APRESENTAÇÃO
Conjunto de doze livros escritos originalmente em grego entre os anos 170 e 180, trata-se de diários repletos de anotações, aforismos, citações célebres e reflexões pessoais de um homem preocupado em encontrar a maneira mais correta de viver em sociedade e de acordo com a própria consciência.
O estoicismo, escola filosófica que Marco Aurélio integrava, preconiza a felicidade principalmente por meio do autocontrole e do autoexame ― faculdades que estão ao alcance de todos nós. A paz interior e o bem comum são possíveis mesmo diante das adversidaes, mas, para tal, é preciso equilíbrio, humildade e serenidade ― virtudes que podem ser conquistas pelo exercício da razão, a capacidade humana mais incrível de todas.
Seja no século 2 ou no 21, o mundo sempre apresentou desafios, guerras, discórdia, traições e corrupção de valores. Alguns indivíduos, no entanto, lutam bravamente para o aprimoramento do espírito, e o imperador-filósofo Marco Aurélio está nesse ilustre rol.
Meditações é um guia prático e filosófico para aqueles que desejam encontrar a felicidade e a paz interior, o bom convívio social e um mundo mais justo e harmonioso. Esta edição da Paz & Terra conta com prefácio inédito do historiador, professor e um dos maiores intelectuais brasilieros da atualidade, Leandro Karnal.
Uma aventura através de um clássico e em prol do bem viver.
RESENHA
Lúcio Aurélio Antonino Maximiliano, em latim Lucius Aurelius Antoninus Maximilianus, nasceu em 26 de abril de 121 e faleceu em 17 de março de 180, tendo sido imperador de Roma de 161 a 180. Foi um dos governantes de Roma conhecidos como os cinco notáveis imperadores e o último imperador da Pax Romana.
O período de governo de Lúcio Aurélio foi marcado por conflitos militares. No Oriente, o Império Romano enfrentou com sucesso um Império Parta revitalizado e o Reino insubordinado da Armênia. Lúcio derrotou os Marcomanos, Quados e Sármatas nas Guerras Marcomânicas; no entanto, esses e outros povos germânicos passaram a representar uma ameaça preocupante para o Império. Acredita-se que a perseguição aos seguidores do cristianismo no Império Romano tenha aumentado durante seu reinado. A Peste Antonina irrompeu em 165 ou 166 e causou uma devastação na população do Império Romano, resultando na morte de cinco milhões de pessoas.
Reflexões foi escrito em grego Koiné, intitulado Τὰ εἰς ἑαυτόν, literalmente "coisas para mim mesmo", é uma série de 12 volumes em que Lúcio Aurélio registra suas anotações pessoais sobre o estoicismo como fonte de orientação e autodesenvolvimento. Lúcio Aurélio enfrentava desafios, conspirações e obstáculos durante o dia, e à noite se entregava a uma profunda reflexão e registrava suas anotações pessoais antes de dormir.
O estilo de escrita que permeia o texto é simplificado, direto e reflete a perspectiva estoica de Lúcio, que não se considerava parte da realeza, mas sim um homem entre outros homens, permitindo ao leitor se relacionar com sua sabedoria.
Um tema central das reflexões é a importância de analisar o julgamento de si mesmo e dos outros em uma perspectiva cósmica. A aceitação da morte e a discussão sobre a existência ou não de uma divindade são temas recorrentes em todo o livro.
É relevante explicar o termo "daemon", amplamente utilizado ao longo do texto. Daemon (em grego δαίμων) pode ser traduzido como “divindade” ou “espírito”. O termo em latim é daemon, que deu origem à palavra em português “demônio”.
Algumas das citações mais marcantes da obra:
1. Do meu avô Verus [aprendi] bons costumes e a controlar o meu temperamento.
3. Com minha mãe, aprendi a devoção aos deuses, a generosidade e a abstinência, não apenas de más ações como também de maus pensamentos, além do estilo de vida simples, muito distante do excesso dos ricos.
10. Com Alexandre, o Gramático, a abster-me de encontrar defeitos e não repreender aqueles que proferiram barbarismos, solecismos ou expressões estranhas, mas introduzir de modo hábil na minha reposta ou confirmação a expressão que deveria ter sido empregada, ou propor alguma outra sugestão adequada, ou ainda investigar a coisa em si e não a palavra.
13. Com Catulo, a não ser indiferente quando um amigo faz críticas, mesmo quando essas são infundadas, mas a tentar fazer com que ele recupere sua disposição habitual. E a estar pronto para falar bem dos professores, como faziam Domício e Atenodoto, e a amar meus filhos com sinceridade.
4. [parte 2] lembra-te de quanto tempo adiaste tais coisas e quantas vezes recebeste uma oportunidade dos deuses, e ainda assim não a usaste. Deve perceber finalmente de que universo fazes parte e de que administrador universal tua existência fluiu. Um tempo limitado foi designado para ti. Se não fizeres uso dele para dissipar as nuvens de tua mente, ele passará, tu partirás, e não haverá uma segunda chance.
15. [parte 2] ''Lembra-te de que tudo é opinião'' é manifesto esse dito cínico Mônimo. É manifesta é também utilidade do que foi dito, desde que se compreenda o cerne daquilo o que foi dito.
2. [parte 4] Que nenhum ato seja feito sem propósito, nem de outro modo que não seja de acordo com os princípios perfeitos da arte.
17. [parte 4] Não ajas como se fosse viver dez mil anos. A morte paira sobre ti. Enquanto viveres, enquanto estiver em teu poder, sê bom.
27. [parte 4] Seja o universo bem-organizado ou um amontoado de caos, ele permanece sendo o universo. Mas seria possível haver determinada ordem em ti e a desordem no Todo. E sendo tudo de tal forma separado, difuso, simpático?
O AUTOR
Marco Aurélio Antonino Augusto (121, Roma/Itália – 180, Vindobona/Aústrai) foi um imperador romano, filósofo e escritor, sendo último grande expoente do estoicismo. Seu único livro, Meditações, foi escrito como um diário de autoaperfeiçoamento, e não se sabe se havia intenção de torná-lo público. Marco Aurélio é considerado no Ocidente um dos “Cinco Bons Imperadores”, símbolo magno da Era de Ouro do Império Romano. Após a sua morte, Roma mergulhou rapidamente em declínio.
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