Foto: Arte digital // Divulgação |
Renata Ettinger, poeta baiana de Itabuna que encontrou na palavra um refúgio, nos presenteia com seus poemas carregados de sensibilidade e profundidade. Em sua obra, a autora nos convida a refletir sobre a vida, o silêncio, as emoções e os diversos aspectos da existência humana. Com uma trajetória rica em publicações e projetos, Renata Ettinger se destaca no cenário literário nacional, conquistando leitores e admiradores com sua poesia única e impactante. Neste artigo, exploraremos cinco dos seus poemas, mergulhando no universo poético desta talentosa escritora.
habitat
habitar a dor
frequentar seu habitat
conhecer os cômodos da casa
ser de casa
mas saber
chegar
tirar os sapatos
ao entrar
abrir a geladeira
pegar a garrafa de água
o copo no armário
beber ali em pé
encostado no balcão da cozinha
com a cava de um dos pés
no joelho
praticar a dor
deitar no sofá
mudar o canal da tevê
perceber do que ela é feita
do que somos feitos
cochilar de mau jeito
acordar com
uma dor nas costas
talvez o pescoço duro
de repousar a cabeça
no encosto de braço do sofá
não lhe ofereceu uma almofada
o ruim de ser de casa
botar a mesa do almoço
do jantar
do café
esquecer as colherinhas
sempre falta alguma coisa
degustar os sabores a conversa
perceber
do que ela é feita
lavar os pratos a alma
as mãos
do que somos feitos
saber
sair
perfurações
a furadeira
insiste do lado
de fora
parece que
é meu peito
que ela
a
trtr
trtrtr
a
vvvvve
eee
sssss
sa
a
espreme o coração
talvez querendo
um lugar pra pendurar
esse tempo de
bandeiras
estrelas
expectativas
não há como conter
os furacões mas fazer provisões
para esse tempo
aparar arestas
recolher o pó
preencher
frestas com versos
e luz
escolho minhas bandeiras
não há como evitar
perfurações
cicatriz ar
deixar a dor
esmaecer
ir assim
desbotando
a pele
vivendo
seu tempo
com calma
a dor
em si
pede
o desbotamento
do tempo
o viver
a pele
em seu processo de
cicatriz ar
por dentro
o existir em movimento
a dor
em ser
quem somos
o mar
arrebatando
a dor
sem lar
lá
nas narinas
o sal invade
as rimas
e ri
a dor
em sol
na praia
torpor estendido na areia
queimando
porcelana
a vida é porcelana
às vezes conseguimos
apanhá-la no ar
em outras
o que resta é colar os cacos
e seguir
do jeito que dá
a vida insiste
mas a qualquer momento
pode nos escapar
das mãos
tem jeito não
a vida é de quebrar
brechas
das coisas
que não podem
ser vistas
mas que
abrem
profundezas
o medo
do medo
abre um buraco
no meu peito
e mora
tento tapar
o buraco
com coisas
que podem
ser vistas
inclusive
com as
mãos
mas é como
tapar
o sol com
a peneira
pelas
brechas
escapam
a luz
o ar
o medo
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