CORTINA, Adela. Aporofobia, a aversão ao pobre: um desafio para a democracia. SãoPaulo: Ed.Contracorrente, 2020
A Editora Contracorrente tem a satisfação de oferecer ao público brasileiro a tradução de “Aporofobia, a aversão ao pobre: um desafio para a democracia”, de autoria de Adela Cortina, uma das mais destacadas filósofas da atualidade.“Aporofobia”, o neologismo que dá nome ao medo, rejeição ou aversão aos pobres, foi escolhido como a palavra do ano 2017 pela Fundación del Español Urgente (Fundéu) e incorporado ao Diccionario de la lengua española no mesmo ano.Segunda a autora, aqueles que produzem verdadeira fobia são os pobres. Os estrangeiros com dinheiro não produzem rejeição. Ao contrário, espera-se que tragam recursos e são recebidos com entusiasmo. Aqueles que inspiram desprezo são os pobres, aqueles que parecem não poder oferecer nada de bom, sejam eles migrantes ou refugiados políticos. E, no entanto, não havia nome para essa realidade social inegável. Diante de tal situação, Adela Cortina procurou no léxico grego a palavra “aporos”, que significa pobre, e cunhou o termo “aporofobia”. Além de definir e contextualizar o termo, ela explica a predisposição que todos nós temos para esta fobia e propõe formas de superá-la através da educação, da eliminação das desigualdades econômicas, da promoção de uma democracia que leva a igualdade a sério e da promoção de uma hospitalidade cosmopolita.Com prefácio de Jessé Souza, o livro é de leitura obrigatória não somente para conhecer o termo “aporofobia”, mas também para compreender melhor esse fenômeno que marca a sociedade brasileira.
Desde 1992, 17 de outubro é o Dia Internacional para a Eliminação da Pobreza (INTERNACIONAL, s. d.). E, enquanto for "celebrado" é para confirmar a sua derrota. A redução da pobreza faz parte da Agenda 20302, que é um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), identificados pela Organização das Nações Unidas (ONU). Publicado em novembro de 2020 pela Contracorrente/São Paulo. Apresenta tradução de Daniel Fabre e prefácio de Jessé Souza, organizado em oito capítulos.
Como autor desta edição, é Professor Emérito de Filosofia Ética e Política da Universidade de Valência. Diretor de Educação da Fundación ÉTNOR (Ética Empresarial e Organização Empresarial). A primeira mulher a ingressar, em 2008 (VILARES, 2014), como membro titular da Real Academia Espanhola de Ciência Política e Ética (fundada em 1857, 2019 já estava constituída), publicou o livro Ética y filosofía politica: Homenaje a Adela Cortina. Honoris Causa de várias universidades na Europa e América Latina. Integrou o júri dos prémios Príncipe de Astúrias de "Comunicações, Humanidades" e "Ciências Sociais". Assim é “um dos mais proeminentes filósofos do nosso tempo” (CONTRACORRENTE, s. d.).
Podemos até saber muito, e por muito tempo, sobre a inegável presença da pobreza e da miséria na vida real da sociedade. No entanto, o fenómeno (social e económico) que todos tendemos a albergar e as propostas para o ultrapassar, permanece sem nome: a aporofobia. A palavra, retirada do dicionário grego aporos (não procure ajuda) e vicebos (medo; assustado), já está disponível, graças a Adela Cortina.
Em 2017, aporofobia foi escolhida pela Fundación del Español Urgente (Fundéu/Banco Bilbao Vizcaya Argentaria [BBVA]) como a palavra do ano. Está incluído no Diccionario de la lengua española, da Real Academia Española (REA) e da Associación de Academias de la Lengua Española (ASALE). A versão online diz: “aporofobia –del gr. ἄποροςáporos 'pobreza de recursos' e -medo, termo cunhado pelo filósofo espanhol A. Cortina. 1. culto. A obsessão pelos pobres e pelos pobres. ” (REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, 2020). A presença do dicionário é um acréscimo ao autor, conforme relata no livro (CORTINA, 2020, pág. 28).
