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Resenha: Casablanca (1942)

Image: Divulgação

Casablanca se passa em dezembro de 1941, na cidade marroquina de Casablanca, um ponto de passagem para refugiados europeus que fugiam da guerra rumo aos Estados Unidos. A trama gira em torno de Rick Blaine (Humphrey Bogart), um americano cínico que administra o Rick’s Café Américain, um nightclub frequentado por exilados, espiões e oficiais de Vichy. A chegada de Ilsa Lund (Ingrid Bergman), seu antigo amor, acompanhada do marido Victor Laszlo (Paul Henreid), um líder da resistência tcheca, força Rick a confrontar seu passado e tomar decisões que afetarão não apenas sua vida, mas a luta contra o nazismo.

O enredo é impulsionado pelo triângulo amoroso entre Rick, Ilsa e Laszlo, mas transcende o romance ao explorar temas de sacrifício, idealismo e resistência. A posse de cartas de trânsito, documentos que garantem passagem segura para Lisboa, coloca Rick no centro de uma intriga política, enquanto ele lida com o corrupto Capitão Renault (Claude Rains) e o oficial nazista Major Strasser (Conrad Veidt). A narrativa culmina em uma das cenas mais emblemáticas do cinema, no aeroporto, onde Rick faz uma escolha altruísta que redefine seu caráter.

A força de Casablanca está em sua capacidade de equilibrar romance, suspense e comentário político. O café de Rick serve como microcosmo da guerra, reunindo personagens de diferentes nações e ideologias, enquanto diálogos afiados, como “Louis, acho que este é o começo de uma bela amizade”, cristalizam a humanidade dos personagens em meio ao caos.

Michael Curtiz, um mestre do cinema de estúdio, dirige Casablanca com precisão e elegância, transformando um roteiro inicialmente caótico em uma obra coesa. Sua direção utiliza o espaço do Rick’s Café para criar uma atmosfera de tensão e cosmopolitanismo, com enquadramentos que capturam as emoções dos personagens em close-ups e os conflitos políticos em planos abertos. A cinematografia de Arthur Edeson, em preto e branco, usa sombras e iluminação expressionista para reforçar o clima noir, especialmente nas cenas noturnas e no aeroporto.

A trilha sonora, composta por Max Steiner, é inesquecível, com a canção “As Time Goes By”, interpretada por Dooley Wilson como Sam, tornando-se um hino romântico. A música não apenas sublinha o romance de Rick e Ilsa, mas também evoca a nostalgia de um mundo pré-guerra. A edição, liderada por Owen Marks, mantém um ritmo fluido, com transições que alternam entre momentos íntimos e sequências de suspense, como o confronto no café durante a execução de “La Marseillaise”.

A produção de Casablanca foi marcada por desafios. O roteiro, baseado na peça Everybody Comes to Rick’s, foi escrito durante as filmagens pelos irmãos Epstein e Howard Koch, com contribuições não creditadas de outros. A incerteza sobre o final — se Ilsa ficaria com Rick ou Laszlo — adicionou tensão, mas resultou em uma conclusão poderosa. Filmado durante a guerra, o filme enfrentou restrições orçamentárias e a pressão do Código Hays, que limitava representações explícitas de política e moralidade.

Humphrey Bogart entrega uma performance definidora como Rick Blaine, combinando cinismo, vulnerabilidade e heroísmo discreto. Sua química com Ingrid Bergman, cuja Ilsa é uma mistura de força e fragilidade, cria um dos casais mais memoráveis do cinema. Bergman transmite o conflito interno de Ilsa com olhares e gestos sutis, tornando sua decisão final profundamente comovente.

Image: Divulgação

Paul Henreid, como Victor Laszlo, traz dignidade ao líder da resistência, evitando que o personagem se torne apenas um obstáculo romântico. Claude Rains rouba cenas como o Capitão Renault, cuja corrupção é temperada por charme e uma moralidade ambígua. O elenco de apoio, incluindo Conrad Veidt como o frio Major Strasser e Dooley Wilson como o leal Sam, adiciona profundidade ao mosaico cultural do filme. Muitos atores secundários eram refugiados europeus, trazendo autenticidade às suas performances.

Casablanca reflete o clima político de 1941-1942, quando a Europa estava sob ocupação nazista e os Estados Unidos, recém-entrados na guerra após Pearl Harbor, mobilizavam apoio para os Aliados. A cidade de Casablanca, sob o regime colaboracionista de Vichy, era realmente um ponto de trânsito para refugiados, e o filme captura a tensão entre resistência, colaboração e sobrevivência. A cena em que “La Marseillaise” sobrepõe o hino alemão no café é inspirada em relatos reais de atos de defiance em territórios ocupados.

Embora o filme simplifique a realidade histórica — as cartas de trânsito, por exemplo, são uma invenção dramática —, ele reflete com precisão o antissemitismo e a perseguição enfrentados por refugiados, muitos dos quais judeus, que buscavam escapar da Europa. A presença de nazistas em Casablanca, embora exagerada para efeito narrativo, ecoa a influência alemã sobre Vichy. O filme também sutilmente critica o isolacionismo americano, com Rick representando a jornada dos EUA de neutralidade para engajamento.

