prioriza a visceralidade, o que o torna mais acessível, mas menos introspectivo.

A abordagem de Fargeat também dialoga com o cinema exploitation dos anos 70, como "I Spit on Your Grave", mas com uma sensibilidade moderna que evita a gratuidade. Comparado ao trabalho anterior de Fargeat, "Vingança" é mais direto, mas igualmente ambicioso, consolidando sua voz como uma das mais provocadoras do cinema contemporâneo.

Conclusão

"Vingança" é um thriller de ação que transcende seu gênero, oferecendo uma experiência visualmente deslumbrante e emocionalmente carregada. Coralie Fargeat transforma uma premissa familiar em um manifesto feminista, usando a violência como uma ferramenta para explorar resiliência e justiça. Matilda Lutz entrega uma performance inesquecível, enquanto a direção de Fargeat, com sua estética hipnótica e ritmo implacável, eleva o filme a um patamar raro no streaming. Apesar de suas limitações — como a falta de profundidade nos antagonistas e a violência que pode alienar alguns —, "Vingança" é uma obra poderosa que desafia convenções e celebra a força feminina.

No contexto de 2025, o filme ressoa com audiências que buscam narrativas de empoderamento e catarse, especialmente em um mundo onde questões de gênero permanecem urgentes. Sua estreia no Prime Video garante acessibilidade, enquanto sua ousadia visual e temática o torna um marco no gênero de vingança. Para quem aprecia thrillers intensos e mensagens provocadoras, "Vingança" é uma experiência inesquecível, um lembrete de que, nas mãos certas, a raiva pode ser uma força transformadora. Como Jen, o filme é feroz, implacável e impossível de ignorar.

CRÍTICA: Um pequeno favor (2018)


"Um Pequeno Favor" (A Simple Favor), lançado em 2018, é um thriller cômico dirigido por Paul Feig, conhecido por sua habilidade em mesclar humor e narrativa envolvente em filmes como "Missão Madrinha de Casamento" (2011). Baseado no romance homônimo de Darcey Bell, com roteiro adaptado por Jessica Sharzer, o filme combina suspense, comédia e drama, centrado na improvável amizade entre duas mulheres: Stephanie Smothers (Anna Kendrick), uma mãe solteira e vlogueira, e Emily Nelson (Blake Lively), uma sofisticada relações-públicas com uma vida aparentemente perfeita. A trama, que começa com um misterioso desaparecimento, desdobra-se em um jogo de manipulações, segredos e reviravoltas, conquistando tanto críticos quanto público por sua originalidade. Com um elenco de apoio que inclui Henry Golding e Andrew Rannells, o filme se destaca pela química entre suas protagonistas e por um tom que oscila entre o sarcástico e o absurdo. Esta crítica analítica explora o enredo, os personagens, a direção, os temas abordados e o impacto cultural de "Um Pequeno Favor", com base em avaliações de fontes confiáveis e uma análise detalhada de seus elementos cinematográficos.

A história de "Um Pequeno Favor" é ambientada em uma cidade suburbana de Connecticut, onde Stephanie Smothers, uma mãe viúva e excessivamente dedicada, mantém um vlog de culinária e dicas para mães. Sua vida certinha muda quando ela conhece Emily Nelson, mãe de um colega de escola de seu filho, que exsuda glamour e mistério. Apesar de suas diferenças — Stephanie é ingênua e organizada, enquanto Emily é cínica e desleixada —, as duas desenvolvem uma amizade improvável, marcada por martínis à tarde e confidências. A trama dá uma guinada quando Emily pede a Stephanie um "pequeno favor": buscar seu filho na escola. Após isso, Emily desaparece sem deixar rastros, desencadeando uma investigação que revela camadas de mentiras, traições e segredos sombrios.

O enredo segue uma estrutura de thriller, com Stephanie assumindo o papel de detetive amadora para desvendar o paradeiro de Emily. A narrativa é impulsionada por flashbacks, pistas falsas e revelações que mantêm o espectador intrigado. A busca de Stephanie a leva a confrontar Sean (Henry Golding), o marido de Emily, e a descobrir detalhes perturbadores sobre o passado da amiga, incluindo fraudes, assassinatos e identidades falsas. A história é pontuada por momentos de humor, como as interações desajeitadas de Stephanie com outros pais da escola, e por um tom que flerta com o exagero, reminiscente de novelas ou filmes noir clássicos. O desfecho, repleto de reviravoltas, resolve o mistério de forma satisfatória, embora alguns críticos, como o Omelete, tenham apontado que o excesso de reviravoltas pode parecer forçado.

