APRESENTAÇÃO
Muito se fala sobre a vulgarmente chamada “profissão mais antiga do mundo”. Termos recorrentes nos noticiários (e também na ficção) como “tráfico de pessoas”, “turismo sexual”, “indústria do sexo”, assim como o montante de dinheiro movimentado pela prostituição são repetidos à exaustão. Porém, poucos dão voz aos verdadeiros protagonistas dessa história. Estima-se que o número de pessoas se prostituindo no mundo ultrapasse os 40 milhões. Mas quem são realmente essas pessoas?
Neste livro, José Carlos Sebe B. Meihy nos traz o relato de cinco vidas, de cinco histórias de brasileiras e brasileiros que entraram no universo da prostituição internacional, narradas por eles mesmos. O autor nos oferece, assim, múltiplos olhares e experiências vindos de dentro do mundo que trata o sexo como negócio, deixando aberto para que o leitor julgue por si cada um desses impressionantes relatos.
RESENHA
Meihy, José Carlos Sebe B. Prostituição à brasileira : cinco histórias / José Carlos Sebe B. Meihy. – São Paulo : Contexto, 2015.
Prostituição à brasileira é um livro que abre precedentes para um diálogo acerca da exploração comercial do corpo como meio de sustento. O professor e autor da obra, José Carlos Sebe B. Meihy, descreve o cenário através da narrativa de cinco pessoas: três mulheres e dois homens que vivem da comercialização do próprio corpo em terras estrangeiras.
A obra aborda as questões legais, físicas, emocionais e históricas da prostituição e a visão social acerca deste campo de atuação. Já nas primeiras páginas o autor desenvolve um breve ensaio explicativo acerca da importância de uma escrita e exposição de uma obra com esta temática, fugindo do clichê e abordando de forma séria as nuances através das óticas de pessoas que vivem na pele o dia-a-dia da comercialização sexual do próprio corpo. Os relatos foram escolhidos pelo autor através de uma série de entrevistas elaboradas com vários profissionais do sexo durante um longo período de estudo, cada narrativa possui descrições e experiências distintas com uma visão assertiva dos eventos fora do país.
Como ir além das avaliações estatísticas, crônicas policiais, questões de direito internacional e trabalhista ou crítica moral? Por que e para quem expor narrativas íntimas de tipos sempre situados no limite da transgressão, envolvidos em polêmicas infindáveis? Como inscrever o tópico em debates que valham por fundir aspectos da sociedade globalizada e de indivíduos singulares, em particular os vulneráveis? Com essas perguntas, busquei dar sentido a tantos casos que há cerca de 15 anos me comovem, desafiando a registros difíceis e análises incômodas. (p.13)
Os desdobramentos espelham-se no fato da profissão do sexo ser a mais antiga do mundo, datada de longos períodos que seguem-se sendo analisados de forma cautelosa com uma sondagem histórico-explicativa, bem como os resquícios dos estudos acerca da temática, da exploração do corpo, da vivência cultural em outro país, bem como os tráficos envolvendo homens e mulheres no meio comercial sexual.
Identificada na Antiguidade oriental e ocidental e na Idade Média como ilhas de experiências isoladas, a prostituição ganhou feições universais quando se estabeleceram as rotas do mundo moderno, integradas gradativamente pelo estabelecimento do sistema colonial. (p.15)
A obra também expõe os desdobramentos e procedimentos adotados para as análises e proposta histórico-literária:
Dois procedimentos foram assumidos como hipóteses analíticas para a compreensão da prostituição contemporânea, em particular a que inscreve pessoas vulneráveis: a constatação dos números da prostituição contemporânea e a retomada histórica que, num assomo rápido, permite o entendimento de conceitos semeados no pretérito longínquo, projetados nos dias de hoje. (p.16)
A história dos protagonistas revelam o equívoco já esperado por muitos: a possibilidade de uma vida melhor, o exercício da prostituição como qualquer outro trabalho, o sonho de se residir em outros países e localidades e a banalização do cotidiano dos profissionais do sexo.
O propósito primordial do livro consiste em apresentar como exemplo das pessoas que operam na indústria do sexo como atividade comercial. Ao longo da obra, o autor estabelece paralelos entre a história da prostituição, que sofreu uma transformação significativa com a expansão colonialista, adquirindo características universais com o estabelecimento das rotas comerciais do mundo moderno, e o fato de que, nos dias atuais, a prostituição em nível internacional ainda apresenta elementos dessa relação colonial, o que, em parte, explica o aumento contínuo e progressivo da rede de tráfico de seres humanos. Em suas tentativas, José Carlos aborda essas questões conflitantes.
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