CALVINO, Italo. O barão nas árvores. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009.
O Barão das Árvores de Italo Calvino, traduzido por Nilson Moulin, é um livro simples, fácil e gostoso de ler. Tem também uma resenha musical do grupo Cordel do Fogo Encantado - trata-se da música O listech (também conhecida como O barão das árvores) do terceiro e último álbum Transfiguração. Como diz a canção:
“Contarei a história do barão
Que comia na mesa com seu pai
Era herdeiro primeiro dos currais
Mas gritou num jantar
‘Não quero nada!’
Nesse dia subiu num grande galho
Nunca mais o barão pisou na terra”
A diferença é que no livro Cosme é o herdeiro do Barão de Rondo. O pai era um fidalgo que aspirava a títulos mais elevados, como duque, e por isso fazia questão da etiqueta dos filhos (além de Cosmo, havia Biagio, o irmão mais novo, e Batista, a irmã maluca que gostava de caçar caracóis, ratos e nojentos animais), sempre com a esperança de ser convidado para uma festa ou outro grande evento para promover uma possível candidatura ao ducado. A mãe era chamada de general porque suas preocupações eram de natureza militar.
Por pressão familiar, principalmente do pai, e caprichos da irmã, Cosme decide não comer a sopa de caracóis preparada por Batista no almoço:
“Recordo (a história toda é narrada pelo irmão Biágio) que soprava vento do mar e mexiam-se as folhas. Cosme disse: ‘Já falei que não quero e não quero!’, e afastou o prato de escargots. Nunca tínhamos visto desobediência tão grave” (p. 7).
– C’est chez vous, mon cher chevalier, qu’il y a ce fameux philosophe qui vit sur les arbres comme un singe? [É em sua terra, meu caro cavaleiro, que tem o famoso filósofo que vive sobre as árvores como um macaco?]
E eu, lisonjeado, não pude me conter ao lhe responder:
– C’est mon frère, monsieur, le baron de Rondeau. [É meu irmão, senhor, o barão de Rondó]
Voltaire ficou muito surpreso, talez pelo fato de que o irmão daquele fenômeno parecesse uma pessoa tão normal, e se pôs a fazer-me perguntas, como:
– Mais c’est pour approcher du ciel, que votre frère reste là-haut? [Mas é para se aproximar do céu, que seu irmão fica lá no alto?]
– Meu irmão afirma – respondi – que aquele que pretende observar bem a terra deve manter a necessária distância. – E Voltaire apreciou muito a resposta.
– Jadis, c’était seulement la Nature qui créait des phénomènes vivants – concluiu –; maintenant c’est la Raison. [Antes, era somente a Natureza quem criava fenômenos vivos; agora é a Razão] – E o velho sábio mergulhou de novo na conversa das suas hipócritas teístas” (pp. 157-158).
O episódio brinca com as recepções realizadas nos palácios parisienses, frequentemente frequentadas por figuras como Voltaire. Houve leituras de obras, interpretações de peças musicais e teatrais, cortejo de moças e muita comida e bebida. Mesmo nesses lugares as idéias mais recentes foram discutidas, como Voltaire faz nesta passagem, quando faz uma pequena observação sobre a criação da Razão, que substitui a Natureza. Aqui vale lembrar a ideia de que uma pessoa nasce no século XVIII (essa ideia é de Michel Foucault e está em Les mots et les choice [Palavras e Coisas]), ou seja, é nesse momento que um ser vê a si mesmo como pessoa, como um ser diferente dos outros seres, ou seja, dotado de Razão (é uma ideia que surge já naquele período do Renascimento, na Itália, mas permanece pouco desenvolvida até o Iluminismo).
Depois houve episódios da Revolução Francesa, que o barão das árvores decidiu apoiar. Ele conhece os soldados de Napoleão e depois os soldados russos, que seguiram os passos do exército ocidental derrotado pelo frio da Rússia e recuaram.
Cosimo passou por outras aventuras como combate a piratas e incêndios. Foi declarado bobo e filósofo... Também se apaixonou, mas só quem já leu o livro saberá dessa parte, pois uma das partes mais tocantes não pode faltar nessa simples resenha.
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