A força do enredo está em sua capacidade de equilibrar suspense e comédia sem perder o ritmo. A crítica do AdoroCinema elogia a trama por sua "ousadia em abraçar o absurdo", enquanto o Rotten Tomatoes, com 84% de aprovação, destaca sua habilidade de manter o público adivinhando. No entanto, a narrativa não está isenta de falhas. Algumas reviravoltas, como as relacionadas ao passado de Emily, dependem de coincidências improváveis, e a resolução final, embora divertida, sacrifica certa plausibilidade em favor do impacto dramático. Ainda assim, a história cativa por sua energia e pela maneira como subverte expectativas, transformando um thriller doméstico em uma sátira elegante.

Stephanie é o ponto de entrada do espectador, uma personagem que começa como um estereótipo de mãe suburbana — organizada, ansiosa por aprovação e ligeiramente ridícula em sua dedicação ao vlog. Anna Kendrick entrega uma performance brilhante, equilibrando humor autodepreciativo e vulnerabilidade. À medida que a trama avança, Stephanie revela camadas de resiliência e astúcia, transformando-se de uma figura passiva em uma investigadora determinada. Sua evolução é um dos pontos altos do filme, como destacado pelo IMDb, que elogia Kendrick por tornar Stephanie "adoravelmente desajeitada, mas surpreendentemente corajosa".

O arco de Stephanie é convincente porque reflete sua luta para superar a insegurança e encontrar sua própria força. No entanto, sua ingenuidade inicial, como aceitar cegamente os favores de Emily, pode parecer exagerada, especialmente considerando as consequências. A crítica do Cineplayers observa que Stephanie "funciona como um espelho para o público", mas sua transformação às vezes é apressada, com poucas cenas explorando o impacto emocional de suas descobertas. Ainda assim, Kendrick carrega a narrativa com carisma, tornando Stephanie uma protagonista memorável.

Imagem: Primevideo/Reprodução

Emily é a alma enigmática do filme, uma femme fatale moderna que combina charme, perigo e sarcasmo. Blake Lively está magnética no papel, usando sua presença física e entrega afiada para criar uma personagem que é ao mesmo tempo sedutora e aterrorizante. Emily é introduzida como uma mulher de carreira bem-sucedida, com um apartamento chique e um guarda-roupa de tirar o fôlego — cortesia da figurinista Renee Ehrlich Kalfus, que mistura ternos masculinos com toques de alta costura. À medida que a trama se desenrola, o público descobre que Emily é uma mestra da manipulação, com um passado repleto de crimes e segredos.

A força de Emily está em sua ambiguidade. O filme nunca esclarece completamente suas motivações, o que a torna fascinante, mas também frustrante. A crítica do Arroba Nerd aponta que Lively "rouba a cena com uma performance que equilibra humor e ameaça", mas o roteiro não aprofunda suficientemente sua psicologia, deixando-a como uma vilã carismática em vez de uma figura tridimensional. Sua relação com Stephanie, marcada por uma mistura de admiração e manipulação, é o cerne emocional do filme, e a química entre as duas atrizes eleva até mesmo as cenas mais implausíveis.

O elenco de apoio inclui Henry Golding como Sean, o marido de Emily, e Andrew Rannells como Darren, um pai da escola. Golding, em um de seus primeiros papéis após "Podres de Ricos", traz charme e ambiguidade a Sean, mas seu personagem é subdesenvolvido, funcionando mais como uma peça do quebra-cabeça do que como uma figura com profundidade própria. Rannells oferece alívio cômico como parte do grupo de pais fofoqueiros, mas seu papel é limitado. Outros personagens, como a chefe de Emily (Linda Cardellini), aparecem brevemente, mas deixam impacto com atuações sólidas. A crítica do Observatorio do Cinema observa que o elenco de apoio "acrescenta textura ao mundo do filme", mas a narrativa foca tanto nas protagonistas que os secundários raramente têm chance de brilhar.

