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APRESENTAÇÃO
RESENHA
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São Bernardo é uma obra escrita por Graciliano Ramos em 1934, que faz parte do grupo de obras do Ciclo da Seca, característico do movimento Modernista da 2ª Geração (1930-1945). O livro aborda a situação difícil do Nordeste brasileiro, afetado pelas secas periódicas, as quais resultaram no êxodo rural, pobreza e lutas pela sobrevivência dos sertanejos.
Apesar de abordar essa temática, São Bernardo se destaca das demais obras da época pelo estilo narrativo em primeira pessoa, com um enfoque psicológico. O narrador-personagem, Paulo Honório, conta a história de sua ascensão de guia de cegos no interior de Alagoas até se tornar um poderoso latifundiário, sem escrúpulos ou ética.
Com uma narrativa sincera e intensa, Paulo Honório relembra sua vida enquanto fuma seu cachimbo na mesa da sala de jantar, escrevendo suas memórias. Após envolver-se em brigas e ser preso, ele decide tomar a fazenda São Bernardo, onde costumava trabalhar como empregado. Para isso, ele manipula Luís Padilha, herdeiro da fazenda, de forma a levá-lo à ruína financeira e obrigá-lo a vender a propriedade por um valor irrisório.
Paulo Honório tornou-se o proprietário de São Bernardo e conseguiu fazer a fazenda prosperar, expandindo seu território ao armar contra seu vizinho Mendonça, sendo o mandante de seu assassinato. Com auxílio de políticos locais, advogados e outras personalidades, ele ampliou sua rede de relacionamentos para garantir seus interesses.
Ao se casar com Madalena, uma jovem professora honesta, sincera e humana, a rotina da fazenda e a vida de Paulo Honório mudaram significativamente. Entretanto, a preocupação da esposa com o bem-estar dos empregados e suas críticas às atitudes do marido o deixaram inquieto, levando-o a crises de ciúme e agressividade. O nascimento do filho não foi capaz de acalmar as desconfianças de Paulo Honório, que ficava obcecado com a ideia da infidelidade de Madalena. Em um ciúme doentio, ele acusava constantemente a esposa de traição, levando-a a um estado de abatimento.
Em uma noite, ao flagrar Madalena escrevendo uma carta endereçada a outro homem, Paulo Honório perdeu o controle e em meio a uma discussão acalorada, ela o chamou de assassino. Convencido de que a esposa tinha amantes, ele mergulhou em delírios e aumentou o sofrimento e a solidão de Madalena, que se sentiu humilhada e desamparada.
Em uma tarde sombria, Paulo Honório se depara com uma folha de carta no chão, escrita pela sua esposa. Intrigado, ele decide procurar Madalena e a encontra na Igreja. Exigindo explicações, ela revela que aquela folha é parte de uma carta que está em seu escritório. Madalena pede perdão por todos os aborrecimentos e confessa que o ciúme arruinou a vida deles. No dia seguinte, ao retornar para casa, Paulo encontra Madalena. Ela havia cometido suicídio, deixando para trás uma carta de despedida que agora estava completa com a página que ele havia encontrado.
Com a morte de Madalena, a fazenda começa a declinar e a Revolução de 1930 se inicia. Paulo Honório enfrenta dificuldades nos negócios e se vê sozinho e abandonado. Refletindo sobre sua vida, ele percebe o quão desumanizado foi e confronta sua própria brutalidade. Incapaz de se transformar, Paulo busca um novo significado para sua existência.
S. Bernardo é uma obra magistral que nos leva a uma profunda reflexão sobre a sociedade brasileira e a natureza humana. Graciliano Ramos, com sua escrita elegante e envolvente, nos apresenta um retrato vívido do poder e da solidão, explorando temas complexos como identidade, memória e amor. A narrativa em primeira pessoa nos permite mergulhar na mente torturada de Paulo Honório, um protagonista ambíguo e intrigante, que nos faz questionar nossas próprias convicções e valores. Esta edição especial da Global Editora, enriquecida pelo estudo crítico de Regina Zilberman, acrescenta ainda mais profundidade e contexto a essa obra-prima da literatura brasileira. Sem dúvida, S. Bernardo é um tesouro que merece ser apreciado e revisitado, pois sua relevância e impacto perduram ao longo dos anos.
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