ISBN-10: 8532531733
Ano: 2020 / Páginas: 160
Idioma: português
Editora: Rocco
Publicado pela primeira vez em 1971, Felicidade clandestina reúne 25 contos que falam de infância, adolescência e família, mas relatam, acima de tudo, as angústias da alma. Como é comum na obra de Clarice Lispector, a descrição dos ambientes e das personagens perde importância para a revelação de sentimentos mais profundos. A nova edição conta com um novo projeto gráfico assinado pelo prestigioso designer Victor Burton e um posfácio de Marina Colasanti.
“Felicidade clandestina”
Nesta crônica a narradora gostava muito de ler, mas sua situação financeira não permitia compra de livros. Por isso, ela vivia pedindo livros emprestados a uma colega, todavia era filha do dono de uma livraria. Essa colega não valorizava a leitura e inconscientemente se sentia inferior às outras, sobretudo a nossa narradora-personagem. Certo dia, a filha do livreiro a “menina má” oferece o livro As Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato emprestado para a narradora. A narradora-personagem passou a sonhar com o livro. Mal sabia que a colega, que tinha um enorme talento para a crueldade e que ela queria, na verdade, vingar-se por sentir-se inferior. Para tanto, a filha do livreiro pedira a narradora-personagem que passasse em sua casa todos os dias e o livro nunca aparecia. A garota invejosa, filha do livreiro, sempre alegava já ter emprestado para outra amiga.
Esse suplício durou muito tempo e a narradora-personagem bate muitas vezes àquela porta com o coração pulando de esperança de botar as mãos no livro, no entanto, para maltratá-la mais ainda, a filha do livreiro despeitada afirmava ter ficado com o livro durante toda a manhã, porém a narradora-personagem sé aparecera à tarde perdera a vez do empréstimo, outra amiga levara.
Até que, a esposa do livreiro, mãe da menina cruel, interveio na conversa das duas e percebeu a atitude da filha e a amplitude de sua perversidade. Então, a mãe da menina com a voz severa a fez emprestar o livro à narradora-personagem, dizendo: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser". O que para nossa narradora-personagem tinha o mesmo de ter ganhado o livro.
E essa foi a Felicidade Clandestina da menina, nossa narradora-personagem apaixonada pela leitura, que chegara em casa reservara-se a não ler aquela obra, só para depois Ter a surpresa de saber que o tinha nas mãos. Era uma felicidade tão grande que até mesmo fazia questão de "esquecer" onde o guardava, ou de que estava com o livro para depois ter novamente a "surpresa" de revê-lo.
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