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[RESENHA #505] A ilusão da alma: biografia de uma ideia fixa, de Eduardo Giannetti

São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

O livro segue a história de um homem que foi submetido a uma neurocirurgia devido a um tipo de câncer chamado oligodendroglioma. A primeira parte do romance descreve o estopim para a cirurgia, tratando sobre o diagnóstico, as comorbidades e sintomas da doença. O autor, de forma introspectiva, tenta racionalizar possíveis diagnósticos até que é forçado a buscar ajuda especializada. A segunda parte do livro relata a cirurgia e a recuperação, enquanto a última parte se concentra nos efeitos e consequências a longo prazo da doença.

Durante sua breve consulta com o doutor Jordão e o doutor Nelson Tardelli, o protagonista é apresentado a um novo paradigma da neurociência. Esta descoberta o inspira a embarcar em uma epopeia particular de longos anos de estudos e investigação. O protagonista continua sua jornada lendo os trabalhos de grandes nomes da literatura e os experimentos e artigos dos novos pesquisadores da neurociência, refletindo as suas ideias e aprofundando a sua compreensão do tema.

Giannetti embarca na jornada de autodescoberta e desenvolvimento pessoal, onde procura entender a própria existência e o porquê de estar vivendo com um tumor desconhecido. A jornada envolve uma profunda análise da natureza e dos sistemas físicos, bem como a exploração de filosofias científicas e humanistas. Ele encontra as respostas às suas perguntas ao embarcar em uma viagem de autoconsciência, que o leva a conhecer grandes autores, como Demócrito, Épicuro, William James, e outros pensadores científicos e filosóficos. Ao final da jornada, Giannetti descobre que, ao aceitar a realidade do seu tumor, ele também aceita a incerteza e o mistério da vida. Ele abraça o ceticismo, rejeita o mentalismo e a psicologia intuitiva, e se aproxima de uma filosofia materialista, reducionista e realista. Aprende a encontrar significado na incerteza e a aceitar o destino, ao mesmo tempo em que descobre o papel da ciência na busca da verdade.

Após a remoção de um tumor cerebral, o jovem professor de literatura decide se isolar do mundo e começar a estudar a relação entre o cérebro e a mente. Esta jornada é o tema central de "A Ilusão da Alma: Biografia de uma Ideia Fixa" (Companhia das Letras, 2010), que explora a história e a filosofia.

O protagonista desta história, desde os gregos antigos até a neurociência moderna, se vê diante de uma descoberta assustadora: a mente humana é apenas o produto de bilhões de neurônios situados em seu cérebro. Ao buscar respostas para seu dilema, ele descobre que o que diferencia o homem dos outros seres vivos é a capacidade de se questionar, mas também é confrontado com um novo problema: um tumor metafísico. Como ele lidará com isso? O livro de Eduardo Giannetti da Fonseca, cientista social e economista, autor de "Vícios Privados, Benefícios Públicos?" (Companhia das Letras, 1993), "Auto-Engano" (Companhia das Letras, 1997), "Felicidade" (Companhia das Letras, 2002) e "O Valor do Amanhã" (Companhia das Letras, 2005), é dividido em três partes. Giannetti é considerado um dos cem melhores palestrantes do Brasil e recebeu dois prêmios Jabuti, em 1994 e 2006. Leia um trecho do primeiro capítulo deste livro:

O protagonista desta história começa sua jornada em busca de respostas para o seu dilema, e o que descobre ao longo do caminho é que o que diferencia o homem dos outros seres vivos é a capacidade de se questionar. No entanto, ao desvendar essa descoberta, ele se depara com uma hipótese aterrorizante: a mente humana é apenas fruto da atividade de bilhões de células nervosas situadas em seu cérebro. Esta suspeita desperta um novo problema, um tumor do tipo metafísico. Como ele lidará com isso?

APRESENTAÇÃO A OBRA

A mente é o resultado do cérebro. É o que o torna um ser único e diferente dos outros. É a partir dele que se cria a vida interior, o mundo interior de cada um. É aí que se encontram as delícias e os tormentos, as lembranças e os desejos, as ideias e as sensações. O que parece ser uma massa borrachuda e gosmenta é na verdade o lugar onde se origina tudo o que forma o indivíduo. A palavra é a origem da ação, e o cérebro é o lugar onde se armazenam todas as palavras que formam os pensamentos e as ações. Assim como a cabra encontra o capim, o sabiá a minhoca e o besouro o estrume, também o ser humano encontra no cérebro o que lhe apetece. É assim que a mente interroga e assombra o cérebro.

Não é necessário cismar com essas questões de autoconsciência. O tempo é curto e não deve ser desperdiçado com discussões infrutíferas. O que importa é que a Terra permanece como o centro do universo, e os seres humanos continuam a lutar contra a fome, a vaidade e os desejos, como se o resto do universo girasse em torno deles. São inúteis as queixas de que passamos tempo demais com diversões insignificantes, ou as lamentações de que somos distraídos das questões importantes. O que é importante para quem?

Apresento-me, caro leitor, pois as circunstâncias da minha concepção não foram escolhidas por mim. O que aconteceu naquela noite, com o jogo Brasil x Espanha da Copa de 1962, foi algo que não estava sob o meu controle. Porém, mesmo com tudo o que já passou, continuo amando a vida e tentando me cuidar. Embora às vezes possa parecer que viver não é lucrativo, eu acredito que ainda há esperança. Recentemente, escapei de uma situação muito desfavorável. Agora, enquanto me for dada a chance, quero aproveitar cada dia, pois isso é o que há de melhor.

Sofro de uma perturbação mental, isso é certo. Se existe um termo para o meu mal, não sei dizer. Mais que por crença, fui tomado por uma obsessão ou mania metafísica - uma inquietação que se apoderou do meu pensamento e me persegue incessantemente, nos momentos mais sutis, em meio ao repouso e à vigília, como se fosse parte de mim. No começo não parecia grave: apenas uma irritação passageira, logo passaria. Porém, foi se intensificando. Quando me dei conta, o que chamei de "tumor metafísico" estava presente, imóvel como estaca e disseminado como metástase na minha consciência.

Se eu estivesse desenfreado, poderia usar palavras exageradas para dizer que vi um precipício e caí nele; que me enlouqueci. Mas isso não seria verdade. Alguém que é verdadeiramente louco não reconhece seu estado. É como dizer que está inconsciente enquanto fala: não tem sentido. O que aconteceu é que me tornei uma pessoa estranha aos meus próprios olhos, um objeto de uma estranha anomalia. Sou um louco manso que luta por uma causa. É excêntrico e afligido pelo assunto, mas não é um monstro desalmado. Estou sozinho?

"A Ilusão da Alma: Biografia de uma Ideia Fixa"
Autor: Eduardo Giannetti
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 256
Quanto: R$ 36,80 

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