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Resenha: Capitães da areia, de Jorge Amado


Publicado em 1937, pouco depois de implantado o Estado Novo, este livro teve a primeira edição apreendida e exemplares queimados em praça pública de Salvador por autoridades da ditadura. Em 1940, marcou época na vida literária brasileira, com nova edição, e a partir daí, sucederam-se as edições nacionais e em idiomas estrangeiros. A obra teve também adaptações para o rádio, teatro e cinema. Documento sobre a vida dos meninos abandonados nas ruas de Salvador, Jorge Amado a descreve em páginas carregadas de beleza, dramaticidade e lirismo.

Resenha: Capitães da Areia - Jorge Amado
Livro: Capitães da Areia
Autor: Jorge Amado
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 294
ISBN: 9788535911695
Ano: 2010
Classificação: 5 (Ótimo) 

Por: Jéssica Soares 

"Publicado em 1937, pouco depois de implantado o Estado Novo, este livro teve a primeira edição apreendida e exemplares queimados em praça pública de Salvador por autoridades da ditadura. Em 1940, marcou época na vida literária brasileira, com nova edição, e a partir daí, sucederam-se as edições nacionais e em idiomas estrangeiros. A obra teve também adaptações para o rádio, teatro e cinema. Documento sobre a vida dos meninos abandonados nas ruas de Salvador, Jorge Amado a descreve em páginas carregadas de beleza, dramaticidade e lirismo."

Estou impressionada até agora com Capitães da Areia, com a narrativa instigante de Jorge Amado e com essa história que todos deveriam ler. É sempre difícil falar sobre clássicos, mais ainda quando o nome de um dos maiores autores brasileiros está em questão, mas devo dizer que amei Capitães de Areia em tudo, desde a edição super bem feita ao seu conteúdo impactante. O livro conta a estória de um grupo de garotos que, ao estarem sozinhos no mundo, se viram como podem e, dessa forma, acabam sendo vistos como marginais. Liderados por Pedro Bala, vemos como é a vida de garotos abandonados, onde o amor e a compreensão dão lugar ao estereótipo de ladrões, um problema para a sociedade.

Os capítulos são curtos, com uma linguagem acessível e carregados de informações. É uma estória simples, mas que também carrega uma mensagem importante, pois aqui vemos a inocência de crianças dando lugar a uma visão de mundo completamente crescida e até amadurecida. Essa é uma obra que não só traz a tona a vida dos garotos de rua da metade do século XX, como também pode ser usada para entendermos a vida dessas mesmas pessoas nos dias de hoje e aí está a genialidade do autor. Imortalizar um problema que, infelizmente, até hoje não teve solução em nosso país e de forma tão pessoal e tocante.

Aqui vemos personagens como o próprio Pedro Bala, líder desses garotos, que está disposto a ser como seu pai, um defensor daquilo que achava correto, Dora que assume os diversos papéis femininos como o de mãe, irmã e mulher e Sem-Pernas (o que mais me afetou), coxo e cheio de traumas, o mesmo fez com que suas próprias dores e temores se tornassem sua proteção contra o mundo. Há ainda muitos outros garotos que surgem na trama e que são importantes para o seu desenvolvimento, é impossível não se afeiçoar a um deles. Todos as personagens são bem estruturadas o que facilita a compreensão do leitor não só sobre a estória, mas sobre o cotexto geral do abandono, seja ele direto ou indireto, de crianças que ao necessitarem do básico para viver, acabam cometendo delitos e furtos em meio ao sonho de terem condições não só para garantirem a saúde e sustento, mas para suprirem a falta de carinho paterno.

Jorge Amado.

Jorge Amado, ao escrever em terceira pessoa, dá abertura para diversos focos, o que remete os problemas de cada personagem. Assim temos também a contextualização de uma sociedade baiana para todos, mas cheia de exclusões. Não só o abandono é o foco da problematização, como também a desigualdade social, o estrupo, a falta de condições básicas, enfim, o livro retrata a verdadeira realidade social em que o Brasil vivia na época e que não chega a ser, no fundo, diferente do século XXI.

Esse é o primeiro livro de leitura escolar obrigatória que realmente gostei. É impossível não se envolver e ficar comovido com a estória e caso vocês tenham a possibilidade de lê-lo, não a desperdicem. Essa é uma obra muito pertinente não só pelo momento em que foi lançada e toda sua repercussão, como a imortalização não só de um problema social vivido atualmente, como também a imortalização de personagens impactantes. Vale a pena conferir, sentirei saudade dos Capitães.

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