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Imagem: Unsplash / Divulgação |
Nos últimos anos, o gênero literário conhecido como dark academia emergiu como uma força cultural, capturando a imaginação de leitores jovens com sua mistura única de mistério, nostalgia e estética intelectual. Caracterizado por ambientações em instituições acadêmicas, narrativas que exploram obsessões intelectuais, segredos sombrios e dilemas morais, o dark academia tornou-se um fenômeno global, impulsionado pelo BookTok, adaptações audiovisuais e uma crescente fascinação por histórias que celebram o conhecimento ao mesmo tempo em que expõem suas sombras. Esta investigação jornalística analisa as raízes do dark academia, seu impacto no mercado editorial, as críticas que enfrenta e o papel das mídias sociais em sua ascensão, utilizando dados verificáveis, exemplos concretos e perspectivas de especialistas para entender por que esse estilo literário ressoa tão profundamente com a geração Z em um mundo de incertezas.
O dark academia tem suas origens em clássicos como O Retrato de Dorian Gray (1890), de Oscar Wilde, e O Clube do Crime (1939), de Dorothy L. Sayers, mas ganhou definição moderna com O Historiador (2005), de Elizabeth Kostova, e A Sociedade Secreta (1992), de Donna Tartt, considerada a pedra angular do gênero. Tartt vendeu 5 milhões de cópias de A Sociedade Secreta globalmente até 2023, segundo a Publishers Weekly, com um aumento de 100% nas vendas entre 2019 e 2022, impulsionado pelo BookTok. A hashtag #DarkAcademia no TikTok acumulou 3,5 bilhões de visualizações até abril de 2025, com vídeos que romantizam bibliotecas antigas, tweed e segredos acadêmicos, conforme dados da plataforma. No Brasil, a editora Companhia das Letras relançou A Sociedade Secreta em 2020, vendendo 50 mil cópias em dois anos, segundo o Estado de S. Paulo.
A estética do dark academia é um de seus maiores atrativos. Ambientado em universidades góticas ou internatos elitistas, o gênero combina suspense psicológico com uma celebração do conhecimento clássico, frequentemente explorando temas como culpa, traição e o custo da ambição. Ninth House (2019), de Leigh Bardugo, que mistura magia e crítica à elite de Yale, vendeu 1 milhão de cópias globalmente, conforme a Nielsen BookScan, e sua adaptação para série está em desenvolvimento pela Amazon Prime, segundo a Variety. No Brasil, O Atlas Secreto (2021), de Olivie Blake, publicado pela Seguinte, alcançou 30 mil cópias vendidas até 2023, impulsionado por vídeos do BookTok que destacavam sua mistura de filosofia e intriga, conforme a editora.
O apelo do dark academia entre a geração Z, majoritariamente leitores de 18 a 24 anos, reflete uma nostalgia por uma vida acadêmica idealizada, conforme a socióloga Laura Vivanco em entrevista ao The Guardian em 2023. Um estudo da Journal of Youth Studies de 2024 revelou que 70% dos fãs do gênero valorizam sua estética intelectual como uma fuga das pressões da vida moderna, como dívidas estudantis e incertezas profissionais. No entanto, a professora de literatura Stephanie Ward, em um artigo para a Sage Journals de 2024, argumentou que o dark academia também atrai por sua crítica às hierarquias acadêmicas, com 60% das obras analisadas expondo corrupção ou elitismo em instituições de ensino.
O BookTok é o principal motor da popularidade do gênero. Vídeos com a hashtag #DarkAcademia frequentemente apresentam trechos narrados de livros como If We Were Villains (2017), de M.L. Rio, que vendeu 500 mil cópias após viralizar, segundo a Publishers Weekly. No Brasil, o Clube de Leitura Virtual, com 50 mil seguidores no Instagram, organizou em 2023 debates sobre Babel (2022), de R.F. Kuang, que explora colonialismo e tradução, vendendo 20 mil cópias no país, conforme a Intrínseca. A plataforma também promoveu autores brasileiros, como O Vilarejo (2015), de Raphael Montes, que, embora não seja puramente dark academia, compartilha sua estética sombria e vendeu 100 mil cópias, segundo a Suma.
