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[RESENHA #758] Ovelhas negras, de Caio Fernando Abreu

"Nunca pertenci àquele tipo histérico de escritor que rasga e joga fora. Ao contrário, guardo sempre as várias versões de um texto, da frase em guardanapo de bar à impressão no computador. Será falta de rigor? Pouco me importa. Graças a essa obsessão foi que nasceu 'Ovelhas negras', livro que se fez por si durante 33 anos. (...) Uma espécie de autobiografia ficcional, uma seleta de textos que acabaram ficando fora de livros individuais. Eram e são textos marginais, bastardos, deserdados. (...) Afinal, como Rita Lee, sempre dediquei um carinho todo especial pelas mais negras das ovelhas."

RESENHA

Ovelhas negras é um livro de contos do escritor e jornalista brasileiro Caio Fernando Abreu, publicado em 1995. O livro reúne 25 textos que o autor considerava marginais, bastardos ou deserdados, por terem ficado fora de suas obras anteriores ou por terem sido censurados pela ditadura militar. São contos que revelam a trajetória literária de Caio, desde sua infância até sua maturidade, passando por diferentes lugares, épocas e estilos.

O estilo de Caio Fernando Abreu é marcado pela economia de palavras, pela linguagem coloquial, pela ironia, pelo erotismo e pela angústia existencial. Seus personagens são, em sua maioria, jovens urbanos, marginalizados, solitários, que vivem à procura de amor, sentido e identidade. Eles refletem as inquietações, os medos, as esperanças e as frustrações de uma geração que testemunhou as transformações políticas, sociais e culturais do Brasil e do mundo nas décadas de 70, 80 e 90.

O livro é dividido em três partes: Alfa, Beta e Gama. Cada parte é precedida por uma introdução do autor, que conta a história por trás de cada conto, revelando aspectos autobiográficos, curiosidades, influências e referências. Alguns dos contos mais conhecidos são: "O príncipe sapo", "O amor de Pedro por João", "Aqueles dois", "Sargento Garcia", "Dama da noite" e "Ovelhas negras".

O livro é uma obra que ensina sobre a diversidade, a tolerância, a solidariedade e a resistência. Caio Fernando Abreu aborda temas como a homossexualidade, a AIDS, a violência, a ditadura, a droga, a morte, o amor, a amizade, a arte e a literatura, com sensibilidade, humor e coragem. Suas histórias são como retratos de uma época, mas também são atemporais, pois tocam em questões universais da condição humana.

Algumas citações marcantes do livro são:

- "Eu queria que você me amasse como eu te amo. Mas isso é impossível. Porque eu te amo demais. E você não me ama. Você só me quer." ("O príncipe sapo")

- "Eles não sabiam muito bem o que fazer com aquilo. Não era exatamente amor. Talvez porque amor fosse uma palavra gasta, e o que eles sentiam não estava gasto. Era novo e brilhante como uma moeda que tivesse acabado de ser cunhada." ("O amor de Pedro por João")

- "Eles eram muitos, mas não sabiam. No quartel, na repartição, no escritório, na escola, na fábrica, eles estavam lá, mas não se conheciam. Eram invisíveis. Eram ovelhas negras, mas não sabiam." ("Ovelhas negras")

A simbologia do livro está relacionada ao título, que remete à ideia de exclusão, rebeldia, diferença e transgressão. As ovelhas negras são aqueles que não se encaixam nos padrões impostos pela sociedade, que são discriminados, perseguidos, silenciados ou ignorados. Mas são também aqueles que têm algo de especial, de único, de original, de criativo, de surpreendente. São aqueles que, apesar de tudo, não desistem de buscar sua própria voz, seu próprio caminho, sua própria felicidade.

A importância e a relevância cultural do livro estão ligadas à sua capacidade de retratar e questionar a realidade brasileira, de dialogar com outras obras e autores, de influenciar e inspirar novos escritores e leitores, de provocar reflexão e emoção, de contribuir para a formação de uma literatura nacional de qualidade, de valorizar a diversidade e a liberdade de expressão.

A biografia do autor pode ser resumida da seguinte forma: Caio Fernando Abreu nasceu em Santiago, no Rio Grande do Sul, em 1948. Desde pequeno já demonstrava interesse pela literatura. Estudou letras e artes cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas não se formou. Trabalhou como jornalista em diversas revistas e jornais. Foi perseguido pela ditadura militar e se exilou na Europa por um ano. Voltou ao Brasil e publicou vários livros de contos, romances e peças de teatro. Recebeu três vezes o Prêmio Jabuti e uma vez o Prêmio Molière. Descobriu ser portador do vírus HIV em 1994 e voltou a morar com seus pais em Porto Alegre. Morreu em 1996, aos 47 anos.

A crítica positiva acerca da obra pode ser expressa da seguinte forma: Ovelhas negras é um livro que merece ser lido, relido e apreciado por todos aqueles que gostam de literatura de qualidade, que se interessam pela história e pela cultura brasileiras, que se identificam com os personagens e os temas abordados pelo autor, que se emocionam com as histórias e as palavras de Caio Fernando Abreu. É um livro que mostra a genialidade, a originalidade, a sensibilidade e a coragem de um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. É um livro que não deixa ninguém indiferente. É um livro que faz a diferença.

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