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[RESENHA #525] Mad Maria, de Márcio Souza

História da construção da ferrovia Madeira-Mamoré, no norte do Brasil, um dos maiores desafios arquitetônicos do início do século XX.


SOUZA, Márcio. Mad Maria / Márcio Souza - 6.ed. - Rio de Janeiro: Record, 2023 ISBN978-65-5587-555-3

Mad Maria (apelido locomotiva da Madeira-Mamoré) narra-nos a história da construção da ferrovia Madeira-Mamoré, no norte do Brasil, um dos maiores desafios arquitetônicos do início do século XX. Este enredo versa-nos acerca de um acontecimento real e drástico acerca da construção de uma das maiores ferrovias já construídas durante o período em que Rio de Janeiro ainda era considerada a Capital Federal do Brasil. A abertura do livro avisa-nos acerca de que há em suas páginas muito da verdade do ocorrido, mas alerta-nos também sobre o fato da obra ser um romance, o que considero, nada bonito, ao contrário, totalmente tenebroso, ainda que visceral e verídico.

Marcio Souza escreve uma obra dividida em dois grandes períodos da história, o primeiro, claro, diz-nos a respeito da construção de uma grande ferrovia que massacrou diversos trabalhadores levando muito deles à morte em nome do capitalismo parasitário vivenciado no século XX, também nos aventuraremos em um período onde Rio de Janeiro ainda vivenciava seus dias como a Capital Federal do Brasil, o que mostra-nos bastante acerca da história da cidade durante o período e todas as problemáticas sociais, políticas e problemáticas da época. Esta edição da obra conta com um novo projeto gráfico, bem como uma nova revisão e um projeto de expansão, o que no cenário atual soa quase como uma denúncia em relação ao que vem acontecendo - inclusive nos dias atuais - com a Amazônia e todo seu desmatamento em busca de uma expansão comercial capitalista, trazendo-nos a tona uma admiração em relação à poética versada pelo autor, bem como um horror pelas descrições tão minuciosas em suas páginas.

A obra narrada no período de 1911 traz-nos revelações acerca das mortes e dos grandes acordos políticos firmados para sua realização, e claro, toda trama por trás de uma das grandes construções ferroviárias que traz-nos a tona os sentimentos de insatisfação, ao passo de que somos levados a entender a totalidade dos acontecimentos acerca do processo acelerado de desenvolvimento do capitalismo parasitário em um período quase que periférico acerca do trabalho e da exploração de mão de obra.

A obra, intitulada muito verdadeiramente como ferrovia do diabo carrega em si um mar de sangue das vidas que se perderam para sua realização, bem como para o seu desenvolvimento no meio político, o que nos faz aprender um pouco mais acerca dos acordos políticos que, em suma, permanecem vigente dos dias de hoje - o capital acima da vida em prol das realizações megalomaníacas dos grandes investidores da atualidade.

A obra se divide em pequenos capítulos que trabalham a noção de mudança de atmosfera segundo seus envolvidos, nota-se relatos romantizados acerca das perdas e dos danos deixados pela construção. O romance livre de levezas trás descrições e relatos precisos sobre as vidas perdidas durante o período da construção. O pior de todo acontecimento é notar que a ferrovia era uma grande construção de idealização, mas que em suma, não ligava nenhum ponto à outro, ou seja, não levava de um caminho para outro, era apenas um grande inferno com pausas pelo caminho.

A obra deu origem a uma série na rede globo de televisão que leva o mesmo nome e pode ser assistida no serviço de streamming globo play. Uma obra deliciosa para os amantes de história e de grandes acontecimentos da vida real.

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