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Estaria a inteligência artificial escrevendo o próximo Best-Seller?

Imagem: Unsplash / Divulgação

A inteligência artificial (IA) está redefinindo os limites da criação literária, levantando uma questão inquietante: será que máquinas podem escrever o próximo grande best-seller? Ferramentas como Sudowrite, Jasper e ChatGPT têm permitido que autores, editoras e até amadores gerem textos com rapidez e sofisticação, desafiando noções tradicionais de autoria, criatividade e originalidade. Enquanto alguns celebram a IA como uma aliada na escrita, outros temem que ela ameace a essência da literatura, saturando o mercado com obras padronizadas e levantando dilemas éticos sobre plágio e autenticidade. Esta investigação jornalística explora o impacto da IA na literatura contemporânea, examinando casos concretos, dados verificáveis e opiniões de especialistas para entender como a tecnologia está moldando o futuro da escrita e se ela tem o potencial de criar obras que rivalizem com os clássicos humanos.

O uso de IA na escrita criativa ganhou força na última década, impulsionado por avanços em modelos de linguagem como o GPT-3 da OpenAI, lançado em 2020, e seus sucessores. Essas ferramentas podem gerar capítulos de romances, poesias e roteiros com base em prompts fornecidos por usuários, oferecendo desde ideias iniciais até textos completos. Em 2023, a Publishers Weekly relatou que 15% dos autores autopublicados na Amazon Kindle Direct Publishing (KDP) usavam ferramentas de IA para auxiliar na escrita, com o número crescendo 20% ao ano. Um exemplo notável é o romance The Last Sunset (2022), de Ammar Habib, que utilizou Sudowrite para estruturar capítulos e refinar diálogos, alcançando o topo da lista de ficção científica da Amazon com 100 mil cópias vendidas. Outro caso é Death of an Author (2023), de Aidan Marchine, um thriller inteiramente gerado por IA, que recebeu críticas mistas mas vendeu 50 mil cópias, segundo a Forbes.

A ascensão dessas ferramentas coincide com o boom da autopublicação, que democratizou o mercado literário mas também o saturou. A Amazon, maior plataforma de autopublicação, publicou 1,4 milhão de e-books em 2023, com 30% dos títulos de ficção contendo algum grau de assistência de IA, de acordo com a BookNet Canada. Autores independentes, como Jennifer Lepp, que usou Jasper para escrever romances de fantasia sob o pseudônimo Leanne Leeds, relatam ganhos de US$ 10 mil por mês, conforme entrevista ao The Guardian em 2023. Lepp destacou que a IA acelera a produção, permitindo que ela publique um livro a cada dois meses, um ritmo impossível sem tecnologia.

No entanto, o uso de IA na escrita levanta preocupações éticas. Uma das principais é o risco de plágio. Modelos de IA são treinados em vastos conjuntos de dados que incluem livros, artigos e conteúdos online, muitas vezes sem permissão explícita dos autores originais. Em 2023, a autora Sarah Silverman processou a OpenAI, alegando que o ChatGPT reproduziu trechos de sua autobiografia The Bedwetter sem autorização, conforme noticiado pela Reuters. Embora o caso esteja em andamento, ele expôs as fragilidades legais na proteção de direitos autorais na era da IA. Ferramentas como Turnitin, usadas para detectar plágio, identificaram um aumento de 18% em textos gerados por IA com similaridades a obras existentes em 2024, segundo a Publishers Weekly.

A qualidade literária é outra questão. Críticos, como o escritor Salman Rushdie, em um ensaio para o New York Times em 2023, descreveram textos gerados por IA como “mecânicos” e desprovidos de profundidade emocional, incapazes de capturar a complexidade humana de obras como Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez. No entanto, experimentos mostram avanços. Em 2022, o projeto 1 the Road, inspirado em On the Road de Jack Kerouac, gerou um romance por IA que foi finalista em um concurso literário japonês, enganando juízes que não sabiam da origem do texto, conforme relatado pela BBC. No Brasil, a escritora Clarice Freire, conhecida por Pó de Lua, testou o ChatGPT para criar poesias em 2023, publicando os resultados em seu Instagram. Embora elogiados por fãs, os poemas foram criticados por falta de autenticidade em blogs como Literatura BR.

