INTRODUÇÃO
O QUE É LITERATURA?
• Tentar definir a literatura como escrita imaginativa, no sentido de ficção é reduzi-la. Além disso, a literatura tanto inclui muito da escrita fatual, também exclui uma boa margem da ficção, como as histórias em quadrinhos, por exemplo; (p.02)
• Defini-la como escrita imaginativa também destitui a capacidade de imaginação de outros tipos de textos que não são literatura; (p.02)
• A literatura poderia ser definida, então, por empregar a linguagem de forma peculiar, ela transforma e intensifica a linguagem comum, afastando sistematicamente da fala cotidiana. Estamos diante do literário quando a tessitura, o ritmo e a ressonância das palavras superam o seu significado abstrato. Essa foi a definição de literatura para os formalistas russos; (p.02-03)
• Os formalistas eram um grupo de críticos militantes que rejeitaram as doutrinas simbolistas quase místicas que haviam influenciado a teoria literária e direcionaram o olhar para a realidade material do texto literária em si. Viam a literatura como uma organização particular da linguagem, um fato material, cujo funcionamento podia ser analisado como se analisa o funcionamento de uma máquina. Para eles, ela é feita de palavras e não de sentimentos ou objetos, assim é um erro considerá-la uma expressão do sentimento do autor; (p.03)
• O formalismo foi a aplicação da linguística ao estudo da literatura, de forma que se preocupava com a estrutura, com elementos formais e não com o que ela poderia dizer, com o conteúdo literário. O conteúdo, para eles, servia apenas de motivação para a forma; (p.03)
• Os formalistas defendiam que a linguagem literária era, senão uma deformação da linguagem cotidiana de diversas maneiras. Ao nos impor um consciência dramática da linguagem, a literatura renova essas reações habituais, tornando os objetos mais perceptíveis. Isso se dá, porque ela manipula a linguagem de forma trabalhosa, mais autoconsciente que o usual, o mundo que essa linguagem encerra é renovado de forma intensa; (p.04)
• Contudo, é importante considerar que nem todos os desvios linguísticos são poéticos, como as gírias por exemplo, que nada tem de poesia; (p.05)
• O formalistas não queriam definir o que era a literatura, mas a literaturidade, ou seja, os usos especiais da linguagem, que não são encontrados apenas em textos literários, além disso, todo recurso linguístico usado na literatura faz parte do discurso cotidiano como a metonímia e a sinédoque, dentre outros; (p.06)
• Os formalistas pensam toda a literatura como poesia, ao falarem da prosa apenas estendem o estudo da poesia à ela; (p.07)
• A estranheza da linguagem que se deflagra na literatura pode ser trabalhado em qualquer texto sem fazê-lo dele literatura; (p.07)
• A literatura é um discurso não-pragmático, visto que não tem uma finalidade prática como a maioria dos textos que circulam na sociedade; (p.08)
• A literatura seria, então, uma espécie de linguagem auto-referencial, uma linguagem que fala de si mesma, ainda que essa definição apresenta problemas. Muito do que se chama de literatura é considerado verídico e necessário para efeito geral; (p.08-09)
• A literatura, de fato, não pode ser definida objetivamente, sua definição acaba ficando a cargo da maneira que alguém resolve ler e não da natureza do que é lido; (p.09)
• “Alguns textos nascem literários, outros atingem a condição de literários, e a outros tal condição é imposta”, de forma que podemos vê-la como as várias maneiras pelas quais a pessoa se relaciona com a escrita e não por uma qualidade inerente, ainda que se possa isolar as características do que , comumentemente, é chamada de literatura; (p.09)
• “Não existe uma essência da literatura” (p.10)
• A palavra literatura funciona como a palavra mato, a segunda indica não uma planta específica, mas toda planta que o jardineiro não quer no seu jardim, a literatura ao contrário, pode significar qualquer escrita que, por alguma razão, seja altamente valorizada; (p.10)
• Definir como prático ou não-prático não é o caminho para se chegar a definição de literatura, visto que ainda não se chegaria a sua essência. Além disso, ainda que a literatura tenha perdido sua praticidade, em muitas sociedades, ela já teve um papel religioso importante, portanto, prático; (p.10)
• O senso comum liga a literatura ao belo, se fosse assim não existiria má literatura, e essa definição é redutiva; (p.11)
• A literatura está longe de ser o estudo de uma entidade estável, trata-se de um objeto que não é eterno, nem imutável e nem objetivo; (p.11)
• Nem tudo que é ficção é literatura e nem tudo que e literatura é ficcional; (p.11)
• “A literatura, no sentido de uma coleção de obras de valor real e inalterável, distinguida por certas propriedades comuns, não existe.” (p.12)
• A interpretação que fazemos das obras literárias sempre partindo de nossos próprios interesses é que a faz conservar o seu valor durante vários séculos. Pode acontecer de conservarmos muitas das preocupações expressadas ali ou que já não estamos valorando mais a mesma obra, o olhar sobre ela traz o peso do século e da tradição literária, pensemos a obra homérica como exemplo; (p.13)
• O conhecimento não é isento de juízo de valor e a teoria da literatura não poderia se furtar da valoração; (p.15)
• Ideologia é a estrutura de valores, em grande parte oculta, que informa e enfatiza nossas afirmações fatuais, é a maneira pela qual aquilo que dizemos e no que acreditamos se relaciona com a estrutura do poder e com as relações de poder da sociedade em que vivemos; (p.16)
• As diferenças locais, subjetivas, de a avaliação funcionam dentro de uma maneira específica, socialmente estruturada de ver o mundo. Esses juízos de valor que constituem a literatura são historicamente variáveis, mas possuem uma estreita relação com as ideologias sociais; (p.17)
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