O poeta Christian Dancini de Oliveira, natural de São Roque, São Paulo, é uma revelação no cenário da poesia contemporânea. Desde os onze anos de idade, ele se dedica a escrever versos e, aos 22 anos, já tinha dois livros publicados, além de diversos trabalhos em revistas renomadas. Em seu livro Dialeto das Nuvens, o autor nos leva a uma viagem por suas diferentes fases criativas, explorando desde a fragilidade humana até o surrealismo mais profundo. Nesta matéria, vamos conhecer mais sobre esse talentoso poeta e sua obra que nos convida a sentir, mais do que meramente entender.
Conheça cinco poemas presentes na obra dialeto das nuvens:
Coração índigo
Uma andorinha se desprende do teu crepúsculo,
eu vejo agora teus olhos confusos e tristes,
por trás da máscara. Equilibrista em minha aorta.
Um anjo azul e rosa que pousou na ponta da minha
melancolia.
O teu lume.
Deixastes para trás o teu lume
que, palpável, deslizou para dentro
da minha garganta.
Então, eu o engoli: borboletas em meu esôfago,
paz para os meus brônquios, relâmpagos em meu
estômago. O teu lume senta ao lado direito
do verdadeiro amor.
Os caminhos da morte
Há três caminhos a partir da morte: o caminho do alívio,
o caminho do eterno e o caminho do renascimento.
O alívio começa a partir do momento da morte:
já reparou como se alivia a face de um morto? Como
relaxam os músculos? A partir daí, começa o eterno:
como ondas de infinitos finitos são levadas pelo vento
ainda vivas, também o são a partir da morte. E por último, o
renascimento: quando um recém nascido chora
ele está adquirindo a consciência novamente em ondas
e ondas de espírito.
A morte é uma luz a fraquejar, bruxuleando, como pequenos
infinitos a romper em cada canto. Ela nunca apaga a existência
por completo, apenas cintila, pisca, mas volta sempre a acender
as chamas da vida nos olhos do amor.
O medo, a palavra e o acaso
A escuridão espia pela claraboia... paranoico, louco, vil...
Os corvos gritam em profundo silêncio: lux aeterna.
O câncer que corrói os ventos, a doença que se
espalha pelo ar,
o inconsciente dilacerado pela música,
o som grave dos tambores em aleluia,
e a escuridão que espia pela claraboia.
Os cervos suspensos em fá sustenido,
o medo, a palavra e o acaso,
a ocasião, as estrelas ululantes e o vento.
Tudo aquilo que passa a cada momento — os olhos da aurora —
sapateando pelo bumbo do coração das trevas.
E eu — o que resta de mim —, a palavra entre
vírgulas
na distopia da liberdade, eu danço com Virgílio e Homero
no sono do inconsciente.
Entropia.
Caos no fundo daqueles olhos,
beijar aquelas pálpebras seria o mesmo
que tocar o outono.
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