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Jojo Rabbit se passa na Alemanha nazista durante os últimos meses da Segunda Guerra Mundial, em 1945. A história segue Johannes “Jojo” Betzler (Roman Griffin Davis), um menino de 10 anos cujo amigo imaginário é Adolf Hitler (Taika Waititi), uma versão cômica e infantil do ditador que reflete sua visão distorcida do nazismo. Fervorosamente patriótico e membro da Juventude Hitlerista, Jojo vive com sua mãe, Rosie (Scarlett Johansson), uma mulher que secretamente resiste ao regime. Sua vida muda quando descobre que Rosie esconde Elsa (Thomasin McKenzie), uma jovem judia, no sótão de sua casa.
A narrativa acompanha a jornada de Jojo, de um fanático ingênuo a alguém que questiona a propaganda nazista através de sua amizade com Elsa e da influência de Rosie. A trama mistura humor absurdo, como as interações com o Hitler imaginário, com momentos de tragédia, como a repressão em sua cidade fictícia, Falkenheim. O filme culmina em uma reviravolta emocional que confronta Jojo com a realidade da guerra, levando a um final que celebra a liberdade e a empatia. Baseado no romance Caging Skies de Christine Leunens, Jojo Rabbit usa a sátira para desmascarar o fanatismo, enquanto explora a perda da inocência e o poder da conexão humana.
O enredo é estruturado como uma fábula, com um tom que oscila entre o lúdico e o devastador. A escolha de contar a história pelos olhos de uma criança permite ao filme abordar o nazismo de forma acessível, mas nunca trivial, destacando como o ódio é ensinado e pode ser desaprendido.
Taika Waititi dirige Jojo Rabbit com uma visão que combina sua marca de humor excêntrico com uma sensibilidade emocional inesperada. Filmado em Praga, o filme recria uma Alemanha estilizada, com cores vibrantes e cenários quase teatrais que contrastam com a escuridão do tema. A cinematografia de Mihai Mălaimare Jr. é visualmente rica, usando tons pastéis para evocar a perspectiva infantil de Jojo e cores mais sombrias à medida que a realidade da guerra se impõe. Planos simétricos e movimentos de câmera dinâmicos reforçam o tom de fábula, enquanto close-ups capturam as emoções dos personagens.
A trilha sonora, composta por Michael Giacchino, é delicada, com temas orquestrais que sublinham a jornada emocional de Jojo. A inclusão de versões em alemão de músicas pop, como “Heroes” de David Bowie, cria um anacronismo intencional que conecta o passado ao presente. A edição de Tom Eagles é ágil, mantendo um ritmo que equilibra sequências cômicas, como os treinos da Juventude Hitlerista, com momentos de impacto, como as consequências da guerra na cidade.
A produção, com um orçamento de 14 milhões de dólares, foi modesta, mas criativa, usando cenários minimalistas para focar nos personagens. Waititi enfrentou desafios éticos ao retratar o nazismo com humor, mas trabalhou com consultores históricos e organizações judaicas, como a Anti-Defamation League, para garantir sensibilidade. A escolha de escalar atores jovens e de filmar em inglês, com sotaques que sugerem o alemão, facilita o alcance global, embora tenha gerado críticas por falta de autenticidade linguística.
Roman Griffin Davis, em sua estreia, entrega uma performance notável como Jojo, capturando a ingenuidade, o fervor e a vulnerabilidade de um menino moldado pela propaganda. Sua química com Thomasin McKenzie, como Elsa, é o coração do filme, com McKenzie trazendo força e melancolia à jo vem judia que desafia os preconceitos de Jojo. Scarlett Johansson, indicada ao Oscar, é luminosa como Rosie, uma mãe que usa humor e amor para proteger seu filho, com uma cena de dança que é ao mesmo tempo alegre e trágica.
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Taika Waititi, como o Hitler imaginário, é hilariante e perturbador, retratando o ditador como uma figura infantil que reflete a visão distorcida de Jojo, sem nunca glorificá-lo. Sam Rockwell, como o Capitão Klenzendorf, oferece uma atuação cômica, mas surpreendentemente comovente, revelando camadas de humanidade em um oficial nazista desiludido. Rebel Wilson e Stephen Merchant, em papéis secundários, adicionam humor, enquanto Alfie Allen, como o ajudante de Klenzendorf, reforça a sátira. O elenco jovem, especialmente Archie Yates como Yorki, amigo de Jojo, traz leveza e autenticidade.
Jojo Rabbit é intencionalmente impreciso, usando a Segunda Guerra Mundial como pano de fundo para uma sátira, não um relato factual. A representação da Juventude Hitlerista e da propaganda nazista é fiel em espírito, refletindo como crianças foram doutrinadas pelo regime, mas a cidade fictícia de Falkenheim e o tom fabulístico criam uma realidade estilizada. A figura de Rosie, uma resistente secreta, ecoa o papel de civis alemães que ajudaram judeus, enquanto a presença de Elsa reflete a experiência de milhares que se esconderam, como Anne Frank.
A sátira do nazismo, com oficiais caricatos e um Hitler ridículo, é inspirada em obras como O Grande Ditador (1940), mas a ausência de uma representação explícita do Holocausto, exceto por alusões, é uma escolha narrativa que foca na perspectiva infantil. A repressão na cidade, com execuções públicas, reflete a brutalidade dos últimos meses do Reich, mas eventos como a batalha final são dramatizados para efeito emocional.
