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Patton: Rebelde ou Herói? acompanha a trajetória do General George S. Patton Jr. (George C. Scott) durante a Segunda Guerra Mundial, desde sua liderança na campanha do Norte da África em 1942 até a libertação da Alemanha em 1945. A narrativa foca em momentos-chave: a vitória em El Alamein contra Rommel, a invasão da Sicília, o infame incidente em que Patton esbofeteia um soldado com TEPT, e sua campanha na Europa após o Dia D. A trama também explora sua rivalidade com o General Bernard Montgomery (Michael Bates) e suas tensões com superiores, como o General Omar Bradley (Karl Malden) e Dwight D. Eisenhower (mencionado, mas não mostrado).
A história é estruturada como um estudo de personagem, alternando entre as façanhas militares de Patton e sua personalidade complexa — brilhante, arrogante, disciplinadora e obcecada por glória. O filme abre com o icônico discurso de Patton diante de uma bandeira americana, estabelecendo seu carisma e controvérsia. Baseado nas memórias de Bradley (A Soldier’s Story) e na biografia Patton: Ordeal and Triumph de Ladislas Farago, o roteiro de Francis Ford Coppola e Edmund H. North equilibra heroísmo e falhas, perguntando se Patton era um gênio ou um rebelde perigoso.
O enredo é menos uma crônica linear da guerra e mais um retrato psicológico, usando Patton como lente para explorar liderança, ambição e o custo humano do conflito. A narrativa captura o paradoxo de um homem que venceu batalhas, mas alienou aliados, culminando em sua queda após críticas públicas ao comando aliado.
Franklin J. Schaffner dirige Patton com uma visão grandiosa, combinando sequências de batalha épicas com momentos introspectivos que revelam a psique do general. Filmado em locações na Espanha, Marrocos e Inglaterra, o filme recria os teatros da guerra com autenticidade, usando tanques reais (M48s modificados para parecerem Shermans) e milhares de figurantes. A cinematografia de Fred J. Koenekamp, em formato widescreen, é impressionante, com planos abertos que capturam a vastidão dos campos de batalha e closes que destacam a intensidade de Scott.
A trilha sonora de Jerry Goldsmith é icônica, com um tema de trompetes que evoca tanto a glória militar quanto a melancolia de Patton, usado brilhantemente para sublinhar seus triunfos e solidão. O design de som, com explosões e motores de tanques, é imersivo, especialmente nas cenas de combate no deserto e na neve. A edição de Hugh S. Fowler mantém um ritmo equilibrado, com 172 minutos que alternam entre ação, diálogos estratégicos e monólogos introspectivos, como as reflexões de Patton sobre reencarnação.
A produção, com um orçamento de 12 milhões de dólares, foi ambiciosa, enfrentando desafios como a coordenação de batalhas e a recriação de cenários históricos. Schaffner trabalhou com consultores militares, incluindo veteranos da Segunda Guerra Mundial, para garantir precisão, desde as táticas de Patton até os uniformes. A abertura com o discurso, filmada em um único take, foi um risco que definiu o tom do filme, estabelecendo Patton como uma figura larger-than-life.
George C. Scott entrega uma das maiores atuações da história do cinema como Patton, ganhando o Oscar de Melhor Ator (que recusou). Sua performance captura a bravura, a arrogância e a vulnerabilidade do general, com uma voz grave e gestos teatrais que tornam Patton tanto carismático quanto intimidante. Desde o discurso inicial até a cena em que reza por bom tempo, Scott humaniza um ícone sem suavizá-lo, mostrando sua obsessão por glória e seu isolamento.
Karl Malden, como Omar Bradley, é o contraponto perfeito, retratando um líder pragmático e empático que contrasta com a impulsividade de Patton. Michael Bates, como Montgomery, adiciona uma rivalidade bem-humorada, enquanto Stephen Young, como o Capitão Chester Hansen, oferece um olhar subordinado sobre Patton. O elenco secundário, incluindo Jack Gwillim e Frank Latimore, reforça a dinâmica militar, mas Scott domina cada cena, tornando outros personagens quase coadjuvantes.
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Contexto
Patton: Rebelde ou Herói? é historicamente preciso em sua representação das campanhas de Patton, capturando sua vitória contra Rommel em El Alamein (1942), a invasão da Sicília (1943) e a campanha na França e Alemanha (1944-1945), onde seu Terceiro Exército avançou rapidamente, libertando cidades como Bastogne. O incidente do tapa em um soldado com TEPT, que quase acabou com sua carreira, é fiel, assim como sua rivalidade com Montgomery e suas críticas ao comando aliado.
Algumas liberdades narrativas são tomadas. A visão de Patton sobre reencarnação é exagerada para efeito dramático, e eventos são condensados, como a campanha da Sicília, para manter o foco no personagem. A ausência de perspectivas alemãs detalhadas, exceto menções a Rommel, limita o contexto, enquanto a glorificação de Patton pode minimizar suas falhas, como sua relutância em aceitar a importância da infantaria. A representação de Bradley é precisa, mas romantizada, refletindo suas memórias.
