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[RESENHA #679] Acorrentada pela mente, de Claudia Carvalho

APRESENTAÇÃO

Ser filha de uma portadora de doença psiquiátrica, além de não ser bom, traz muito sofrimento. Não é bom, porque você não pode contar com a mãe em nenhum momento, pois ela quem precisa de ajuda. Traz sofrimento, além de sensação de abandono, rejeição e, como se não bastasse, ainda tem o preconceito em todo lugar que você passa. Preciso destacar que os rótulos que recebi foram duros de aguentar, como: Aquela ali é a filha da doida; Claudia tem duas caras; Nossa, que gênio difícil a Claudia tem!; Será que ela é doida igual à mãe dela?

Sentia-me diferente o tempo todo e ficava com muito medo de ter herdado o transtorno afetivo bipolar que ela tinha. Minha mãe biológica não está mais entre nós, ela se foi aos 58 anos de idade e eu sinto muito, porque só agora percebo a dimensão do peso que ela carregava nos ombros. 

Espero profundamente que essa obra literária desperte pessoas que ainda não se atentaram para esse e outros transtornos que dificultam a vida, como, manter um relacionamento, permanecer num emprego, preservar amizades. Hoje me trato com psiquiatra, hipnoterapia, medicamentos, meditação e, a melhor parte, aprendi a me amar e a cuidar daquela criança que ficou abandonada lá atrás. Garanto que este livro irá te surpreender! 

RESENHA

Acorrentada pela mente é um livro biográfico escrito pela autora e jornalista capixaba Cláudia Carvalho, lançado através do selo Voe da Editora Flyve. O livro apresenta como proposta a exposição dos acontecimentos na vida da autora em relação à doença mental da mãe.

Já no primeiro capítulo a autora aborda sobre como sua mãe quase a abortou enquanto ainda estava internada em um manicômio, apresentando quadros graves e diversas tentativas de acabar com a gestação. A introdução é realizada em poucas linhas, sem grandes detalhes ou proporções, com uma apresentação trabalhada com poucos detalhes e pouco foco, o que não fomentam maiores esclarecimentos acerca deste período.

A narrativa segue uma ordem não-linear abordando temáticas sobre um episódio em que sua mãe tentou jogá-la de uma ponte para se afogar em um rio próximo, um episódio de hepatite A causados pela contaminação (e talvez ingestão) de água poluída por na época morar próximo de um ribeirão, abusos sexuais sofridos por parentes, depressão na primeira gravidez, a fome e os problemas decorrentes da ausência de apoio, auxílio ou socorro, o pai desconhecido, os períodos difíceis com os apelidos que as pessoas lhe davam pela condição de sua mãe, dentre tantos outros.

Por mais que obras biográficas sejam em sua essência impactantes, acredito que, a autora descreveu sua história com pouco foco e trabalho. As histórias de desenlaçam na mesma proporção e rapidez com as quais se diluem, não há um trabalho introdutório de cada episódio em sua vida, tudo é jogado ao ar de forma desmedida e sem nenhum empenho descritivo acerca dos períodos, talvez, por ausência de lembranças, pela pouca idade durante os períodos difíceis em sua vida, pela infância tomada ou por qualquer ausência de esforço de pesquisa que fomentasse grandes debates e descrições dos acontecimentos.

Ainda que a doença da mãe seja o ponto principal da narrativa, a obra em si, fala basicamente sobre a vida da autora e do impacto da doença da mãe em sua vida. Ela descreve períodos difíceis para lidar com os acontecimentos, tornando assim, o acontecimento central secundário, uma vez que toda noção de dor e sofrimento da mãe é basicamente eliminada, não havendo assim, noção da filha em relação à dor da mãe, criando assim, uma teia de acontecimentos que sempre retornam ao ponto de loucura da mãe, colocando-a como vilã e causadora de todos os problemas, uma vez que, um problema mental a impedia de participar da vida da filha como noutros lares.

A descrição chave da obra não está nos capítulos, mas na descrição da obra, quando a autora cita: Ser filha de uma portadora de doença psiquiátrica, além de não ser bom, traz muito sofrimento. Não é bom, porque você não pode contar com a mãe em nenhum momento, pois ela quem precisa de ajuda. Traz sofrimento, além de sensação de abandono, rejeição e, como se não bastasse, ainda tem o preconceito em todo lugar que você passa.

O que podemos perceber é que não, a autora não herdou a doença da mãe, apenas se afundou profundamente em uma depressão tomada por lembranças horríveis de seus períodos com sua mãe e as dificuldades da vida, o que a fez buscar ajuda e auxílio para retomar sua vida.

Uma obra interessante para uma leitura rápida, mas há diversos pontos que necessitam de uma repaginação, talvez, numa segunda edição com mais afinco, detalhes e confissões mais descritivas.

A AUTORA

Claudia Carvalho, 49, reside atualmente em Piúma, litoral sul do ES; é mãe de dois filhos, graduada em Letras/Língua Portuguesa-Literatura, amante da natureza, dos livros e apaixonada por uma boa conversa entre familiares e amigos.  Filha primogênita, criada por sua avó materna, em Guaçuí, sul do ES, devido sua mãe biológica apresentar, ainda na gestação, problemas psiquiátricos graves, Claudia teve uma infância e adolescência não muito fáceis. Filha de um pai desconhecido, fato que a incomodava muito na juventude e vida adulta também. Tudo sempre foi muito difícil de compreender. Mudanças constantes no humor, que a levavam ao fundo do poço e a traziam à superfície em longos ou curtos espaços de tempo.  Neste livro a autora fala sobre os momentos mais difíceis que marcaram sua alma. Aqui, nestas linhas, talvez você, leitor(a), se identifique com alguma situação e passe a se ajudar ou ajudar alguém que conheça com uma história parecida.   

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