O livro Aula de português: encontro e interação traz uma reflexão em torno das aulas de Português, sobre a leitura, a escrita e a reflexão da língua. Já no início do livro. A autora, Irandé Antunes, faz uma critica aos professores que ensinam gramática de forma descontextualizada, ou seja, trabalham a língua com frases soltas, isoladas.
Segundo, Irandé Antunes, a gramática deveria ser trabalhada com textos, dessa forma, os alunos teriam um entendimento maior da linguagem.
Mais que a classificação, é preciso saber a função
Mais que a classificação, é preciso saber a função
Apenas encontrar substantivos e pronomes em um conto não é suficiente para ampliar o conhecimento da gramática, segundo Irandé Antunes, da Universidade Estadual do Ceará. "É preciso ir além das definições para descobrir, por exemplo, a função deles na introdução e na manutenção do tema ou do enredo", ela defende." Saber que é indeterminado o sujeito de uma frase é muito pouco. O importante é compreender por quê, com que propósito discursivo, se preferiu deixá-lo assim."Portanto, diz Irandé, é necessário ir além da nomenclatura, das classificações, da simples análise sintática de frases soltas para ver como as unidades da língua funcionam na construção dos textos e que efeitos seus usos podem provocar na constituição do discurso.
Irandé Antunes vai além: segundo ela, boa parte dos equívocos que se cometem em classe poderia ser evitada ao fazer a distinção entre o que são e o que não são regras gramaticais. Estas, segundo entende, são as regularidades, as normas que ajudam a entender como usar e combinar as unidades da língua para produzir determinado efeito comunicativo. Nesse grupo, ela lista: a descrição de como empregar pronomes ou de como expressar exatamente o que se quer pelo uso da palavra adequada, no lugar certo, na posição certa ou como usar flexões verbais para indicar determinadas intenções, entre outras.
Outra ressalva a fazer é a versão dos alunos para com a disciplina de português, e também, a dificuldade de alguns professores de português.
Assim, nessa obra, Aula de português, a linguista Irandé Antunes foca seu trabalho em quatro campos: da oralidade, da escrita, da leitura e o da gramática.
O TRABALHO COM A ORALIDADE
Para Irandé Antunes, os professores não trabalham com a fala em sala de aula, e muitas vezes têm uma concepção equivocada, pois colocam a fala como lugar privilegiado para a violação das regras gramaticais. De acordo, com essa visão tudo “que é erro” acontece na fala e tudo é permitido. Temos que atentar ao fato que devemos falar conforme o ambiente. Assim, o professor deve ensinar ao aluno a oralidade informal e, também, os padrões gerais da conversação, se abordar a realização dos gêneros orais da comunicação pública.
TRABALHANDO COM A ESCRITA
Muitas vezes, o que é feito na escola é para desestimular o aluno a escrever. Às vezes o professor pede para o aluno escrever, de forma improvisada, sem planejamento e sem revisão. O aluno escreve, o professor corrige, e muitas vezes avaliando somente: a ortografia, a pontuação, etc. e se corrigir, pode acontecer de não devolver o texto.
Isso se chegar a pedir para escrever, pois, às vezes, o que é feito são apenas frases isoladas, descontextualizadas, para verificar apenas: fixação nos exercícios de separação de sílabas, de reconhecimento de dígrafos, e encontro vocálicos e consonantais e outros inteiramente adiáveis.
O TRABALHO COM A LEITURA
O que podemos observar que alguns professores não importam com a leitura, pois acham que irá atrapalhar o desenvolvimento de suas aulas, ou seja, se for exercitar a leitura, ler livros em sala de aula não irá dar tempo para a gramática, porque a gramática é que deve ser privilegiada.
E a leitura torna-se uma atividade obrigatória tirando todo o seu prazer.
