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Resenha: O Menino do Pijama Listrado (2008)

Image: Divulgação

O Menino do Pijama Listrado se passa na Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial, por volta de 1943. A história é contada pelos olhos de Bruno (Asa Butterfield), um menino de 8 anos, filho de Ralf (David Thewlis), um oficial da SS promovido a comandante de um campo de concentração (inspirado em Auschwitz). Após se mudar de Berlim para uma casa rural perto do campo, Bruno, entediado e isolado, explora a área e conhece Shmuel (Jack Scanlon), um menino judeu da mesma idade, preso do outro lado da cerca do campo.

A narrativa centra-se na amizade crescente entre Bruno e Shmuel, que se desenvolve apesar da barreira física e ideológica que os separa. Bruno, criado sob a propaganda nazista, inicialmente não compreende a realidade de Shmuel, mas sua curiosidade e empatia o levam a questionar as mentiras que lhe foram ensinadas. Enquanto isso, a mãe de Bruno, Elsa (Vera Farmiga), enfrenta o horror de descobrir a verdade sobre o campo, e Ralf permanece cego pela lealdade ao regime. A trama culmina em uma tragédia que sublinha a devastação do Holocausto, deixando uma marca indelével no público.

O enredo, adaptado do romance de John Boyne, é estruturado como uma fábula, usando a perspectiva infantil para tornar o Holocausto acessível, mas nunca suavizado. A amizade entre os meninos serve como um contraponto à brutalidade do nazismo, enquanto a narrativa familiar expõe as tensões morais dentro de uma casa dividida pela ideologia.

Mark Herman dirige O Menino do Pijama Listrado com uma abordagem delicada, equilibrando a inocência da infância com o horror do Holocausto. Filmado em locações na Hungria, o filme recria a Alemanha rural e o campo de concentração com uma estética contida, evitando a grandiosidade para focar na intimidade emocional. A cinematografia de Benoît Delhomme usa cores suaves para a casa de Bruno, contrastando com os tons cinzentos do campo, simbolizando a divisão entre o mundo protegido do menino e a realidade brutal.

A trilha sonora, composta por James Horner, é melancólica, com temas de piano que evocam a ternura da amizade e a tragédia iminente, usados com moderação para não manipular o público. O design de som, com o silêncio opressivo do campo e os ruídos distantes de trens, amplifica a tensão. A edição de Michael Ellis mantém um ritmo lento, permitindo que a relação entre Bruno e Shmuel se desenvolva organicamente, com um clímax que é tanto inevitável quanto chocante.

Image: Divulgação

A produção, com um orçamento de 12,5 milhões de dólares, foi modesta, focando em atuações e cenários realistas. Herman enfrentou desafios éticos ao retratar o Holocausto através de uma perspectiva infantil, trabalhando com consultores históricos para garantir respeito às vítimas. A escolha de filmar em inglês, com sotaques britânicos, facilita o alcance global, mas gerou críticas por falta de autenticidade cultural, já que a história se passa na Alemanha.

Asa Butterfield, com apenas 10 anos, entrega uma performance notável como Bruno, capturando a curiosidade, a ingenuidade e a crescente empatia de um menino confrontado com a realidade. Sua química com Jack Scanlon, como Shmuel, é o coração do filme, com Scanlon trazendo uma mistura de vulnerabilidade e resiliência ao menino preso. A autenticidade de suas atuações, marcadas por silêncios e olhares, torna a amizade crível e comovente.

Vera Farmiga, como Elsa, oferece uma performance poderosa, retratando uma mãe que evolui de ignorância para horror ao descobrir a verdade sobre o campo. David Thewlis, como Ralf, é frio e autoritário, humanizando o oficial nazista sem justificá-lo. Amber Beattie, como a irmã de Bruno, Gretel, e Rupert Friend, como o tenente Kotler, adicionam camadas à dinâmica familiar, refletindo a doutrinação e a crueldade do regime. O elenco, composto por atores britânicos, cria um contraste eficaz entre a vida doméstica e a atrocidade do campo.

Contexto

O Menino do Pijama Listrado é uma obra de ficção que toma liberdades significativas com a história, usando o Holocausto como pano de fundo para uma fábula moral. A representação do campo, inspirado em Auschwitz, é simplificada, com uma cerca acessível e guardas menos vigilantes, o que é implausível, dado o rigor dos campos reais. A amizade entre Bruno e Shmuel é improvável, já que crianças em campos como Auschwitz eram frequentemente mortas ou separadas, e o contato com civis era impossível.

No entanto, o filme captura o espírito do Holocausto em aspectos como a propaganda nazista, que molda a visão de Bruno e Gretel, e a desumanização dos judeus, vista na magreza e no sofrimento de Shmuel. A dinâmica familiar reflete a realidade de esposas de oficiais da SS, que muitas vezes viviam perto dos campos e lidavam com o peso moral de suas ações. A brutalidade do regime, como nas ações de Kotler, é baseada em relatos históricos, embora suavizada para um público amplo.