No entanto, até que o neologismo seja reconhecido e hoje seja possível encontrar "cerca de 273.000 resultados em 0,39 segundos", quando você pergunta porofobia em um mecanismo de busca na Internet3, a jornada é longa. A primeira publicação do termo foi na década de 1990, no ABC Cultural ([1995] MIRANDA, 2020), para mostrar a importante distinção entre "nação dentro do país" ou "racismo". eles. estado de pobreza. Com seu discurso alucinante e divertido, como os do TEDxUPValència(2018)4, Adela Cortina é uma mulher branca, de cabelos curtos e escrita acessível. Pelo resumo, percebe-se a diversidade e a interdisciplinaridade de sua obra. Utiliza referências a áreas e temas como ética, ética, bioética, economia, filosofia, biologia, neurociência, política, direitos civis, democracia, métodos O método de comunicação, educação, na constituição propõe a hospitalidade em todos os lugares.
A introdução começa por distinguir xenofobia, xenofobia e aporofobia, ambientada em 20165, com um grande número de estrangeiros a entrar na Europa. No entanto, eles foram divididos. Não tratados, abandonados, porque são de outros lugares. Mas sim, pelo estado em que se encontravam quando cruzaram a fronteira. Simplificando, pessoas de outros países que não trazem recursos, refugiados, imigrantes, não serão aceitos. E paredes são construídas para detê-lo. Para os expatriados que trarão serviços, turistas, foi criado até um curso de formação para eles: Hospitality Science (APOROFOBIA, 2018). A obsessão é pelos pobres, ou seja, por aqueles que (em sua maioria) não têm dinheiro. É a principal moeda de troca do contrato social em que vivemos hoje. Essa identificação é então selecionada, compartilhada e divulgada ao público. A Apore, porque não exerce as suas funções no atual sistema contratual, porque não participa especificamente da economia, não quer estar na sociedade. A aporofobia mostra a violência no tratamento dos pobres.
Uma forma possível de lidar com os movimentos irracionais, “ataques diários, quase invisíveis, contra a dignidade humana, o bem-estar social e a felicidade” (CORTINA, 2020, p. 19. Os colchetes são meus) para alcançar a independência. A formação de cidadãos compassivos e responsáveis, por meio de processos de educação, diálogo e consulta, baseia-se na flexibilidade de nosso cérebro biossocial: ser influente na sociedade. . A vinculação poderia significar o fim de tal violência, “[...] se valorizarmos, ao menos essas duas chaves de nossa cultura, o respeito pela igual dignidade da pessoa humana. e a compaixão” (CORTINA, 2020, p. 19) . É um processo complexo, envolvendo muitos requisitos diferentes, à medida que o escritor avança no livro.
No primeiro capítulo, "Ferida sem nome", é explicada a necessidade de nomear a si mesmo, para que você não precise mais apontar o dedo. Um exemplo é tirado de Cem Anos de Solidão, do colombiano Gabriel Garcia Marques. Ter o nome de trazer-se à consciência e, assim, ser capaz de refletir sobre ela (e, neste caso, transcendê-la).
Em Crimes de ódio contra os pobres, o autor apresenta uma reviravolta, muitas vezes usada pela mídia, para culpar os pobres, e não os pobres. Preconceito, promoção de crimes de ódio, incidentes de ódio e discurso de ódio. O crime afeta uma pessoa se ela for identificada como um grupo dos chamados inferiores. A vítima deixa de ser o sujeito e passa a ser o meio. Assim, é um ataque ao individual, com o objetivo de atingir o coletivo: mulheres, negros, LGBTQIA+, pobres. A alegoria do lobo e da ovelha de La Fontaine (In: GLUCKSMANN, 2007) é utilizada para indicar as categorias de crimes de ódio: o primeiro aspecto é que a pessoa é considerada infinita: um, um, de pé, estuprando o nome do agressor. quem quer atacar (desigualdade, não reconhecimento, dignidade, justiça). A discriminação contra pessoas e grupos supostamente feridos é o segundo fator. Eles são considerados perigosos para a sociedade, mesmo que não tenham provas. O terceiro fator é incitar a violência espalhando mentiras. Naturalizar a desigualdade entre vítimas e agressores obscurece o fato de que “a fonte do ódio e do desprezo são os odiadores, não os odiados” (CORTINA, 2020, p. 34). O quarto elemento que distingue o "seu" do "nosso" é a criação de lobos e ovelhas: "pessoas de outra raça (racista), de outra raça (xenofobia), de sexo diferente (atitudes femininas), de orientação sexual diferente (homofobia), de uma religião em particular (cristianismo ou islamofobia), ou de um ambiente social perigoso (por exemplo, medo de aporofobia)”. (CORTINA, 2020, pág. 40) Por fim, como quinto elemento, a produção do discurso de ódio: “Falar é fazer” (CORTINA, 2020, p. 66) Quando não há conflito, Para Cortina, educação formal e informal, através da comunicação, da ação social, das instituições e da sociedade, começando por abordar a desigualdade, abordando a pobreza, é o começo dos lobos racionais, as suspeitas são anunciadas por vingança, e deixam as ovelhas, os pastores, os cães, . . .
