1. Primeiramente,
fale-nos um pouco sobre você.
Sou o Marcos, 35 anos, casado, bacharel em Administração. Apaixonado por música, sei tocar 5 instrumentos musicais e aprendi quase tudo sozinho. Tinha o sonho de fazer sucesso na música, com uma banda que misturava os estilos New Metal e Gothic Metal. Uma das poucas coisas que prendem minha atenção, além da música, são histórias. Não importa o meio utilizado para contá-las. Mesmo assim, me identifico mais com a criação de textos. Sinto-me mais livre para ir e voltar, escrever e apagar, reescrever de novo.
2. Há quanto tempo você
escreve, como começou?
Crio histórias e poesias desde que
sei escrever. Na escola costumava ser convidado a ler meus textos para outras
turmas, no entanto fazia sem levar muito à sério, sem ambições. Escrever mesmo
foi com uns 16 anos.
Comecei por incentivo de uma
professora de português, ela pediu para a sala criar algo parecido com a poesia
“Psicologia de Um Vencido” de Augusto dos Anjos. Eu criei e ela me chamou para
conversar depois da aula, disse ter notado talento em mim. Daí sugeriu que eu
tentasse me aventurar pela escrita, explorar estilos... Eu segui o conselho e
continuo
seguindo até hoje. Escrevi poesias e
letras de música para minha banda, ganhei diversos concursos em redes sociais e
agora publiquei meu primeiro livro de ficção, um thriller.
3. Você teria algum
segredo de escrita? Algo que faça com que você se sinta inspirada/o antes de
iniciar um novo livro?
Observo tudo ao meu redor, tudo
mesmo. Para mim o complemento da frase “Já pensou se...?” É sempre um bom
começo para uma história de qualquer gênero.
4. Quais foram suas principais
referências na literatura, arte e/ou cinema?
Gosto de me inspirar em personagens
complexos e cheios de camadas, diálogos naturais e tramas que tragam elementos
fora do clichê. Para mim o gênero literário pouco importa, porque leio mais com
o intuito de estudar técnicas de escrita do que por hobby.
Minhas principais referências são: a
criação de personagens de “Breaking Bad” e “Better Call Saul”, a atmosfera de
“Millenium, os homens que não amavam as mulheres”, “Game of Thrones” com
relação aos pontos de vista, e a fluidez estranha de Chuck Palahniuk...
5. Qual foi seu trabalho
mais desafiador até hoje em relação à escrita?
Foi meu livro Velhos Rebeldes.
Finalizar uma história longa foi bem difícil. Exigiu muita disciplina e
organização do tempo.
6. Qual a parte mais
difícil de se escrever um livro?
Conciliar com a vida pessoal. Enquanto não se é um escritor profissional, dividir o ofício com as obrigações é bem complicado.
7. Qual foi seu primeiro
livro, o que pensou ao iniciar sua escrita? o que te incentivou?
Velhos Rebeldes. Na época eu já
trabalhava em outro livro, uma ficção histórica que procrastinei por cerca de 12
anos. Mas num dia vi uma reportagem sobre idosos sofrendo maus-tratos em um
asilo. Conclui que um fator determinante para que aquilo estivesse acontecendo,
além da crueldade dos funcionários da casa de repouso, era o afastamento dos
familiares. Depois ainda busquei mais reportagens sobre o assunto. Numa delas,
a proprietária de um asilo comentou que os familiares costumam sumir. Só dão as
caras mesmo quando são informados sobre a morte do idoso que deixaram lá. Daí
aparecem só porque precisam cuidar das burocracias do enterro... Senão... Essas
matérias me incentivaram a criar a história. Imaginei o “Já pensou se...?” E complementei
com “... um grupo de idosos conseguisse dar um jeito de se revoltar contra aquela
situação sozinhos?!” Haveriam muitos riscos para eles, dificuldades físicas e
psicológicas, incertezas, perigos... Pronto! Para uma boa história não faltava
mais nada.
8. Tem algum personagem
que você tenha criado ao qual foi difícil desapegar?
