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Resenha: Emburrecimento programado o currículo oculto da escolarização obrigatória, de John Taylor Gatto

Foto: Arte da capa / Ed. Kirion

O livro "Emburrecimento Programado: o currículo oculto da escolarização obrigatória", escrito por John Taylor Gatto, convida a uma reflexão profunda sobre o sistema educacional e suas consequências na sociedade. Gatto, um educador renomado e crítico da escola obrigatória, dedicou sua vida a expor as falhas e a verdadeira intenção por trás da educação formal. Em suas páginas, ele compartilha suas observações e vivências, questionando a eficácia do sistema de ensino e defendendo a educação fora dos moldes tradicionais. Com uma abordagem crítica e instigante, Gatto provoca os leitores a repensarem suas práticas educativas, incentivando uma educação mais consciente e libertadora.

O autor critica o sistema educacional e a manipulação das instituições para moldar uma mão-de-obra dócil e conformada. O autor questiona a eficácia das escolas, apontando que elas são bem-sucedidas em seu objetivo de produzir trabalhadores obedientes, e critica a abordagem publicitária para aumentar a demanda por recursos educacionais. Por fim, sugere que a saída desse sistema é a autoconfiança e a independência das regras impostas. O autor ainda aborda a ideia de que as reformas educacionais nunca são concluídas e que a sociedade está presa em um ciclo de dependência intelectual e emocional. Destaca-se a importância de uma educação baseada na auto-iniciativa e na autogestão democrática, mencionando a visão de Dan Greenberg sobre a educação do século XXI. Por fim, enfatiza-se a resistência contra o sistema educacional atual, que busca emburrecer as crianças para atender aos interesses da sociedade. A obra de Gatto é vista como uma possibilidade de resistência e uma forma de proteger a liberdade e criatividade das crianças.

Para reafirmar sua ideia da falibilidade do sistema educacional o autor usa da descrição de sete 'bases' educacionais do ensino tradicional, sendo elas:

1. A confusão

Kathy de Dubois, em Indiana, acredita que as crianças pequenas precisam entender que o que estão aprendendo está ligado a um sistema, com coerência. No entanto, o autor discorda, afirmando que ensina a desconexão e a não-relação de tudo, em um ambiente escolar que carece de coerência e sentido. Ele enfatiza a importância de aprender em profundidade e extrair sentido dos dados brutos, criticando a falta de conexão nas sequências escolares. O autor ensina os alunos a aceitarem a confusão como parte de seu destino, questionando a lógica da educação tradicional.

2. Posição de classe

A segunda lição ensinada pelo autor é sobre a posição de classe na escola. Ele afirma que as crianças devem permanecer nas classes a que pertencem, que são determinadas por números. O autor incentiva os alunos a aceitarem sua posição na hierarquia escolar e a valorizarem as classes mais altas, enquanto desprezam as classes consideradas inferiores. Ele também oferece a possibilidade de transferência para uma classe mais alta como recompensa por um bom desempenho acadêmico, embora admita que isso não tenha impacto real no futuro profissional dos alunos. O autor destaca a importância de aceitar e se conformar com a posição atribuída pela escola, ressaltando que é improvável que alguém consiga escapar da sua classe designada.

3. Indiferença

O autor descreve como o sistema escolar ensina a indiferença aos alunos, incentivando-os a não se importarem com nada, sempre interrompendo suas atividades e nunca permitindo que terminem algo importante. Isso os condiciona a um mundo onde nada é digno de ser concluído e onde a importância é minimizada. Os sinais são a lógica secreta do tempo escolar, destruindo passado e futuro e tornando cada intervalo de tempo igual ao anterior, promovendo a indiferença em todas as atividades.

4. Dependência emocional

O autor ensina sobre a dependência emocional nas crianças, através de recompensas e punições para moldar seu comportamento e fazer com que cedam sua vontade à autoridade escolar. Ele interfere em decisões pessoais e julga a individualidade como uma ameaça ao controle. As crianças buscam momentos de privacidade e liberdade, que o autor permite para condicioná-las a depender de sua benevolência. Ele reconhece apenas privilégios que podem ser retirados com base no comportamento.

5. Dependência Intelectual

O autor destaca a importância da dependência intelectual, afirmando que bons alunos devem esperar que os professores os guiem e determinem o que devem aprender. Ele ressalta que a conformidade é mais importante do que a curiosidade, e que aqueles que resistem às instruções dos professores são considerados "crianças ruins". O autor também discute como a sociedade depende da dependência das pessoas para manter serviços e indústrias funcionando, e alerta que uma reforma educacional radical poderia ameaçar o estilo de vida atual.

6. Autoestima provisória

A autoestima provisória ensina que o respeito próprio de uma criança deve depender da opinião de um especialista, sendo constantemente avaliada e julgada. Relatórios mensais são enviados para os pais para indicar o nível de insatisfação com a criança, perpetuando assim a falta de confiança e dependência das avaliações de autoridades. A auto-avaliação e a confiança em si mesmo não são consideradas, em detrimento da valorização da opinião de terceiros.