A seguir, o autor apresenta a falta de regulamentação sobre o discurso de ódio, dependendo das ações do governo de cada país6. Por estarem tão distantes dos valores da cultura democrática que deveriam ser iguais e livres, as três manifestações do discurso de ódio são: monólogo, violência e violação de cada lei, e assimétrico. Para um filósofo, quando a lei não basta, a moral é a alternativa. Porque, “no conflito entre discurso de ódio e liberdade de expressão, não bastam soluções legais, mas também é muito importante promover a ética democrática”. (CORTINA, 2020, pp. 62-63).
Os próximos dois capítulos, "Nosso cérebro é aporofóbico" e "Consciência e fama", são uma viagem do passado ao nosso eu interior, com fontes que vão desde textos bíblicos e filosofia, até biologia e neurociência. A lacuna da democracia, entre o texto e a vida, e sua capacidade de transpor essas montanhas, é uma confirmação da plasticidade de nossos cérebros, influenciados pela sociedade. Assim, a resiliência (CORTINA, 2020, p. 92), com expectativa de repetição (CORTINA, 2020, p. 92), pode romper lugares familiares. Ou seja, o altruísmo não se limitará a grupos de pares. A transformação dos valores sociais e individuais. As ações de educação e assistência social, somadas ao poder intuitivo proporcionado pelas redes sociais virtuais, podem ser combinadas de métodos e ferramentas, para facilitar, por exemplo, como integração e participação, é possível “passar” o contrato de troca de gestão.
Em "Improving Bioethics", Adela Cortina explora a relação entre a biologia e a filosofia (bioética, neuroética, biodiálogo, metafísica), pela falta ou falta dela: o acesso à educação impedirá o desenvolvimento da consciência individual e social. Neste ponto, considere se os recursos biomédicos de engenharia podem ser usados. Porém, não perca de vista a reflexão e as questões éticas. Percebendo que este é um tema delicado, fazemos questão de ressaltar: acessibilidade às pessoas, previsibilidade de resultados (limitações e riscos como a eugenia7), são as forças motrizes por trás do comportamento. Este último, indicado por pesquisas que indicam que “a ética tem uma base biológica, ou seja, as emoções, que estão intimamente relacionadas à motivação”. (CORTINA, 2020, pág. 137). No entanto, para utilizar esses recursos, é necessária uma ética comum, que deve ser defendida por eles mesmos e por todos. Ao final, concluiu que a biomedicina ainda possui muitas limitações. Portanto, ele também usa a educação, formal e informal, ao compartilhar conhecimento, “sofrimento e alegria, viver com compaixão, continua sendo a melhor escola” (CORTINA, 2020, página 145) para incentivar o comportamento.
No capítulo anterior, a abordagem foi direto ao problema: "Eliminando a pobreza, reduzindo a desigualdade". Adela Cortina melhora os resultados e escapa da pobreza. Revela o direito do indivíduo como autor da obra enquanto comunidade, com base em referências a, entre outros, os filósofos gregos, Adam Smith, Immanuel Kant , Amartya Sen. E, novamente, ele aponta, é uma questão de educação, estendendo a responsabilidade às famílias, à mídia, avaliando a distribuição e o crescimento econômico. Trata-se de ultrapassar os “[s] de efeito contratual” (CORTINA, 2020, pág. 174. Os parênteses são meus.), dos acordos que os acompanham, não ajudando “os que estão fora do jogo. troca” (CORTINA, 2020, p. .174). Por tal,
[...] ética da boa razão,[...] sabendo da importância dos acordos para a vida política, econômica e social[...mostra] uma forma de responsabilidade do outro humano [enraizado] na aliança. A solidariedade daqueles que se veem como iguais, como seres humanos dotados de dignidade, não só de valor, como pessoas vulneráveis que precisam de justiça, mas também de cuidado e compaixão. (CORTINA, 2020, pp. 174-175.