Paul Feig demonstra domínio ao criar um thriller que é ao mesmo tempo elegante e acessível. Sua direção em "Um Pequeno Favor" é marcada por uma estética vibrante, com uma paleta de cores que contrasta o mundo pastel de Stephanie com o glamour sombrio de Emily. A fotografia, assinada por John Schwartzman, utiliza enquadramentos amplos para destacar o isolamento dos subúrbios e close-ups para capturar as nuances das performances. A trilha sonora, com canções francesas dos anos 60, como "Une Histoire de Plage" de Brigitte Bardot, adiciona um toque retro que reforça o tom irônico, como elogiado pelo AdoroCinema.

Feig equilibra habilmente o suspense e a comédia, usando o humor para aliviar a tensão sem comprometer o mistério. Cenas como as conversas de Stephanie e Emily regadas a martínis são exemplos perfeitos de sua habilidade em criar diálogos afiados que revelam tanto quanto escondem. No entanto, a crítica do Omelete aponta que o filme "escorrega para o exagero" no terço final, com reviravoltas que priorizam o choque em detrimento da lógica. A edição é ágil, mas algumas transições entre flashbacks e o presente podem confundir, especialmente quando a narrativa introduz múltiplas linhas temporais.

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O figurino é um elemento central, funcionando quase como um personagem. Os looks de Emily, que misturam alfaiataria masculina com acessórios luxuosos, refletem sua personalidade dominante, enquanto as roupas práticas de Stephanie, como cardigãs e saias rodadas, sublinham sua ingenuidade inicial. A crítica do IMDb destaca que o figurino "amplifica a narrativa", criando um contraste visual que reforça a dinâmica entre as protagonistas.

"Um Pequeno Favor" explora temas como amizade, manipulação, identidade e as fachadas que construímos. A relação entre Stephanie e Emily é o núcleo temático do filme, representando uma dança entre admiração e desconfiança. Stephanie vê em Emily uma figura aspiracional, enquanto Emily usa a ingenuidade de Stephanie para seus próprios fins. Essa dinâmica, como apontado pelo Arroba Nerd, reflete a complexidade das amizades femininas, especialmente quando marcadas por inveja e poder.

O filme também satiriza a cultura suburbana e a obsessão por aparências. O vlog de Stephanie, com suas receitas e dicas banais, é uma crítica às redes sociais e à busca por validação online, enquanto a vida aparentemente perfeita de Emily revela as rachaduras por trás do glamour. A crítica do Observatorio do Cinema observa que o filme "zomba das convenções sociais sem ser didático", usando o humor para questionar normas de gênero e classe.

Outro tema importante é a reinvenção. Tanto Stephanie quanto Emily, de maneiras diferentes, tentam escapar de suas limitações — Stephanie, de sua vida monótona, e Emily, de seu passado criminoso. O filme sugere que a identidade é fluida, mas também perigosa, especialmente quando usada para manipular. No entanto, essas ideias são exploradas de forma mais superficial do que poderiam, com o foco nas reviravoltas diminuindo o espaço para reflexões mais profundas.

"Um Pequeno Favor" foi um sucesso moderado nas bilheterias, arrecadando cerca de US$97 milhões globalmente com um orçamento de US$20 milhões. Sua verdadeira consagração veio no streaming, especialmente na Netflix, onde se tornou um fenômeno cult, como relatado pelo AdoroCinema. No Rotten Tomatoes, o filme mantém 84% de aprovação, com críticos elogiando sua originalidade e as atuações de Kendrick e Lively. O Omelete deu 4/5, destacando sua "energia única", enquanto o Cineplayers reconheceu sua habilidade de entreter, mesmo com falhas narrativas.

A recepção do público foi igualmente entusiástica, com posts no X, como os de @CineLover, celebrando a química das protagonistas e o tom irreverente. O filme ganhou popularidade por sua estética visual e diálogos memoráveis, tornando-se referência em discussões sobre thrillers femininos. Sua influência é evidente na sequência, "Outro Pequeno Favor" (2025), que capitalizou o status cult do original.

