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Resenha: Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus


Do diário da catadora de papel Carolina Maria de Jesus surgiu este autêntico exemplo de literatura-verdade, que relata o cotidiano triste e cruel da vida na favela. Com uma linguagem simples, mas contundente e original, a autora comove o leitor pelo realismo e pela sensibilidade na maneira de contar o que viu, viveu e sentiu durante os anos em que morou na comunidade do Canindé, em São Paulo, com seus três filhos. Ao ler este relato-verdadeiro best-seller no Brasil e no exterior- você vai acompanhar o duro dia a dia de quem não tem amanhã. E vai perceber que, mesmo tendo sido escrito na década de 1950, este livro jamais perdeu sua atualidade.

ISBN-13: 9788564296015
ISBN-10: 8564296012
Ano: 2013 / Páginas: 200
Idioma: português
Editora: Ática

RESENHA:

Carolina com seu diário nada confidencial vem nos mostrar a realidade da favela do Canindé em São Paulo, as margens do rio Tiete, iniciando sua historia 15 de julho de 1955, relatando o aniversário de sua filha e o que pretendia comprar, mas o custo de vida atual em que vivia a impossibilitava. Ela em seu livro faz reflexões e criticas sobre a favela e sobre a politica, denunciava as condições desfavoráveis, representava a voz deste povo miserável. Com grande esforço ela busca o pão de cada dia, para ela e seus três filhos, Vera Eunice, João José e José Carlos o primogênito, ia cedo buscar água na torneira para evitar as filas e os comentários maldosos das mulheres da favela, mas nem sempre conseguia, a fila era grande comentavam de tudo e de todos, Fazia o café para as crianças, sempre faltava o pão, comiam o que tinha e às vezes era a fome que os acompanhavam, os meninos vão à escola e Vera a acompanha nesta jornada, a menina não tem sapatos e não gosta de andar descalço, Carolina se desdobra para criar seus filhos e tenta não deixar faltar o principal, “comida”, pois é de partir o coração para qualquer mãe, ver seu filho lhe pedir alimento e você não ter o que oferecer, faz 2 anos que ela pretende comprar uma máquina de moer carne e uma máquina de costura, mas pelo jeito só vai ficar na vontade.


A vizinhança não dava sossego, brigavam e implicavam com seus filhos, quando as mulheres furiosas invadiam seu barraco para espancar suas crianças, elas se defendiam jogando pedras nas vizinhas, Carolina nem se envolvia abrigava as crianças no barracão e dizia às mulheres que iria escrever um livro referente à favela e citaria tudo que se passa e o que elas fazem e as cenas desagradáveis que as fornecem á ela. Carolina tolera criança, não encontra defeitos nelas, dirigia a elas com palavras agradáveis, mesmo aquelas que eram influenciadas pelas mães a falar mal.


Carolina guerreira catava papel, ferros e estopas, pegava alguns alimentos no lixo, com receio, mas de fome ela não queria morrer, na feira catava os legumes que eram desprezados e no Frigorifico ganhava alguns ossos, se virava como podia. Faz 8 anos que catava papel, mas seu desgosto era residir na favela e seu sonho era morar numa casa de alvenaria.


As brigas entre os casais da favela eram constantes, o show sempre ao ar livre, as mulheres desnudas e o bate boca muitas vezes varavam a noite, a diversão na favela para muitos era a bebida, bebiam por tristeza ou alegria e assim as brigas mudavam o rumo, era entre vizinhos, aqui tudo se resolvia na violência, Carolina era contra, para ela o dialogo bastava, como não resolvia ela apelava para Rádio Patrulha, para ela a melhor coisa a fazer era escrever em seu diário ou ler um livro.


Ela não se casou, porque as condições que os homens impunham eram horríveis, e muitas mulheres casadas da favela são obrigadas a pedir esmolas e são sustentadas por associações de caridade, enquanto seus maridos estão em casa dormindo ou curando-se de embriaguez.


Na época de eleição os políticos visitavam a favela para pedir votos e fazer promessas que nunca eram cumpridas, os problemas sociais estavam presentes, faltava saneamento básico, atendimento médico, moradias dignas, sem falar da alimentação adequada para este povo. Quando procurava o serviço social ela se sentia triste, com o descaso com que os pobres eram tratados.


