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Guerra de Tróia: Causas e desdobramentos

 

A Guerra de Troia, segundo a mitologia grega, foi um grande conflito entre os aqueus das cidades-estado da Grécia e Troia, possivelmente ocorrendo entre 1300 a.C. e 1200 a.C., no fim da Idade do Bronze no Mediterrâneo.

De acordo com a lenda, o conflito começou devido a uma disputa entre as deusas Hera, Atena e Afrodite. Isso aconteceu após Éris, a deusa da discórdia, oferecer a elas um pomo de ouro, conhecido como "Pomo da Discórdia", destinado "à mais bela". Zeus enviou as deusas a Páris, que declarou Afrodite a mais bela. Em troca, Afrodite fez Helena, a mulher mais bonita e esposa do rei grego Menelau, se apaixonar por Páris, que a levou para Troia. Agamenão, rei de Micenas e irmão de Menelau, reuniu os aqueus e liderou uma expedição contra Troia, cercando a cidade por dez anos em retaliação ao insulto de Páris. Após a morte de muitos heróis, incluindo Aquiles e Ájax pelos gregos, e Heitor e Páris pelos troianos, a cidade foi conquistada através do artifício do "Cavalo de Troia". Os aqueus então massacraram os troianos, exceto por mulheres e crianças, que foram escravizados, e profanaram seus templos, atraindo a fúria dos deuses. Poucos aqueus conseguiram retornar para suas casas e muitos tiveram que encontrar novos lares, fundando novas colônias. Os romanos alegavam ser descendentes de Eneias, um troiano filho de Afrodite, que teria liderado os sobreviventes de Troia até a região onde hoje é a Itália.

Os antigos gregos localizavam Troia perto dos Dardanelos e acreditavam que a Guerra de Troia era um evento histórico situado entre os séculos XIII e XII a.C. Até meados do século XIX, tanto a cidade quanto os eventos eram considerados míticos. Em 1868, no entanto, o arqueólogo britânico Frank Calvert persuadiu o alemão Heinrich Schliemann de que Troia existia verdadeiramente e estava situada em Hisarlik, na atual Turquia. Com base nas escavações lideradas por Schliemann e outros pesquisadores, estudiosos atuais acreditam na realidade de uma cidade-estado grega chamada Troia, embora ainda questionem a historicidade da guerra em si.

Se os eventos narrados por Homero e a lenda da "Guerra de Troia" possuem fundamento histórico, ainda é tema de debate entre acadêmicos. Muitos historiadores acreditam que há uma base histórica para a guerra, considerando que os contos homéricos podem ser uma coletânea de cercos e expedições realizadas pelos gregos micênicos durante a Idade do Bronze. Indicações históricas sugerem que a guerra, se realmente aconteceu, teria ocorrido entre os séculos XII e XI a.C., conforme as datas fornecidas por Eratóstenes (1194–1184 a.C.), que correspondem às evidências arqueológicas encontradas nas ruínas de Troia VII.

Causa


De acordo com a narrativa atribuída ao poeta Homero, o conflito se iniciou devido ao sequestro da rainha Helena, esposa do rei Menelau, por Páris, filho do rei Príamo. O incidente ocorreu quando Páris, em uma missão diplomática em Esparta, se apaixonou por Helena. Páris, que havia sido prometido por Afrodite a mulher mais bela do mundo, decidiu levá-la consigo. Este ato provocou a ira de Menelau, que, em resposta, convocou seu irmão Agamenão para organizar um poderoso exército. Agamenão, rei de Micenas, aceitou liderar a operação militar contra Troia. Dessa forma, uma frota de mais de mil navios cruzou o mar Egeu rumo à cidade troiana.

Historicidade

No período da Grécia Antiga, a Guerra de Troia era amplamente reconhecida como um evento histórico, mesmo que muitos concordassem que os poemas homéricos apresentavam exageros significativos. Tucídides, por exemplo, um historiador notório por sua abordagem crítica, acreditava na veracidade do acontecimento, mas questionava a participação de mais de mil navios gregos na empreitada contra Troia, como descrito por Homero.

Já por volta de 1870, no contexto europeu, os estudiosos da Antiguidade tinham um consenso de que as narrativas homéricas eram pura lenda, desacreditando tanto a guerra quanto a existência de Troia. Tudo isso mudou quando Heinrich Schliemann, um arqueólogo alemão entusiasta das obras de Homero, localizou as ruínas de Troia e Micenas, forçando uma revisão dessas interpretações.

