Existe um feminismo islâmico? Editora Tabla lança livro de Fatima Mernissi, uma das figuras mais importantes e influentes do feminismo árabe.
Somando-se ao livro Dez mitos sobre Israel, do historiador israelense Ilan Pappe, a Tabla, editora especializada em literaturas do Oriente Médio e do Norte da África, lança agora seu segundo título de não-ficção. Trata-se do livro Sultanas esquecidas: mulheres chefes de Estado no Islã, da socióloga marroquina Fatima Mernissi.
Em busca de evidências históricas sobre mulheres chefes de Estado no Islã, Fatima Mernissi nos convida a um mergulho no coração do império muçulmano. Atravessando mais de treze séculos de história e diversas sociedades com variadas culturas, ela descobre casos curiosos de rainhas muçulmanas esquecidas (ou apagadas) pela história oficial.
Nas páginas de Sultanas esquecidas, adentramos os palácios, as cortes, os haréns; acompanhamos as disputas de poder, as histórias de amor, as paixões arrebatadoras e intermináveis cortejos de intrigas e mistérios. Conhecemos mulheres poderosas, resistentes, resilientes; escravizadas, cortesãs, rainhas, sultanas; árabes, persas, mongóis, mamelucas. Cada uma tinha sua própria maneira de tratar o povo, fazer justiça e administrar os impostos. Algumas permaneceram no trono por muito tempo, outras mal tiveram tempo de se instalar nele. Muitas foram mortas por envenenamento ou apunhaladas. Raras são as que morreram calmamente em sua cama.
É pela evidência histórica, comprovada pelas fontes, pelos fatos e pelos cargos ocupados por essas mulheres que Mernissi desconstrói os discursos religiosos feitos por homens para obliterar o papel das mulheres no Islã, como coadjuvantes, pouco importantes ou relegadas ao confinamento e ao esquecimento.
“Essa obra, traduzida para o português, permitirá às leitoras e aos leitores no Brasil conhecer sobre o feminismo islâmico — que existe! — e sobre Fatima Mernissi, que ajudou a construir esse movimento emancipatório como um importante legado para o papel das mulheres no Brasil, no Islã e no mundo.”
Samira Adel Osman
Ao escrever a história do Islã a partir do protagonismo feminino, Mernissi contribui para a escrita da história das mulheres, independente de lugar, época ou religião. Muito além de defender que se escrevesse sobre as mulheres na história e sobre a história das mulheres, Mernissi advogava para que sobretudo as mulheres escrevessem a história porque, para ela, o maior equívoco foi permitir que não só a história, mas a memória, o coletivo e o espaço da produção do conhecimento fossem dominados por homens.
Um levantamento histórico, uma análise sociológica e uma reflexão sobre o poder e seus paradoxos, Sultanas esquecidas: mulheres chefes de Estado no Islã trata de uma questão sempre atual sobre o estatuto das mulheres e sua emancipação.
Leia um trecho da obra:
“Nossa reivindicação ao pleno gozo de nossos direitos universais, aqui e agora, passa necessariamente por uma nova apropriação da memória, uma releitura — a reconstrução de um passado muçulmano amplo e aberto. Fazer incursões a nosso passado pode não apenas nos divertir e nos instruir, mas também inspirar ideias preciosas sobre os modos de viver com alegria quando se é mulher, muçulmana e árabe — três características que tentam nos apresentar como um triângulo maléfico, um abismo de submissão e de abnegação em que nossas vontades devem inevitavelmente se dissolver.”
Fatima Mernissi nasceu em 1940, em Fez, no Marrocos. Foi socióloga, escritora e ativista pelos direitos da mulher nas sociedades muçulmanas.
Com formação na França e nos Estados Unidos, Mernissi foi professora de sociologia na Faculdade de Letras e Ciências Humanas da Universidade Mohamed V, em Rabat. Sua obra acadêmica se voltou a identificar as estruturas de poder que se coadunam para oprimir as mulheres ao longo da história, sendo grande crítica do colonialismo, do capitalismo, do imperialismo e da interpretação patriarcal do Islã.
Fatima Mernissi é considerada a fundadora do feminismo islâmico e figura importante e influente do feminismo árabe. Uma mulher intelectual, imponente e poderosa; ativista e revolucionária, livre-pensadora e humanista, a mais célebre escritora feminista dos tempos modernos, cujo legado inspirou e continuará inspirando gerações de homens e mulheres do Oriente e do Ocidente.
Em 2003, Mernissi ganhou o prêmio Príncipe de Astúrias de Literatura ao lado de Susan Sontag. Escrevia em francês, árabe e inglês, e seus livros foram traduzidos para mais de trinta idiomas.
Sobre a tradutora:
Marília Scalzo é jornalista e tradutora. Estudou francês na Aliança Francesa onde também foi professora. Formou-se pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e trabalhou no jornal Folha de S. Paulo e na Editora Abril. É autora, entre outros, do livro Jornalismo de Revista (Editora Contexto), e coautora com Celso Nucci dos livros Uma história de amor à música (Editora Bei) e Grande hotel (Senac). Trabalha como tradutora e coordenadora de Comunicação do Instituto Moreira Salles.
Sobre a editora Tabla:
A editora Tabla tem como foco a publicação de livros referentes às culturas do Oriente Médio e do Norte da África e seus ecos mundo afora. Com o objetivo de ressaltar os pontos de contato, percorrendo e construindo pontes culturais, nosso desejo é apresentar e representar essas culturas de forma autêntica, longe dos estereótipos.
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