Devolvemos ao público este volume de correspondência de Caio Fernando Abreu, esgotado havia vários anos, depois da pioneira edição pela editora Aeroplano, de 2002, uma iniciativa de Heloisa Buarque de Hollanda, composta por cartas enviadas por Caio a Maria Adelaide Amaral, Hilda Hilst, Flora Süssekind, Cida Moreira, Gilberto Gawronski, Jacqueline Cantore, João Silvério Trevisan, Mario Prata, entre outros. A presente edição das cartas de Caio marca os vinte anos de sua morte, ocorrida em 1996, e vem atualizada e enriquecida pelo acréscimo de cartas e cartões.
RESENHA
Cartas, de Caio Fernando Abreu, é uma coletânea de correspondências do escritor gaúcho com diversos amigos, colegas, familiares e amores, entre os anos de 1968 e 1995. O livro, organizado por Italo Moriconi, foi lançado em 2016, vinte anos após a morte de Caio, e traz uma visão íntima e reveladora de sua personalidade, de sua trajetória literária e de sua época.
Caio Fernando Abreu é considerado um dos principais representantes da literatura brasileira contemporânea, com uma obra marcada pela temática LGBT, pela abordagem da vida urbana, pela angústia existencial e pela busca de sentido em um mundo fragmentado e hostil. Seu estilo é econômico, direto, poético e confessional, misturando ficção e realidade, sonho e pesadelo, humor e melancolia.
Nas cartas, o leitor pode acompanhar as diferentes fases da vida e da carreira de Caio, desde sua estreia como contista na revista Cláudia, em 1966, até sua consagração como autor premiado e admirado pelo público e pela crítica. As cartas também revelam seus conflitos pessoais, como sua homossexualidade, sua relação com a família, sua perseguição pela ditadura militar, seu exílio na Europa, sua descoberta do HIV e sua luta contra a AIDS.
As cartas são endereçadas a nomes importantes da cultura brasileira, como Hilda Hilst, Maria Adelaide Amaral, João Gilberto Noll, Mário Prata, João Silvério Trevisan, Gilberto Gawronski, Cida Moreira, Flora Süssekind, entre outros. Nessas correspondências, Caio demonstra sua admiração, sua amizade, seu afeto, sua generosidade, sua sinceridade, sua ironia, sua crítica, sua solidariedade e sua saudade. Ele também comenta sobre seus projetos literários, suas leituras, suas influências, suas opiniões, seus desejos, seus medos, suas dores e suas esperanças.
As cartas são documentos valiosos para entender a obra e a vida de Caio Fernando Abreu, bem como o contexto histórico, social e cultural em que ele estava inserido. Elas são testemunhos de uma época marcada por transformações, conflitos, repressão, resistência, liberação, diversidade, violência, epidemia, morte e amor. Elas são, sobretudo, expressões de uma sensibilidade única, de uma voz autêntica, de uma escrita que emociona e provoca.
Cartas, de Caio Fernando Abreu, é um livro indispensável para os fãs do escritor, para os estudiosos da literatura e para os leitores que apreciam uma boa prosa. É um livro que nos aproxima de um dos maiores nomes da nossa literatura, que nos faz rir, chorar, pensar e sentir. É um livro que nos mostra que as cartas, além de serem uma forma de comunicação, são também uma forma de arte.
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