Lançado em 26 de novembro de 1942, Casablanca foi produzido em um momento em que os Aliados começavam a ganhar terreno, como na Batalha de El Alamein. Sua mensagem de sacrifício e resistência ressoou com o público americano, que via na guerra uma luta moral contra o fascismo.

Impacto 

O impacto narrativo de Casablanca reside em sua habilidade de entrelaçar romance e política sem perder a humanidade. A história de amor entre Rick e Ilsa é o coração do filme, mas é elevada pelo contexto da guerra, que força os personagens a priorizar o bem maior. O tema do sacrifício pessoal — exemplificado na decisão de Rick no aeroporto — ressoa como uma metáfora para os esforços coletivos da guerra.

Os temas de resistência e moralidade são reforçados por personagens secundários, como Laszlo, cuja coragem inspira, e Renault, cuja redenção sugere que mesmo os cínicos podem mudar. O filme também aborda a diversidade cultural, com o Rick’s Café como um espaço onde franceses, alemães, russos e outros coexistem, refletindo a coalizão aliada.

A força dos diálogos, com linhas como “Nós sempre teremos Paris” e “Dos todos os bares, em todas as cidades, ela entra no meu”, transforma Casablanca em um texto cultural. A cena de “La Marseillaise” é um momento de catarse, simbolizando a união contra a opressão, e continua a emocionar audiências.

Legado

Casablanca foi um sucesso imediato, arrecadando 3,7 milhões de dólares na bilheteria e ganhando três Oscars em 1944: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado, além de indicações para Bogart, Rains e Steiner. A crítica elogiou sua narrativa envolvente e atuações, com o Variety chamando-o de “um drama soberbo”. Inicialmente visto como um filme de guerra, sua reputação cresceu nas décadas seguintes, tornando-se um clássico cultuado.

O legado de Casablanca é vasto. O filme influenciou o gênero noir, dramas românticos e narrativas sobre dilemas morais, inspirando obras como A Vida é Bela (1997) e Allied (2016). Suas falas e imagens, como o nevoeiro do aeroporto, são referências culturais onipresentes, reaparecendo em paródias, séries e memes. Em 2022, durante o 80º aniversário do filme, postagens no X celebraram sua relevância, com usuários destacando a cena de “La Marseillaise” como um símbolo de resistência em tempos de polarização.

No Brasil, Casablanca é usado em aulas de história e cinema para discutir a Segunda Guerra Mundial e o papel da propaganda cultural. A teoria da história de Jörn Rüsen, amplamente estudada no país, enfatiza a importância de narrativas como Casablanca, que conectam o passado às lutas contemporâneas por liberdade e justiça.

Crítica

Casablanca é historicamente preciso em capturar o clima de incerteza e resistência de 1941, mas toma liberdades criativas para fins dramáticos. A representação de Vichy e dos nazistas é estilizada, com Strasser como um vilão arquetípico, mas reflete a propaganda aliada que demonizava o Eixo. A diversidade do café de Rick espelha a realidade de Casablanca como um ponto de encontro de exilados, mas o filme omite detalhes mais sombrios, como o antissemitismo sistêmico enfrentado por refugiados judeus.

Críticos modernos elogiam Casablanca por sua universalidade, mas notam que sua visão romantizada da resistência pode simplificar as complexidades da guerra. Ainda assim, sua mensagem de esperança e sacrifício permanece poderosa, especialmente em um mundo enfrentando autoritarismo e conflitos.

Casablanca é uma obra-prima que combina romance, suspense e comentário político em uma narrativa que captura o coração e a mente. A direção de Curtiz, as atuações de Bogart e Bergman, e um roteiro repleto de diálogos memoráveis fazem do filme um marco do cinema. Como um reflexo da Segunda Guerra Mundial, ele celebra a resistência e o altruísmo, oferecendo lições sobre o poder das escolhas individuais em tempos de crise.

Mais de 80 anos após sua estreia, Casablanca continua a encantar e inspirar, lembrando-nos que, mesmo em meio ao caos, o amor e a humanidade podem prevalecer. Que sua mensagem de união e sacrifício ressoe como um chamado à empatia e à luta por um mundo mais justo.


Fontes:

  • Harmetz, Aljean. Round Up the Usual Suspects: The Making of Casablanca, 1992.

  • Enciclopédia Britânica, “Casablanca”, 2025.

  • Brasil Escola, “Segunda Guerra Mundial”, 2025.

  • Postagens no X sobre o 80º aniversário de Casablanca, 2022.

  • Rüsen, Jörn. História e Narrativa, 2006.

Nota: Esta resenha foi escrita com o objetivo de oferecer uma análise detalhada e fiel de Casablanca, respeitando seu contexto histórico e impacto cultural.

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