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Da Abdicação à Proclamação: A História do Hino Nacional Brasileiro

Foto: Wikki Commons

Francisco Manuel da Silva compôs a obra durante a Abdicação de Pedro I do Brasil, em 7 de abril de 1831. Sua estreia ocorreu no dia 14 do mesmo mês, na cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente no Teatro São Pedro. No entanto, foi novamente apresentado com o início das atividades legislativas em 3 de maio daquele ano e acompanhado por um drama chamado "O Dia Jubiloso para os Amantes da Liberdade" ou "A Queda do Tirano". 

O Hino oferecido aos Brasileiros por um patrício nativo, conhecido como "Hino ao 7 de Abril", foi registrado para ser executado nesta data em 1831 e nos anos seguintes. A dedicatória do compositor incluía o Grande e Heroico Dia 7 de Abril de 1831. Em 1833, uma letra escrita pelo desembargador Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva foi publicada no jornal "Sete de Abril" e aplicada pelo próprio compositor, que tinha um manuscrito da partitura com versão essa. 

A letra é marcada por um claro sentimento antiportuguês, onde o povo português é tratado com verdadeiro racismo numa passagem quando diz "Homens bárbaros, nascidos / Do sangue judeu e mouro / Desiludem-se: A Pátria / Já não é seu tesouro"; apesar de ainda pregar a unidade nacional do império e a lealdade à monarquia, os versos de Carvalho e Silva aludem a ideais republicanos. Também aludem à expansão do país após a independência do Uruguai em 1828, defendendo uma unidade nacional "do Amazonas ao Prata", como uma referência indireta à Província Cisplatina.

Durante a Coroação de D. Pedro II em 1841, uma letra desconhecida foi registrada. Além disso, Francisco Manuel da Silva compôs um hino para essa grande ocasião que gerou algum mal-entendido histórico no futuro: o historiador Sousa Pitanga erroneamente datou sua criação e Guilherme de Melo afirmou que diversas letras foram usadas com esse mesmo hino popularmente cantado na época . De qualquer forma, todos louvavam a unidade até "ao Prata" como parte dessa homenagem merecida ao rei vigente - D.Pedro II era honrado pela maioria das versões dos poemas musicados presentes nessa tradição nacional brasileira. 

Descobriu-se depois que as composições de Francisco Manuel da Silva foram usadas mais tarde em outros eventos importantes tambérem relacionamento com Dom PedroII - tal como quando Carlos Augusto Taunay escreveu um poema especial durante mostruosidades celebrando seu casamento no dia 13 de setembro do ano- -este famoso Hino Nacional esteve entre os destaques musicais apresentados por esta importante cultura brasileira em suas cerimônias puxadas.

Com a ascensão dos conservadores ao poder e a coroação de Pedro II, o Hino à Independência composto por Pedro I foi ressurgido como hino oficial da nova nação. A figura de Pedro I se tornou um "herói" nacional, resultando no esquecimento da letra de Carvalho e Silva e comemoração do 7 de abril como data importante. Essa versão alternativa se popularizou nas décadas seguintes através da publicação das partituras para execução particular - principal meio utilizado para divulgação musical na época - apresentando uma letra que repetia o estribilho original. 

Com a chegada da Proclamação da República, o mesmo hino monarquista apareceu. Surgiu então uma história que se relatou até em livros escolares, segundo a qual ao ouvir as músicas inscritas num concurso de composições musicais propostas pelo marechal Deodoro da Fonseca - chefe do governo provisório -, ele teria declarado "prefiro o velho". Em outubro de 1888 foi composto um novo hino para substituir La Marselhesa, cantada pelos republicanos até aquele momento; esse também aconteceu por meio de um concurso promovido por Silva Jardim. Entretanto, com o advento do regime republicano recém-estabelecido não permitiu qualquer divulgação dessa nova música escrita pelo farmacêutico Ernesto Souza. Portanto em novembro 22º dia no ano seguinte (1889) abriu-se outro concurso oficial organizado pelo Ministério do Interior e liderado por Aristides Lobo idealizado José Rodrigues Barbosa para selecionar um novo hino brasileiro contando como membros Leopoldo Miguez, Alfred Bevilqua Rodolfo Bernardelli e Rodolfa Amorado. 

O concurso de 1889 permitiu a participação de músicos "eruditos e populares". No entanto, temendo que ritmos africanos pudessem ser incluídos em tal competição, o crítico musical Oscar Guanabarino iniciou uma campanha em 4 de janeiro de 1890 usando vários pretextos, incluindo razões patrióticas, para argumentar contra a mudança do hino militar do Brasil, que ele afirmava ter sido usado por Deodoro durante a Guerra. do Paraguai. Este apelo foi apresentado ao Ministro da Guerra, Benjamin Constant, no dia 15 de Janeiro, pelo Major Serzedelo Correia, que o convenceu com sucesso a alterar o objectivo do próximo concurso, de determinar novos hinos militares para seleccionar um hino de proclamação nacional. Esta última foi finalmente vencida por Leopoldo Miguez, conforme reconhecido oficialmente no decreto número 171 de 20 de janeiro de 1890. 

O governo provisório reconheceu oficialmente a música, mas não a letra, através do Decreto 171 de 1890. A execução da mesma era realizada exclusivamente por instrumentos; no entanto, mesmo essa execução carecia de uniformidade, o que levou o compositor Alberto Nepomuceno a sugerir uma reforma do hino ao presidente Afonso Pena em 1906. 

Em 1909, foi realizado um concurso para selecionar uma letra que acompanhasse a já aceita composição oficial do Brasil. Hino Nacional. Devido ao seu perfeccionismo, Duque-Estrada fez alterações em novas passagens desde então até sua adoção oficial em 1922.  Porém, não houve consenso sobre a letra e tornou-se objeto de acalorados debates tanto na imprensa quanto no parlamento. Consequentemente, foram aprovadas às pressas para execução durante as comemorações do primeiro centenário do Brasil após a independência, em setembro de 1922. 

Em 21 de agosto de 1922, a União adquiriu a propriedade plena e definitiva da carta por R$ 5.000 (cinco mil reais) por meio de decreto número 4.559 emitido pelo então presidente Epitácio Pessoa. 

Em 1917, o cantor Vicente Celestino foi o primeiro a gravar o Hino Nacional acompanhado pela Banda do Batalhão Naval e um coral durante os refrões. A tonalidade B bemol desta versão tornou a interpretação difícil para as pessoas. A banda tocava em ritmo mais lento e solene no acompanhamento de Celestino, mas mantinha seu estilo tradicional (mais rápido e animado) apenas nos refrões - essa variação levou uma comissão oficial responsável pela reavaliação dos hinos nacionais a apreciá-la em 1936, ao mesmo tempo que causou insatisfação entre as bandas militares de daquela vez. No entanto, esta versão foi oficializada em 1922.

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