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[RESENHA #566] Em busca de um teatro pobre, de Grotowski


APRESENTAÇÃO

Quase 50 anos após a primeira publicação de Em busca de um teatro pobre no Brasil, a Civilização Brasileira, republica a principal obra que revoluciona as artes cênicas no século XX, de maneira tão inovadora que segue relevante e oportuna para os dias atuais.

Com prefácio de Peter Brook, renomado diretor de teatro e cinema, Em busca de um teatro pobre volta para as prateleiras das livrarias brasileiras em nova primeira edição com layout de capa igual à original publicada em 1976.

Segundo Yan Michalski, importante teatrólogo polaco-brasileiro, fundador da Casa de Artes das Laranjeiras (CAL), neste livro:

“A pobreza do teatro pobre de Grotowski nada tem a ver com a pobreza do teatro brasileiro. A nossa pobreza é uma realidade de força maior imposta pelo nosso subdesenvolvimento; e em certos casos ela se manifesta de paradoxais exibições de opulência material. A pobreza de Grotowski é uma opção quase metafísica, resultante de uma aristocrática riqueza de tradições contraditórias, e da necessidade de fiar, a partir dessa massa de tradições, um ascético e sintético fio condutor que leve a corrente da comunicação cênica das raízes arquetípicas à sensibilidade dos nossos dias. […] O lançamento de Towards a Poor Theatre em português vai permitir-nos, finalmente, conhecer mais de perto esse tão longínquo pai espiritual, penetrar na densa matéria das suas reflexões, enriquecer-nos com a iluminadora inteligência das suas investigações; e, mais do que qualquer outra coisa, vai permitir-nos dissipar alguns mal-entendidos e localizar aquelas partes do pensamento grotowskiano que possam dizer respeito ao teatro brasileiro não só como cultura geral (pois neste sentido o livro todo é fascinante), mas também como método suscetível de ser concretamente aproveitado, com as indispensáveis adaptações, em nosso próprio caminho de experimentação teatral.” — Yan Michalski. Ator, diretor e crítico teatral.

Grotowski mostra em detalhes que o fundamento principal do teatro é a relação de atores e atrizes com os espectadores. Ler esse livro é tão bom como ver teatro.
[Marcus Vinícius Faustini, diretor teatral, documentarista e escritor]


RESENHA

"Em Busca de um Teatro Pobre", escrito pelo renomado diretor teatral polonês, Jerzy Grotowski, é uma obra fundamental para aqueles que desejam entender o conceito do "teatro pobre". O livro apresenta a visão única e inovadora de Grotowski sobre o teatro como forma de arte.

Ao longo da leitura, somos conduzidos por uma série de reflexões profundas e provocativas. Entre os temas abordados estão as relações entre ator e público, a importância da presença física em cena e a busca pela verdade emocional no trabalho dos atores. Grotowski defende que o teatro deve ser simples e acessível ao público em geral. Para ele, não é necessário ter grandes cenários ou figurinos elaborados para criar uma experiência significativa para quem assiste à peça. Em vez disso, enfatiza-se a importância do trabalho do ator na criação da atmosfera cênica.

O autor também discute questões mais amplas relacionadas ao papel do artista na sociedade contemporânea. Ele argumenta que o objetivo final do teatro não deve ser apenas entreter ou distrair as pessoas - mas sim ajudá-las a compreender melhor sua própria existência.

"Em Busca de um Teatro Pobre" é uma leitura essencial tanto para estudantes quanto profissionais das artes cênicas. A obra oferece insights valiosos sobre como criar performances autênticas e significativas através da simplicidade e honestidade no palco.

Grotowski argumenta que a presença física do ator em cena é essencial para criar uma experiência significativa para o público. Ele defende que o teatro deve ser despojado de elementos desnecessários - como cenários elaborados e figurinos extravagantes - e se concentrar na interação direta entre atores e espectadores.

Para Grotowski, o papel fundamental do ator é estabelecer um contato autêntico com o público. Ele enfatiza que isso não pode ser alcançado apenas através da técnica ou habilidade vocal, mas também requer um compromisso emocional profundo por parte dos artistas.