Assim, diz Antunes: “Enquanto o professor de português fica apenas analisando se o sujeito é determinado ou indeterminado, por exemplo, os alunos ficam privados de tomar consciência de que ou eles se determinam a assumir o destino de suas vidas ou acabam todos, na verdade, sujeitos inexistentes”. (ALMEIDA, 1997:16, citado por ANTUNES, 2003:13)
O TRABALHO COM A GRAMÁTICA
Ensina-se uma gramática descontextualizada, fragmentada, voltada para nomenclatura, inflexível, predominantemente prescritiva, isto é, o que se ensina na escola nada tem haver com a realidade do aluno, torna-se assim, sem sentido a aula de português.
O aluno começa a entender que a aula de português não tem relação com sua realidade, uma vez que, aquela forma de comunicação não é utilizada em seu dia a dia, são frases isoladas, sem sentido, que apenas se apóiam em regras e casos particulares, que apesar de estar no livro, estão fora dos contextos do uso da língua.
Então, fica a pergunta: Que sentido tem o aluno saber a nomenclatura e a classificação das unidades?
Sem apoio de textos reais, o que realmente está em funcionamento?
Em decorrência, dessa forma equivocada de ensinar língua portuguesa, os alunos acabam não gostando das aulas de português, porque não há sentido para eles.
Com todos esses problemas gerados na aula de português, a linguista Irandé Antunes chama à atenção dos professores para uma reflexão de como está sendo ensinada a língua portuguesa, ela oferece algumas sugestões, que ajudam na descoberta de “novos jeitos” de ver a língua.
POSSIBILIDADES
EXPLORANDO A ESCRITA
Escrever não é uma atividade simples para os alunos, muitos têm dificuldades de passar para o papel suas idéias.
O docente tem o papel de esclarecer para o discente para quem ele escreve, como escrever, sobre o que escrever. Escrever sem saber para quem é um exercício difícil, pois falta a referência dói outro. Desse modo, o professor não pode insistir na prática de uma escrita escolar sem leitor, sem destinatário e também sem conteúdo, isto é, na sociedade sempre há um motivo para a escrita, assim também tem que ser na escola, o aluno tem que saber o porquê da escrita, com sentido, com destino.
Além disso, essa escrita tem que passar por algumas etapas, como: planejamento, etapa da escrita, revisão (tema, objetivos, gênero, ordenação das ideias, prever as condições de seus leitores e a forma linguística).
Outro obstáculo encontrado na produção da escrita é o tempo, que os professores colocam em sala de aula, um tempo escasso, assim, fica difícil planejar e poder rever esses textos.
O que pode ser feito para evitar tantos equívocos com a ação da escrita é o professor atentar para algumas implicações. Então, quando o professor for trabalhar a escrita com seus alunos, ele deve dar importância há alguns fatores, ou seja, planejar a atividade com seus alunos, haver um leitor, um destino, uma função, dessa maneira, esse texto não cumprirá apenas exercício escolar, mas terá uma função social.
Como afirma Antunes, para escrever bem é preciso, antes de tudo ter o que dizer.
EXPLORANDO A LEITURA
A atividade da leitura completa a atividade da produção escrita.
Para escrever, necessita obter informações, esse é o objetivo da leitura, fazer com que o aluno incorpore novas idéias, conceitos, dados e diferentes informações acerca das coisas, das pessoas, dos acontecimentos, do mundo em geral. Nessa perspectiva, textos de outras disciplinas como geografia, história pode ser bastante útil para apoiar os argumentos apresentados num comentário.
A leitura tem que se tornar prazerosa, ler porque é gostoso. É para este plano de leitura que se destinam os textos literários: romances, contos, crônicas, poemas (esses sobretudo). Reduzi-los aos objetivos de análise sintática, a pretexto para exercícios de ortografia, por exemplo, é uma espécie de profanação, pois é esvaziá-los de sua função poética e ignorar a arte que se pretendeu com o arranjo diferente de seus elementos lingüísticos ou, como observa Rubens Alves, “São raríssimos os casos de amor à leitura desenvolvido nas aulas de estudo formal da língua”.