Os três protagonistas, Ivone, Agenor
e Sidney, são muito especiais. Esforcei-me ao máximo para deixá-los tão
complexos quanto um ser humano é: cheios de qualidades, defeitos, opiniões,
preconceitos, manias... Por isso sinto como se os conhecesse na vida real.
9. Quais são suas
principais referências literárias na hora de escrever?
Gosto do André Vianco e também dos
meus amigos de editora, tem muita coisa boa surgindo por lá. Também me inspiro
em Chuck Palahniuk, George R. R. Martin, Stieg Larsson, Dan Brown, Bernard
Cornwell.
10. Você teria algum
segredo de escrita? Algo que faça com que você se sinta inspirada/o antes de
iniciar a escrita de um novo livro?
Tiro todas as distrações do caminho
antes de sentar para escrever, porque tenho sérios problemas em me concentrar.
Quanto mais fora de alcance estiverem as armadilhas para a mente, melhor.
11. Você reúne notas,
anotações, músicas, filmes e/ou fotografias para se inspirar durante a escrita?
Sim, organizo num bloco de notas do celular. Nunca se sabe quando virá uma boa sacada para enriquecer a história, minha única certeza é de que vou esquecer. Por isso anoto tudo, por mais bobo que pareça à princípio. Pra falar a verdade, escrevi meu livro inteiro no celular. Usei o Word somente para backup e, por fim, para formatar, colocar os travessões e diagramar.
Também gosto de estudar sobre o
assunto do qual estou escrevendo, ver vídeos, desenvolver opiniões, seguir
influenciadores que compartilhem conteúdo relacionado...Enfim, mergulhar no
universo dos temas da história.
12. O que você faz para
driblar a ausência de criatividade que bate e trava alguns momentos da escrita?
Existe algo que você faça para impedir ou driblar estes momentos?
Acho isso natural, então simplesmente
deixo o texto marinar de um dia pro outro, sem peso algum. Enquanto isso vejo
outras coisas, assisto filmes de outros gêneros... Paro de pensar na história
empacada. Depois volto algumas páginas e leio como se a história não fosse minha.
Daí pra frente as coisas fluem.
Comigo sempre dá certo.
13. A maioria dos autores
possuem contatos e amigos de confiança para mostrar o progresso do seu trabalho
durante o percurso da escrita. Você teria um time de “leitores beta”, para
analisar seu livro antes de prosseguir com a escrita?
Minha esposa sempre me ajuda com
isso. Leio alguns trechos e ela me conta as imagens que lhe vieram à mente e as
sensações que teve. Ela tem um pensamento bem rápido e logo brotam dezenas de
sugestões para eu analisar.
14. Qual a parte mais
complicada durante a escrita?
Arrumar tempo para escrever. Como sou
mais produtivo de madrugada, é difícil conseguir
usar meus melhores horários sem prejudicar a vida pessoal no dia seguinte.
15. Você prefere escrever
diversas páginas por dia durante longas jornadas de escrita ou escrever um
pouco todos os dias? O que funciona melhor para você?
Um pouco todos os dias. Assim consigo
manter a qualidade por estar mais atento.
16. Em relação ao mercado
literário atual: o que você acha que deve melhorar? Acho que as coisas têm tomado um caminho de
melhora para escritores nacionais. Temos mais opções de editoras, com modelos de
publicação facilitada, e um movimento de apoio à autores brasileiros que tem
crescido bastante. Estou otimista com tudo isso. Não que já estejamos no melhor
dos mundos, mas a melhora que almejo para o mercado literário atual é apenas
ver essa nova cultura se proliferar mais rápido.
17. A maioria das pessoas
não conseguem se manter ativas em vários projetos, como funciona para você,
você escreve vários rascunhos de diferentes obras ou se mantém até o final
durante o processo de um único livro? Eu prefiro me dedicar a
um projeto por vez. Quando estou em uma história, quero utilizar
todo o meu potencial nela. Dar o
máximo do meu tempo disponível, do pensamento, da criatividade e do foco.