Lançado em 18 de outubro de 2019, Jojo Rabbit reflete o contexto do final dos anos 2010, marcado por um ressurgimento de movimentos extremistas e debates sobre intolerância. O filme responde a essa polarização com uma mensagem de empatia, usando humor para desmascarar o ódio. Sua estreia coincidiu com um interesse renovado em narrativas satíricas, como The Death of Stalin (2017), que também abordam regimes autoritários com irreverência.
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Impacto
O impacto narrativo de Jojo Rabbit reside em sua habilidade de equilibrar humor e tragédia, usando a perspectiva de uma criança para tornar o nazismo acessível, mas nunca trivial. A jornada de Jojo, de fanático a empático, é uma metáfora para a desconstrução do ódio, enquanto sua relação com Elsa e Rosie destaca o poder da conexão humana. O Hitler imaginário, inicialmente cômico, torna-se uma presença ameaçadora à medida que Jojo questiona sua ideologia, simbolizando a rejeição da propaganda.
Os temas centrais — empatia, inocência, resistência e os perigos do fanatismo — são explorados com profundidade. Rosie representa a coragem de desafiar a opressão, enquanto Elsa encarna a resiliência judaica, desafiando estereótipos de vitimização. O filme critica a manipulação de crianças, como na Juventude Hitlerista, e a cumplicidade de adultos, mas oferece esperança através da redenção de Jojo. A sátira, como nas cenas de treinamento absurdo, desmascara o ridículo do nazismo, enquanto momentos de tragédia, como a perda de Rosie, ancoram a narrativa na realidade.
Cenas como o diálogo de Jojo e Elsa sobre liberdade, a dança de Rosie e o confronto final com o Hitler imaginário são emocionalmente impactantes, reforçados por diálogos que misturam humor e poesia, como “Você não é nazista, Jojo. Você é um menino de 10 anos que gosta de se fantasiar”. A escolha de terminar com “Heroes” de Bowie celebra a vitória da humanidade sobre o ódio.
Recepção e Legado
Jojo Rabbit foi um sucesso, arrecadando 90 milhões de dólares globalmente e ganhando o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em 2020, além de cinco outras indicações, incluindo Melhor Filme e Melhor Atriz Coadjuvante (Johansson). A crítica elogiou sua ousadia, com o Variety chamando-o de “uma sátira que encontra coração na escuridão”. Alguns criticaram o uso de humor para abordar o Holocausto, temendo trivialização, mas a maioria reconheceu sua sensibilidade. No Brasil, o filme gerou debates em fóruns acadêmicos sobre a ética da sátira histórica.
O legado do filme é significativo. Ele revitalizou a sátira histórica, influenciando narrativas que abordam autoritarismo com humor, e consolidou Waititi como um diretor versátil. Sua mensagem de empatia ressoou em um mundo polarizado, inspirando discussões sobre educação contra o ódio. Em 2024, postagens no X durante o Yom HaShoah (Dia da Lembrança do Holocausto) destacaram Jojo Rabbit como uma ferramenta para ensinar tolerância, com educadores elogiando sua acessibilidade para jovens.
No Brasil, o filme é usado em aulas de história para discutir a propaganda nazista e em estudos de cinema para analisar a sátira de Waititi. A teoria da história de Jörn Rüsen, discutida no país, enfatiza a relevância de narrativas como esta, que conectam o passado às reflexões sobre empatia e resistência.
Jojo Rabbit é historicamente impreciso por design, usando a Segunda Guerra Mundial como pano de fundo para uma fábula satírica. A representação da Juventude Hitlerista e da resistência alemã é fiel em espírito, mas a estilização da Alemanha nazista, com sua estética quase caricatural, prioriza o simbolismo sobre os fatos. A experiência de Elsa reflete a realidade de judeus escondidos, mas a ausência de uma representação explícita do Holocausto é uma escolha que foca na perspectiva infantil.
Críticos modernos elogiam o filme por sua empatia e coragem, mas observam que seu humor pode alienar quem vê o Holocausto como intocável. A visão otimista da redenção de Jojo pode simplificar a desnazificação, um processo complexo na Alemanha pós-guerra. Ainda assim, sua capacidade de educar e emocionar o torna uma referência, especialmente em um mundo onde o extremismo e a intolerância persistem.
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Conclusão
Jojo Rabbit é uma obra-prima satírica que confronta o nazismo com humor, coração e uma mensagem poderosa de empatia. A direção de Waititi, as atuações de Davis, Johansson e McKenzie, e uma narrativa que equilibra irreverência e tragédia fazem do filme um marco. Como uma reflexão sobre a Segunda Guerra Mundial, ele desmascara o fanatismo enquanto celebra a resiliência, oferecendo lições sobre a desconstrução do ódio.
Cinco anos após sua estreia, Jojo Rabbit permanece uma força cinematográfica e educativa, lembrando-nos do poder da empatia para superar a intolerância. Que seu legado inspire a reflexão sobre a humanidade e o compromisso com um futuro de tolerância e paz.
Fontes:
Leunens, Christine. Caging Skies, 2008.
Enciclopédia Britânica, “Jojo Rabbit”, 2025.
Brasil Escola, “Segunda Guerra Mundial”, 2025.
Postagens no X sobre o Yom HaShoah, 2024.
Rüsen, Jörn. História e Narrativa, 2006.
Nota: Esta resenha foi escrita com o objetivo de oferecer uma análise detalhada e fiel de Jojo Rabbit, respeitando seu contexto histórico e impacto cultural.
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