7. Não é possível esconder-se

A sétima lição do professor é que não é possível se esconder, pois todos estão sendo constantemente observados. Ele incentiva os alunos a delatarem uns aos outros e até mesmo seus próprios pais, criando um ambiente de vigilância constante e ausência de privacidade. Ele critica a escolarização em massa e compulsória monopolizada pelo governo, que impede o desenvolvimento autêntico das crianças. O professor defende a necessidade de uma reformulação do sistema educacional, com um mercado livre de educação pública, para permitir mais variedade e individualidade no ensino. Ele acredita que as lições da escola impedem as crianças de desenvolverem habilidades essenciais como automotivação, autoestima e amor ao próximo. Ele argumenta que a escolarização atual é destrutiva para as crianças e defende uma mudança radical no sistema educacional.

Foto: Arte digital / Reprodução da capa

Após a introdução das sete lições, o autor autor fala sobre a crise na educação e na sociedade, destacando a desconexão das crianças do mundo adulto e a falta de curiosidade, noção do futuro e compreensão histórica. Ele critica o sistema educacional, destacando a escola como uma instituição que não ensina nada além de obedecer a ordens. Propõe reformas, como o serviço comunitário obrigatório e a valorização do autoconhecimento e da autonomia das crianças. Defende a importância da família no processo educativo e a necessidade de repensar a ideia de "escola" para incluir a família como principal força motriz da educação.

O ainda autor narra suas experiências pessoais que o levaram a se tornar professor, desde sua infância no Rio Monongahela até sua vida como professor substituto em escolas de Nova York. Ele relata como um incidente com uma aluna, Milagros, o fez repensar sua carreira na publicidade e buscar um propósito mais significativo como educador. Ele destaca a importância de encontrar sentido no trabalho e de buscar justiça para os alunos, mesmo diante das adversidades enfrentadas no sistema educacional.

O autor argumenta que o aumento da escolarização compulsória não é a solução para os problemas enfrentados pela sociedade americana. O autor defende que a escolarização em massa é incapaz de promover a verdadeira educação, que valoriza a individualidade, a autoconhecimento e a participação em comunidades reais. Ele critica a mentalidade das redes operacionais, que enfatizam a eficiência em objetivos limitados em detrimento do desenvolvimento humano completo. O autor destaca a importância da privacidade, variedade e individualidade na formação das crianças e argumenta que a escola atualmente prejudica as crianças, as famílias e as comunidades ao invés de promover seu desenvolvimento. Ele propõe desmembrar o sistema educacional atual e promover uma educação mais autêntica, baseada na liberdade individual e na participação na vida em comunidade.

O autor segue abordando a questão da educação nos Estados Unidos, criticando a instituição da escola científica e defendendo uma abordagem baseada no princípio congregacional. Ele cita exemplos históricos da Nova Inglaterra colonial para ilustrar como a descentralização e a liberdade de escolha nas comunidades locais levaram a uma educação mais eficaz. Ele critica a abordagem atual da educação, baseada em padronização e centralização, e sugere que a confiança nas famílias e indivíduos, juntamente com a experimentação e a autonomia local, pode ser a chave para melhorar o sistema educacional. Ele defende a descertificação dos professores, a devolução do dinheiro dos impostos para que as famílias escolham a educação de seus filhos e o estímulo à competição em um mercado livre de manipulações. Ele destaca a importância de considerar o propósito da educação e não permitir que especialistas respondam a essa pergunta no lugar das famílias e comunidades locais.

O trabalho de John Taylor Gatto, "Emburrecimento programado o currículo oculto da escolarização obrigatória", é uma leitura instigante e esclarecedora que desafia os leitores a refletir sobre a natureza do sistema educacional e suas implicações para a sociedade. Com sua vasta experiência como educador, o autor apresenta uma análise perceptiva das deficiências dos métodos tradicionais de ensino, questionando a eficácia das instituições educacionais na promoção do desenvolvimento autêntico e completo dos alunos. Suas críticas são bem fundamentadas, com legitimidade e profundidade embutidas em seus argumentos. A abordagem crítica e instigante de Gatto desafia os leitores a reconsiderar suas próprias práticas educacionais e considerar alternativas mais conscientes e libertadoras. Ele não apenas identifica os problemas do sistema, mas também sugere possíveis soluções para uma educação transformadora. Sua defesa da autonomia, individualidade e participação ativa das famílias no processo educacional ressoa como uma proposta inovadora essencial para um desenvolvimento holístico de crianças e jovens.

Em tempos de crescente homogeneização e padronização na educação, o trabalho de Gatto se destaca como um alerta necessário para a importância da diversidade, experimentação e liberdade no campo da educação. Sua visão crítica, porém amorosa, convida os leitores a questionar as estruturas atuais e lutar por uma abordagem mais humanística, inclusiva e autêntica para o aprendizado. Sem dúvida, uma peça importante que merece leitura e debate por educadores, pais e qualquer pessoa comprometida em promover mudanças positivas em nosso sistema educacional.

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