Como a luz no fim do túnel, a conclusão deste livro oferece a "Hospitalidade Internacional" do futuro. Para ser melhor, concorde em construir uma sociedade internacional. Em suas propostas, como políticas de acolhimento e integração (CORTINA, 2020, p. 195), visa distanciar-se de ideais e utopias. Além disso, para avançar na Agenda 2030, ele acredita que "é necessária uma governança global, em um país democrático ou em uma coalizão de nações, mas o ponto principal é a hospitalidade universal, que pode fazer do mundo um lar comum para todos, como um dever de justiça". (CORTINA, 2020, página 197).
Jessé Souza (na contracapa e no prefácio) menciona que "quase metade da humanidade" vive a pobreza, e que "entender as razões de discriminar os excluídos e os excluídos para serem marginalizados é entender porque não podemos nos colocar, forçosamente , autenticamente e com compromisso, no lugar mais vulnerável e vulnerável de todos.” Porém, se segundo Alysson Leandro Mascaro (na segunda orelha), os pobres, “um importante indicador da estrutura social”, são a “cola da exploração " (e deveria ser o "primeiro objeto de crítica" das "formas capitalistas de sociedade")." ), talvez o problema não seja a incapacidade de colocá-las "com força, honestidade e devoção, no lugar dos outros", mas sim , para criar e manter, este "outro" (mais precisamente visível para quem quer ver, não morto por pedra, fogo, fome, frio, ...).
Dada a abrangência do modelo, uma sociedade inclusiva é possível. Ensinar é uma forma de proteger a dignidade de todas as pessoas. É um processo institucionalizado (lei) que promove um tipo de democracia que permite aos cidadãos vivenciar a hospitalidade internacional. O objetivo é atualizar como a socialização funciona usando a plasticidade e o impacto social do cérebro humano. Um senso de moralidade e responsabilidade moral, do indivíduo, é a cura, não apenas para aporofobia.
Agora que isso foi dito, o ódio aos pobres entra na consciência, no diálogo, na crítica e no confronto. Tal como acontece com outras "fobias" (e outras formas de discriminação), é importante reconhecer que temos medo para continuar a atender à necessidade de mudança social e cultural, para evitá-los. É pela assimetria, alto e baixo, baseada no ódio, na negação da dignidade humana, que persistem as patologias sociais.
No caso do Brasil, é a crença do filósofo no processo educacional, vale lembrar que estamos comemorando o centenário de nascimento do nosso professor Paulo Freire, em 2021. os presos, presos escravizados e mortos, e os nativos locais , também capturados, escravizados e mortos, a pobreza aqui tem muito a ver com raça. Os resultados do processo de projeto colonial ainda são consistentes com a realidade atual. Vivemos tempos de “expurgo” dos doadores para a educação, conforme refletido no plano de governo do presidente eleito do partido republicano.
Sabendo que além da natureza do dinheiro, como “condutor”, “sem gosto e sem cor” (SIMMEL, 2005, p.25), “ninguém pode dar nada em troca” ( CORTINA, 2020, p. 29). Mas a raça superior branca está disposta a "quebrar o acordo" (WERNEK, 2020, pp. 138; PIRES, 2020, p. 141)? "Ao perder o poder especial do clube humano" (PIRES, 2020, 142.)
“A pobreza é evitável” (CORTINA, 2020, p.153). Essa é a garantia, desejo e recomendação de Adela Cortina. Num contexto ético e político, pensar de forma mais ampla, discutir o desenvolvimento humano proporciona tecnologia e desumanização. Das causas às dificuldades de combate, quando terminamos de ler o livro, somos impelidos a agir. Seu debate é atual, especialmente diante da atual situação da pandemia. Para qualquer pessoa interessada no tema, seja você um especialista no assunto ou não.
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