Lançado em 18 de janeiro de 1970, Patton reflete o contexto do final dos anos 1960, marcado pela Guerra do Vietnã e por questionamentos sobre liderança militar. A figura de Patton, um gênio controverso, ressoou com um público dividido entre admirar o heroísmo e criticar a beligerância. O filme também capitalizou o interesse pela Segunda Guerra Mundial, reforçado por obras como A Batalha da Grã-Bretanha (1969).
Impacto
O impacto narrativo de Patton reside em sua exploração complexa de um líder que é ao mesmo tempo herói e anti-herói. A atuação de Scott, combinada com o roteiro de Coppola, cria um Patton multifacetado: um estrategista brilhante, mas impulsivo; um patriota, mas egoísta. As sequências de batalha, como o confronto no deserto tunisiano e a marcha na neve, são visualmente impactantes, capturando a genialidade tática de Patton, enquanto momentos introspectivos, como sua visita a ruínas antigas, revelam sua obsessão com a história.
Os temas centrais — liderança, glória, sacrifício e a ambiguidade moral da guerra — são explorados com profundidade. Patton representa o ideal do guerreiro, mas sua recusa em se curvar à política e sua crueldade com subordinados questionam o custo de sua visão. Bradley e Montgomery oferecem contrapesos, destacando a necessidade de equilíbrio. O filme critica a glorificação da guerra, mostrando as perdas em batalhas, mas também celebra a determinação, como na cena em que Patton reverte uma retirada.
Cenas como o discurso inicial, o tapa no soldado e a marcha do Terceiro Exército são icônicas, reforçadas por diálogos memoráveis, como “Ninguém nunca ganhou uma guerra morrendo por seu país. Ganhamos fazendo o outro pobre coitado morrer pelo dele.” A escolha de terminar com Patton afastado do comando, refletindo sobre sua irrelevância em tempos de paz, é um comentário agridoce sobre a natureza transitória da glória.
Patton foi um sucesso crítico e comercial, arrecadando 61 milhões de dólares globalmente e ganhando sete Oscars em 1971, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator. A crítica elogiou a atuação de Scott e a direção de Schaffner, com o New York Times chamando-o de “um retrato fascinante de um gênio controverso”. Alguns criticaram sua duração e glorificação de Patton, mas a maioria reconheceu sua complexidade. No Brasil, o filme foi bem recebido, especialmente em círculos militares e acadêmicos.
O legado de Patton é vasto. A atuação de Scott definiu a imagem de Patton na cultura popular, enquanto o filme influenciou biopics militares, como MacArthur (1977), e dramas de guerra, como Apocalypse Now (1979). O discurso inicial tornou-se um marco cultural, citado em paródias e análises de liderança. Em 2024, postagens no X durante o Memorial Day americano destacaram Patton como um tributo à liderança militar, com comparações a generais modernos.
No Brasil, Patton é usado em aulas de história para discutir a Segunda Guerra Mundial e em estudos de cinema para analisar biopics. A teoria da história de Jörn Rüsen, discutida no país, enfatiza a relevância de narrativas como esta, que conectam o passado às reflexões sobre liderança e moralidade.
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Crítica
Patton é historicamente preciso em sua representação das campanhas e da personalidade do general, com detalhes baseados em fontes confiáveis. A rivalidade com Montgomery, o incidente do tapa e a velocidade do Terceiro Exército são fiéis. No entanto, a ênfase em Patton marginaliza outros líderes aliados, e a ausência de perspectivas alemãs ou civis limita o contexto. A visão romantizada de Bradley e a omissão de críticas mais amplas ao militarismo refletem a perspectiva americana da época.
Críticos modernos elogiam o filme por sua complexidade e atuação de Scott, mas observam que sua glorificação de Patton pode minimizar os custos humanos de suas táticas agressivas. A falta de diversidade, com um foco exclusivamente masculino e branco, reflete as limitações da época. Ainda assim, sua exploração da liderança o torna uma referência, especialmente em um mundo onde debates sobre autoridade e responsabilidade persistem.
Patton: Rebelde ou Herói? é uma obra-prima que captura a genialidade e as contradições de George S. Patton com uma atuação inesquecível de George C. Scott e uma direção magistral de Schaffner. O filme combina batalhas épicas com um estudo profundo de liderança, fazendo dele um marco do cinema bélico. Como uma reflexão sobre a Segunda Guerra Mundial, ele celebra a coragem enquanto questiona o custo da glória, oferecendo lições sobre ambição, sacrifício e moralidade.
Mais de 50 anos após sua estreia, Patton permanece uma força cinematográfica e histórica, lembrando-nos do impacto de líderes controversos na história. Que seu legado inspire a reflexão sobre a liderança responsável e o compromisso com um futuro de paz.
Fontes:
Farago, Ladislas. Patton: Ordeal and Triumph, 1963.
Enciclopédia Britânica, “Patton”, 2025.
Brasil Escola, “Segunda Guerra Mundial”, 2025.
Postagens no X sobre o Memorial Day, 2024.
Rüsen, Jörn. História e Narrativa, 2006.
Nota: Esta resenha foi escrita com o objetivo de oferecer uma análise detalhada e fiel de Patton: Rebelde ou Herói?, respeitando seu contexto histórico e impacto cultural.
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