O impacto econômico da IA no mercado editorial é significativo. Editoras tradicionais, como a HarperCollins, começaram a usar IA para análises de mercado, prevendo tendências de leitura com 85% de precisão, segundo a Statista em 2024. Startups como StoryFit utilizam IA para otimizar manuscritos, reduzindo custos de edição em 30%. No entanto, a saturação de e-books gerados por IA preocupa autores. Em 2023, a Amazon removeu 200 títulos suspeitos de serem criados por IA após denúncias de leitores, conforme a Forbes. A plataforma também introduziu diretrizes exigindo que autores declarem o uso de IA, mas a fiscalização é limitada, com apenas 5% dos livros analisados manualmente, segundo a Wired.

Culturalmente, a IA desafia a noção de autoria. Um estudo da Sage Journals de 2024 revelou que 60% dos leitores rejeitam livros escritos por IA, preferindo a “voz humana” de autores como Colleen Hoover, cuja obra It Ends With Us vendeu 20 milhões de cópias até 2024. No Brasil, o mercado literário, avaliado em R$ 2 bilhões em 2023 pela Câmara Brasileira do Livro, ainda é dominado por autores humanos, mas plataformas como Wattpad já veem um aumento de histórias geradas por IA, com 10% dos contos em inglês usando ferramentas como NovelAI. O caso de The AI Chronicles (2023), uma antologia de contos gerados por IA publicada pela editora brasileira Draco, gerou debates em fóruns como o Clube de Autores, com leitores divididos entre a inovação e a perda de autenticidade.

A relação entre IA e gêneros literários também é notável. O dark romance, popular na Amazon, beneficia-se da IA, que gera narrativas com tropos previsíveis, como “enemies-to-lovers”, rapidamente. Autoras como Ana Huang, que usou IA para brainstorming em Twisted Love (2021), relatam maior produtividade, com o livro vendendo 200 mil cópias no Brasil, segundo a Nielsen BookScan. No entanto, a homogeneização é um risco. Um relatório da BookNet Canada de 2024 mostrou que 40% dos romances gerados por IA seguem fórmulas idênticas, reduzindo a diversidade narrativa.

As controvérsias não se limitam à ética. A IA também afeta o mercado de trabalho. Editores freelance relataram uma queda de 25% na demanda por serviços de revisão em 2023, conforme a Freelancers Union. Escritores iniciantes, especialmente em países como o Brasil, enfrentam concorrência desleal de e-books baratos gerados por IA, vendidos a R$ 5 na Amazon, enquanto livros tradicionais custam R$ 50. A Associação Nacional de Livrarias alertou em 2024 que a proliferação de obras de baixa qualidade pode prejudicar a confiança dos leitores no mercado digital.

A resposta da indústria varia. Nos Estados Unidos, o Authors Guild lançou em 2023 uma campanha por regulamentações que protejam escritores contra a exploração de seus dados por IA, apoiada por nomes como John Grisham. No Brasil, a Academia Brasileira de Letras debateu em 2024 a inclusão de IA em concursos literários, rejeitando-a por 80% dos votos, conforme o Jornal O Globo. Plataformas como o Goodreads começaram a exigir que livros gerados por IA sejam marcados, mas apenas 10% dos autores cumprem a regra, segundo um estudo da University of Oxford em 2024.

O futuro da IA na literatura depende de um equilíbrio entre inovação e responsabilidade. Ferramentas como Grammarly e ProWritingAid já são amplamente aceitas para edição, mas a geração de textos completos permanece controversa. Um experimento da MIT Technology Review em 2023 mostrou que leitores não conseguiram distinguir textos de IA de autores humanos em 45% dos casos, sugerindo que a tecnologia está se aproximando da qualidade humana. No entanto, a professora de literatura Comparada Susan Mizruchi, em entrevista à NPR em 2024, argumentou que a IA nunca replicará a “intuição cultural” de escritores como Toni Morrison.

A possibilidade de um best-seller gerado por IA não é mais ficção científica. Casos como The Last Sunset e Death of an Author mostram que o mercado está aberto à inovação, mas os desafios éticos, legais e culturais persistem. Enquanto a tecnologia avança, a literatura enfrenta um momento de inflexão: abraçar a IA como ferramenta criativa ou protegê-la como um espaço exclusivamente humano? A resposta determinará se o próximo grande romance será escrito por um autor, uma máquina ou uma colaboração entre ambos.

Referências Bibliográficas

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