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[RESENHA #759] Limite branco, de Caio Fernando Abreu


O romance de estreia de um dos autores mais marcantes da literatura brasileira.

Escrito quando Caio Fernando Abreu tinha apenas dezenove anos e publicado poucos tempo depois, em 1971, Limite branco inaugura a trajetória de uma das vozes mais apaixonantes da nossa literatura. Ao longo da trama, acompanhamos as descobertas, os anseios e os temores de Maurício num período intenso e angustiante, quando a infância fica para trás e o caminho que leva à vida adulta não passa de uma incógnita.

Para a escritora Natalia Borges Polesso, que assina o posfácio da presente edição, neste livro “há um limite branco, que uma pessoa cruza para amadurecer, no qual as emoções se borram e se sobrepõem e não se tem muito uma ideia de onde começa um sentimento e o outro termina.”

RESENHA

Limite branco é o primeiro romance do escritor brasileiro Caio Fernando Abreu, publicado em 1970. A obra narra as angústias e os questionamentos de Maurício, um jovem que se muda do interior para a capital e se depara com as dificuldades e as tentações da vida adulta. O livro é dividido em três partes: Alfa, Beta e Gama, que correspondem às fases de transformação do protagonista.

O estilo de Caio Fernando Abreu é marcado pela economia de palavras, pela linguagem coloquial e pela intensidade emocional. O autor explora temas como sexo, drogas, violência, solidão, morte e existencialismo, retratando a geração que viveu sob a ditadura militar no Brasil. O livro também apresenta elementos autobiográficos, já que o autor escreveu a obra quando tinha apenas 19 anos e passou por experiências semelhantes às de Maurício.


Os principais personagens do livro são:

- Maurício: o protagonista, um rapaz sensível e inquieto que busca seu lugar no mundo e se envolve em situações de risco e de prazer.

- Ana: a namorada de Maurício, uma moça bonita e inteligente que o ama, mas não consegue compreender sua angústia e sua rebeldia.

- Pedro: o melhor amigo de Maurício, um rapaz extrovertido e aventureiro que o acompanha em suas viagens e escapadas.

- Mãe: a mãe de Maurício, uma mulher religiosa e conservadora que se preocupa com o filho, mas não consegue se comunicar com ele.

- Pai: o pai de Maurício, um homem ausente e autoritário que exige que o filho siga seus passos e se torne um advogado.

O livro também aborda e ensina sobre:

- A importância de se conhecer a si mesmo e de buscar o seu próprio caminho, sem se deixar levar pelas imposições da sociedade ou pelas expectativas dos outros.

- A necessidade de se enfrentar os medos e as incertezas da vida, sem se entregar ao desespero ou à alienação.

- A valorização da amizade, do amor e da arte como formas de expressão e de resistência diante das adversidades e das injustiças.

Algumas citações marcantes do livro são:

- "Eu não quero ser igual a todo mundo. Eu quero ser eu mesmo." (Maurício, p. 23)

- "A vida é uma coisa muito estranha. Às vezes, a gente pensa que está tudo bem, que está tudo certo, e de repente tudo muda, tudo vira do avesso." (Ana, p. 47)

- "O que é que você quer da vida, afinal? Você quer viver ou morrer? Você quer ser feliz ou infeliz? Você quer ser livre ou escravo?" (Pedro, p. 72)

- "Eu sei que Deus existe, meu filho. Mas Ele não pode fazer tudo por nós. Nós também temos que fazer a nossa parte. Nós também temos que lutar." (Mãe, p. 95)

- "Você tem que ser forte, Maurício. Você tem que ser um homem. Você tem que seguir a tradição da família. Você tem que ser um advogado." (Pai, p. 118)

A simbologia do livro está relacionada ao título, que remete à ideia de um limite entre a infância e a maturidade, entre a inocência e a experiência, entre o sonho e a realidade. O branco é uma cor que representa a pureza, mas também a ausência, a indiferença, a frieza. O limite branco é, portanto, um espaço de transição, de conflito, de indefinição, de desafio.

A importância e a relevância cultural do livro se devem ao fato de que ele retrata uma época marcante da história do Brasil, em que a juventude enfrentava a repressão, a censura, a violência e a falta de perspectivas. O livro também se destaca por abordar temas universais, como a busca de identidade, a descoberta do amor, a rebelião contra o sistema, a crise existencial, a morte. O livro é considerado um clássico da literatura brasileira contemporânea e uma obra-prima de Caio Fernando Abreu.

Caio Fernando Abreu nasceu em Santiago, no Rio Grande do Sul, em 1948. Desde pequeno, demonstrou interesse pela literatura e publicou seu primeiro conto aos 18 anos. Estudou letras e artes cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas não concluiu os cursos. Trabalhou como jornalista em diversas revistas e jornais, como Veja, Manchete, Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo. Foi perseguido pela ditadura militar e se exilou na Europa por um ano. Voltou ao Brasil em 1974 e recomeçou sua carreira literária. Escreveu contos, romances, peças de teatro e crônicas. Recebeu três vezes o Prêmio Jabuti e uma vez o Prêmio Molière. Foi um dos principais representantes da geração que marcou a cena cultural brasileira nos anos 80. Era homossexual assumido e abordou em sua obra temas como sexo, drogas, violência, solidão, morte e existencialismo. Descobriu-se portador de HIV em 1994 e voltou a morar com seus pais em Porto Alegre. Morreu em 1996, aos 47 anos, vítima de complicações decorrentes da AIDS.

Limite branco é um livro que impressiona pela força e pela beleza de sua escrita. Caio Fernando Abreu consegue captar com sensibilidade e talento as emoções e os dilemas de uma geração que viveu em um período turbulento e desafiador da história do Brasil. O livro é um retrato fiel e ao mesmo tempo poético da juventude que buscou sua identidade, seu espaço, seu sentido, sua liberdade. O livro é uma obra que merece ser lida e relida, pois toca o leitor em sua essência, em sua humanidade, em sua fragilidade. O livro é um convite à reflexão, à emoção, à arte. O livro é um limite branco que se abre em um universo de cores.

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