O impacto cultural de "Um Pequeno Favor" também se reflete em sua abordagem às dinâmicas femininas. Ao contrário de muitos thrillers, que opõem mulheres como rivais, o filme celebra a complexidade de sua amizade, mesmo que tóxica. Em 2018, essa representação ressoou com audiências que buscavam narrativas centradas em mulheres multifacetadas, contribuindo para o sucesso duradouro do filme.

"Um Pequeno Favor" pode ser comparado a outros thrillers com protagonistas femininas, como "Garota Exemplar" (2014), que também explora manipulação e segredos, mas com um tom mais sombrio. A comédia do filme o aproxima de "Entre Facas e Segredos" (2019), embora com uma abordagem mais estilizada. Sua estética noir e humor sarcástico evocam clássicos como "Pacto Sinistro" (1951), mas adaptados a um contexto moderno. Comparado a outros trabalhos de Feig, como "As Bem-Armadas" (2013), "Um Pequeno Favor" é mais ambicioso em sua narrativa, mas menos consistente em sua execução.

A adaptação do romance de Darcey Bell também diferencia o filme, que toma liberdades criativas para amplificar o humor e o glamour. Enquanto o livro é mais introspectivo, o filme opta por uma abordagem exagerada, o que, segundo o IMDb, foi essencial para seu apelo visual e comercial.

"Um Pequeno Favor" é um thriller cômico que se destaca por sua originalidade, atuações cativantes e estética vibrante. Anna Kendrick e Blake Lively entregam performances que elevam o material, transformando uma história de mistério em uma celebração da complexidade feminina. A direção de Paul Feig, com seu equilíbrio de suspense e humor, cria uma experiência envolvente, mesmo que o excesso de reviravoltas e a falta de profundidade emocional sejam limitações. A trama, com sua mistura de noir e sátira, oferece uma crítica inteligente às aparências e à cultura digital, enquanto mantém o espectador entretido com diálogos afiados e uma narrativa cheia de surpresas.

O sucesso do filme, tanto nas bilheterias quanto no streaming, reflete sua capacidade de ressoar com audiências que buscam entretenimento inteligente e visualmente atraente. Como um marco no gênero de thrillers femininos, "Um Pequeno Favor" abriu portas para narrativas que celebram mulheres imperfeitas e suas relações complicadas. Sua influência é evidente no culto que inspirou e na sequência que gerou, consolidando seu lugar como uma joia moderna do cinema. Para quem busca um mistério com estilo, humor e coração, "Um Pequeno Favor" é, sem dúvida, um grande prazer.

CRÍTICA: Outro pequeno favor (2025)

Imagem: Primevideo/Reprodução

"Outro Pequeno Favor" (Another Simple Favor), lançado em 1º de maio de 2025 diretamente no Amazon Prime Video, é a aguardada sequência do thriller cômico de 2018, "Um Pequeno Favor". Dirigido novamente por Paul Feig e com roteiro de Jessica Sharzer, baseado nos personagens criados por Darcey Bell, o filme reúne Anna Kendrick e Blake Lively reprisando seus papéis como Stephanie Smothers e Emily Nelson. Ambientado na glamourosa ilha de Capri, na Itália, a trama envolve um casamento extravagante, um assassinato e uma série de reviravoltas que tentam recapturar a energia excêntrica do original. Com um elenco estelar que inclui Henry Golding, Andrew Rannells e novos rostos como Allison Janney, o filme aposta na química entre suas protagonistas e em um tom exagerado para entreter. No entanto, apesar de momentos divertidos, "Outro Pequeno Favor" luta para superar as limitações de sua trama sobrecarregada e a sombra do sucesso cult do primeiro filme. Esta crítica analítica explora o enredo, os personagens, a direção, os temas e o impacto cultural da sequência, com base em avaliações críticas e uma análise detalhada de seus elementos cinematográficos.

A trama de "Outro Pequeno Favor" começa alguns anos após os eventos do primeiro filme. Stephanie Smothers (Anna Kendrick), agora uma vlogueira de sucesso e investigadora amadora, está prestes a lançar um livro sobre suas experiências com Emily Nelson (Blake Lively), a "Mulher Loira Sem Rosto". Emily, recém-libertada após cumprir uma pena de prisão por seus crimes no filme original, reaparece na vida de Stephanie com um novo "pequeno favor": ser madrinha de seu casamento com Dario Esposito (Michele Morrone), um rico empresário italiano, na ilha de Capri. O que começa como uma proposta aparentemente inofensiva — uma chance para Stephanie impulsionar sua imagem pública e as vendas de seu livro — rapidamente se transforma em um labirinto de traições, chantagens e um assassinato que sacode o idílico cenário italiano.

