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Terceira Cruzada: Contexto e desdobramentos

A Terceira Cruzada (1189-1192), convocada pelo Papa Gregório VIII em resposta à captura de Jerusalém por Saladino em 1187, recebeu o nome de Cruzada dos Reis. Esse título deve-se à participação dos três monarcas mais influentes da Europa na época: Filipe Augusto da França, Frederico Barba Ruiva do Sacro Império Romano-Germânico e Ricardo Coração de Leão da Inglaterra. Eles reuniram a maior força cruzada desde 1095. Uma característica distintiva dessa cruzada foi a inclusão dos Cavaleiros Teutônicos.

Causas

Após 25 anos de intensas lutas internas e ofensivas maometanas subsequentes à Segunda Cruzada, os estados cruzados do Oriente enfrentaram uma crise política e militar. Paradoxalmente, essa fase também trouxe um desenvolvimento econômico e patrimonial. No século XIII, surgiu o código Assises de Jerusalém (Fundamentos do Reino de Jerusalém), que formalizou o sistema feudal na região. Durante esse período, duas ordens militares cristãs, os cavaleiros de São João de Jerusalém e os templários, ampliaram sua influência. O regime feudal foi amplamente adotado pelos diversos povos europeus que ali se estabeleceram, o que ocasionou desentendimentos entre os estados e os próprios cristãos, além de um novo perigo: o sultão aiúbida Saladino. A Igreja foi totalmente latinizada, e se consolidou uma população com origem em quase toda a Europa.

Na década de 1180, o Reino Latino de Jerusalém vivenciava tempos difíceis. O rei Balduíno IV, enfraquecido pela lepra, enfrentava um baronato cada vez mais insubordinado. Percebendo essa fragilidade, os muçulmanos intensificavam a pressão. Neste cenário tenso, um passo em falso poderia ser desastroso. Ele veio pelas mãos do cavaleiro Reinaldo de Châtillon, que atacou uma caravana transportando a irmã de Saladino, levando o sultão a convocar uma jihad.

Saladino conquistou Damasco em 1174 e Alepo em 1183. Em 1187, avançou pela Galileia e, na região dos Cornos de Hatim, enfrentou as forças cristãs na Batalha de Hatim. O lado cristão era liderado por Guido de Lusignan, rei consorte de Jerusalém, e Raimundo III de Trípoli, príncipe da Galileia, totalizando cerca de 60 mil homens, incluindo cavaleiros, soldados e mercenários muçulmanos. A dinastia aiúbida, sob o comando de Saladino, reunia cerca de 70 mil guerreiros. Quando os cruzados acamparam em um campo aberto após um longo dia de combates, os homens de Saladino atearam fogo ao redor, cortando o acesso dos cristãos à água fresca. A cortina de fumaça tornou difícil evitar a chuva de flechas muçulmanas. Com a sede tomando conta, muitos cruzados desertaram. Aqueles que permaneceram foram massacrados, e Jerusalém foi capturada por Saladino em outubro de 1187. Guido teve sua vida poupada, enquanto Raimundo conseguiu escapar da batalha. Isso gerou uma nova onda de preocupação entre os cristãos sobre a condição da Terra Santa. Em 1189, Guido de Lusignan tentou recapturar Jerusalém, num conflito prolongado que só terminaria com a chegada de Ricardo Coração de Leão, o rei da Inglaterra.

A cruzada

O imperador Frederico Barbarossa, atendendo aos apelos do papa, partiu com um contingente alemão de Ratisbona e seguiu o caminho pelo Danúbio através da Europa Oriental, atravessando com sucesso a península da Ásia Menor. Na Cilícia, ao atravessar o rio Sélef (hoje Goksu), um dos rios da Anatólia Oriental, Frederico caiu do cavalo e, não conseguindo se levantar devido ao peso da armadura, morreu afogado. Sua morte resultou, na prática, no fim dessa expedição.

Os franceses e ingleses seguiram pelo mar em direção a Acre, na costa norte da Terra Santa. Em abril de 1191, os franceses alcançaram Acre, e dois meses depois foram seguidos por Ricardo. Após um mês de cerco, os cruzados tomaram a cidade e seguiram para Jerusalém, agora sem o rei francês, que retornara a seu país após o cerco de Acre. Ainda em 1191, em Arsuf, Ricardo Coração de Leão derrotou as forças muçulmanas e retomou Jafa (atual Telavive).

Ricardo Coração de Leão conseguiu feitos notáveis como a conquista de Chipre (que se tornou um reino latino em 1197), Acre, Jafa e várias vitórias contra forças superiores. Conquistando a cidade de São João de Acre para a cristandade, ele adquiriu o título de Coração de Leão. Teve como adversário Saladino, com quem travou uma batalha tática intensa. Embora nunca tenham se encontrado pessoalmente, eles se respeitavam mutuamente, trocando presentes e honrarias. Em 1192, um acordo foi firmado: os cristãos mantinham o território conquistado na Palestina e obtinham o direito de peregrinar (desarmados) a Jerusalém, que permaneceria sob controle muçulmano. Isso transformou São João de Acre na capital dos Estados Latinos na Terra Santa. Apesar de não conquistar Jerusalém, a Terceira Cruzada obteve outros resultados: Saladino viu sua série de vitórias iniciais serem interrompidas e o território de Ultramar sobreviveu. Assim, terminou a Terceira Cruzada, que consolidou os estados cristãos no Oriente.

Após a trégua com Saladino, Ricardo voltou à Inglaterra sem jamais ter entrado em Jerusalém. Porém, durante o retorno, seu navio naufragou e ele foi capturado pelo Duque da Áustria, cujo estandarte ele havia removido das muralhas de Acre durante a conquista. Posteriormente, Ricardo foi vendido ao imperador germânico, que o libertou mediante pagamento de resgate.

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