APRESENTAÇÃO
A Editora Contracorrente tem a honra de anunciar a publicação do livro Heitor Villa-Lobos: vida e obra (1887-1959), do musicólogo finlandês Eero Tarasti.
A tradução deste livro é um grande acontecimento para os estudos dedicados à vida e obra de Heitor Villa-Lobos no Brasil.
Nele Tarasti investiga a fundo toda a vastidão da obra villalobiana, apresentando obras que ainda hoje são pouco conhecidas entre nós brasileiros, como as óperas Izaht, Menina das Nuvens e Yerma, ou obras sinfônicas como O Papagaio do Moleque e a cantata Mandú-Çárárá. Se o livro era lido e constantemente citado no Brasil por um círculo restrito de conhecedores, muitas vezes a partir de cópias xerográficas ou digitalizações pouco legíveis do original em inglês, que está esgotado, esta tradução certamente irá permitir que um número muito maior de músicos, pesquisadores e apreciadores da música brasileira possam conhecer mais os tesouros que Villa-Lobos nos deixou e que precisam ser ouvidos nos palcos e em gravações.
RESENHA
O livro de Eero Tarasti, traduzido para o português, representa um marco nos estudos sobre Heitor Villa-Lobos no Brasil. O trabalho abrange quase toda a extensa produção musical do compositor, estabelecendo critérios atualizados para a literatura musicológica sobre ele. Tarasti realiza uma análise intertextual da obra villalobiana, associando-a a diversos compositores europeus e americanos, além de investigar a literatura sobre Villa-Lobos. O autor identifica quatro aspectos paradigmáticos na abordagem da música de Villa-Lobos: questões harmônicas, formais, estruturas simétricas e simbólicas. A tradução do livro apresenta desafios, incluindo a adaptação de termos específicos. O texto traz análises minuciosas e reveladoras, ampliando o entendimento sobre a música de Villa-Lobos. A obra de Tarasti estimulou estudos posteriores sobre Villa-Lobos e promoveu uma maior visibilidade da produção musical do compositor.
Um musicólogo finlandês decide estudar a vida e obra de Villa-Lobos, um compositor brasileiro, inspirado pelas ideias de Claude Lévi-Strauss sobre a relação entre mitos e música dos índios sul-americanos. Com uma bolsa do Rotary International, ele viaja para o Brasil, onde tem experiências memoráveis e estuda a música de Villa-Lobos e dos índios brasileiros. Apesar de enfrentar desafios e adiamentos, ele finalmente completa seu estudo, apresentando análises das principais obras de Villa-Lobos e um panorama da cultura musical latino-americana. Agradece a todas as pessoas e instituições que contribuíram para a realização do livro.
O livro se torna uma referência na área da musicologia, contribuindo para uma melhor compreensão da influência dos mitos e da música indígena na obra de Villa-Lobos e enriquecendo o conhecimento sobre a cultura musical latino-americana. O musicólogo finlandês recebe reconhecimento internacional por seu trabalho e é convidado a participar de conferências e palestras ao redor do mundo, disseminando ainda mais seu estudo e fortalecendo as relações culturais entre Finlândia e Brasil. Sua jornada de pesquisa e descoberta se transforma em uma experiência enriquecedora e transformadora, deixando um legado duradouro no campo da música e da etnomusicologia.
O estudo retrata o compositor Villa-Lobos através de sua música, alegando que a biografia definitiva do artista ainda não foi escrita. Comenta-se sobre a complexidade do compositor, suas contradições e mitos em torno de sua vida. É ressaltada a importância de analisar sua personalidade por meio de fontes confiáveis, como relatos verbais e suas composições. O texto destaca a influência da cultura brasileira na maneira como Villa-Lobos se expressava, mostrando a necessidade de interpretar suas falas de forma não literal. Também são mencionadas informações sobre a família do compositor e seu ambiente musical na infância.
Villa-Lobos não teve seguidores ou imitadores, e sua música baseava-se na essência popular do Rio de Janeiro, enquanto o modernismo em São Paulo estava mais concentrado em manifestações artísticas completamente diferentes. Apesar disso, a Semana de Arte Moderna de 1922 teve Villa-Lobos como destaque em suas apresentações musicais, causando escândalo e se tornando um marco na história da arte brasileira. A relação entre Villa-Lobos, Mário de Andrade e outros modernistas foi ambígua, mas Villa-Lobos acabou por representar de forma mais concreta as ideias de nacionalismo e modernismo defendidas pelo grupo.
A melodia cantabile de Villa-Lobos é ornada por trinados e glissandos, evocando um sentimento de saudade ou nostalgia. O clarinete entra logo em seguida, com notas marcadas e acentuadas, criando um diálogo entre os instrumentos. O ritmo se torna mais livre e fluido, em contraste com a seção anterior. 4ª seção: 6-7. O compasso 6 marca o retorno a um ritmo mais animado e enérgico, com os instrumentos entrando em um diálogo vigoroso. Os movimentos rápidos e os motivos ascendentes e descendentes criam um clima de urgência e dinamismo. Esta seção apresenta uma estrutura mais complexa, com os instrumentos interagindo de forma mais intricada e entrelaçada. 5ª seção: 8-9. A última seção serve como uma espécie de epílogo, trazendo de volta elementos das seções anteriores. A melodia lírica da flauta retorna, enquanto o clarinete fornece contrapontos e adornos. Os instrumentos se unem em um final majestoso e virtuosístico, encerrando a obra com força e determinação. O Choros nº 2 é uma obra complexa e multifacetada, que combina elementos do folclore brasileiro com referências à tradição europeia. Suas seções contrastantes e variedades de temas criam uma narrativa musical envolvente e cativante. A interação entre os instrumentos, alternando entre diálogos repletos de energia e momentos introspectivos e líricos, acrescenta profundidade e complexidade à composição. VillaLobos demonstra sua habilidade em explorar as possibilidades sonoras e expressivas dos sopros, criando uma obra rica em texturas e cores musicais. O Choros nº 2 é um exemplo marcante do talento único e inovador de Villa-Lobos como compositor.
O trabalho de Eero Tarasti sobre Villa-Lobos é uma leitura essencial para qualquer estudioso de música no Brasil. Sua análise profunda e minuciosa da obra do compositor lança luz sobre aspectos até então pouco explorados, como suas influências e a intertextualidade de sua música. A tradução para o português permitiu que mais pessoas tivessem acesso a essa pesquisa de alta qualidade, enriquecendo o cenário acadêmico e ampliando o entendimento sobre Villa-Lobos e sua contribuição para a música brasileira. Tarasti merece todo o reconhecimento pelo seu trabalho excepcional, que certamente será referência por muitos anos.
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