O autor destaca ainda a importância da verdade emocional no trabalho dos atores. Segundo ele, os intérpretes devem explorar suas próprias emoções pessoais para criar performances autênticas e significativas.

O livro foi recebido com entusiasmo pela crítica especializada na época de seu lançamento e continua sendo estudado e debatido até hoje.O período histórico em que o livro foi escrito é marcado pelo movimento da contracultura dos anos 60, que questionava os valores estabelecidos da sociedade ocidental. Nesse contexto, as ideias apresentadas por Grotowski sobre um teatro mais simples e acessível ao público foram vistas como uma resposta à cultura do entretenimento superficial.

A recepção crítica da obra foi amplamente positiva, destacando a visão única e inovadora de Grotowski sobre o papel do ator no teatro. Muitos elogiaram sua ênfase na presença física dos artistas em cena como forma de criar uma conexão autêntica com o público. Além disso, a abordagem emocionalmente autêntica também recebeu elogios por sua honestidade artística.

No entanto, algumas críticas apontavam que as ideias apresentadas no livro eram difíceis de serem aplicadas na prática ou limitavam-se apenas às produções experimentais da época. Outras questões levantadas incluíram a possibilidade das técnicas propostas por Grotowski serem elitistas ou exclusivas demais para alcançar grandes públicos.

Apesar desses pontos negativos levantados pela crítica especializada, "Em Busca de um Teatro Pobre" permanece como uma leitura essencial para qualquer pessoa interessada em entender a evolução do teatro moderno. A obra oferece uma visão única e provocativa sobre o papel do ator no palco, além de apresentar ideias que continuam influenciando as artes cênicas até hoje.

A obra republicada pela editora Civilização Brasileira, conta com as seguintes divisões: Em busca de um teatro pobre; o novo testamento do teatro; teatro é encontro; akropoles: tratamento do texto; doutor Fausto: montagem textual; o príncipe constante; ele não era inteiramente ele; investigação metódica; o treinamento do ator; a técnica do ator; o discurso de skara; o encontro americano e declaração de princípios.

A obra pode ser adquirida pelo preço R$59,90 no site do Grupo Editorial Record, ou por R$47,32, na Amazon.


O AUTOR

Jerzy Grotowski (1933-1999) foi um renomado diretor teatral polonês, conhecido especialmente pela sua obra "teatro pobre". Nascido em Rzeszów, na Polônia, ele estudou na Escola Superior de Teatro de Cracóvia antes de fundar seu próprio grupo experimental em 1957.

Ao longo dos anos 60 e 70, Grotowski tornou-se uma figura central no movimento da contracultura europeia. Ele desenvolveu técnicas inovadoras para o treinamento do ator e a criação de performances mais autênticas e significativas. Seus métodos enfatizavam a presença física dos artistas em cena e procuravam estabelecer uma relação autêntica com o público.

A principal obra associada ao conceito do "teatro pobre" é "Apocalypsis cum Figuris", encenada pelo Grupo Teatral Laboratório (Laboratorium Teatru), liderado por Grotowski. A peça foi apresentada pela primeira vez em Wrocław, na Polônia, em 1969. O espetáculo era composto apenas por sete atores sem cenários ou figurinos elaborados - um exemplo claro das ideias propostas pelo conceito do teatro pobre. Outras obras importantes do diretor incluem "Akropolis" (1962), baseada num texto de Stanislavsky; "Constant Prince" (1965); e "Dr Faustus Lights the Lights" (1967).

O trabalho revolucionário de Grotowski inspirou muitos outros artistas ao redor do mundo. Sua abordagem inovadora para o ensino da arte dramática criou uma nova maneira de pensar sobre o papel do ator no teatro moderno. Ele foi um defensor apaixonado da simplicidade cênica e da conexão emocional autêntica com o público.

Embora tenha deixado a cena teatral em meados dos anos 80, Grotowski continua sendo uma figura influente na história do teatro moderno. Sua obra "Em Busca de um Teatro Pobre" é considerada como uma das mais importantes reflexões sobre as artes cênicas já escritas, e seu legado continua a inspirar artistas ao redor do mundo até hoje.

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