APRESENTAÇÃO
Neste livro, o olhar arguto e global de Georges Minois traz ao leitor contemporâneo uma súmula das concepções de inferno que acompanharam as principais civilizações humanas. Veremos também que, mesmo em face do declínio das crenças tradicionais e da Igreja católica, dos questionamentos à ideia de inferno nos próprios ambientes eclesiásticos, o conceito ainda se faz presente e relevante, como se a história do inferno fosse também a história do homem confrontado com sua própria existência.
RESENHA
Heróis, poetas e visionários empreenderam jornadas ao inferno e trouxeram consigo descrições horripilantes que refletiam os fantasmas de sua época: um lugar de sobrevivência desesperada, de punição eterna ou simplesmente um espaço abstrato. A diversidade dessas representações constitui um dos aspectos mais transcendentais e enigmáticos da história humana. O que me recorda das mais diversas narrativas religiosas acerca da morte e da punição, uma das características mais marcantes da modernidade atual é a divisão de ideias acerca do final da vida e do pós-morte, e que, claro, é minuciosamente analisado por Minois nesta obra.
O autor analisa o surgimento do inferno nas civilizações orais, como na áfrica, xamânicos, germânico, escandinavo, mesopotâmicos, egípcios, hinduístas e as várias descrições do inferno na literatura e no pensamento filosófico.
Para o autor, o inferno surgiu primeiramente no imaginativo popular caracterizado e atribuído, sobretudo, as categorias mais pobres e afetadas pela escassez de oportunidades, em uma tentativa de seguir uma linha tênue de obediência para adquirirem um lugar ao sol perante o perdão de Deus e fugir da danação eterna, uma vez que, este seria o primeiro passo para driblar a história terrena repleta de pobreza e sofrimento, marcado pela ausência de conhecimento e oportunidades. (p.60).
O desejo de revanche não é estranho a essa curiosidade: os sacrifícios exigidos a essa via pelos fiéis, devem ser compensados tanto por um gozo futuro, tanto, quanto uma punição para aqueles que foram felizes neste mundo. (p.60)
Essa obra é indispensável para aqueles que se interessam pela evolução da cultura, pois “História do Inferno” oferece um diagnóstico preciso da nossa contemporaneidade. Mostra o desaparecimento do inferno tradicional e sua identificação com as angústias cotidianas da consciência moderna. Uma descrição mais detalhada acerca da obra de Minois, culminaria, digo com certeza, em uma série de spoilers que acabariam com os estudos elaborados pelo professor, desta forma, fica a indicação para uma leitura pura e fluida acerca deste genuíno estudo.
O AUTOR
Georges Minois é professor de História e historiador das mentalidades religiosas. Dele, a Editora Unesp publicou História do riso e do escárnio (2003), A idade de ouro (2011), História do ateísmo (2014), História do futuro (2016), História do suicídio (2018), História da solidão e dos solitários (2019), As origens do mal (2021) e Henrique VIII (2022).
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