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[RESENHA #707] O crime do padre amaro, de Eça de Queiroz


Com a morte do pároco da cidade de Leiria, o padre Amaro é designado para o cargo na igreja local e instala-se na casa de S. Joaneira, uma assídua religiosa. Amaro, se encanta com Amélia, filha da hospedeira, e desperta ciúmes no pretendente da jovem. A paixão cresce no antro eclesiástico de Leiria e o padre amaldiçoa o sacerdócio por não permitir que realize os seus desejos.

RESENHA


No seu primeiro romance, Eça de Queiroz aborda um tema ainda controverso nos dias de hoje: a relação entre o Clero, a Sociedade e a Política. É relevante destacar que a obra foi escrita em 1875, e apesar de algumas mudanças comportamentais, ainda é possível traçar um paralelo entre o século XIX e o século XXI.

Amaro Vieira, o protagonista, torna-se padre para cumprir o testamento deixado pela patroa de sua mãe, a Marquesa de Alegros, que sempre foi sua protetora. Como órfão, ele sempre esteve ligado às questões eclesiásticas. Depois de um período de clausura, é enviado para uma cidade muito pobre, onde as condições climáticas são péssimas. Com a ajuda de sua tia rica, consegue ser transferido para Leiria, onde a trama se desenrola.

Padre Amaro é mentalmente frágil e não suporta pressões. Quando conhece Amélia, essa condição fica cada vez mais evidente e difícil de gerir. Sua posição de "homem da Igreja" não permite paixões mundanas, mas lhe dá livre acesso à casa de São-Joaneira, o recanto das beatas, e com isso, a influência que beira a manipulação entre as senhoras. Esses dois lados (homem X padre) entram em conflito e Pe. Amaro demonstra não ter escrúpulos, culpa ou remorso. Ele se deixa levar pela situação.

A trama é bem construída, permitindo surpresas no momento certo, sem grandes cortes abruptos. A descrição do ambiente é equilibrada, sem se tornar monótona. A construção psicológica e da história de vida dos personagens é perfeita, envolvendo o leitor nos dramas de Amaro, Amélia, João Eduardo...

A posição social da mulher também é destacada. Mostrar os tornozelos já era motivo de discussão familiar. O simples roçar de joelhos já era um passo avançado para o que se considerava namoro. Sair sozinha, então, provocava "burburinhos" entre os vizinhos.

Por fim, a discussão entre o Abade Ferrão e o Dr. Gouveia é emblemática no conflito Religião X Política. A defesa de ambas as posições não deixa explícita a opinião do autor, apesar da alta conotação anti-clerical durante o livro. De fato, a história é uma grande crítica à posição da Igreja na época e a grande pergunta que se faz é se pode-se transferir alguns questionamentos para os dias atuais. O ícone desses questionamentos é a manutenção de celibato clerical.

Em conclusão, "O Crime do Padre Amaro" é uma obra literária notável que oferece uma visão perspicaz e crítica da sociedade do século XIX. Eça de Queiroz, com sua escrita elegante e perspicaz, cria uma trama envolvente e personagens memoráveis que mantêm o leitor cativado do início ao fim. A obra é uma leitura obrigatória para qualquer amante da literatura, oferecendo uma visão única e valiosa da sociedade portuguesa da época. Através de sua narrativa envolvente e personagens bem construídos, Eça de Queiroz conseguiu criar um retrato vívido e crítico da sociedade portuguesa de sua época.

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