Algumas vezes, essas dificuldades que os alunos possuem para escrever está também no pouco contato que eles mantêm com textos escritos.
Até no momento da avaliação, tem professores que leem a prova para ao aluno, não o deixando fazer a compreensão por si mesmo.
Enfim, a aprendizagem das regularidades própria da escrita acontece é no contato com textos escritos, assim, como a aprendizagem da fala acontece a exposição do aprendiz a experiência de oralidade.
A leitura depende não apenas do contexto linguístico do texto, mas também do contexto extralinguístico de sua produção e circulação.
Então, o sentido de um texto não está apenas no leitor. Está também no texto e no leitor, pois está em todo o material lingüístico que o constitui e em todo o conhecimento anterior que o leitor já tem do objeto de que trata o texto.
IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS
O professor de língua portuguesa deve ver com atenção a atividade de leitura em sala de aula, nessa perspectiva, ele deve empregar uma leitura de texto autêntica, real, motivadora, levando em conta o aspecto global do texto, do texto como um todo.
Mostrar para os alunos as vantagens de saber ler e de poder ler, explicar para os alunos os objetivos de toda a atividade de leitura, ou seja, por que ele é convocado a ler aquele texto, de forma a despertar-lhe o interesse por fazê-lo bem.
A leitura se torna plena quando o leitor chega à interpretação dos aspectos ideológicos do texto, das concepções que, às vezes, sutilmente, estão embutidos nas entrelinhas. O ideal é que o aluno consiga perceber que nenhum texto é neutro, que por trás das palavras mais simples, das afirmações mais triviais, existe uma visão de mundo, um modo de ver as coisas, uma crença. Qualquer texto reforça idéias já sedimentadas ou propõe visões novas.
Outra questão importante, é trabalhar na escola diferentes textos, de gêneros distintos (romances, contos, crônicas, fábulas, poemas, editoriais, notícias, comentários, cartas, avisos, propagandas, etc.), e os objetivos propostos para a leitura sejam também variados, alternando-se para tanto, as estratégias de leitura e de interpretação.
Deve-se providenciar oportunidades para os alunos manusearem diferentes tipos de material escrito por exemplo: ( rótulos, listas, cartazes, folhetos, revistas, jornais, livros), de maneira que possam perceber diferenças de linguagem e de apresentação, por conta das diferenças do suporte em que o texto circula.
Uma leitura de “pura curtição” deve ser estimulada frequentemente pelo simples prazer, sem compromisso por qualquer tipo de cobrança. O exercício da leitura gratuita, da leitura do texto literário, poético. O professor deve selecionar textos que, de fato, possam, provocar prazer estético.
Para que o aluno tenha o hábito de ler, goste de ler, muitas vezes pode acontecer se o professor influenciar esse aluno, isso acontecerá em salas de aula, com o professor mostrando a importância do ato de ler, tentando aos poucos fazer com que esse aluno goste de ler, mostrar que o hábito pode ser gostoso, prazeroso. Se for feito de forma tranqüila, sem cobranças, a atividade tornará prazerosa. Consequentemente, serão leitores, pois, irão ler porque é gostoso, prazeroso, divertido e, além de tudo isso, traz conhecimento.
EXPLORANDO A GRAMÁTICA
Não existe língua sem gramática, isso quer dizer que todo falante usa as regras particulares da gramática de sua própria língua. São regras que estão internalizadas nele, o que ele não sabe são os nomes que as unidades têm e a que classes pertencem.
O que a escola faz de errado no ensino da gramática é preocupar-se com a nomenclatura, como se ensinar gramática fosse ensinar nomenclatura.
Para Irandé, “A questão não é ensinar ou não ensinar gramática”, a questão maior é discernir sobre o objetivo do ensino, ou seja, ensinar como se usa a língua nos mais variados gêneros de textos orais e escritos.
