APRESENTAÇÃO
Jornalismo, para ser popular, precisa ser sensacionalista? Subestimar o leitor tem sido a prática de muitos veículos da mídia, mas este livro mostra a possibilidade e a necessidade de jornais populares de qualidade. Em uma pesquisa cuidadosa que foge das respostas óbvias, a autora discute os principais veículos e esclarece o que se espera de um bom jornalista que atue no meio.Em ampla expansão tanto na imprensa quanto na mídia eletrônica essa área - com redações que publicam matérias exclusivas, dão furos e ganham prêmios - representa um mercado de trabalho expressivo tanto para profissionais experientes quanto para jovens repórteres.
O livro "Jornalismo Popular", de Márcia Franz Amaral, publicado pela Editora Contexto em 2006, apresenta uma abordagem aprofundada e fundamentada sobre um segmento da imprensa que, embora tenha grande relevância no cenário midiático brasileiro, ainda é pouco estudado e compreendido pela academia: os jornais destinados às classes B, C e D.
A autora parte da constatação de que a noção de "sensacionalismo", comumente utilizada para caracterizar esse tipo de imprensa, é insuficiente e carregada de preconceitos. Amaral opta, então, pelo termo "jornalismo popular" por considerar que este melhor abarca as especificidades desse mercado e de seu público-alvo. Nessa perspectiva, o livro se propõe a discutir as estratégias e tendências dessa imprensa, buscando compreendê-la para além dos rótulos e estigmas que normalmente lhe são atribuídos.
Para tanto, a obra apresenta uma contextualização histórica do sensacionalismo na imprensa, desde seus primórdios no século XIX até sua chegada e consolidação no Brasil. Essa revisão bibliográfica permite à autora situar o surgimento e a evolução dos jornais populares em um quadro mais amplo, evidenciando como determinadas práticas e recursos narrativos remontam a matrizes culturais e estéticas consagradas, como o melodrama e o folhetim.
Ao analisar os principais jornais populares brasileiros, como O Dia, Extra e Diário Gaúcho, Amaral identifica as estratégias de aproximação com o leitor, que vão desde a linguagem simples e didática até a concessão de amplo espaço para a voz do público. Destaca-se, nesse sentido, o estudo de caso aprofundado sobre o Diário Gaúcho, que, segundo a autora, leva ao extremo certas características desse segmento, como a predominância de uma matriz dramática e folhetinesca.
Ao longo do texto, a pesquisadora problematiza a dicotomia entre a "imprensa de referência", voltada às classes A e B, e a "imprensa popular", destinada às camadas mais baixas da população. Enquanto a primeira se pauta pelo "interesse público", a segunda prioriza o "interesse do público", adotando enfoques, pautas e linguagens mais próximas da realidade concreta do leitor.
Nesse sentido, o livro apresenta uma reflexão aprofundada sobre as raízes culturais e históricas que embasam as estratégias de popularização da grande imprensa, evidenciando como elas se articulam a lógicas de mercado e a modos de representação do "popular" historicamente construídos.
Ao final, Amaral discute os desafios e possibilidades de um "jornalismo popular de qualidade", que consiga conciliar os interesses comerciais com compromissos éticos e sociais. Nessa perspectiva, a autora aponta caminhos e práticas que poderiam contribuir para a construção de uma imprensa popular mais responsável e comprometida com a formação cidadã de seu público.
Em suma, "Jornalismo Popular" se configura como uma obra de grande relevância para os estudos de jornalismo e comunicação no Brasil, na medida em que se debruça sobre um objeto pouco explorado, porém fundamental para a compreensão do cenário midiático contemporâneo. Trata-se de uma leitura obrigatória para pesquisadores, estudantes e profissionais interessados em refletir criticamente sobre as transformações pelas quais passa a grande imprensa nacional.
O livro aborda o segmento de jornais populares, destinados às classes B, C e D, que buscam se aproximar de camadas mais amplas da população. Esse tipo de imprensa vem se transformando, deixando de lado o sensacionalismo exacerbado para adotar estratégias de aproximação com o leitor por meio da prestação de serviços, do entretenimento e da linguagem mais próxima ao público.
O primeiro capítulo faz uma recuperação histórica do sensacionalismo na imprensa e discute o porquê de usar o termo "jornalismo popular" em vez de "sensacionalista". O segundo capítulo contextualiza o novo momento vivido pelos jornais, revistas e programas de TV voltados ao público popular.
O terceiro capítulo apresenta uma reflexão sobre as diferenças entre a imprensa de referência, voltada às classes A e B, e a imprensa popular, que prioriza o interesse do público em detrimento do interesse público. O quarto capítulo aprofunda-se no estudo de caso do jornal Diário Gaúcho, que leva ao extremo algumas estratégias de aproximação com o leitor.
O quinto capítulo detalha práticas cotidianas do jornalismo popular, como o conhecimento do leitor, a mudança de pontos de vista, o cuidado com a linguagem e a adequação do projeto gráfico. Também aborda os riscos dessa popularização, como o excesso de dramatização e a prioridade para o interesse do público em detrimento do interesse público. Por fim, apresenta possibilidades de um jornalismo popular de qualidade.