A narrativa segue a mesma fórmula do primeiro filme, com uma mistura de suspense, comédia e drama, mas eleva o tom novelesco a novos patamares. Após Stephanie aceitar o convite, acompanhada de amigos como Sean (Henry Golding) e Dennis (Andrew Rannells), ela se vê envolvida em um esquema que inclui ameaças de processos judiciais, segredos do passado de Emily e um misterioso assassinato durante as festividades do casamento. A trama é pontuada por flashbacks que revelam as manipulações de Emily, enquanto Stephanie tenta desvendar o que está acontecendo, usando suas habilidades de investigação adquiridas no primeiro filme. O desfecho, repleto de reviravoltas, inclui revelações sobre identidades falsas, motivações financeiras e uma resolução que, como descrito pelo Arroba Nerd, lembra "um Poderoso Chefão fashionista".

Imagem: Reprodução

Embora a premissa de um casamento italiano ofereça um cenário visualmente atraente, a trama sofre com um excesso de reviravoltas, muitas das quais carecem de originalidade ou lógica, como apontado na crítica do Observatório do Cinema. O filme tenta equilibrar o humor sarcástico com momentos de tensão, mas o ritmo irregular e a falta de um clímax satisfatório prejudicam sua coesão. A decisão de resolver o mistério central de forma abrupta, semelhante ao que foi criticado no primeiro filme pelo Omelete, diminui o impacto emocional das revelações. Além disso, a narrativa depende fortemente da nostalgia do original, reciclando dinâmicas como a amizade improvável entre Stephanie e Emily, sem adicionar camadas significativas à sua relação. Apesar disso, a trama mantém o espectador entretido com seu ritmo acelerado e diálogos afiados, especialmente nas interações entre as protagonistas.

Stephanie, interpretada por Anna Kendrick, continua sendo o coração da narrativa. No primeiro filme, ela evoluiu de uma mãe tímida e certinha para uma investigadora confiante, e em "Outro Pequeno Favor", essa transformação é consolidada. Agora uma figura pública com um canal de vlogs bem-sucedido e um livro em andamento, Stephanie é mais assertiva, mas mantém sua essência ingênua e ansiosa por aprovação. Kendrick brilha ao equilibrar o humor autodepreciativo com momentos de coragem, especialmente nas cenas em que confronta Emily. Sua performance é um dos pontos altos do filme, como destacado pelo IMDb, que elogia sua habilidade de transmitir vulnerabilidade e astúcia.

No entanto, o desenvolvimento de Stephanie é limitado pelo roteiro. Sua decisão de aceitar o convite de Emily, apesar de conhecer suas manipulações, é justificada por chantagem emocional, mas parece inconsistente com sua suposta inteligência. A crítica do AdoroCinema observa que Stephanie "permanece refém da fascinação por Emily", o que impede uma evolução mais profunda. Suas ações, como investigar o assassinato em Capri, são envolventes, mas muitas vezes servem apenas para avançar a trama, sem explorar suas motivações internas ou conflitos psicológicos.

Emily, vivida por Blake Lively, é novamente a força magnética do filme. Após sair da prisão, ela retorna com o mesmo charme enigmático e uma aura de femme fatale, agora adaptada ao glamour italiano. Lively se diverte no papel, entregando falas sarcásticas e olhares maliciosos com facilidade, como descrito pelo Arroba Nerd. Sua personagem é descrita como uma vigarista incorrigível, cuja nova identidade como noiva de um magnata esconde segredos ainda mais sombrios. A figurinista Renee Ehrlich Kalfus, que já havia se destacado no primeiro filme, cria para Emily um guarda-roupa de alta costura que reflete sua personalidade dominante, com ternos elegantes e vestidos que contrastam com as roupas mais práticas de Stephanie.