Ao longo do século XX, análises baseadas em textos da época, como aqueles dos hititas e egípcios, foram desenvolvidas para entender melhor o contexto da Guerra de Troia. Arquivos hititas, incluindo as Cartas de Tauagalaua, mencionavam um reino chamado Aiaua (provável referência à Grécia) localizado além do mar Egeu e que controlava Miliuanda, identificada como Mileto. Outros documentos mencionam uma liga de 22 cidades, a Confederação de Assua, entre elas Uilussa (possivelmente Troia). Em um tratado datado de 1280 a.C., o governante de Uilussa é nomeado Alexandre ou Alaquesandu, um nome também atribuído a Páris na Ilíada.

Depois da Batalha de Cadexe contra o Egito de Ramessés II, a Confederação de Assua rompeu sua aliança com os hititas. Isso levou, em 1230 a.C., a uma campanha punitiva pelo rei hitita Tudália IV. Sob o reinado de Arnuanda III, porém, os hititas tiveram que ceder as terras costeiras do Egeu, possibilitando incursões marítimas. Nesse cenário, a Guerra de Troia seria um ataque do reino Aiaua contra Uilussa e seus aliados.

Historiadores como Moses Finley e Milman Parry associaram a Guerra de Troia a movimentos migratórios micênicos resultantes das invasões dóricas no Peloponeso. Eles também exploraram possíveis conexões com ataques ao Egito por "povos do mar" durante o reinado de Ramessés III.

Por outro lado, céticos questionam a autenticidade da guerra glorificada por Homero, baseando suas dúvidas na ausência de registros hititas sobre uma invasão da Anatólia por forças marítimas.

Em suma, mesmo que Schliemann tenha descoberto ruínas associadas a Troia no local indicado por Homero, a veracidade histórica da Guerra de Troia ainda divide os estudiosos.

Os eventos relacionados à Guerra de Tróia são apresentados de diversas maneiras na literatura e arte grega. Não existe um texto único que narre todos os acontecimentos desta guerra; ao invés disso, a história é construída a partir de múltiplas fontes, algumas das quais apresentam versões contraditórias. As obras literárias mais significativas são os épicos tradicionalmente atribuídos a Homero, "A Ilíada" e "A Odisseia", compostos provavelmente entre os séculos 9 e 6 a.C. "A Ilíada" aborda um breve período no final do cerco de Tróia, enquanto "A Odisseia" trata do retorno de Ulisses a Ítaca após a queda de Tróia, incluindo flashbacks de eventos específicos da guerra.

Outros aspectos da Guerra de Tróia são narrados nos poemas do Ciclo Épico, também conhecidos como Épicos Cíclicos, que incluem obras como "Cipria", "Etiópia", "Pequena Ilíada", "Iliou Persis", "Nostoi" e "Telegonia". Embora esses poemas só tenham sobrevivido em fragmentos, seu conteúdo é conhecido por meio de resumos incluídos na "Chrestomathy de Proclo". A autoria dos Épicos Cíclicos é incerta, mas acredita-se geralmente que foram escritos nos séculos 7 e 6 a.C., baseando-se em tradições mais antigas.

Tanto os épicos de Homero quanto os do Ciclo Épico têm raízes na tradição oral. Após a composição de "A Ilíada", "A Odisseia" e os Épicos Cíclicos, os mitos da Guerra de Tróia continuaram a ser transmitidos oralmente em variados gêneros de poesia e narrativas não poéticas. Detalhes e eventos da história, encontrados apenas em obras posteriores, podem ter sido preservados através da tradição oral, sendo tão antigos quanto os poemas homéricos. Além disso, os mitos da Guerra de Tróia circularam também por meio da arte visual, como na pintura em vasos.

Em tempos posteriores, dramaturgos, historiadores e outros intelectuais produziram obras inspiradas na Guerra de Tróia. Os grandes dramaturgos de Atenas, Ésquilo, Sófocles e Eurípides, escreveram diversas peças retratando episódios desta guerra. No âmbito da literatura romana, o poeta Virgílio, no século 1 a.C., é de particular importância; no Livro 2 de sua "Eneida", Eneias narra a destruição de Tróia.

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