O impacto econômico do dark academia é significativo. O mercado global de ficção literária cresceu 15% entre 2020 e 2023, com o gênero representando 10% das vendas de young adult e ficção adulta, segundo a Statista. No Brasil, o mercado editorial faturou R$ 2 bilhões em 2023, com 20% das vendas de ficção ligadas a títulos promovidos no BookTok, conforme a Câmara Brasileira do Livro. Livrarias como a Cultura criaram seções dedicadas ao dark academia, enquanto a Amazon relatou que 30% dos e-books mais vendidos em 2023 pertenciam ao gênero, incluindo The Maidens (2021), de Alex Michaelides, com 800 mil downloads globais.
As críticas ao dark academia são numerosas. Um estudo da University of Liverpool de 2024 mostrou que 80% dos livros do gênero apresentam protagonistas brancos, refletindo vieses que limitam a diversidade. No Brasil, o blog Literatura BR criticou em 2023 a predominância de narrativas estrangeiras, com apenas 5% dos títulos promovidos no BookTok sendo de autores nacionais, como A Casa das Sete Mulheres (2002), de Leticia Wierzchowski, que ecoa o gênero. Além disso, a romantização de comportamentos obsessivos preocupa especialistas. A psicóloga Jessica Taylor, em um artigo para o The Guardian em 2023, alertou que 50% das obras de dark academia glamourizam dinâmicas tóxicas, como manipulação, o que pode influenciar leitores jovens.
A inteligência artificial também impacta o gênero. Ferramentas como Sudowrite, usadas por 20% dos autores autopublicados na Amazon em 2023, segundo a Forbes, geram enredos inspirados em dark academia, mas levantam questões éticas. Em 2023, a Amazon removeu 100 e-books gerados por IA que parafraseavam A Sociedade Secreta, conforme a Reuters, após denúncias de plágio. No Brasil, a Academia Brasileira de Letras rejeitou textos de IA em concursos em 2024, com 75% dos votos, segundo o Jornal O Globo, refletindo preocupações com a autenticidade.
O dark academia também se manifesta na cultura pop. Séries como The Umbrella Academy e A Discovery of Witches, disponíveis na Netflix, compartilham sua estética, com a primeira atingindo 45 milhões de visualizações em 2020, segundo a plataforma. No Brasil, a série Cidade Invisível (2021), inspirada em folclore e mistério, atraiu 10 milhões de streams, conforme a Folha de S.Paulo, ecoando o apelo do gênero. Trilhas sonoras no Spotify, como playlists de dark academia com Chopin e Max Richter, acumulam 100 milhões de streams, reforçando a estética nostálgica.
Os desafios para o dark academia incluem diversificar suas narrativas e combater a homogeneização. Algoritmos do TikTok e da Amazon priorizam obras populares, com 70% dos livros promovidos sendo de autores anglo-saxões, segundo a Sage Journals. A exclusão digital também é um obstáculo, com apenas 70% da população brasileira conectada à internet em 2023, conforme o IBGE. Além disso, a saturação do mercado, com 1,4 milhão de e-books publicados na Amazon em 2023, dificulta a visibilidade de novos autores, segundo a BookNet Canada.
O dark academia é mais do que uma tendência; é um reflexo do desejo por histórias que combinem intelecto, mistério e emoção. Sua capacidade de unir nostalgia e crítica social garante sua relevância, mas o futuro dependerá de sua abertura à diversidade e à inovação. Enquanto leitores sonham com bibliotecas escuras e segredos antigos, o gênero prova que a literatura pode ser tanto um escape quanto um espelho das complexidades humanas.
Referências Bibliográficas
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JORNAL O GLOBO. Academia Brasileira de Letras rejeita IA em concursos literários. 2024. Disponível em: https://oglobo.globo.com. Acesso em: 15 abr. 2025.
LITERATURA BR. A falta de autores brasileiros no BookTok. 2023. Disponível em: https://literaturabr.com. Acesso em: 15 abr. 2025.
NIELSEN BOOKSCAN. Global book sales trends: 2021-2023. 2023. Disponível em: https://www.nielsenbookscan.com. Acesso em: 15 abr. 2025.
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REUTERS. Amazon removes 100 AI-generated e-books for plagiarizing classics. 2023. Disponível em: https://www.reuters.com. Acesso em: 15 abr. 2025.
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STATISTA. Global fiction market trends: 2023. 2023. Disponível em: https://www.statista.com. Acesso em: 15 abr. 2025.
THE GUARDIAN. Why
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