Lançado em 12 de setembro de 2008, O Menino do Pijama Listrado reflete o contexto do início dos anos 2000, quando o Holocausto continuava a ser um tema central em narrativas educativas, impulsionado por filmes como A Lista de Schindler (1993). O filme responde a um desejo de histórias acessíveis para jovens, usando a perspectiva infantil para introduzir o genocídio de forma sensível, mas impactante.

O impacto narrativo de O Menino do Pijama Listrado reside em sua capacidade de usar a inocência infantil para confrontar a brutalidade do Holocausto. A amizade entre Bruno e Shmuel, desenvolvida em encontros furtivos na cerca, é um símbolo de empatia que transcende o ódio, enquanto a perspectiva de Bruno permite ao público ver o nazismo como uma ideologia aprendida, não inata. A tragédia final, chocante e inevitável, sublinha a indiscriminada destruição da guerra, deixando o público com uma reflexão sobre a perda e a culpa.

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Os temas centrais — inocência, empatia, a desumanização do Holocausto e a cumplicidade — são explorados com profundidade. Bruno representa a ignorância moldada pela propaganda, enquanto Shmuel encarna a resiliência das vítimas. Rosie reflete a luta moral de quem está próximo ao regime, e Ralf simboliza a cegueira ideológica. O filme critica a doutrinação de crianças, como na Juventude Hitlerista, e a indiferença de adultos, enquanto celebra a conexão humana como resistência ao ódio.

Cenas como os encontros de Bruno e Shmuel, o confronto de Elsa com Ralf e o clímax no campo são emocionalmente devastadores, reforçados por silêncios que amplificam o impacto. A escolha de manter a perspectiva infantil, com diálogos simples como “Por que você usa um pijama?”, torna o horror acessível, mas nunca banal.

O Menino do Pijama Listrado foi bem recebido, arrecadando 44 milhões de dólares globalmente e ganhando aclamação por sua abordagem emocional. A crítica elogiou as atuações e a sensibilidade, com o The Guardian chamando-o de “uma fábula comovente sobre o Holocausto”. Alguns historiadores criticaram sua imprecisão, argumentando que a amizade é implausível e pode suavizar a realidade dos campos. No Brasil, o filme foi amplamente adotado em escolas, gerando debates sobre sua adequação para ensinar o Holocausto.

O legado do filme é significativo. Ele popularizou a discussão do Holocausto entre jovens, inspirando adaptações teatrais e currículos educacionais. Sua abordagem infantil influenciou narrativas como Jojo Rabbit (2019), que também usam perspectivas jovens para abordar o nazismo. Em 2024, postagens no X durante o Yom HaShoah (Dia da Lembrança do Holocausto) destacaram o filme como uma ferramenta educativa, com professores elogiando sua capacidade de engajar estudantes.

No Brasil, O Menino do Pijama Listrado é amplamente usado em aulas de história e literatura para discutir o Holocausto, e em instituições como o Museu do Holocausto de Curitiba para promover a educação sobre o genocídio. A teoria da história de Jörn Rüsen, discutida no país, enfatiza a relevância de narrativas como esta, que conectam o passado às reflexões sobre empatia e responsabilidade.

O Menino do Pijama Listrado é historicamente impreciso em sua representação do campo e da amizade central, que são implausíveis devido às condições rígidas dos campos de extermínio. A representação da propaganda nazista e da vida familiar de oficiais da SS é fiel em espírito, mas simplificada para uma narrativa de fábula. A ausência de uma visão mais ampla do Holocausto, como a resistência judaica, reflete a escolha de focar na perspectiva infantil.

Críticos modernos elogiam o filme por sua abordagem emocional e acessibilidade, mas observam que sua imprecisão pode levar a mal-entendidos sobre o Holocausto, especialmente entre jovens. A visão centrada em uma família alemã pode marginalizar a experiência judaica, embora Shmuel seja retratado com dignidade. Ainda assim, sua capacidade de introduzir o tema de forma sensível o torna uma referência, especialmente em um mundo onde o antissemitismo persiste.

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Conclusão

O Menino do Pijama Listrado é uma obra comovente que usa a inocência infantil para confrontar os horrores do Holocausto. A direção de Herman, as atuações de Butterfield e Scanlon, e uma narrativa que equilibra ternura e tragédia fazem do filme um marco. Como uma reflexão sobre a Segunda Guerra Mundial, ele denuncia a brutalidade do nazismo enquanto celebra a empatia, oferecendo lições sobre a desconstrução do ódio.

Mais de 15 anos após sua estreia, O Menino do Pijama Listrado permanece uma força educativa e emocional, lembrando-nos do poder da conexão humana para superar a intolerância. Que seu legado inspire a reflexão sobre a dignidade e a luta por um futuro livre de ódio.


Fontes:

  • Boyne, John. The Boy in the Striped Pyjamas, 2006.

  • Enciclopédia Britânica, “The Boy in the Striped Pyjamas”, 2025.

  • Brasil Escola, “Holocausto”, 2025.

  • Postagens no X sobre o Yom HaShoah, 2024.

  • Rüsen, Jörn. História e Narrativa, 2006.

Nota: Esta resenha foi escrita com o objetivo de oferecer uma análise detalhada e fiel de O Menino do Pijama Listrado, respeitando seu contexto histórico e impacto cultural.

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