A prostituição de menores, o abuso sexual e o uso de drogas são os outros problemas citados por ela, comparava também a vida na favela onde havia excremento e barro podre com a da cidade, que era a sala de visita e a favela era um objeto fora de uso. O dono do Centro Espirita da Rua Vergueiro 103 dava auxilio os pobres favelados, ajudava-os com comida e agasalhos.
Frei Luiz administrava a catequese para as crianças, passava filmes bíblicos para os demais interessados e tinha também um carro capela, de onde fazia as missas para os favelados, tudo isso a fim de transmitir um ar cristão para este povo tão descrente com a vida que leva.


As Editoras do Brasil que Carolina tentou enviar seu livro, não deram esperanças a ela, então resolveu enviar seu livro para uma Editora nos Estados Unidos. Sua mãe formou seu caráter, ensinou a gostar dos humildes, então ela sempre tinha uma palavra amiga ou de sabedoria para falar a alguém que esta desenganada pela vida.
No correio ao retirar seus cadernos que retornaram dos Estados Unidos, ficou muito decepcionada com a devolução de sua obra original, sua vontade foi de queimá-los.
Tinha alguns pretendentes, mas os esquivava, seu Manoel era o que ela tinha o maior respeito, relata que era um homem gentil e educado, ia de casa para o trabalho e do trabalho para casa e não se via envolvido em escândalos. Teve cena de ciúmes da parte do senhor Manoel, pois Carolina estava muito ligada com um cigano viúvo que recém residia na favela, mas com o passar do tempo Carolina percebeu as intenções do cigano e não deu muita importância ao vê-lo partir e as coisas melhoraram com o senhor Manuel.


O repórter Audálio Dantas ficou impressionado com os relatos dela no diário, marcou uma entrevista e pontualmente chegou a casa de Carolina, tomaram um taxi e foram para o Largo do Arouche, tiraram varias fotos para a revista Cruzeiro. Carolina várias vezes indisposta, sem forças, trabalhando com fome, quase desmaiando, não podia desanimar tinha que levar comida para o lar, era desiludida com os homens, seus filhos eram de pais diferentes, ela relatava que o pai de Vera é bem de vida, dono de oficina, ajudava pouco a menina e sempre atrasava o depósito da pensão, mas mesmo assim nunca revelou seu nome no livro, a pedido dele.


Sua reportagem saiu dia 10 de junho de 1959 na revista Cruzeiro, leu e ficou contente, pensou em agradecer o repórter, só algumas mulheres da favela não gostaram, pois acham que esta desmoralizando o local onde vivem. As pessoas a reconheciam na rua e a parabenizavam, uma moça loira veio a sua casa com a revista nas mãos, levou-a no Diário para conseguir um auxilio.
Carolina com sua rotina interminável, parecia nunca mais ter fim esta vida miserável, encerrou seu livro 1 de Janeiro de 1960, com a mais usada das frases “Levantei as 5 horas e fui carregar água.”

CONCLUSÃO

O diário de Carolina é narrado por ela, e é totalmente de linguagem coloquial, apresenta alguns erros ortográficos, de escrita simples e objetiva, para uma pessoa que possuía pouco estudo e recurso, pode se dizer que esta bem colocada.
A ideia que ela passa da pobreza e da miséria projeta-se na mente, como uma pessoa que era empregada doméstica pode acabar na favela catando materiais reutilizáveis para sobreviver? Isto é uma incógnita.
A vida indigna era de revolta, mas nem isso e nem as brigas na favela a desviaram do caminho, preferia escrever ou ler, a se revoltar. Lutou para sobreviver e criar seus filhos, é um ato de amor e acreditou na publicação de seu livro, ganhou algum dinheiro, o suficiente para deixar a favela, mas não o bastante para abolir a pobreza. A lição que se aprende neste livro é de superação, valores e amor à família.

REFERÊCIA BIBLIOGRAFICA

JESUS, Carolina Maria de. Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada.
6ª edição. São Paulo: Editora Ática, 1997.

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