Image: Primevideo

Apesar do carisma de Lively, Emily sofre com a repetição de sua dinâmica do primeiro filme. Suas manipulações, embora divertidas, não surpreendem tanto quanto antes, e o filme não explora suficientemente seu passado ou as consequências de sua prisão. A crítica do Observatório do Cinema aponta que Emily "permanece uma caricatura", sem nuances que poderiam enriquecer sua jornada. Sua relação com Stephanie, embora central, é menos complexa do que no original, reduzida a um jogo de gato e rato que privilegia o espetáculo em detrimento da profundidade.

O elenco de apoio inclui nomes como Henry Golding (Sean), Andrew Rannells (Dennis), Allison Janney (como uma figura misteriosa ligada ao passado de Emily) e Michele Morrone (Dario). Sean, o ex-marido de Emily, agora professor universitário, tem um papel reduzido, servindo mais como apoio emocional para Stephanie do que como um personagem ativo. Rannells entrega momentos cômicos como Dennis, mas sua presença é subaproveitada, funcionando como alívio cômico genérico. Janney, uma adição bem-vinda, traz gravidade a suas cenas, mas sua personagem é introduzida tardiamente e não tem tempo suficiente para impactar a narrativa. Morrone, conhecido por "365 Dias", adiciona charme como Dario, mas seu papel é mais decorativo do que essencial. A falta de desenvolvimento desses personagens, como apontado pelo AdoroCinema, reforça a dependência do filme na dupla principal.

Paul Feig, conhecido por comédias como "Missão Madrinha de Casamento" e pelo primeiro "Um Pequeno Favor", retorna com sua assinatura estilística: uma mistura de humor ácido, estética vibrante e um toque de exagero. Em "Outro Pequeno Favor", ele abraça o cenário italiano com entusiasmo, usando a beleza de Capri — suas falésias, vilas luxuosas e mares cristalinos — como pano de fundo para a trama caótica. A fotografia, com cores saturadas e enquadramentos que destacam o glamour, cria uma atmosfera que, segundo o Arroba Nerd, evoca um "noir fashionista". A trilha sonora, repleta de pop italiano e canções francesas reminiscentes do primeiro filme, reforça o tom brincalhão, mas às vezes parece deslocada em momentos de maior tensão.

Feig demonstra amadurecimento ao equilibrar suspense e comédia, mas, como no original, o filme desliza para o pastelão no terço final, o que pode frustrar quem espera um thriller mais sério. A crítica do IMDb observa que a direção "prioriza o entretenimento em detrimento da coerência", especialmente nas sequências de ação, como uma perseguição improvisada em Capri, que parece mais cômica do que tensa. A edição é ágil, mas as transições entre flashbacks e o presente nem sempre são fluidas, criando momentos de confusão narrativa. Apesar disso, Feig acerta ao extrair o melhor de Kendrick e Lively, cujas interações são o verdadeiro motor do filme.

"Outro Pequeno Favor" explora temas como manipulação, amizade tóxica, poder feminino e a busca por reinvenção. A relação entre Stephanie e Emily continua sendo o cerne da narrativa, refletindo a tensão entre admiração e desconfiança. O filme sugere que ambas, apesar de suas diferenças, são movidas por ambições semelhantes: Stephanie quer fama e validação, enquanto Emily busca controle e riqueza. Essa dualidade, como apontado pelo Observatório do Cinema, é o que torna sua dinâmica tão cativante, mesmo que menos profunda do que no primeiro filme.

A sequência também aborda a ideia de segundas chances, com Emily tentando reconstruir sua vida após a prisão e Stephanie enfrentando o desafio de manter sua relevância como influenciadora. No entanto, essas reflexões são tratadas de forma superficial, com o filme optando por reviravoltas sensacionalistas em vez de explorar as consequências emocionais de suas escolhas. A crítica do AdoroCinema destaca que o filme "celebra o caos sem questioná-lo", o que pode ser visto como uma força ou uma limitação, dependendo do espectador.

Outro tema presente é a sátira ao mundo da fama e das redes sociais. Stephanie, agora uma figura pública, enfrenta pressões para manter sua imagem, enquanto Emily usa sua persona para manipular aqueles ao seu redor. O filme toca em questões como a construção de narrativas pessoais e a superficialidade da cultura digital, mas não aprofunda essas ideias, usando-as mais como pano de fundo para o humor.