Nessa idéia, o professor deve ensinar ao aluno a regra para a produção da leitura de resumos, resenha, de uma notícia, de um requerimento, de um aviso, entre muitos outros, o que significa que seja suficiente para alguém conseguir ampliar e aperfeiçoar seu desempenho comunicativo.
Saber falar e escrever uma língua supõe também, saber a gramática dessa língua. Supõe saber produzir e interpretar diferentes gêneros de textos, e isso serão alcançados com a prática da leitura e a produção desses tipos de gêneros.
O conhecimento que o falante tem das regras que especificam o uso de sua língua, um conhecimento intuitivo, implícito. Entretanto, esse saber implícito pode se enriquecido e ampliado com o conhecimento explícito dessas mesmas regras.
O que deve ficar claro que uma forma linguística não é, em si mesma, melhor que outra. É, na verdade mais (ou menos) adequada, dependendo das situações em que é usada.
IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS
A observação feita pela autora nesse sentido, que ao ensinar gramática, seria proveitoso que fosse uma gramática funcional, com regras gramaticais importantes, úteis e aplicáveis na realidade do aluno.
É importante o aluno saber que a norma padrão é a variedade socialmente prestigiada, mas não como sendo a única norma “certa”, “certo” é aquilo que se diz na hora “certa” à pessoa “certa”.
O autor Monteiro Lobato em seu livro Emília no país da gramática, publicado em 1943, já chamava a atenção para esse tipo de preconceito (que, no entanto, continua firme e forte no Brasil de hoje!). Monteiro Lobato, que morreu em 1948, estava muito mais por dentro das noções da lingüística moderna do que muito autor de gramática que está por aí hoje. (Citado por Marcos Bagno, em Preconceito Linguístico, pp. 32-33).
EXPLORANDO A ORALIDADE
A oralidade apresenta a mesma dimensão interacional que foi pretendida para a escrita e para a leitura. Não existem diferenças essenciais entre a oralidade e a escrita, nem, muito menos, grandes oposições.
Dessa maneira, tanto a fala quanto a escrita podem variar, ou seja, esta mais formal, ou menos formal dependendo da ocasião.
IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS
Pensando assim, o professor deve levar o aluno a ser capaz de identificar os aspectos globais do texto, o qual poderá ser feito trabalhando a temática do texto, pois todos os textos são produzidos a partir de determinado assunto ou dentro de um tema específico.
O aluno deverá ser capaz de entender o que o texto quer lhe passar. Com isso, ele entenderá a diferença entre os textos orais e os textos escritos. Os orais igualmente ocorrem sob a forma de variados tipos e gêneros, dependendo do contexto mais ou menos formal em que acontece, o que leva a chamar a atenção do educador para ajudar os aprendizes a desenvolver, para que eles saibam se adequarem as condições de produções e de recepção dos distintos eventos comunicativos.
Ensinar aos alunos a atividade de interação, porque quando não há interação não há ouvinte, isso é uma atitude que deveria ser ensinada, saber ouvir o outro, escutar com atenção o que o colega tem a dizer.
Atentar para o fato de quem fala primeiro, que pode falar , quem pode interromper, são questões simples, porém que faz uma diferença incrível.
O que a autora nos chama a atenção a todo o momento é para a questão de ensinar português com frases soltas, descontextualizadas, porque isso não ensina nada aos alunos. O ensino de Português deve ser ensinado com textos, os quais tratem da realidade, do convívio do aluno.
Depois do texto trabalhado de forma total, entendido, compreendido, aproveitado o máximo o que tem a proporcionar aos alunos, então, poderá passar para a segunda etapa do propósito que será a gramática, mas uma gramática também tratando da realidade desse aluno, ou seja, nada fora do contexto, um ensino de gramática que ultrapasse os muros da escola, uma gramática que possa ser utilizada na vida, no cotidiano desses alunos.
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