18. O que motiva você a
continuar escrevendo?
Eu gosto muito de escrever, é algo
divertido para mim.
Além disso, tenho uma ambição bem extravagante de ver algo mudar nas pessoas que cruzam com minhas histórias, sabe? Conduzir os leitores a refletir sobre algum assunto que não pararam para pensar ainda. Tudo inserido no contexto de uma trama com todas as
características de um simples
entretenimento.
Histórias têm muito poder, desde que o mundo é mundo elas são usadas para tatuar em nosso subconsciente os valores morais que carregaremos para o resto de nossas vidas.
19. Que conselho você
daria para quem está começando agora?
As pessoas leem ficção por um motivo
principal, não importa o gênero da ficção. Leitores, em geral, buscam uma
história que proporcione uma forte experiência emocional. Aí vai de você
escolher qual tipo de emoção quer causar. Então pense nisso, pois muda
totalmente a forma como escrevemos. Pense nisso quando bater aquela sede de
mostrar uma palavra requintada que acabou de aprender, ou quando tentar imitar
o estilo de algum autor famoso. Lembre-se das emoções, isso é o principal.
20. Para você, qual o
maior desafio para um autor/a no cenário atual? Você tem algum hábito ou rotina
de escrita?
Hoje em dia você precisa ser autor e influenciador digital. Esse é o maior desafio, não basta se desenvolver na escrita. Minha impressão é de que mais vale agradar algoritmos do que leitores. Muitas vezes me pego pensando nisso.
21. Como você enxerga o
cenário literário atual e a recepção dos leitores da atualidade em relação aos
novos autores?
Como em qualquer produto, ninguém
quer ser cobaia de nada. Ninguém quer arriscar o próprio tempo e dinheiro numa
aposta incerta, vejo isso com naturalidade também, sei que não é algo próprio
da atualidade e nem do mercado literário em si. É assim com tudo o que se
compra e vende, sempre foi assim e sempre será. Por outro lado, vejo as redes
sociais como uma opção. Mais vozes podem ter a chance de ser ouvidas hoje em
dia. Você pode alcançar seus leitores aos poucos, pode receber avaliações, ser
comentado, ser visto... Antigamente isso era quase impossível, mas hoje vejo
isso começando a acontecer.
22. Se pudesse indicar
quatro obras literárias que te inspiraram, quais seriam?
Os Homens que Não Amavam as Mulheres,
Clube da Luta, A Guerra dos Tronos, Código da Vinci. Cada um por detalhes
específicos na forma de escrever, não pela história em si ou pelo gênero.
23. Que conselho você
daria para quem está começando a escrita do primeiro livro?
Tenha fé em seus projetos e sonhos.
Sei como é difícil acreditar em histórias ainda nem escritas, mas acredite,
mesmo o sucesso parecendo tão distante.
E por “sucesso” não falo
especificamente de fama. Falo em terminar uma história, uma história na qual
você olhe para o resultado e ame de verdade! E que seja tão boa quanto lhe pareceu
naquele dia, quando a inspiração fecundou sua mente com uma ideia muito louca. Essa
fé não é uma linha reta, às vezes ela cai, tendo como o principal sintoma a tal
da
procrastinação. Por outros momentos
ela sobe de volta, e é quando você vira um monstro devorador de teclas,
escrevendo feito louco sem ver o tempo passar. O importante é essa montanha
russa não parar. Siga em frente escrevendo como conseguir.
24. O que esperar para o
ano de 2023 em relação à sua escrita?
2022 foi um ano de muitos esforços,
desafios e muitas dificuldades. Foi sofrido, mas também houve muito
aprendizado. Agora para 2023, podem esperar um Marcos muito mais amadurecido em
todos os sentidos. Foi um crescimento expressivo, chego a não me reconhecer às
vezes. Estou ansioso para iniciar novos projetos e ver como essa minha nova
versão de mim mesmo vai se sair. Todos estão convidados a me acompanhar nas
redes sociais, será um prazer
recebe-los. @autormarcosmiranda
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