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"Outro Pequeno Favor" estreou no Prime Video em meio a expectativas elevadas, impulsionadas pelo sucesso cult do primeiro filme, que se tornou um fenômeno na Netflix. Com uma aprovação de 80% no Rotten Tomatoes, baseada em críticas iniciais exibidas no festival SXSW 2025, o filme foi bem recebido por sua energia divertida e a química entre Kendrick e Lively. O Arroba Nerd elogiou sua abordagem "fashionista" e comparou sua extravagância a uma versão cômica de "O Poderoso Chefão", enquanto o Observatório do Cinema destacou a capacidade do filme de manter o espectador entretido, apesar de suas falhas narrativas.

No entanto, a recepção não foi unânime. O IMDb aponta que a sequência "não inova tanto quanto o original", reciclando ideias e dependendo demais da nostalgia. A controvérsia envolvendo Blake Lively, devido a uma batalha judicial relacionada a seu filme anterior, "É Assim que Acaba" (2024), também afetou a divulgação, com a Amazon desativando comentários em trailers nas redes sociais, como relatado pelo IMDb. Apesar disso, posts no X, como os de @FilmeFanatic, indicam que fãs do primeiro filme apreciaram a continuação, especialmente pela estética visual e pelo humor.

O lançamento direto no streaming reflete uma tendência crescente de sequências de filmes cult que encontram nova vida em plataformas digitais. O sucesso do primeiro "Um Pequeno Favor" na Netflix, como mencionado pelo Observatório do Cinema, provavelmente justificou a produção da sequência, mesmo sem o mesmo impacto nas bilheterias. Em 2025, o filme ressoa com audiências que buscam entretenimento leve e escapista, mas sua falta de profundidade pode limitar seu impacto a longo prazo.

Comparado ao primeiro "Um Pequeno Favor", a sequência mantém o mesmo tom irreverente, mas perde em originalidade. Enquanto o original se destacou por sua mistura única de suspense e comédia, "Outro Pequeno Favor" amplifica o exagero, às vezes em detrimento da coerência narrativa. A crítica do Omelete, que deu ao primeiro filme 4/5 por sua inovação, sugere que a sequência, embora divertida, não alcança o mesmo nível de frescor. A dinâmica entre Stephanie e Emily, embora ainda cativante, é menos surpreendente, já que o público já conhece suas personalidades.

O filme também pode ser comparado a outros thrillers cômicos, como "Garota Exemplar" (2014), que equilibra melhor suas reviravoltas, ou "Entre Facas e Segredos" (2019), que usa o cenário de um mistério para explorar dinâmicas familiares com mais profundidade. A sequência de "Um Pequeno Favor" se assemelha mais a "Morte no Nilo" (2022), com sua ambientação luxuosa e elenco estelar, mas carece da mesma elegância narrativa. Sua abordagem novelesca, embora intencional, às vezes parece forçada, como apontado pelo AdoroCinema.

"Outro Pequeno Favor" é uma sequência que entrega exatamente o que promete: uma montanha-russa de reviravoltas, humor ácido e a química irresistível entre Anna Kendrick e Blake Lively. Ambientado no cenário deslumbrante de Capri, o filme abraça sua estética glamourosa e seu tom exagerado, oferecendo momentos de pura diversão. No entanto, sua trama sobrecarregada, reviravoltas previsíveis e falta de desenvolvimento emocional impedem que supere o charme inovador do original. Paul Feig demonstra habilidade em extrair o melhor de seu elenco, mas a narrativa carece da sutileza que poderia elevar o filme além do entretenimento passageiro.

Para fãs do primeiro filme, "Outro Pequeno Favor" é uma adição bem-vinda, repleta de referências e piadas que celebram a amizade caótica de Stephanie e Emily. Sua estreia no Prime Video, em um contexto de crescente popularidade de thrillers cômicos no streaming, garante que encontrará um público ávido por escapismo. No entanto, aqueles que buscam uma história mais coesa ou uma exploração mais profunda de seus temas podem se sentir desapontados. Como um "pequeno favor" ao espectador, o filme oferece risadas e glamour, mas, como Emily Nelson, esconde suas falhas sob uma fachada brilhante. Em última análise, é uma continuação que diverte, mas não deixa uma marca tão indelével quanto sua predecessora.

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