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[Fichamento] Lutar com palavras, de Irandé Antunes



 Capítulo 1 – O estudo da língua


1.3. O que é o processo de escrever?

Sempre que escrevemos socialmente escrevemos textos.
Assim como falar, escrever é uma atividade de interação. Não tem sentido escrever quando não se está procurando agir com outro, trocar alguma informação, alguma ideia com alguém. Uma escrita sem destinatário não tem sentido.
Na perspectiva da interação, escrever só pode ser uma atividade cooperativa. Atividade em que dois ou mais sujeitos agem em conjunto para a interpretação de um sentido (o que está sendo dito), de uma intenção (por que está sendo dito). Se torna muito difícil escrever sem saber para quem.
Escrever é uma atividade contextualizada. Está situada em algum momento, algum espaço e inserida em algum evento cultural. Os valores que convencionalmente se atribuem a esses momentos ou espaços determinam as escolhas linguísticas. Não se escreve da mesma maneira em contextos diferentes.
Escrever é uma atividade necessariamente textual, assim como falar. Ninguém fala ou escreve por meio de palavras soltas ou frases justapostas aleatoriamente. Só nos comunicamos através de textos.
Escrever é uma atividade tematicamente orientada. Há sempre uma ideia central, um tópico, um tema que se pretende desenvolver. Não importa se é uma dissertação, uma história, uma carta, há sempre um ponto em vista. Perdê-lo de vista significa romper com a unidade temática e comprometer a relevância comunicativa da interação.
Escrever é uma atividade intencionalmente definida. Escrevemos para obter um determinado fim, cumprir algum objetivo. Como propõe a teoria dos atos de fala, é uma forma de fazer, de agir, de atuar.
Escrever é uma atividade que envolve além de especificidades linguísticas, outras, pragmáticas (elementos da situação, especificidades). Se escrever constitui uma atividade interativa, contextualmente situada e funcionalmente definida é natural que cada texto seja marcado por condições particulares de cada situação. Tudo o que é peculiar aos sujeitos, às suas intenções, ao contexto de circulação do texto vai-se refletir nas escolhas linguísticas a serem feitas.
Escrever é uma atividade que se manifesta em gêneros particulares de textos. Os textos não tem as mesmas características, o mesmo esquema de sequenciação, o meso conjunto de partes e a maneira de distribuir essas partes. Há esquemas para cada um dos gêneros; uns mais flexíveis, outros mais rígidos.
Escrever é uma atividade que retoma outros textos, estamos sempre voltando a outras fontes (outras “vozes”), próximas ou remotas. Nunca somos inteiramente originais.
A escrita é uma atividade em relação de interdependência com a leitura. Ler é contraparte do ato de escrever, que, como tal, se complementam. O que lemos foi escrito por alguém e escrevemos para que outro leia.
“As idas e vindas da atividade de escrever”: a autora admite três grandes momentos para a atividade de escrever.
1. Primeiro, começa antes da tarefa mecânica de grafar;
2. Segundo, inclui essa tarefa de grafar, de pôr no papel;
3. Terceiro, ultrapassa o momento da primeira versão.
Ou seja, “elaborar um texto escrito é uma tarefa cujo sucesso não se completa, simplesmente, pela codificação de ideias ou informações, através de sinais gráficos. Supõe etapas de idas e vindas, etapas interdependentes e intercomplementares, que acontecem desde o planejamento, passando pela escrita, até o momento posterior da revisão e da reescrita” (Antunes, 2003, p. 54).

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