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[RESENHA #574] Casa de incertezas, de Ana Carla Longo


APRESENTAÇÃO

Este livro é sobre perguntas, mas nem tanto sobre respostas. Somos nossa casa, isso é fato, mas carregamos todas as possibilidades do “ser” dentro da gente. Uma coletânea de crônicas e poemas sobre lar, acolhimento, amor-próprio e individualidades. Um livro intimista que despe os sentimentos mais profundos e sinceros da autora. Abram as portas e se sintam em casa. Podem reparar a bagunça.


RESENHAS

Casa de incertezas é de fato um livro sobre perguntas. A obra de Ana Carla Longo é um emaranhado poético que mescla poesia e crônicas, todas carregadas de uma individualidade única, nota-se o trabalho desenvolvido pela autora acerca dos sentimentos e reflexões diversas, que como nos é conhecido, próprios da vida. No prefácio da obra somos apresentados a uma frase que sintetiza toda poder poético da obra: não há lugar como a nossa casa, por sorte, eu moro em mim.

Cabe em nós um mar de histórias, aquilo o que somos, temos e sentimos é fruto da vivência que escolhemos ou não viver, que sentimos ou deixamos de sentir. A construção de quem somos, como reagimos à determinadas sensações, emoções e momentos são construções advindas do processo de transformação do eu, impostas pela vida. Cabe um mundo em quem a gente é. Em quem a gente foi e vem se transformando pouco a pouco [...] (prefácio).

No poema de abertura da obra, bagagem, a autora faz uma alusão de uma bagagem aos caminhos e momentos construídos durante a caminhada da vida e todos os pesos e emoções, lembranças e sentimentos que carregamos, e claro, de todas as confusões que se formam dentro de nós em meio as dúvidas, momentos distintos e incertezas e todo processo para supera-los, ou tentar ao menos.

Esses dias, abri a mala que venho trazendo comigo e percebi: ainda carrego algumas inseguranças de tentativas falhas que fiz, aquela mania de duvidar do que eu sou capaz e até umas opiniões negativas ouvi a meu respeito que ouvi por ai [...] não me venha me oferecer o espaço de um bagageiro, sou bagagem completa, me aceite inteira [...] (bagagem).

Já o poema homônimo ao título, a autora traz uma forte reflexão acerca da figura de que o corpo, ou nós, somos uma casa, um templo e carregamos e suportamos mais do que podemos perceber ou aguentar. Nos enchemos, nos esvaziamos e nos completamos com os mais variados momentos e distintos, e como uma casa, damos muita importância à tudo o que ocorre dentro da gente.

Porque essas coisas não definem a gente. Não definem. Talvez você tenha conhecido alguma versão minha numa curva dessas da vida ou só me conheça agora, pelas minhas palavras. não importa. Afinal de contas, quantas versões minhas eu já deixei para trás para ser quem eu sou agora? Não sei. Continuo não sabendo[...] (Casa de incertezas).

...mas, a obra também fala de força e estar pronta para o que der e vier...

Às vezes, ela tinha aquele riso fingido de quem teme a dor. Ela já carregava muitas. Algumas lhe roubaram o sono, outras levaram parte de sua confiança. Mas ela sempre seguia seu caminho. Ela tinha aquele olhar sincero, de quem equilibra força e sensibilidade e força dentro de si [...] (pronta).

E claro, ela nos deixa claro que seus manuscritos são repleto de questões, de várias, inclusive das que se formam durante a leitura e as reflexões, mas não, ela não fornece respostas, ainda que possamos buscá-las.

Não. Eu não trago respostas. Considerando quem sou, não entrego as carta de uma só vez. Também não vim fazer um convite ou desejar coisas boas, apesar de ter a convicção de que sou capaz de proporcionar momentos incríveis. (carta aberta).


Mas, ela também nos convida à refletir e nos perdoar. Perdoar por todos os nossos arrependimentos, escolhas e caminhos pelos quais sentimos, ansiamos e vivemos, afinal, sempre há dúvidas e incertezas que se surgem durante nossa caminhada da vida, sobretudo, sobre o porque de determinadas decisões que tomamos.

Escrevo para me pedir perdão. Perdão por todas as vezes em que esqueci de celebrar o aprendizado e foquei só nos erros. Perdão por me limitar, por tentar caber em lugares que não eram meus. Nem ao mesmo combinavam comigo. (carta de desculpas).

Em síntese, Ana Carla longo compôs uma sinfonia de reflexões acerca de sua vida e suas memórias, nota-se que ela desenvolveu uma imensa resiliência e aprendizado com a vida e com os caminhos trilhados, crescendo constantemente de forma avassaladora intimamente. Seu livro é um convite à reflexão da casa que nossa vida representa, todas as pessoas que passam por nós, todos os momentos que vivemos e vivenciamos, todos os destinos e caminhos que traçamos e escolhemos nos trouxeram exatamente para onde estamos - e isso é, incrível. Realmente, um excelente livro que abre precedentes para uma leitura envolvente e emocionante de autodescoberta e reflexão.

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